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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Beco do Pilão


SPOILER FREE

Mais um livro para o Desafio Literário! Esse é do famoso egípcio, prêmio nobel de literatura, Naguib Mahfouz, então não corri o risco de errar de continente! (o tema desse mês é escritores africanos, e o último livro que li comecei julgando que era de uma egípcia, mas descobri que a autora era libanesa! pode isso? me confundi bonito!)

Eu já virei fã do Naguib Mahfouz desde que li a Trilogia do Cairo, e já li outras obras simplesmente maravilhosas dele, como Noites das Mil e Uma Noites e Miramar, então O Beco do Pilão era um livro que gerou muitas expectativas. Ele também foi protagonista de uma grande caça pela internet, pois ele está esgotado! Mas eu consegui um exemplar no Submarino... podia ser pela Estante Virtual, eu sei, mas como sou alérgica, dou preferência a livros novos quando posso.

Voltando o livro, O Beco do Pilão é uma obra da fase realista do autor, retratando a história de diversos moradores do tal beco, no Cairo. Como se passa no final da segunda guerra mundial, as histórias são todas tristes e carregadas de ruptura com o passado do Egito, e com os problemas e dificuldades em se adaptar a uma "nova era". É interessante ver como os jovens buscam a modernidade e a mudança de vida e de status social, enquanto os mais velhos se agarram aos velhos costumes e quando pensam na atualidade é visando apenas o lucro nos seus negócios.

Tudo isso é muito interessante e muito bem trabalhado na narrativa de Mahfouz. Além disso, essa edição em específico tem um posfácio extremamente interessante, explicando alguma coisa sobre a obra do autor, sua importância na literatura árabe e esclarecendo alguns pontos que a tradução impede perceber (como o significado dos nomes em árabe e como Naguib brinca com isso para caracterizar seus personagens).

Porém, contudo, entretanto, todavia, não é o meu livro favorito dele. Acho que dessa vez, além é claro de ter lido outras obras do autor, o fato de ter lido outros livros de outras escritoras árabes me fez ver a forma como Mahfouz retrata suas personagens femininas com outros olhos. Confesso que dessa vez, ao ler as descrições delas fiquei com uma pulga atrás da orelha, como se de alguma forma, algo naquela descrição não me inspirasse tanta segurança ou verossimilhança com a realidade. E isso foi uma novidade na minha experiência com esse autor.

Fiquei com a sensação de que alguma forma que não sei precisar muito bem elas foram descritas com um pouco mais de liberdade e segurança do que teriam na realidade, como se a situação da mulher na sociedade egípcia estivesse de alguma forma amenizada ou omitida. Levando em consideração que o autor é homem isso é compreensível. Levando em consideração que ele era de esquerda e, portanto, provavelmente a favor do feminismo ou pelo menos de mais direitos para mulheres, eu confesso que esperava mais.

Mas talvez seja apenas uma forma de demonstrar que toda a limitação da situação feminina era vista pelos personagens (e talvez até pelo autor) como absolutamente normal, e portanto indigno de nota.

Mas fora essa questão, esse romance é muito carregado de drama e de discussões familiares, um pouco no estilo novela das 8, e confesso que isso também me deixou um pouco irritada. Talvez o excesso de discussões intermináveis e por motivos fúteis seja uma forma de retratar a realidade da época e do extrato social tratado no livro, mas não torna a leitura nada agradável. Se esse era o objetivo, Naguib acertou em cheio, pois a vida do beco aqui retratada é massante, repetitiva, cheia de brigas de vizinhos, pequenas e grandes tragédias e traições de todo tipo.

A falta de um personagem central também não ajuda, pois são muitas pequenas histórias para acompanhar e que se entrelaçam ao longo da narrativa. Temos a jovem Hamida, que só pensa em dinheiro e como subir de vida, sua mãe adotiva Umm Hamida, que também só quer saber de dinheiro e como tirar proveito dos casamentos que ajuda a arranjar, a Sra. Afifi, viúva e razoavelmente rica, que depois de anos sozinha resolve casar novamente, Helu, um jovem barbeiro ingênuo apaixonado por Hamida, seu melhor amigo Hussein, que só quer saber de sair do beco e viver no "mundo moderno", o pai de Hussei, Kircha, viciado em haxixe, dono do café do beco e com tendências sexuais pouco ortodoxas... ainda tem o padeiro e sua esposa, o companheiro de quarto de Helu, o dervixe que está sempre no bar, o dentista sem graduação, o malandro que vive de "criar mendigos", o dono da única empresa do beco e o grande homem espiritual a quem todos recorrem para conselhos. É muita gente! Parece novela mesmo!

Mas apesar disso tudo, é Naguib Mahfouz, e mesmo sem ser um dos seus melhores livros não pode ser classificado como ruim nem de longe.

Nota 8,5.

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