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sábado, 28 de janeiro de 2017

Fountain and tomb


I enjoy playing in the small square between the archway and the takiya [monastery] where the Sufis live. Like all the other children, I admire the mulberry trees in the takiya garden, the only bit of green in the whole neighborhood. Our tender hearts yearn for their dark berries. But it stands like a fortress, this takiya, circled by its garden wall. Its stern gate is broken and always, like the windows, shut. Aloof isolation drenches the whole compound. Our hands stretch toward this wall - reaching for the moon.

SPOILER FREE

Mais um livro de um dos meus autores favoritos, o egípcio ganhador do Nobel Naguib Mahfouz. Infelizmente, pra variar, é mais um volume que não foi traduzido para o português, o que pra mim simplesmente não faz sentido, pois o trabalho do autor é simplesmente maravilhoso e muito vasto para termos apenas uma meia dúzia de traduções.

Dessa vez, o livro traz diversos contos bem curtinhos que retratam a infância do autor num bairro na periferia do Cairo. O quão autobiográfico as histórias realmente são (ou quantas) é um mistério, mas a qualidade da escrita não deixa dúvida sobre a grandiosidade de Mahfouz. Esse volume que consegui, em específico, ainda tem diversas ilustrações belíssimas, que para mim, como aficionada pelo mundo árabe, é de um deleite incrível.

Outro ponto que gostei foram as descrições sobre as brigas de rua, que descrevem o uso dos bastões pelos egípcios como forma de arte marcial que hoje, aqui no ocidente, só vemos de forma bem distorcida através da dança do bastão retratada na dança do ventre. Quanto a isso eu tenho uma lembrança particularmente especial, certa vez vi num show um cantor egípcio e um bailarino profissional (egípcio também) que mora na Alemanha fazerem essa luta, mas numa versão mais suave, dançada (pense em capoeira), e precisei me conter para não rir, pois o pobre bailarino quase apanhou de verdade, mal podia se defender dos movimentos do egípcio, que apesar de parecerem suaves certamente tinham uma potência de quem fazia isso nas ruas, de "brincadeira", como descrito nesse livro do Mahfouz. Literatura é fonte de conhecimento!

Eu não tenho palavras suficientes para descrever o quão maravilhoso é o trabalho de Naguib quando ele acerta na mão. É realmente sensacional e de tirar o fôlego.

Nota 10.

Weird Things Customers Say in Bookshops

CUSTOMER: I read a book in the sixties. I don't remember the author, or the title. But it was green, and it made me laugh. Do you know which one I mean?

SPOILER FREE

Como o meu kindle continua cheio, e, na verdade, ele é um pouco pesado para ler deitada na cama (deitada mesmo, não recostada), então estou fazendo mais uso do meu aplicativo kindle para celular, e como antes de dormir gosto de ler coisas bem leves e sem compromisso, e ainda por cima recebi o livro de uma amiga (isto é, saiu de graça), resolvi ler "Weird things customers say in bookshops" ("Coisas esquisitas que as pessoas dizem em livrarias").

Eu já conhecia a autora, pois segui o seu blog (que deu origem a esse livro e a uma continuação que já estou terminando) durante muito tempo, e já adorava os causos que ela contava (para deixar registrado: parei de seguir por outros motivos que não a qualidade do blog). E o livro tem realmente histórias muito cômicas. O ser humano pode ser muito engraçado. Pessoas sem noção existem em maior percentual na população do que nós imaginamos. Quem lida com público sabe do que estou falando, e talvez até reconheça situações parecidas.

O livro é uma coleção de conversas esquisitas de pessoas em livrarias, podendo envolver ou não um vendedor ou um telefone. Tem coisas do arco da velha, outras que você duvida que podem ser reais (esse é o princípio do livro, tudo é relato de acontecimentos reais), e outras que simplesmente não fazem sentido, porque as pessoas podem ser muito confusas também. E as crianças gente, são as melhores histórias!

Agora, parte das piadas muitas vezes se baseia na ignorância do consumidor, que cisma num nome errado (título, autor, tem de tudo, e alguns são realmente engraçados pois lembram a personagem da Velha Surda) ou faz afirmações incorretas sobre autores famosos, o que pode ser engraçado se você entende do assunto, mas pessoalmente acho esse tipo de humor fraco (exceto o da Velha Surda, pois adoro), porque não acho ignorância algo engraçado e sim triste. Tanto que me identifico com a descrição do Neil Gaiman na capa acima: "Tão engraçado. Tão triste... Leia e suspire." É exatamente assim, mesmo.

