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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Laranja Mecânica


SPOILER FREE

O maridão ganhou essa edição especial de 50 anos do livro Laranja Mecânica de aniversário no ano passado, e confesso que eu ainda não tinha dado a mínima para o livro (até porque achei, erroneamente, que era um livro sobre o filme, dado que o presente foi dado porque ele é cinéfilo), até que reparei que eu não tinha mais nada, nadinha com cores no título para o Desafio Literário desse mês e precisei improvisar. Então, ignorei que o maridão ainda não tinha lido o seu presente e resolvi inaugura-lo.

E essa edição é realmente especial, pois além de conter notas do editor e do tradutor no início, que ajudam a te preparar para a leitura e contextualizam bem a obra, ela tem ilustrações muito legais e feitas especialmente para essa edição do Dave McKean, do Oscar Grillo e do Angeli. E no final no livro, ainda tem um glossário (muito útil e muito necessário em algumas passagens, mas voltarei a esse assunto daqui a pouco), notas explicativas de menções obscuras que o autor fez, além de diversos artigos do autor que mencionam a obra, feitos em diversas épocas após o lançamento. No finalzinho, para completar, ainda tem uma reprodução de algumas páginas do manuscrito original, com anotações e ilustrações do autor.

Agora que deixei todo o mundo com água na boca, vamos tratar do romance em si. Laranja Mecânica trata de um futuro (não tão distante assim) distópico, onde a juventude é assolada por uma onda de violência, a polícia é extremamente violenta também, e o governo resolve atacar o problema utilizando-se de uma técnica de controle comportamental. Essa técnica faz com que indivíduos violentos passem a sentir aversão física à violência, se sentindo enjoados e doentes só de pensar no assunto.

A discussão aqui é com relação não só ao que fazer para coibir atos violentos, mas se a solução proposta, que retira a capacidade de escolha do indivíduo, é razoável. E ilustrando a discussão nós temos o protagonista Alex, uma das caras mais famosas da história do cinema, que no livro é também o narrador da sua própria história.

Uma das características de Alex é que ele é um adolescente, que, nessa época e lugares não especificados fala quase um dialeto, repleto de gírias que originalmente misturam o inglês e o russo. A ideia era tornar a leitura uma experiência diferente, como se você estivesse realmente escutando um adolescente falando com você, o que é muito legal, mas que torna a leitura um pouco complicada se você não tiver acesso a um glossário que te ajude a entender algumas expressões bem bizarras (talvez você não precise se souber russo, mas esse não é o meu caso), dado que nenhuma das gírias existe, pois foram todas inventadas pelo autor. (Vale ressaltar que o trabalho de tradução dessa edição está primoroso, e as notas do tradutor no início são muito bacanas.)

E aí também é que entram as curiosidades com relação à obra. Originalmente ela não tinha um glossário, e eu prefiro nem imaginar como seria ler o livro sem ele, e o livro é dividido em 3 partes, com 7 capítulos cada um, porém, a edição americana foi feita apenas com 20 capítulos. Aparentemente, o editor americano não gostou do 21° capítulo e simplesmente o cortou, gerando uma obra completamente diferente (o último capítulo muda um bocado o sentido do livro) e diferentes traduções e versões espalhadas pelo mundo. Para bagunçar ainda mais as coisas, quando Kubrick fez o famoso filme baseado no livro, ele usou a versão americana (ele nem sabia que o livro tinha uma versão original diferente, coitado), o que causou uma estranheza imensa no público europeu, que não entendeu muito bem porque o diretor cortou o final da história.

Anedotas à parte, confesso que eu gosto mais do livro sem o tal 21° capítulo também. Não gosto da explicação rasa (e pouco realista na minha opinião) que ele fornece para a razão da violência da juventude, preferia o final do 20° capítulo mesmo, que acho muito mais impactante.

Fora a minha discordância com relação ao final da história, Laranja Mecânica é uma leitura instigante, que incomoda, por tratar de um tema tão difícil (não só a violência mas também o livre arbítrio). Eu esperava descrições mais detalhadas da violência, mas o autor foi bem econômico nesse sentido, o que torna a leitura bem mais leve do que ela poderia ser e do que é assistir ao filme. A linguagem adolescente bizarra é um atrativo a mais, não prejudicando em nada a leitura, na verdade, ela ajuda a dar um ar de época e de lugar diferentes, mas se você ficar interrompendo demais a leitura complica, pois você acaba esquecendo o significado de algumas palavras que são usadas diversas vezes. Ler de uma sentada nesse caso pode ser uma experiência mais interessante. Ler uma edição como essa, é mais interessante ainda.

Para quem curte clássicos da distopia é um prato cheio.

Nota 9.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O vermelho e o negro


SPOILER FREE

Quando a pessoa aqui, que devora livros como uma louca, demora um mês inteiro num livro de menos de 400 páginas é porque tem algo errado. Nesse caso, é com o livro mesmo.

Gente, O Vermelho e o Negro é um dos livros mais chatos que já li na minha vida. Fazia muito tempo que eu não encarava uma coisa dessas, até Madame Bovary foi menos chato e durou menos tempo.

Originalmente eu o escolhi para o tema "romance psicológico" do mês passado do Desafio Literário, mas demorei tanto para ler que ele acabou reclassificado em livros com cor ou cores no título. A única coisa interessante no livro é que sim, o título tem a ver com a história, se considerarmos que o "vermelho" é a cor da nobreza e o "preto" a cor da igreja (com base nas roupas usadas na época).

Fora isso, a história é chata, os protagonistas são chatos e absurdamente inconstantes psicologicamente falando (daí a classificação como "romance psicológico"), e o narrador gosta de descrever cada nuance dessa inconstância, de forma a deixar a leitura mais chata ainda. Não entendi porque Stendhal é tão famoso, sua escrita é modorrenta, e ele mesmo não consegue se decidir o que acha dos próprios personagens. Ele consegue fazer a sua narrativa ser sobre tudo e ao mesmo tempo sobre nada, tão inconstante quanto os seus próprios personagens.

Nota 3.