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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Orgulho e preconceito


SPOILER FREE

Finalizando, finalmente, o mês de livros citados em filmes, mais um da Jane Austen! Mais do que citado em "Diário de Bridget Jones", esse livro é um grande clássico que já virou sei lá quantos filmes. Mas que eu nunca tinha lido por puro preconceito (piadinha infame, mas inevitável).

Depois de descobrir que eu não tinha o livro em casa (eu jurava que tinha!), comecei a ler outro da mesma autora, mas como eu tinha me predisposto a ler esse primeiro, fiquei em cócegas até encontra-lo em pdf na internet (afinal ele não possui mais direitos autorais que o impeçam disso). Não só consegui, como li o livro achando-o inferior a Razão e Sensibilidade (o que veio a substitui-lo quando descobri que não tinha uma cópia impressa). Enquanto a personagem principal aqui é realmente mais interessante por fugir às normas sociais vigentes da época, a história em si é ainda mais contos de fadas e isso me incomodou muitíssimo.

Finalmente entendi, mas não concordei, com a fascinação que o Sr. Darcy exerce sobre o imaginário feminino, e a mudança de sentimentos de Elizabeth Bennett me deu arrepios. Mas novamente, Jane Austen veio salvar seu livro com uma dose cavalar de boa escrita e críticas contundentes à sociedade da época, de um jeito que me fez não desgostar tanto assim do final e gostar muitíssimo da leitura. Não há nada que uma boa literatura não consiga.

Uma confissão a ser feita: já li em diversos lugares que Jane Austen é conhecida por sua ironia, mas confesso que ela me escapou quase que por completo, talvez justamente por não viver na mesma época ou por ter uma visão tão diferente do mundo. Em alguns anos talvez seja interessante o pessoal do meio acadêmico fazer novas edições com notas explicativas de romances como esses, pois tenho certeza que eu teria apreciado muito mais a leitura, e (espero) a tendência é que a situação feminina fique cada vez mais distante da descrita pela autora, de forma que suas ironias se percam por completo, o que, tenho certeza, seria uma pena.

Nota 8,5

Razão e sensibilidade


SPOILER FREE

E no apagar das luzes do mês de maio, consegui terminar mais um livro para o Desafio Literário! Num mês onde a tema "livros citados em filmes" me levou a ler clássicos da literatura, nunca imaginei que fosse me surpreender tão positivamente com Jane Austen. Citado no filme "O Clube de Leitura de Jane Austen", o livro me pegou de jeito.

Apesar de se passar numa época que me parece absolutamente insossa para se escrever sobre histórias de amor, Austen mostra toda a sua maestria na arte da escrita e no seu conhecimento das emoções humanas (o que é assustador e incrível para uma época onde demonstrações de emoções eram tidas como algo ruim e de pouca classe). A história narrada no livro não tem nada de mais, o que é interessante mesmo de observar é a forma como ela é contada. Austen consegue descrever de forma cativante como as mulheres da época precisavam se conter e como elas sofriam ao esconder seus sentimentos, e como isso às vezes não impedia que elas flertassem e conseguissem se casar com quem elas amavam, e como às vezes isso trazia na verdade grandes confusões, mal entendidos e consequentemente partia corações.

A história das irmãs Dashwood é quase até o final do livro, digna de pena. É tanta coisa ruim que você se surpreende como elas conseguem manter a compostura. Ok, nem todas conseguem fazer isso o tempo todo, mas tudo bem, faz parte da história e da forma de comparar uma irmã com a outra, ressaltando o quanto a mais contida é mais virtuosa do que a que se lança desenfreadamente às suas emoções.