Indicado para fãs de livros e livrarias em geral.

Nota 8.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Poemas


Caminho   
Caminho e atrás de mim caminham as estrelas  
até seu próximo amanhã  
o segredo, a morte, o que nasce, o cansaço  
amortecem meus passos, avivam meu sangue.  

Não iniciei a trilha, ainda  
não vejo nenhum jazigo  
caminho até mim mesmo, até  
meu próximo amanhã  

caminho e atrás de mim caminham as estrelas.

SPOILER FREE

Mais um livro de poesia! Dessa vez do poeta sírio Adonis (ou Adunis - أدونيس ), que é o pseudônimo de Ali Ahmed Said Esber (علي أحمد سعيد إسبر), considerado o poeta árabe mais influente e importante da segunda metade do século XX. Detalhe: nascido nos anos 30, ele ainda está vivo (e produtivo) e depois de morar por anos no Líbano (inclusive durante a guerra civil que tanto marcou o país) se refugiou em Paris.

Sua obra é bastante vasta e variada, mas infelizmente só existe esse volume traduzido para o português (que eu saiba, se alguém tiver indicações estou aceitando), que é uma coletânea de diversas fases da produção do autor. Como eu não conhecia nada dele antes desse livro, só o conhecia de nome, não sei julgar se a seleção é realmente boa ou representativa.

Mas Adonis não é exatamente uma leitura fácil. Sua poesia pode parecer muito despropositada e árida em alguns poemas e extremamente lírica ou representativa, e até mesmo política, em outros, o que o torna um poeta muito versátil, mas ao mesmo tempo não é tudo dele que me agrada. Confesso que gostei particularmente das suas poesias longas e mais políticas, como "Tumba para Nova Iorque", que tem umas 20 páginas e é dividida em diversas seções. Mas outras, como a sua série de poemas nominados Árvore (são vários com esse título) simplesmente me deram sono.

Talvez seja uma questão de tradução do árabe, visto que ele revolucionou a estrutura da poesia árabe e o uso da língua nessa arte, quem sabe um dia eu conseguirei lê-lo no original e talvez o aprecie mais do que foi possível nesse volume. Já estou com alguns de seus poemas em versão bilíngue em coletâneas que andei comprando na Amazon, mas a tradução está no inglês e em um dos volumes o árabe está como se fosse escrito à mão, o que dificulta a leitura no original. Vamos ver. Como tenho lido muita poesia, fiquem de olho, que mais cedo ou mais tarde voltaremos a esse autor tão importante para a literatura árabe.

Nota 8.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Kabir Cem Poemas



Por que me procuras tão longe, amigo,
Se estou sempre contigo?  

Não no templo ou na mesquita,
Não no Kailasa ou na Kaaba.   

Não no ritual ou na cerimônia,
Não no ioga ou na renúncia.  

Busca-me e me encontrarás.
Tua procura só durará um instante.  

Kabir diz: Escuta, meu irmão! 
Ele é a respiração da respiração.

SPOILER FREE

Mais um livro de poesia (estão todos acabando! Mas tenho outros para começar!), dessa vez um poeta de nome sugestivamente árabe, mas na verdade indiano, que mistura o misticismo hindu com o sufi. Coisas que a Índia nos traz...

Esse livro em particular, publicado por uma editora voltada para assuntos mais esotéricos, traz uma versão para o português do livro traduzido pelo escritor indiano Rabindranath Tagore, de uma seleção de cem poemas do poeta-místico Kabir, para o inglês em 1915 (este é domínio público e se encontra na internet). A versão, criada com direito a inúmeras notas de rodapé riquíssimas, é do José Tadeu Arantes, que me pareceu fazer um bom trabalho, visto que meu livro terminou lotado de marcações de poesias maravilhosas.

Antes de esbarrar com esse livro durante as compras para o Natal eu confesso que desconhecia o poeta, que me lembrou muito, mas muito mesmo, o maravilhoso Rumi. Logo, não havia como não gostar de sua poesia, que é realmente tocante para quem curte o poeta sufi persa. Com o extra de trazer diversas referências a linhas hinduístas, das quais tenho um pouco mais de conhecimento após a leitura desse livro. As notas de rodapé ajudaram muito nesse sentido, fora o prefácio e o pósfácio, que também são muito enriquecedores.

