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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Robert Fisk on Algeria

Nas minhas procuras de livros para melhor entender o Oriente Médio, acabei por esbarrar numa coletânea muito interessante de livros do Robert Fisk. O jornalista britânico foi correspondente de guerra em diversos países árabes, e isso torna o seu texto bastante interessante e bem contextualiazado. Esse livro em particular é sobre a antiga colônia francesa da Argélia, como o título indica de forma bastante óbvia.

A Argélia é um país norte africano riquíssimo em petróleo, e que umas 3 décadas depois da sua independência de fato da França, acabou por mergulhar numa guerra civil extremamente sangrenta. E é sobre essa guerra que a coletânea de artigos de Robert Fisk tratam.

Por ser uma coletânea de artigos, tem aquele problema previsível de ser meio repetitivo, pois todo início de artigo precisa contextualizar um leitor que pode nunca ter ouvido falar do assunto, e dá-lhe relembrar como tudo começou de novo, e de novo, e de novo, e de novo...

Mas fora isso, os artigos são muito interessantes, e não muito indicados para quem tem estômago fraco. Afinal, ainda estamos falando de uma guerra civil com um total de mortos que nunca foi fechado e onde todos os participantes foram responsáveis por grandes doses de violência. E que, de certa forma, também nunca realmente acabou, pois hoje temos a presença de células do Estado Islâmico dentro do país. E isso faz sentido ao se ler a história contada pelos artigos.

Apesar de não ser um estudo acadêmico sobre o que aconteceu no país, recomendo muito para quem quer saber um pouco sobre a história recente da Argélia e algumas correlações com outros países do Oriente Médio. O livro inclui até uma entrevista bastante curiosa com o Osama Bin Laden.

Nota 9.


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Neverwhere



SPOILER FREE

O desafio literário de outubro é de livros com título de uma única palavra, e foi a ocasião perfeita para ler "Neverwhere" do Neil Gaiman.

A versão que eu consegui para Kindle foi lançada primeiramente em 2006, e é uma versão revista pelo próprio autor. É engraçado porque esse é um livro com uma história complicada, visto que ele foi criado primeiramente para ser um programa de rádio e TV, e conforme passagens foram sendo cortadas para as gravações, Neil Gaiman decidiu escrever o livro. Logo, esse é um romance que teve várias versões.

Além disso, "Neverwhere" foi um dos primeiros romances publicados do autor (em 1996), e isso tudo somado explica o porquê do texto ser da forma que é. Quero dizer que o livro tem muitas passagens que parecem muito mais um roteiro do que um romance, outras passagens são repetitivas, e o estilo pelo qual Neil é famoso (e que eu tanto gosto) simplesmente ainda não tinha sido desenvolvido, de forma que também existem passagens que lembram mais o estilo do Douglas Adams do que do Gaiman.

Apesar disso tudo, a história é fascinante e os personagens interessantíssimos, afinal, estamos falando do Neil Gaiman, que é um escritor maravilhoso.

Mas definitivamente não é o melhor texto dele. Mesmo que tenha o típico personagem de Gaiman, que é aquele que se sente perdido num mundo que não compreende ou que não se encaixa.

Agora, essa versão revista para Kindle tem coisas que valem a pena para os fãs, mesmo para os que já leram e ou possuem edições anteriores. Pois, além de ter o texto ampliado e revisto pelo autor, esse volume ainda possui o prólogo originalmente escrito para a história, que é bem legal, e ainda tem um conto no final que Neil que conta como o Marquês de Carabas consegue recuperar o seu sobretudo (esse conto foi publicado na antologia Rogues, em 2014). E, como esse texto sim é recente, o estilo que eu tanto gosto está lá, e o gosto de ler é sensacional.

Eu torço para que Neil Gaiman revisite o mundo de "Neverwhere" em futuras obras, porque ele é fascinante e tem espaço para muita coisa nova.

Nota 8.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

P.S. I still love you



SPOILER FREE

Então, depois de ler sobre terrorismo eu precisava de algo leve para distrair, e resolvi pegar a continuação de "To all the boys I've loved before". Aliás, o primeiro livro já saiu em português, com o título "Para todos os garotos que já amei".

Então... confesso que a continuação pareceu muito mais um repeteco do primeiro livro do que uma continuação. Eu poderia simplesmente repetir exatamente o que coloquei na resenha de "Para todos os garotos que já amei". Sério. Tudo, palavra por palavra. Exceto a parte das gargalhadas. O segundo volume não é tão engraçado quanto o primeiro.

E, na verdade, esse é o maior defeito desse livro, porque apesar da história continuar, os personagens continuam exatamente os mesmos, ninguém aprendeu nada (a não ser novas fofocas). Tudo bem que se passa pouco tempo entre um livro e outro, mas mesmo assim, eu esperava mais.