Dessa forma, o livro mostra um retrato muito fiel e interessante de uma época onde a divisão entre as classes sociais era não feita só por direito de nascimento, mas também pelo dinheiro, mas que um nunca poderia compensar o outro, o que torna a vida de forma geral muito complicada para quem é mal nascido ou é pobre. Mas esse não é o tema do livro, já que dentro desse cenário tão complicado e de pouca mobilidade ou possibilidade de ascensão social, o caso da mulheres era infinitamente pior que o dos homens, dado que elas dependiam inteiramente do casamento simplesmente para continuarem subsistindo (aqui não estou considerando serviçais), e a autora faz questão então de tratar desse assunto em particular. E o interessante é ver como o que era considerado um grande sonho feminino era conseguir um bom marido, que não só tivesse dinheiro, mas que fosse bonito e de classe (ou igual ou superior à sua, claro), e que, de quebra, ela amasse.

Entendo que essa seja a graça para muitas leitoras até hoje, mas sinceramente, essa parte da história é simplesmente fantasiosa demais e "princesas da Disney" demais para o meu gosto feminista, por mais que da forma descrita as soluções para os problemas sejam em grande parte discordantes com o que era moralmente aceito na época (Cinderela, alguém nota a semelhança?). E eu gostei do livro apesar dessa característica, dado, ainda por cima, que ele foi escrito numa época em que não havia nenhuma outra possibilidade para as mulheres, e que, portanto, dentro desses limites todos, Austen ainda consegue levantar algumas críticas ao mundo em torno de suas personagens.

E o fato de que, apesar das dificuldades da época, esse livro foi tão brilhantemente escrito por uma mulher, me faz ter orgulho do que o ser humano é capaz de fazer, mesmo com tantas limitações e preconceitos à sua volta.

Nota 9.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O apanhador no campo de centeio



SPOILER FREE

Depois da chatice e morosidade de Madame Bovary, o livro seguinte do Desafio Literário com o tema livros citados em filmes, "O apanhador no campo de centeio" (citado em diversos filmes, entre eles "Teoria da Conspiração") veio como uma lufada de ar fresco! Considerado um clássico americano, o livro tem um ar extremamente jovem, apesar de retratar um adolescente nos anos 50. O autor de poucos livros J.D.Salinger simplesmente captou a essência da aborrescência no auge da sua irritabilidade com o mundo, e a loucura dos picos hormonais que fazem do adolescente aquele ser tão inconstante.

Infelizmente li uma edição traduzida, e fiquei com a sensação de que no original a linguagem é mais chula e pesada do que a versão nacional. Na verdade torço para que o original seja assim, pois tornaria o texto ainda mais próximo da realidade.

O livro narra dois ou três dias na vida do adolescente Holden Caulfield, um rebelde sem causa que vive às voltas com o seu próprio desprezo pelo mundo e pelas pessoas em geral. É o próprio Holden que nos conta a sua história, incorporando na narrativa as suas impressões e ideias do que acontece à sua volta e suas impressões sobre as pessoas que ele encontra, seus medos, aspirações e o que mais der na telha da sua cabeça adolescente ligada em 220 volts. Inconstante e irritadiço ao extremo, Holden procura algo que não sabe bem o que é, só sabe que não está nos padrões sociais que o cercam. E nessa busca, ele acaba por se meter em algumas enrascadas e metendo os pés pelas mãos diversas vezes, como todo adolescente.

É o tipo de livro que realmente cativa quem tem entre 12 e 18 anos, altamente recomendável para essa faixa etária (ou não, vai que dá ideia), ou para quem quer entender ou relembrar como foi essa fase tão turbulenta da vida.

Nota 9.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Madame Bovary


SPOILER FREE

Seguindo o tema do Desafio Literário de livros mencionados em filmes, a bola da vez é o clássico francês Madame Bovary, mencionado no filme Pecados Íntimos. Escrito na segunda metade do século XIX, e considerado um completo escândalo na época por tratar abertamente do adultério, além de conter duras críticas à sociedade em geral (incluindo os clérigos, ofensa ainda maior na época), o livro, na minha humilde opinião, não sobreviveu bem ao tempo.