Pena que são apenas cem poemas, e não existem outras obras de Kabir em português (que eu tenha encontrado). Espero que estudiosos como Arantes remediem esse problema.

Nota 10.

Um amor feliz





Nada duas vezes

Nada acontece duas vezes
nem acontecerá. Eis nossa sina.
Nascemos sem prática
e morremos sem rotina.

Mesmo sendo os piores alunos
na escola desse mundão,
nunca vamos repetir
nenhum inverno nem verão.

Nem um dia se repete,
não há duas noites iguais,
dois beijos não são idênticos,
nem dois olhares tais quais.

Ontem quando alguém me falou
o teu nome junto a mim
foi como se pela janela aberta
caísse uma rosa do jardim.

Hoje que estamos juntos
o nosso caso não medra.
Rosa? Como é uma rosa?
É uma flor ou é uma pedra?

Por que você tem, má hora,
que trazer consigo a incerteza?
Você vem - mas vai passar.
Você passa - eis a beleza.

Sorridentes, abraçados
Tentaremos viver sem mágoa,
mesmo sendo diferentes
como duas gotas d'água.

 
SPOILER FREE

Mais um livro de poesia! Nada como ler um pouquinho todos os dias... hábito que estou chegando à conclusão de ser absolutamente maravilhoso! Ainda mais quanto se tem disponível uma poetisa ganhadora do Nobel do calibre da polonesa Wislawa Szymborska.

Esse volume em específico foi lançado em 2016 e conta com uma seleção vasta de poemas da obra da autora numa edição bilíngue. Com direito também a um pequeno prefácio escrito pela tradutora do polonês que fala um pouco sobre o estilo e a obra de Wislawa. O livro conta também com o discurso da autora para o Nobel de 1996, que também vale a leitura.

Confesso que fiquei apaixonada pela autora, tanto que já comprei outro livro dela para continuar a ler seus poemas, e se eu não encontrar outro volume, certamente irei voltar a ler novamente este, porque ela é simplesmente incrível. Seu poder de observação e de tratar de temas aparentemente banais é algo de tirar o fôlego. Cheguei a tirar fotos de poemas de temas que lembraram alguns amigos para mandar pelo celular. Quem mais escreveria poemas sobre o número Pi ou sobre o microscópio? Pior, escreveria sobre ambos?

Meu exemplar já está cheio de marcações de seleção de poemas que achei especialmente tocantes, uma prova do quanto gostei da autora. Um deles é o que está acima neste post.

Nota 10! Mas bem que poderia ser 11, 12...

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Bicycles: love poems



MY MUSE
I am my own
Muse

I delight me
With my words
Of both wisdom
And wit

I teach myself
So much
Such insight
Into the human
Soul
Such compassion
For the weak and weary
Such utter contempt
For the self-satisfied

I think
What a wonderful world
It would be
If only people
Would listen
To me

I look at the full moon
And bay
Come
Come
Come to me
Let's explore
A new world

SPOILER FREE

Durante essas férias acabei usando o Kindle do celular para manter o hábito de ler poesias diariamente, e acabei lendo todo o livro da americana Nikki Giovanni.

A autora negra (foto na capa do livro) é uma das grandes influências atuais da poesia norte-americana, vencedora de diversos prêmios e professora universitária. O livro "Bicycles" é uma coletânea apenas de poemas de tema amoroso, o que achei que torna o volume um tanto quanto repetitivo e açucarado demais para o meu gosto atual (já tive uma fase em que eu curtia exatamente esse tipo de livro). Infelizmente ela ainda não foi traduzida para o português.

O seu estilo de poesia é simples, o que torna a leitura muito leve e tranquila, onde a graça está no jogo de palavras escolhidas pela autora. Ela também trabalha com temas bem autobiográficos e do dia a dia. E alguns dos poemas dessa seleção foram criados para situações bem específicas, como para uma universidade que passou por um momento difícil ou time universitário, e se eu soubesse mais sobre a razão de ser deles acho que teria apreciado mais o trabalho, mas como estava viajando e a internet não era a melhor coisa do mundo, acabei não fazendo a pesquisa.

