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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Isadora Duncan - Minha Vida



Um dos temas das leituras de março desse ano (é, estou atrasada mesmo nas resenhas!) é uma biografia, e já estava na minha pilha de livros para ler há alguns anos a auto-biografia da bailarina Isadora Duncan, apenas uma das criadoras do que hoje chamamos de dança contemporânea.

Eu já havia lido uma Graphic Novel sensasional e lindíssima sobre a vida dela (aqui) e um livro com escritos de uma das suas contemporâneas mais famosas, Ruth St. Denis (aqui), e peguei o livro da Isadora bastante ávida por suas histórias, vivências e ideias.

Eu me sinto até mal em escrever o que vou escrever, mas, preciso ser sincera. Confesso que a autobiografia de Isadora deixou muito a desejar. Talvez por ter sido escrita no final da sua vida, quando ela já estava empobrecida e sua fama e sua dança mais apagadas da memória do público, o seu texto é extremamente recentido. E dessa forma, Isadora tenta se enaltecer e lembrar do auge do seu sucesso e tenta fazer ele durar o máximo possível ao longo da história que ela conta de si mesma (inclusive deixando de lado tudo o que aconteceu após a sua ida para a Rússia, que é o ponto onde termina a narrativa do livro).

O resultado do seu rancor é um texto pedante, cheio de citações de todos os artistas e personagens importantes que fizeram parte dos seus fãs. Entre essas citações e descrições de ações que beiram a irresponsabilidade, estão suas ideias sobre a dança e outras formas de arte, que é a parte mais interessante do livro, mas que fica escondida e é difícil de apreciar no meio de tanta loucura e orgulho.

Lendo sua versão da história, fica muito claro como ela era uma mulher livre muito, mas muito à frente do seu tempo (gosto especialmente da descrição da Paola Blanton sobre a Isadora, que ela era uma hippie 50 anos antes do movimento surgir, e era mesmo!), e isso causou muito sofrimento tanto para ela quanto para sua família e suas alunas. Em diversos momentos fica claro que suas atitudes e escolhas foram feitas de coração, mas foram muito condenadas simplesmente por terem sido tomadas numa época em que elas eram mal vistas. Fora as tragédias pessoais! Gente, é tragédia demais para uma pessoa só. E também fica claro o quanto isso a feriu e foi sendo somado ao longo do tempo no seu rancor e orgulho, porque só alimentando o orgulho para aguentar e permancer firme em sua liberdade e sanidade mental.

Pensando dessa forma, o livro é muito triste, porque você vê alguém com um gênio maravilhoso e com tanto potencial para deixar uma escola firme e forte para durar anos e anos se desfazendo ao longo da narrativa, e a sua escola nunca tomou o porte necessário para manter o seu legado tão presente quanto poderia ser hoje. Não que não esteja presente, quem estuda dança contemporânea sabe da sua importância na história da dança, mas muitos classificam o seu trabalho como sendo atualmente de museu, o que é muito triste. Talvez isso se dê pelo fato que quem deu continuidade à dança contemporânea foram os pupilos da Ruth St.Denis e de outras bailarinas da época, mas é importante lembrar que nada do que foi feito no século XX em termos de revoluções dançantes teria sido possível sem ela. E ver alguém com esse porte e genialidade se perdendo ao longo das décadas é algo de partir o coração.

Nota 7.

4 comentários:

  1. Eu geralmente me abstenho de autobiografias... prefiro ler sobre uma pessoa do ponto de vista de outra pessoa e não dela mesmo - há uma imparcialidade maior na forma como se analisam os fatos daquela vida. Posso entender os ressentimentos da Isadora e creio que seria interessante ler sua biografia, mas acho que ficaria com uma versão escrita por outro biógrafo ^^

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    1. Pois é... eu tenho uma biografia dela em casa (mais de uma, na verdade) e ainda pretendo ler também, mas no exato momento quero uma leitura leve :-)

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  2. Eu tenho o livro ainda da minha mãe, adorei, li quando tinha uns 11 anos mais ou menos.

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  3. Concordo plenamente quando você fala em relação à escola, é um pesar ENORME não termos um legado dessa mulher.
    Acabei de ler o livro ontem e confesso que ainda estou me recuperando de tanto sofrimento!
    Mas, para mim, foi um livro muito importante que acrescentou muito. Principalmente no que não fazer em relação a vida profissional no ramo da dança.
    Engraçado que isso é uma coisa que ela fala, leia e veja o que fiz para você não cometer os mesmos erros. Rsrsrsrsrs

    Gratidão por sua resenha! ����

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