Apesar da leitura em si não ser chata, o livro é lento e as personagens são absolutamente entediantes. Emma é uma mulher mesquinha e absurdamente superficial, e apenas por ser bonita e ter ares aristocráticos (em comparação com as outras mulheres do seu meio) se acha o último biscoito do pacote e, para piorar, é viciada em luxo, pompa e circunstância. Ela é casada (por vontade própria, veja bem) com um médico do interior que, além de ser completamente desprovido de ambição, prefere uma vida previsível e tranquila. Absolutamente o oposto do que Emma entende que pode vir a ser a "felicidade".

Se isso não fosse o suficiente para ter um livro chato, Emma ainda arruma amantes, e suas escolhas nesse campo são totalmente previsíveis. E o desenrolar desses romances também são previsíveis, e servem para você gostar cada vez menos da personagem principal. Sinceramente, não entendo o porquê do escândalo desse livro, tudo bem que por um lado o fato de mencionar que ela tem amantes e em algumas passagens se diz que ela está nua, não há absolutamente nada de explícito na narrativa (nem descrição dela nua o livro tem), e, por outro lado, da forma como Emma sempre se dá mal e é descrita como uma pessoa horrorosa, não vejo razão para tanto alarde. Afinal, não vejo como alguém poderia querer ser como ela ou ter uma vida como a dela.

Pode ter feito alarde no seu tempo, e até ser considerado um clássico, mas no final das contas é só um livro chato.

Nota 5.

terça-feira, 7 de maio de 2013

O Mágico de Oz


SPOILER FREE

Eis uma grande descoberta devida ao Desafio Literário! Primeiro, descobri que o filme se originou numa peça de teatro, que por sua vez foi baseada num livro! Outro fato curioso: foi o próprio autor do livro que ajudou na adaptação para os palcos, ajudando inclusive nas músicas! Que, por sua vez, foram usadas no famoso filme com Judy Garland e estão de volta às paradas de sucesso no Reino Unido devido à morte da Margaret Tatcher (ainda não soube do renascimento do hit "The Witch is Dead" - a bruxa está morta?). Para completar a lista de curiosidades, além de ser livro, peça e filme, o livro ainda por cima é citado em outro filme! (a saber, "Coração de Tinta", segundo esse blog aqui, que tem uma lista bacana de livros citados em filmes.)

Escrito por L. Frank Baum, e seu primeiro livro infantil de sucesso, "The Wonderful Wizard of Oz" acabou virando uma série de livros (são mais de 10 volumes!), porém somente o primeiro livro entrou no hall da fama da literatura, e o autor nunca mais escreveu nada muito digno de nota.

Independentemente disso, O Mágico de Oz é um livro fofo e divertido de ler. A história é realmente muito parecida com a mostrada no filme (preciso assistir novamente urgente), e as partes cortadas acabaram por ser mencionadas no filme novo do James Franco, "Oz, Mágico e Poderoso", o que tornou a leitura ainda mais divertida. É interessante notar como o estilo das histórias para crianças mudou ao longo dos anos, pois como essa é uma história infantil escrita no século XIX, aqui não há o menor pudor em mencionar mortes violentas (decapitação, pelo visto, estava na moda), e bruxas más à moda antiga (apesar de que eu esperava mais descrições das maldades inomináveis, dado que tem tantas mortes fúteis no livro).

Mas não se iluda, ainda é uma história infantil, e para crianças pequenas! A própria personagem principal (vivida no filme por uma Judy Garland com umas 4 vezes a idade da personagem do livro) é uma menininha muito pequena, de uns 4 ou 5 aninhos, que é tão inocente e bobinha que dá dó. A trama também é simples, apesar de longa para um livro infantil, mas as soluções no final da história são meigas (com exceção da bruxa, coitada, as bruxas sempre se dão mal nessas histórias). Aproveito para avisar que a famosa frase "não há nenhum lugar como a nossa casa" não está no livro. Confesso que fiquei triste com isso.

Nota 8 pela fofura.