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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A confissão da leoa



SPOILER FREE

Escolhi esse livro porque em fevereiro, em um dos desafios literários que estou seguindo, o tema é um autor africano, o que achei interessante, porque realmente costumamos negligenciar muito a literatura da África (e a arte, e a política, e as pessoas... mas isso é problema para outro papo).

Mia Couto eu só conhecia de nome, e confesso que fiquei surpresa ao descobrir que o autor de Moçambique é branco (eu esperava que ele fosse negro por uma questão de representação dos negros na literatura africana, que sempre me surpreendeu por ser mais baixa do que o esperado dado a sua população majoritariamente negra). Mas ele sempre viveu em Moçambique, e ele traz a sua experiência de vida para retratar os problemas típicos da sociedade africana.

Na "confissão da leoa" em particular, ele nos traz a história de Mariamar e Arcanjo, uma negra que vive numa aldeia no interior do país, mergulhada em tradições ancestrais, e um caçador mulato que vive na cidade, e sobrevive à tragédia de não pertencer a grupo nenhum (ele nem é branco e nem é negro). A aldeia de Mariamar está sofrendo ataques de leões com frequência, e uma empresa de petróleo que tem negócios na região contrata o caçador Arcanjo para dar cabo na feras que atormentam a população. O problema é que numa sociedade onde séculos de culturas se misturam, não se tem certeza de quão reais são os leões, ou se as mortes e ataques tem origem em outro tipo de fera.

A prosa de Mia Couto é rica, e nos relatos de Mariamar e Arcanjo realidade, alegoria e sentimentos se misturam de uma forma em que a verdade se mostra multifacetada, e jamais única. E no meio das figuras de linguagem, uma realidade triste, mas extremamente presente na África, nos é apresentada aos poucos, criando um quadro realmente perturbador. No final das contas, os leões podem ser os menores problemas.

Eu já li muito livro pesado, muita história de arrepiar (sem ser terror, hein?), mas confesso que "a confissão da leoa" foi difícil de digerir. E não sei se a dificuldade dos personagens em lidar com a sua própria história tornou a narrativa ainda mais pesada, ou se é tanta coisa junta que foi demais para mim. Só sei que fiquei incomodada, e isso não caiu bem na minha leitura, apesar da qualidade do texto.

Por isso, nota 9.

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