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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Kindred



SPOILER FREE

Então, o segundo livro que escolhi para ler em setembro, mas que só terminei de ler em outubro, foi selecionado por conta da autora negra (tema de um dos desafios literários desse mês), Octavia E. Butler, que é não só uma autora fabulosa (que descobri lendo Bloodchild), mas por conta da sua importância como uma das primeiras mulheres a escrever ficção científica. E a primeira mulher negra!

"Kindred" é considerada uma das suas obras mais importantes, e, gente, que leitura! Na verdade o livro é tão forte que é mais uma surra do que uma leitura. Num misto interessante de auto-biografia e de ficção científica, o livro narra a história de Dana, uma mulher negra que vive nos EUA nos anos 70, mas que inexplicavelmente começa a viajar no tempo para a Louisiana escravagista por conta de um dos seus antepassados.

O livro então é narrado pela própria protagonista, que tenta se moldar à época em que se encontra mas sem perder os seus valores, o que não é uma tarefa nem um pouco fácil. Levando em consideração que nos anos 70 ela é casada com um homem branco, e que há uma onda forte do movimento negro nos EUA, viver na época da escravatura norte-americana pode ser não só extremamente complicado, mas ela também corre o risco de mudar totalmente as suas crenças e sua forma de ver o mundo e as pessoas.

"Kindred"  é um livro extremamente centrado na questão dos negros, especialmente das mulheres, da forma inumana que a escravatura funcionava e como o ser humano é capaz das coisas mais abjetas. Uma das características únicas desse livro é o choque de realidade, porque quando se lê um romance histórico dessa época ou um relato de um ex-escravo é como se nos distanciássemos de alguma forma daquela narrativa, mas "Kindred" trabalha o contato com o passado de uma forma diferente, a distância simplesmente some e tudo o que o leitor vê é a ferida aberta. É um livro chocante nesse sentido.

Levando isso tudo em consideração, a leitura é obrigatória para quem quer entender um pouco mais as raízes do racismo (que aqui no Brasil é igualzinho...), porém aviso que o livro pode te deixar deprimido. Foi o que aconteceu comigo, achei o livro fantástico, mas confesso que foi um exercício de força de vontade, porque é uma pancada emocional. Muito necessária, mas não menos pancada.

Leitura recomendada para todos que querem se tornar seres humanos melhores.

Nota 10.

Um comentário:

  1. Embora eu tenha achado sua resenha excelente e tenha ficado curiosa, vou me abster por enquanto, porque estou numa fase em que acho melhor me ater a coisas mais leves... mas o bloodchild me chamou bastante atenção e coloquei-o na lista de desejados. Vamos ver sair dessa fase meia ressacada da vida e vou lê-la.

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