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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas



SPOILER FREE

Agosto foi um mês complicado e estou super atrasada com as leituras dos Desafios Literários, mas essa eu já consegui terminar! O tema era "livro com título diferente". Por acaso, eu já estava há tempos de olho num livro que comprei numa leva de autores portugueses que comprei no ano passado com o intuito de conhecer melhor a nova geração de autores lusitanos, que já havia me maravilhado com Valter Hugo Mãe, e que entrou na lista de compras justamente por causa do título, no mínimo, inusitado.

Como o português era português mesmo, com direito a diálogos escritos para soar como lusitanos do interior da terrinha, confesso que demorei um bocado a me sentir confortável na leitura e realmente entender o que estava acontecendo. A partir daí a leitura fluiu bem melhor, e pude realmente aproveitar a história de dois imigrantes portugueses (ilegais, claro) em alguma terra estrangeira, sendo que nenhum deles falava uma palavra da língua local.

Toda a narrativa se centra nessa dificuldade de viver num país estrangeiro sem ter nenhuma ideia nem da língua nem da cultura local, contando um dia na vida do casal e do filho, onde eles se perdem e não sabem como voltar para casa. O livro é permeado de questões sociais, como o quê levou os portugueses a saírem do seu país, a forma como são tratados no estrangeiro, e a dificuldade de se adaptar nessa situação.

Ricardo Adolfo não trata desses temas com delicadeza, pelo contrário, o seu narrador é o próprio imigrante, que, na sua limitação social e de estudos, tenta não só entender o quê está acontecendo, mas busca as melhores alternativas para sair dos problemas. Problemas em que eles mesmos se metem por conta da total ignorância acerca do lugar e da língua com o qual precisam, não apenas conviver, mas extrair um meio de subsistência.

Apesar do título do livro sugerir algo mais para o ramo da comédia, o texto é bastante pesado e desesperançoso, levantando questões extremamente incômodas, especialmente nos dias de hoje.

Inclusive, é uma leitura extremamente recomendada por tratar de algo tão atual.

O meu único problema é que eu não estava no clima para uma leitura desse peso, se não fosse por isso a nota seria maior.

Nota 8,5.


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

The Mortal Instruments (Série) - Os instrumentos mortais



SPOILER FREE

Então, vou tratar da série completa (seis livros no total) em um só post, simplesmente porque não quero me estender e não há a menor necessidade de prolongar o assunto. Os livros já fazem isso sozinhos e eu não estou a fim de ajudar.

A série escrita por Cassandra Clare, e com a qual ela ganhou rios de dinheiro é composta pelos seguintes volumes:

- City of Bones (Cidade dos Ossos)
- City of Ashes (Cidade das Cinzas)
- City of Glass (Cidade de Vidro)
- City of Fallen Angels (Cidade dos Anjos Caídos)
- City of Lost Souls (Cidade das Almas Perdidas)
- City of Heavenly Fire (Cidade do Fogo Celestial)

A série é do mesmo estilo de Twilight (romance meloso adolescente misturado com fantasia, e nesse caso com mais ação), com um detalhe que pessoalmente eu achei extremamente divertido, que é o fato do casal principal tratar de um tema tabu: incesto. Agora imagina um texto de romance adolescente, daqueles mal escritos, que trata de um assunto desse tipo como se fosse algo leve e tranquilo. Hilário, não é mesmo? Pois bem, foi o que me manteve lendo a série até o final do terceiro volume.

Digo isso porque a série de Cassandra Clare não é apenas mal escrita, como o mundo que ela criou é um balaio de gatos de religiões (com um peso desproporcional para o cristianismo, claro) tão grande, que é possivelmente ofensivo para muita gente. Mas eu prefiro não me prolongar nesse assunto, porque dá alergia.

Voltando ao casal principal, o desenvolvimento dos personagens sofre de um problema muito comum em livros românticos para adolescentes, algo que em inglês se chama de "instalove", que é quando um casal se conhece e se apaixona instantaneamente (ao nível de querer casar e ter filhos). Só que nesse caso a coisa é levada ao extremo, pois em menos de uma semana (no primeiro livro) eles se conhecem de uma forma que é como se se conhecessem há anos. Uma coisa muito estranha e que me deixa muito apreensiva sobre o que essa geração acha que é aceitável num relacionamento.

Além disso, o livro sofre do "problema Twilight", que inclui não só descrições repetitivas sobre a beleza do interesse romântico da mocinha que é narradora do livro, mas também aquela enrolação sem fim em torno do envolvimento do casal principal. Quando eu digo enrolação, em "Instrumentos Mortais" isso é levado realmente ao extremo, toda a hora acontece alguma coisa que posterga ou impede o enredo de andar. Algo me diz que foi para fazer a história durar mais livros e a autora ganhar mais dinheiro.

E digo isso porque ela não faz isso apenas com o enredo envolvendo o romance do casal, mas também com relação ao vilão e ao enredo geral da história. As reviravoltas e as artimanhas para manter a história rolando chegam a ser vergonhosas, porque diversas vezes não fazem sentido.