Não me identifiquei muito com o estilo, mas a qualidade do trabalho transparece no livro.

Nota 8.

Le sabotage amoureux


Au grand galop de mon cheval, je paradais parmi les ventilateurs.
J'avais sept ans. Rien n'étais plus agréable que d'avoir trop d'air dans le cerveau. Plus la vitesse sifflait, plus d'oxygène entrait et vidait les meubles.

SPOILER FREE

Mais um livro de um autor favorito! A belga Amélie Nothomb simplesmente me fascina, especialmente quando o livro é uma das suas autobiografias infantis. Suas histórias de infância, sendo filha de um embaixador, são sensacionais, sempre com coisas peculiares para contar sobre onde ela estava morando na época.

Dessa vez, a história se passa na China, entre os cinco e oito anos da autora, quando ela morava num gueto de embaixadores (isso mesmo) nos anos 70. O título se refere a uma das partes do enredo, porque a história inclui mais de um aspecto da sua vivência infantil, por isso o pequeno trecho acima não parece ter nada a ver com o título, mas ela chega lá, eu só não quero dar spoiler!

O livro é muito curtinho, com umas 120 páginas na versão de bolso, e infelizmente não foi traduzido para o português (pouca coisa da autora foi, uma tristeza), e vale muito a pena a leitura! O senso de humor de Amélie é algo ímpar, e está transbordando nesse volume! Um prato cheio para os fãs!

Nota 10!

Uma questão de loucura



1.MEU TIO MAIS NOVO QUER SE MATAR
 Senti que alguma coisa estava errada assim que entrei no jardim. A espreguiçadeira estava no lugar de costume, mas vovô não. Por terra estavam o livro arroxeado, a bolsa de tabaco e o cachimbo que havia tempo esfriara.

SPOILER FREE

Para quem ainda não sabe, sou fã do escritor albanês Ismail Kadaré, e aproveitando as minhas férias peguei para ler mais um livro muito curtinho dele. Apesar de não ter lido muitos exemplares dele ultimamente, ele está no meu panteão de autores favoritos.

"Uma questão de loucura" é uma espécie de auto-biografia do autor, onde ele conta lembranças de sua infância na época em que o seu avô estava vivo, numa Albânia em transição para o comunismo. Em certo aspecto lembra os livros de auto-biografia infantil da Amélie Nothomb, que eu adoro, logo, também amei esse livro!

A história é contada na visão de Ismail criança, o que torna a leitura muito divertida!

Nota 10!


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Sonhando a Palestina



SPOILER FREE

Mais um livro desse Natal! Dessa vez foi uma troca que fiz na livraria, e como a loja estava em promoção, fiquei doidinha quando vi esse livro por 10 reais! Por mais que fosse escrito por uma adolescente de 15 anos (o que é inacreditável quando se lê o livro) que na verdade nasceu na Itália (mas o nome entrega a sua origem árabe), era um livro sobre a guerra na Palestina e pra mim valia o risco.

E sim, valeu demais o risco, porque Randa Ghazy é um fenômeno. O livro é simplesmente divino quando se pensa que foi escrito por uma menina de 15 anos, por mais que ela hoje tenha mais de 30 (aparentemente o livro demorou a ser lançado, e claro, demorou mais ainda pra ser traduzido). Num misto de prosa e poesia, a italiana traz um relato comovente de diversos amigos palestinos ao meio de um conflito em que eles já nasceram e que provavelmente irá continuar pelas gerações seguintes.

A história é realmente de partir o coração, e a forma sem meias palavras que Randa trata os momentos mais violentos é simplesmente sensacional! Vale muito a leitura, mesmo que ela não trate de forma histórica o conflito, é um jeito de entender um pouco o que acontece na Palestina e a sensação de abandono desse povo tão sofrido, e, também, o porque de toda a raiva que assola os dois povos que vivem nessa região.

Nota 9,5!

A elegância do ouriço



SPOILER FREE

Sabe quando você entra numa livraria e compra um livro por impulso? Pois é. Essa é a história desse livro. Apesar de ser uma tradução do francês (o que quer dizer que eu poderia ter lido no original), acabei comprando o volume porque estava em promoção na Livraria Cultura.

