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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A casa dos espíritos


SPOILER FREE

Confesso que ultimamente tenho tido muita vontade de ler esse livro, mas o seu preço salgado aliado a uma estante lotada de livros esperando a sua vez (que agora além de ser física é também virtual por causa do Kindle), acabei protelando indefinitivamente a sua leitura. Até que veio o Desafio Literário desse mês com o tema Livros Proibidos e ele estava na lista de leituras indicadas. Aí confesso que deu coceira. Tipo assim, comecei a buscar loucamente uma alternativa para arranjar o livro, e nos sebos só tinha edições muito velhas que não fariam bem à minha saúde, na Amazon só tinha a versão em inglês (no, thank you) ou em espanhol (que vergonhosamente tenho muita dificuldade em ler), e nas livrarias à moda antiga o preço estava realmente salgado.

Até que semana passada, fui com a minha mãe trocar um DVD que ela comprou errado e sobrou uma graninha... daí sugeri a ela dividirmos o custo do livro e ela topou! Ela também queria ler, então foi um bom negócio para ambas.

Finalmente de posse de um exemplar comecei a ler! E me surpreendi positivamente. Explico: quando era pré-adolescente eu vi o filme, e achei chatérrimo, tão chato que nem me lembrava mais da história, e foi justamente por causa do filme e dessa experiência que fiquei tantos anos sem vontade de ler Isabel Allende. Mas depois de ter algum contato com outras escritoras latino-americanas e sabendo que o livro contava como era o Chile na época do golpe, voltei a me interessar. E valeu muito a pena!

Isabel Allende acertou em cheio em A Casa dos Espíritos. O livro é lindo, e bem escrito até a última vírgula. E como se trata de um romance histórico, a impressão que você tem é que se trata de uma história absolutamente real (apesar dos seus elementos mágicos, que são tratados de tal forma que parecem possíveis e normais). Confesso que fui buscar a biografia da autora na internet para ver até que ponto o conteúdo do livro não poderia ser real, e infelizmente descobri que muito menos do que eu gostaria que fosse o é.

Mas no fundo isso não importa, porque real ou não a história que é contada poderia muito bem o ser, e por isso ela nos deixa tão arrebatados, e seus ensinamentos são tão importantes em termos de não repetirmos o passado. Gosto de pensar, também, que esse é um livro atemporal, desses que durarão gerações e que possa servir de testemunho do que acontece quando as pessoas querem se manter no poder sem medir consequências. Além de mostrar até que ponto o ser humano é capaz de chegar, o que não é nada lisonjeiro para a nossa espécie.

Para quem não sabe do que se trata, A Casa dos Espíritos conta a história das mulheres de uma família ao longo de três gerações no Chile, desde o início do século XX, até o golpe que derrubou o presidente Salvador Allende. Além de fazer um retrato das modificações pelas quais o país passou, o livro retrata as relações, amores, traições e misticismos que envolvem a família e como elas são afetadas pelo os acontecimentos do país.

Bom demais, literatura de primeira qualidade.

Nota 10.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Exit to Eden


SPOILER FREE

E depois de diversos percalços durante esse mês, finalmente terminei mais um livro proibido, "Exit to Eden" da Anne Rice, escrito sob o pseudônimo de Anne Rampling. Dessa vez o motivo para proibição é bem óbvio: as cenas de sexo. Aliás, acho que todos os livros que tratam desse tema já foram proibidos em algum momento... mas enfim.

 Ainda sem tradução para o português, "Exit to Eden" é um dos livros eróticos da famosa escritora de "Entrevista com o Vampiro" que ela publicou com outro nome (ela chegou a usar 2 pseudônimos diferentes em seus livros eróticos: Anne Rampling e A. N. Roquelaure), mas não é o mais famoso deles, pois a trilogia da Bela Adormecida é bem mais conhecida (e mencionada como um clássico em "Exit to Eden"! Adoro esse tipo de referência).

Resolvi ler esse livro porque fazia muito tempo que eu queria ler algo dessa linha da Anne Rice e sempre acabava postergando, mas agora com o Kindle, consegui o livro numa promoção e nem precisei esperar chegar pelo correio, baixei direto pela internet e comecei a ler. E sabe de uma coisa? "Exit to Eden" é tudo o que "50 tons de cinza" gostaria de ser mas não é, em todos os quesitos que você puder imaginar.

"Exit o Eden" é bem escrito (estamos falando da Anne Rice, gente, isso era o mínimo de se esperar), os personagens são extremamente interessantes e complexos, o BDSM não é tratado como uma doença, mas como uma forma muito interessante e saudável de se encarar a sexualidade, as cenas de sexo são críveis e muito, mas muito mais interessantes. Ah sim, e elas não são a única graça do livro e nem surgem em abundância (rsrsrsrsrs) ou sem propósito.

Depois descobri que fizeram um filme meio comédia do livro, e pelo o que li sobre o dito cujo, ele não tem quase nada a ver com a história original (mudaram um mundo de coisas e acrescentaram todo um plot que não existe no livro), e confesso que não fiquei com a mínima vontade de assistir, então não tenho como falar nada sobre tal aberração.

Mas voltando ao livro, ele trata da história de um homem, Elliot, que foi treinado no mundo do BDSM para ser um submisso, e de uma mulher, Lisa, que é chefe de um clube exclusivo de BDSM para ricaços que fica numa ilha, onde ela trabalha como uma das treinadoras dos submissos e é uma dominatrix extremamente bem sucedida e conceituada. Mas tudo isso pode mudar quando Elliot chega na tal ilha, conhecida como The Club, e algo fora do controle dos dois acontece entre Elliot e Lisa.