Então, depois do terceiro livro, a única coisa que me manteve lendo a série foi a determinação de ler até o final só para poder falar mal com propriedade. Confesso que não sei se valeu a pena, porque falar mal dessa série é que nem bater em cachorro morto. No final só fiquei com a sensação de que perdi o meu tempo, porque a graça das bizarrices foi se perdendo no meio do caminho. O pior é que ainda tem gancho para uma nova série (que eu tenho certeza que se ainda não existe, a autora vai escrever!).

Séries como essa me deixam deprimida e sem esperanças na humanidade...

Nota 2.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Horns (O pacto)



SPOILER FREE

Tudo começou porque eu vi que iria sair o filme com o ator que fez Harry Potter, e pelo trailer eu fiquei morrendo de curiosidade. Daí descobri que era baseado num livro! E mais, o autor do livro é filho do Stephen King. Daí eu conseguir o livro foi um piscar de olhos. Em inglês, claro, porque só a tradução do título para o português é de assustar.

Mas, dessa vez fiz algo que eu não costumo fazer, vi o filme primeiro (e no Netflix, porque a lista de filmes e de leituras é realmente grande). E ADOREI. O filme é muito interessante, a total falta de explicação para o que acontece com o personagem principal, Ig, é simplesmente sensacional, porque no final das contas nem o filme nem o livro são sobre a transmutação em si, e sim sobre como ele e aqueles em sua volta lidam com isso. Lindo. O final é meio estranho, meio aberto demais, mas o resto do filme é tão divertido que nem liguei.

Fui ler o livro animadíssima, e o livro é ainda melhor que o filme. Claro que foram feitas algumas adaptações, mas a história é basicamente a mesma. Com exceção do final, que no livro é infinitamente melhor. Tudo bem que eu li já sabendo quem era o culpado do crime, mas o livro conseguiu prender a minha atenção mesmo assim, o que já diz bastante coisa. Até as referências bíblicas são mais interessantes no livro (e mais aprofundadas, claro).

Em termos gerais a história do livro é a seguinte: a namorada de Ig, Merrin, foi encontrada assassinada e estuprada numa espécie de floresta na cidadezinha em que eles moravam. Apesar de não haver provas concretas Ig é o único suspeito, e todos acreditam que ele é o culpado. O problema é que na noite em que Merrin foi assassinada, Ig teve uma bebedeira de proporções épicas, e não lembra do que aconteceu. Até o dia em que começam a crescer chifres na sua testa, e todos ao seu redor começam a agir de forma muito estranha.

Nota 9.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A leitora do Alcorão



SPOILER FREE

Esse livro foi uma indicação da minha professora de árabe, e eu estava super animada com ele, não só pelo conteúdo prometer ser interessante, mas também pelo fato da autora ser escritora profissional.

Digo isso porque o livro é uma autobiografia de uma norte americana, que após os atentados de 11 de setembro, chegou à conclusão que ela queria ser muçulmana e resolveu se converter, além de ir morar no Cairo, no Egito. Como narrativa, é extremamente interessante, mas por ser uma autobiografia sempre corre o risco de ser um "Marley e eu" da vida, uma ótima história, mas escrita por alguém que teria feito melhor ao contratar um ghost writer. Daí a expectativa aumentar ainda mais, pois Willow Wilson é autora de diversos livros de ficção, alguns inclusive de temática oriental.

Na hora do vamos ver, o livro é realmente interessante, a história dessa americana é algo realmente surpreendente, e ela desfia fatos e explicações sobre o islamismo que não costumam ser bem difundidos, o que torna o seu trabalho de interesse geral. Em compensação, é uma autobiografia, e as pessoas normalmente não conseguem ser muito objetivas ou até mesmo muito organizadas quando estão tratando de suas próprias lembranças (lembro dos problemas da autobiografia da Isadora Duncan).

Em outras palavras, o livro muitas vezes é meio confuso. A narrativa não é exatamente linear, indo e voltando no tempo algumas vezes, de uma forma que lembra o fluxo de pensamentos ou memórias, mas como a gente faz na nossa cabeça, isto é, sem avisar ao leitor que não está mais sendo tratado o mesmo episódio, e nem mesmo a mesma época. Dessa forma, o corte na leitura ficou muitas vezes um pouco abrupto, lembrando mais um roteiro de cinema ou televisão do que um livro. Aliás, esse é um problema que tenho encontrado com frequência em muitos autores contemporâneos, especialmente os americanos, imagino se isso se deve a um excesso de contato com essa mídia ou se os leitores mais jovens já esperam algo assim, algo como "um programa de televisão escrito". Pessoalmente, eu não curto esse tipo de abordagem, acho que ela é da mídia audiovisual, mas não funciona bem na literatura, precisando de uma adaptação para que as trocas de momentos sejam percebidas por palavras ao invés de uma imagem.

Apesar desse problema, lá pelo meio do livro você começa a se acostumar com o estilo, e a leitura passa a fluir melhor, e, assim, dá para apreciar mais a história de vida da Willow, que é, sem sombra de dúvida, extremamente interessante.

Nota 8.