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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Os Miseráveis - Completo



SPOILER FREE

Então, seguindo um dos Desafios Literários desse ano e aproveitando para juntar com outros, resolvi esse mês me desafiar de verdade e ler todos os 5 tomos de "Os Miseráveis" no original em francês. Explico. Um dos desafios era ler um livro grande, outro, ler um clássico do século XIX e outro ler 52 livros no ano (esse é o mais fácil porque todos os outros desafios ajudam rsrsrs). Fiquei pensando: que clássico do século XIX pode realmente ser considerado um livro grande? Juntando os 5 tomos (que muitas vezes vem distribuídos em 2 volumes físicos), "Os Miseráveis" é uma obra que soma aproximadamente umas mil páginas, o que, convenhamos, é um livro grande independentemente do quanto você está acostumado a ler, logo ele pode ser classificado como grande sempre.

Então mergulhei numa saga que eu já esperava que me tomaria o mês inteiro, inclusive por boa parte do caminho eu fiquei muito preocupada em não conseguir ler tudo dentro do prazo que estipulei para mim mesma. Porque ler os miseráveis é uma Experiência com "e" maiúsculo.

"Os Miseráveis" não é apenas uma obra icônica de um autor icônico, não é apenas uma história que virou musical e filme e que absolutamente todo o mundo conhece pelo menos um pouco dela (aliás, nem sei porque coloquei o "spoiler free" lá em cima...), não é apenas uma história que faz parte do imaginário coletivo ocidental, "Os Miseráveis" é um tratado sobre a humanidade, e mais especificamente um tratado sobre a história da França e de Paris.

Dito isso vamos ao que interessa. "Os Miseráveis" apesar do apelo dos musicais e filmes definitivamente não é uma leitura tranquila, e nem é um tipo de livro que agrade a maior parte dos leitores atuais. É um livro difícil e por diversos (e longos) momentos é muito chato. O autor resolveu fazer uma obra que não dá para classificar: é romance? é tratado filosófico? é livro de história? É tudo isso junto e misturado. Misturado no sentido de que ele pula de um tema para o outro quase que a seu bel prazer. E eu digo "quase" porque as interrupções na história dos personagens que todos amam e conhecem acontecem quase sempre de forma intencional, visando sempre um melhor entendimento do leitor do contexto em que as coisas estão acontecendo. Claro que no meio do caminho tem algumas interrupções que poderiam ser completamente suprimidas que não fariam a menor falta (tipo a história do sistema de esgotos de Paris ou como o local da batalha de Waterloo ficou mais de 30 anos depois da batalha).

Por conta disso tudo, é um livro que me deixou dividida. Eu entendo e consigo apreciar a genialidade do autor e da obra, mas por diversos momentos fiquei irritada e fiz uma leitura dinâmica do texto porque não aguentava mais algumas passagens. Fora alguns momentos (compreensíveis por conta da época em que foi escrito) de puro machismo em que precisei respirar muito fundo para continuar lendo.

Então, para quem quiser passar por essa Experiência, segue uma concisa descrição dos tomos para uma preparação psicológica: ATENÇÃO, SPOILER A FRENTE (para aqueles que conseguiram nunca ouvir falar da história)

O Tomo 1 se chama "Fantine", mas é necessário muita paciência para esperar ela aparecer na história, porque conta basicamente sobre como o Jean Valjean (precisa de paciência para esperar ele aparecer também, ele só surge depois de um quinto do livro) se tornou quem ele é, e só depois toda a história da Fantine. Pelo menos a história dela é contada toda nesse tomo. O Tomo 2 se chama "Cosette", e adivinha, conta a história dela, mas antes conta toda a história do Sr. Thénardier, com direito a uma descrição completa e detalhada da batalha de Waterloo. Mas não se preocupe, isso faz sentido e é parcialmente relevante para a história lááááááá na frente, e esse tomo vai até o resgate da Cosette e como ela e Jean Valjean se instalam em Paris. O Tomo 3 se chama "Marius" e conta toooooooda a história desse personagem, começando pelo avô e pelo pai dele, e depois a sua infância, depois juventude e como ele resolve ser independente, e, claro, como ele "conhece" a Cosette, mas precisa de uma certa paciência porque antes de contar a história de Marius, existe toda uma explicação detalhada sobre a alma de Paris, para o leitor entender o contexto histórico da trama que vai se desenvolver nos tomos seguintes. O Tomo 4 se chama "Idílio da Rua Plumet e epopeia da Rua Saint-Denis", ele descreve como Cosette e Marius finalmente se conhecem e depois como Paris entra em polvorosa com as barricadas do motim de 1832, com direito a divagações filosóficas sobre as diversas vertentes políticas existentes na época e sobre as questões morais que alguém numa barricada precisa encarar. Finalmente o Tomo 5, que se chama "Jean Valjean", trata sobre como Marius e Jean Valjean conseguem se safar das barricadas e como o livro chega no seu desfecho, com o casamento de Marius e Cosette e o triste fim do personagem título. No meio do caminho tem mais questões filosóficas e uma descrição detalhada da história dos sistemas de esgoto de Paris (se esse livro tivesse sido publicado na época do Tolkien certamente teria um mapa).