E como estou de férias e lendo o que dá na telha, acabei pegando o livro de Muriel Barbery, que foi o seu primeiro romance publicado! E gente, que romance!

Num enredo que mistura filosofia e cultura com histórias delicadas de pessoas que moram num prédio de classe alta em Paris, Muriel nos traz reflexões acerca da felicidade e das relações que nos trazem satisfação ou tristeza. Talvez não seja um estilo que agrade a todos, porque pode soar pretensioso em diversas passagens, mas, pessoalmente eu adorei.

A história da concierge culta, da adolescente rica e suicida e do japonês misterioso e os gatos do prédio é simplesmente deliciosa. Para apreciar com gosto!

Nota 10!


domingo, 8 de janeiro de 2017

E se amanhã o medo



SPOILER FREE

E tudo porque estou de férias e me recuperando de uma sinusite muito braba, estou lendo tudo o que tem de bom em livros físicos! Porque estando em casa, estou aproveitando que não preciso carrega-los comigo no metrô.

Dessa vez, peguei um livro do angolano Ondjaki, autor que tenho cada vez mais livros para ler em casa e cada vez que pego um gosto mais do seu trabalho. Esse livro em particular, é bem curtinho, e consiste em diversos contos sobre os temas mais variados. Alguns são mais poéticos, outros mais simples. O meu favorito foi um conto dedicado a Exupéry (autor do Pequeno Príncipe, para os desavisados), que quase copiei inteiro aqui, porque coisas bonitas assim dão vontade de compartilhar.

Mas aí como pequenas editoras como essa teriam incentivo para continuar publicando, não é mesmo?

Comprem Ondjaki e descubram mais sobre a literatura africana, nossos irmãos de língua portuguesa sabem o que fazem!

Nota 10.

Homens Imprudentemente Poéticos



SPOILER FREE

E o ano começou bem demais! Tudo porque esse mês o tema do desafio literário é livre e porque eu não consegui esperar mais para ler esse livro maravilhoso de um dos meus autores favoritos, o português Valter Hugo Mãe, que ganhei no amigo oculto do Natal!

Dessa vez, Mãe nos traz uma história passada no Japão medieval, onde dois vizinhos, ambos artistas, ambos com tragédias pessoais, são inimigos mortais por razões sem o menor sentido. Coisa de "santo que não bate".

Para variar, o autor é capaz de tornar as histórias mais simples e mundanas num festival de poesia. O que ele é capaz de fazer com as palavras é algo que só lendo os seus textos para entender, não sei como descrever tamanha beleza literária. Fiquei tão embasbacada que até publiquei uma frase que me marcou durante a leitura no Facebook.

"O sofrimento nunca impediria alguém de ser feliz." Valter Hugo Mãe

Tem coisa mais verdadeira? E linda? E humana?

Leiam Valter Hugo Mãe. Vale a pena cada letrinha.

Nota 10.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

The Marriage of Heaven and Hell



SPOILER FREE

Desde o ano passado que comecei um novo hábito de ler poesia todos os dias, e desde então já li outro livro no mesmo esquema que este do William Blake. Esta edição em especial, contem imagens do trabalho original do poeta, que trabalhava com texto e imagem mescladas, e sendo no século XVIII, as cores eram acrescentadas à mão pelo artista.

Nem sempre as imagens são simples de se ler, mas a edição tem uma versão "datilografada" do texto no final, o que facilita bastante a vida do leitor.

Nesse volume em específico, Blake trabalha com um tipo de prosa poética que eu curti demais, onde ele lida com temas bíblicos de forma pouco religiosa, por assim dizer. Particularmente, eu adorei.

Agora, entrei num outro volume do autor, uma edição com toda a sua obra completa, por isso, vocês vão ficar um bom tempo sem ouvir falar dele, mas isso não quer dizer que eu não o esteja lendo! William Blake é bom para a alma! Super recomendo.

Nota 10.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Retrospectiva Literária 2016



2016 foi um ano cheio de altos e baixos literários, e vou me ater apenas a esses tipos, porque senão precisarei escrever um livro inteiro sobre o assunto.

Foi um ano em que bati a minha meta inicial de 50 livros ainda com folga para aumentar a meta para 60 e batê-la novamente! (pausa para dancinha da vitória)

Foi também um ano de livros muito bons e livros muito ruins... mas vamos ver com um pouco mais de detalhe isso.