Além das cenas de sexo, para mim "Exit to Eden" trabalha também com um tema muito caro à autora: a culpa, e como ela foi marcante para a sua formação católica. Quase todos os livros dela giram em torno desse tema, a diferença é como cada personagem da autora lida com essa herança cultural tão forte e também tão presente na nossa cultura brasileira. É sempre interessante ver as nuances e pontos de vistas dos personagens da Anne Rice (pelo menos até ela mesma mudar de ideia e resolver virar católica de carteirinha), apesar de nesse quesito "Exit to Eden" não ser o livro mais interessante que já li dela.

Para quem quer ler literatura erótica de verdade mas não quer nada muito pesado, é um ótimo livro. Leitoras, deixem Christian Grey de lado e leiam Anne Rice, vocês não vão se arrepender.

Nota 9.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

As Aventuras de Tom Sawyer



SPOILER FREE

Apesar de eu ter lido esse livro no kindle, nas obras completas de Mark Twain ilustradas que comprei por menos de de 2 dólares, esse livro tem história. Meu pai era um grande fã de Mark Twain (gosto que herdei), e amava esse livro. Até uns dois anos atrás eu ainda tinha o livro original do meu pai em casa, mas minha forte alergia somada à quantidade absurda de livros em casa e ao fato de que eu achava que dificilmente eu leria o volume em questão me fez desfazer do livro de capa linda mas já carcomida pelo tempo que eu tinha. Nada grave, pois rapidamente arranjei uma versão de bolso por um preço razoável. Que acabei não lendo porque assim que comprei o meu kindle fiz uma grande busca por obras clássicas fornecidas de graça pela Amazon, o que depois me levou a comprar bem baratinho a versão que mencionei lá no início.

Histórias sobre o livro à parte, finalmente li um dos livros mais amados pelo meu pai, que eu nunca tinha tido realmente vontade de ler (vai entender). Mas nada que o Desafio Literário não corrija, não é? "As Aventuras de Tom Sawyer" já foi proibido diversas vezes, e por motivos diferentes. Já foi proibido por conta da sua linguagem chula (para a época), por conta do excesso de informalidade (quase a mesma acusação de linguagem chula, mas não é exatamente a mesma coisa), por racismo (versão americana da história com o Monteiro Lobato e o racismo da época em que a obra foi escrita), por violência explícita e também por não ser apropriado ao público infanto-juvenil (grandes coisas, hoje em dia "O Mágico de Oz" provavelmente também não seria mais considerado apropriado para crianças).

E, claro, o livro tem isso tudo em profusão em suas páginas.

E sinceramente, não acho nada negativo. O livro retrata uma época e um lugar onde tudo isso realmente existia (racismo, linguagem chula e coloquial) e onde e quando ainda por cima isso era considerado normal para jovens, então me parece bastante razoável que o livro seja assim.

E claro, o que era considerado chulo era muito diferente! O que torna a leitura muito interessante! Confesso que não identifiquei nenhum "palavrão moderno", e desconheço o que era considerado palavrão na época. "Gay" ainda tinha outra conotação e era usado sem outras intenções, a forma de contrair as palavras para denotar a forma de falar é um espetáculo (e uma dificuldade) à parte, e faz com que o leitor se aproxime ainda mais do mundo retratado por Mark Twain. E os personagens e situações são simplesmente geniais! Como me arrependo de não ter lido esse livro antes! Hum, talvez eu não tivesse apreciado tanto se tivesse lido antes, é verdade, mas o livro é muito bom.

Tom Sawyer viveu numa época onde não havia muitas opções para crianças, então todos os seus jogos e brincadeiras são feitos fora de casa, no meio da floresta, tudo com muito faz-de-conta e se baseando no que era considerado clássicos infantis da época: piratas, índios, ladrões, caçadores de tesouros e, claro, Robin Hood. A escola era um lugar de sofrimentos para um jovem tão ativo (provavelmente hoje Tom Sawyer seria diagnosticado com hiperatividade) e os castigos físicos em classe eram comuns e considerados normais. Além disso a Igreja aos domingos era uma obrigação de todos na sua pequena cidade (pense mais numa vila do que numa cidade), e nesse dia todos precisavam se vestir bem, o que era outra tortura para crianças, que precisavam colocar sapatos e roupas pouco confortáveis (sério, quem nunca foi criança e detestou uma roupa por essas razões?). Tudo muito diferente do que é hoje em dia, mas as razões das crianças e sua forma de pensar e brincar não mudou tanto assim, e aí está a imortalidade da obra de Mark Twain.

Tom Sawyer representa aquela juventude ainda inocente, onde fantasia e realidade podem ainda se misturar e o que pode ser considerado riqueza ainda é muito relativo e único para cada criança. E ver o que podia ser considerado um tesouro para crianças no século XIX é no mínimo divertido. Uma época onde todas as crianças brincavam soltas, podiam "fugir" de casa no meio da noite e andar por cemitérios, sumir por dias num rio e brincar por horas a fio no meio de uma floresta. Que criança hoje em dia nunca pensou em fazer essas coisas?

É um fiel retrato de uma época que já vemos de uma forma bem romântica, que serve tanto para desmistificar quanto para deixar saudades.

Nota 10.