Talvez seja realmente uma questão de expectativas, porque além de esperar algo melhor, ou pelo menos diferente, eu me lembrava do primeiro livro como sendo melhor do que ele é.

Enfim, achei uma pena, pois o livro não atinge todo o seu potencial.

Nota 7,5.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

The rise of Islamic State



Como vocês já devem ter reparado, eu curto muito o assunto Oriente Médio, por razões dançantes meio óbvias, e de vez em quando preciso ler algo mais "mundo real". E como, no momento, estou estudando particularmente o que está acontecendo na Síria (apesar de não sair notícia nenhuma sobre isso aqui no Brasil), peguei esse livro que já estava no meu Kindle desde o ano passado. Até porque o Kindle lotou de novo e agora preciso correr atrás do prejuízo.

Esse livro em particular é uma coletânea de artigos do jornalista irlandês Patrick Cockburn, que é muito conhecido pelo seu jornalismo de guerra, especialmente no Oriente Médio e na África. Apesar de eu achar a visão de Patrick um tanto quanto inocente com relação aos Estados Unidos e suas verdadeiras táticas e intenções no Iraque e na Síria, os seus artigos pelo menos mostram alguns fatos e conexões que não se encontram tão facilmente na imprensa tradicional, o que o torna uma fonte bastante interessante e muito indicada.

Porém, apesar do livro ser bastante informativo acerca do surgimento e crescimento do Estado Islâmico no Iraque, a sua leitura é meio morosa e um tanto repetitiva, certamente pelo fato de ser uma coletânea de artigos. Também senti falta de imagens ao longo do livro, que certamente ajudariam muito a localizar e até ilustrar os acontecimentos, pois o mapa está apenas no início e dá uma certa preguiça de ficar indo e voltando, mesmo no Kindle.

Apesar desses problemas, o livro é bom, e recomendo muito para quem gostaria de entender pelo menos um pouco o que está acontecendo por lá. A tradução para o português foi lançada no ano passado e recebeu o nome "A Origem do Estado Islâmico - o fracasso da "guerra ao terror" e a ascensão jihadista". Fica a dica!

Nota 9.

Tia Júlia e o escrevinhador



SPOILER FREE

Essa resenha está saindo quase um mês atrasada, mas fazer o quê? É a vida que nos atropela de vez em quando.

A ideia era que esse livro também faria parte do desafio literário de setembro, quando o tema era "livro publicado no ano do seu nascimento", e na pesquisa que eu fiz ano passado ele apareceu. Mas alas, descobri depois de lê-lo que ele tinha sido publicado alguns anos antes, e que, provavelmente, ele surgiu na minha pesquisa com a data de publicação no Brasil, não no Peru.

Confusões à parte, gostei demais de "Tia Julia e o escrevinhador", e foi uma deliciosa surpresa por diversas razões. A primeira razão é que o livro é simplesmente sensacional (a nota 10, lá embaixo, está aí pra provar), e eu não esperava por isso porque, há muitos anos atrás, eu tentei lê-lo e simplesmente não consegui. Talvez seja uma questão de (matur)idade ou fase de vida (idade), ou, até mesmo, o fato de que quando ganhei/herdei o exemplar do meu pai eu era adolescente e, obviamente, achava que qualquer coisa que meus pais achassem bom certamente não o era (idade de novo!).

Independentemente da razão do insucesso da primeira leitura, a segunda leitura (e segunda razão de surpresa) me trouxe justamente essa lembrança da adolescência, pois o exemplar que tenho até hoje é justamente o herdado do meu pai, com direito a uma dedicatória fofa (para os padrões de amizade dele) de dois grandes amigos, sendo que todos os três (os amigos e o meu pai) já faleceram, mas deixaram memórias que simplesmente combinam com o enredo de "Tia Julia". Nada como ler memórias que lembram outras memórias (sim, o livro é autobiográfico para quem não sabe, como eu não sabia!).

Voltando à resenha em si, confesso que eu nunca tinha lido nada do Mario Vargas Llosa. E como tenho um certo déficit com relação a leituras latino americanas, foi extremamente positivo eu ter simplesmente amado "Tia Julia", com sua história surreal e entrecortada por pedaços de novelas simplesmente sensacionais, pois agora tenho incentivo para ler ainda mais obras do sul do equador. "Tia Julia" é um dos livros que me faz pensar como às vezes é necessário que o autor viva coisas fora do comum para que possa ter estímulo para escrever. Mas também me faz questionar o quanto daquela loucura realmente aconteceu ou foi fruto da imaginação. Ou talvez seja apenas uma questão de equilibrar os dois?

Livro bom é assim, faz você ficar matutando...

Nota 10!