JANEIRO

O ano começou o romance água com açúcar "Love, Rosie", que veio para cumprir o tema de "livros escritos em cartas", mas que se revelou uma história absolutamente antiquada, o que me fez questionar como ele virou um best-seller. (é simples na verdade, tem muita gente retrógrada nesse mundo)

Depois veio "As vantagens de ser invisível", ainda no mesmo tema, e que veio para contrabalançar o início do ano, que não poderia ser de todo ruim. O livro, que também virou filme, é sensacional, e indico para todo o mundo. Aliás, vi o filme, e também curti, mas o livro é melhor!


FEVEREIRO

No histórico do blog diz fevereiro, mas a resenha saiu atrasada! O livro "Drácula" foi uma leitura de janeiro, ainda com o tema "livros escritos em cartas", e, na verdade, foi uma releitura extremamente apreciada. Não é a toa que é considerado um clássico.

Em seguida, li o livro "Garota exemplar", que virou filme concorrente ao Oscar de 2015, que, sim, é um excelente livro, mas... poderia ser melhor. O que não me impedirá de ler mais livros da autora.

Depois de ler "um quase Oscar", foi a vez de uma vencedora do Nobel de Literatura, a canadense Alice Munro, com "Dear Life", até porque o tema de fevereiro era um livro ganhador de prêmio! No caso do Nobel, quem ganha o prêmio é o autor, não uma obra em específico, mas isso é só uma tecnicalidade.


MARÇO

O mês de março começou com uma resenha atrasada (que vou culpar no Carnaval sem nem olhar o calendário), do livro "The five stages of Andrew Bradley", que ainda não foi traduzido para o português, o que é simplesmente uma tristeza, porque o livro é simplesmente maravilhoso.

E desde o início de 2016 o problema do Kindle já se fazia presente, o que direcionou as duas leituras seguintes, "Se eu ficar" e "The witch's broom". A primeira é um romance armadilha, que tem uma adaptação razoável para filme, mas, claro, o livro é muito, muito melhor, e que surpreende pela ausência de relacionamentos abusivos sendo retratados como exemplo de romance. O segundo é um livro de coletânea de mitos e histórias relacionadas a vassouras, um tema bem gostoso para seguidores de linhas religiosas pagãs.

ABRIL

Abril foi um mês super produtivo em matéria de leituras! Foram 7 resenhas, sendo que os dois primeiros livros resenhados na verdade foram lidos em março, mas quem liga?

O mês começou com um dos meus autores de infantojuvenil favoritos da atualidade, Richard Roberts (aquele dos livros "Please don't tell my parents I'm a Supervillain"), e que me doem o coração ao pensar que ainda não foram traduzidos para o português... Dessa vez eu li "Wild Children", uma espécie de fábula absolutamente fofa! Depois mudei completamente de ares, com a continuação de "O iluminado", escrita e ambientada mais de 20 anos depois, "Doutor Sono", que foi o ponto alto das leituras de março, de tão maravilhoso.

Para continuar numa onda sensacional de livros bons, peguei o clássico "O velho e o mar", que foi o meu primeiro livro do Hemingway (não julguem), e que eu gostei tanto que faltam palavras para expressar meu amor por esse livro. Seguindo pelos clássicos, peguei um livro da mestre do mistério Agatha Christie, "O inimigo secreto", que, bom, não foi lá grandes coisas. Ninguém é perfeito.

Depois resolvi ler algo simplesmente diferente, pegando um livro da ucraniana Oksana Zabuzhko, "Fieldwork in ukrainian sex", que apesar de ser bem pesado, é tão bem escrito e tão poético que simplesmente vale a leitura e as lágrimas. Já tenho outro livro da autora no meu Kindle, quem sabe ano que vem? Ah, ela também ainda não foi traduzida para o português.

Depois de algo tão denso, eu precisava de algo bobo e leve para desobstruir a cabeça, então peguei a série de tirinhas sobre gatos "How to tell if your cat is plotting to kill you", que é até fofinho, mas infelizmente deixou a desejar, apesar de se encaixar no tema do desafio literário, que era livros com títulos longos. E, por fim, eu estava precisando pesquisar para um trabalho, e peguei o livro maravilhoso da Djamila Henni-Chebra, "Les danses dans le monde arabe", que indico para todos os estudiosos de dança do ventre e outras danças orientais.