Então, se você quiser a versão resumida da história, basta ver uma das montagens do musical ou um dos filmes, que você não vai perder quase nada da trama (que perde sim alguns detalhes para simplificar a história e caber em um espetáculo/filme de 3h), mas vai perder todo o resto e o prazer de ler a prosa de Victor Hugo.

Nota 9, porque apesar da genialidade e grandeza da obra, ela não consegue não ser chata em alguns momentos, me fazendo uma pessoa extremamente feliz por ter conseguido sobreviver à sua leitura.

5 comentários:

  1. Esse é um desses livros que tenho medo de encarar. A história parece interessante (nunca vi o filme/musical, então não a conheço muito bem), mas não sou das leitoras mais pacientes para longas descrições e divagações.

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  2. Miséraveis está na minha lista há um bom tempo, mas sempre acabo adiando...

    Gostei da resenha... sou o tipo de leitora que gosta de detalhes e de divagações - afinal, eu mesma como escritora sou uma pessoa prolixa... - então, a princípio, acho que vou gostar mais do livro que você. Mas é sempre bom ir preparado psicologicamente para esse tipo de coisa. Então, obrigada pelas informações ;)

    Pra terminar, bato palmas de pé para a senhora. Tô de queixo caído de teres lido toda a obra em francês. Passando no desafio com louvor!

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  3. Muito bem colocado a cada tópico, já li e estou me entusiasmando a reler, pois cada vez que se ler é uma visão Diferente e abrangente. Esses semestre do meu curso, estamos abordando justamente, o tema: por que ler os clássicos!? E o projeto tende se a incluir obras em que consideramos clássicos e por conscidencia, optei por escolher, Os Miseráveis, e outro que também seras de um autor francês e como acadêmico de Biblioteconomia, quero parabenizar pela sua descrição.

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  4. Oi Laura, sei que já faz um tempinho que publicou este post, mas gostaria de perguntar algo:
    1. Quero me desafiar a ler este livro e fazer uma análise do mesmo relacionado a um dos paradigmas que o mesmo representa.
    2. Sei que o livro é enorme, mas tenho encontrado diversas versões do mesmo, uns com mais de 1000 páginas, outros com 500, tem até uma versão (uma peça) que tem 100 páginas.
    Pois então, aí vai minha perguntas:
    Você fez algum tipo de pesquisa antes de ler sobre as versões, ou pelo menos no que elas divergem umas das outras para possuir tantas versões diferentes assim?
    Desde já agradeço.

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    Respostas
    1. Oi Stela!
      Eu li a versão original, completa, em francês do Victor Hugo. Como boa parte dos clássicos, imagino que existam diversas versões que fazem adaptações ou resumos dos textos originais.
      Caso você queira apenas conhecer melhor a história as versões resumidas costumam funcionar bem, mas se você quer fazer uma análise do texto e realmente estudá-lo sugiro fortemente ler o original. Caso o francês não seja uma opção, sugiro uma tradução da versão completa. O livro completo possui 5 tomos e certamente chega nas 1000 páginas.
      A questão das versões (não li nenhuma) deve estar relacionado em cortes do texto que não lidam diretamente com o enredo, ou até mesmo com adaptações do texto original para o teatro, musical, cinema ou TV, visto que o livro já foi adaptado diversas vezes para muitas mídias diferentes.
      Espero ter ajudado!
      Beijos
      Laura

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