MAIO

 Maio já não começou tão bem... "Zen e a arte da manutenção de motocicletas" foi um livro que custei a conseguir ler até o final. Com um ritmo lento e com um tema que eu simplesmente não me identifiquei. Tanto que ao seguir para o tema do mês do desafio literário, que era livros escritos por mulheres, apelei para um chick-lit (já reparou no padrão?) bem bobinho, "Dating the devil", que foi surpreendentemente divertido. E como esse livro foi curtinho, e eu precisava de uma fase mais longa de "detox", emendei com outro chick-lit, "Party girl", que parece ser uma versão de empresas de eventos de "O diabo veste Prada".

Em seguida, comecei a grande saga de livros do ano, com "Trono de Vidro", que simplesmente acabou virando o meu novo padrão para histórias de aventura com protagonistas femininas. Celaena é o máximo e para uma personagem feminina ser realmente sensacional precisa chegar ao nível dela. Isso vai explicar em parte a minha desilusão com a próxima série do ano, aguardem. Ainda em maio, li mais dois livros dessa série, "Coroa da meia noite" e "Herdeira do fogo".


JUNHO

E junho ainda foi continuação da saga, com "Rainha das Sombras", que desde então foi publicado em português! Para o próximo ano, já tenho o livro de contos relacionados com os personagens da saga e estou apenas esperando baixar o preço do volume 5. E se bobear, ainda começo a ler a outra saga da autora.

Depois li um dos livros mais legais sobre criatividade que já vi (não que tenham sido muitos...), "Roube como um artista" me surpreendeu de forma positiva, e depois ouvi opinião de diversas pessoas sobre o livro, todas positivas também. Então, já viu que o livro é sim uma boa indicação.

Ainda na vibe de literatura feminina, peguei "The light of the world", que foi simplesmente o livro mais bonito que li esse ano. E mais um livro que ainda não foi traduzido (acho que o mercado editorial brasileiro anda comendo mosca). E como o livro foi escrito por uma poetiza, terminei com vontade de reacender a leitura de poesias na minha vida (falaremos novamente sobre isso adiante), e por isso segui com "As poesias de Sapho de Lesbos", que me deixou chateada, porque imaginei uma coisa mas o livro era outra.

E como o problema do kindle estava se tornando grave, resolvi matar leituras leves e rápidas, tudo para esvaziar o bichinho, então peguei a saga da minha amiga e escritora Vivian Wolkoff e li todas as seasons de Blood Red, sua nova série sobre vampiros, e ainda em junho li as Season 1 e Season 2.

JULHO

Comecei o mês terminando que já foi publicado da série Blood Red, com as Season 3 e Season 4. E segui com leituras de escritoras mulheres porque sim, com o maravilhoso, sensacional, uma obra prima, "Hibisco Roxo". Mas como esse livro é daquela seara dos livros pesados estilo tapa na cara, acabei por continuar as leituras com a quase novela das 6 "A modern witch".

Depois li uma indicação do blog Coruja em Teto de Zinco Quente, "Alucinadamente feliz" agora está na minha lista de livros para dar de presente para os meus amigos. É bom assim. E agora eu sigo o blog da autora (super vale a pena) e estou doida para conseguir seus outros livros (desde então ela lançou um livro de desenhos que promete ser maravilhoso).

Então, não tive como escapar do tema do desafio literário do mês, que era um livro com números no título, e escolhi um dos meus novos autores favoritos de terror, e filho do mestre King, Joe Hill, com "Nos4a2". Inclusive já tenho mais livros dele no meu kindle, quem sabe lerei outro dele no próximo ano, porque o rapaz está arrasando.

E aí, entrei em outra saga... aquele esquema de esvaziar o kindle, que está se tornando uma tarefa ineficaz pelo visto. Infelizmente dessa vez não dei sorte, "Through the door" é beeeeeem ruim.

AGOSTO

Infelizmente eu tenho a mania de ler livros e sagas ruins até o final, então continuei com a tortura que foi ler as continuações "Into the fire" e "Among the unseen". Absolutamente deprimente.

Tão deprimente que precisei de algo que me levantasse o espírito, e escolhi Terry Pretchett! "Dragons at Crumbling Castle" é um livro de contos delicioso de ler, obrigatório para fãs do autor. Em seguida li um dos livros mais originais desse ano, "The rest of us just live here" é muito bom! Fiquei com vontade ler outros livros do autor e assim que este for traduzido será devidamente distribuído para as crianças da família. E existe esperança nesse sentido, visto que outros livros do Patrick Ness já existem em português.

SETEMBRO

Setembro começou com uma saga curta da Gayle Forman, a mesma autora que eu já havia lido em março, e que apesar de prometer muito no primeiro volume ("Apenas um dia"), deixou a desejar nos seguintes ("Apenas um ano" e "Just one night"), uma pena.

E só então entrei no tema de setembro, livros lançados no ano que você nasceu! E me dei super bem, pois o clássico "A cor púrpura" pertencia a essa lista de livros, e fiquei muito feliz com isso, porque o livro é muito maravilhoso.

Antes de começar o livro seguinte, que supostamente também era desse tema, e que eu só resenhei em outubro, acabei lendo o livro de tirinhas baseadas em citações "Zen Pencils", que apesar de não ter tradução do português, você pode encontrar todo o seu conteúdo no blog do autor.

OUTUBRO

Comecei o mês atrasada na resenha do outro livro que supostamente era do tema de setembro, "Tia Julia e o Escrevinhador", que na verdade não era do tema, uma certa confusão de datas... mas que valeu super a pena a leitura, porque o livro é maravilhoso. Daí entrei numa onda de ler sobre o mundo árabe para o meu novo trabalho, com "The Rise of the Islamic State", do jornalista Patrick Cockburn, que super recomendo para quem conhece pouco sobre o assunto (sim, o livro foi traduzido para o português).

Mas entre uma leitura séria e outra teve a continuação "P.S. I still love you", e o livro tema do mês "Neverwhere" (tema: livro com títulos de uma palavra só), que infelizmente deixaram um pouco a desejar.

Mas aí eu li o livro de outro jornalista, "Robert Fisk on Algeria", que apesar de um pouco repetitivo foi melhor que do Patrick Cockburn. Virei fã do Robert.


NOVEMBRO

E então chegamos a um dos meses em que mais li, porque o tema do mês era livros para ler numa sentada só, e aí, foi uma profusão de livros curtos, entre eles: "Azul é a cor mais quente", "O paraíso são os outros", "Marvels" e "O árabe do futuro". Entrecortado por outros livros, como o outro livro tema de outubro, "Soufflé", que foi maravilhoso, um livro histórico da Wicca, "Aradia - Gospel of the Witches" e, por fim, um livro de poesia que li aos pouquinhos, "Songs of Experience", sensacional, do William Blake (eu disse que voltaríamos ao tema poesia!).

DEZEMBRO

Na verdade, acho que esse foi o mês que mais li... o que não faz o menor sentido, porque foi o mês mais enlouquecido do ano, em que mais fiquei enrolada. Talvez o estresse tenha tido algum papel nisso...

Mas o mês começou com um livro bastante interessante, "A lógica do cisne negro", que me fez procurar outros livros desse autor. Seguido por "O árabe do futuro 2", que simplesmente não consegui deixar de ler (aliás, consegui o terceiro volume em francês, aguardem!), depois veio o fofíssimo "Mary Poppins"! E porque não consigo ficar longe do Egito, li "Friendly Fire", que foi traduzido para o português, super recomendo. E então, terminei mais um livro de poesia, dessa vez "Elegias de Duíno".

E finalmente ataquei o tema do mês, um livro lançado em 2016, onde consegui ler no meu kindle lotado "This is where it ends", um livro muito interessante sobre mass shootings.

Daí, resolvi fazer número, e li a série inteira The lunar Chronicles, que poderia ser muito melhor do que é, com os volumes "Cinder", "Scarlet", "Cress" e "Winter". E porque 2016 não podia terminar bem com as tristes mortes da princesa Leia e sua mãe, acabei lendo uma porcaria, "The Vampire Next Door".

2017

Como só estou publicando isso em 2017 por motivos de doença maior, posso adiantar que o ano começou super bem, apesar do final trágico do ano anterior... aguardem só mais um pouquinho, porque esse ano tá prometendo! Até lá, tem o meu post sobre meu planejamento de leituras aqui.