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domingo, 24 de fevereiro de 2019

I Could Pee on This: And Other Poems by Cats



SPOILER FREE

Confesso que comprei esse livro por razão de gatos. Como boa devoradora de livros, eu amo gatos. Então, nem olhei o nome do autor, o livro estava em promoção e eu vi que era de poesia de gatos, não precisei de mais nada.

O autor, Francesco Marciuliano, parece (depois de uma busca no deus Google) ser uma espécie de gatófilo especialista em fazer textos como se fossem de gatos, o que eu acho uma especialidade muito justa e especial. Até porque depois de ter lido I Could Pee on This eu posso atestar a qualidade felina do autor.

O livro é bem curto, com muitas imagens fofas de gatos intercalando os poemas para encher linguiça, mas quem liga? São gatos, os deuses que dominam a humanidade desde o antigo Egito e que hoje justificam a internet (tenho certeza que se fizermos uma estatística a maior parte do tempo que as pessoas gastam online é vendo gatos). E as poesias realmente são muito, muito, muito felinas. Meu gato (que Bastet o tenha) poderia facilmente ter escrito algumas delas. E eu conheço outros gatos que poderiam ter escrito as demais.

Para os amantes de gatos vale muito a pena.

Nota 10 para os gatófilos de plantão.

The Girl Who Drank the Moon - A garota que bebeu a lua



SPOILER FREE

Lançado em 2016, mas publicado no Brasil apenas em 2018, A Garota que bebeu a lua é um grande sucesso de público e crítica, com 2 prêmios importantes (Newbery Medal e World Fantasy Award) e é o último lançamento da americana Kelly Barnhill, conhecida também por The Witch's Boy (O filho da feiticeira em português).

Seguindo a tradição da literatura fantástica infantojuvenil de História Sem Fim, com uma qualidade literária maravilhosa, A garota que bebeu a lua é um livro para se apreciar cada página. A história trata de Luna, uma menina criada por uma bruxa, Xan, que sem querer deu a lua para a bebê beber e desde então ela se tornou mágica, o que traz as complicações esperadas de uma criança com poderes.

Mas a beleza do livro está, na verdade, nas relações de poder social exploradas pela autora entre as classes sociais do protetorado, nas relações familiares que trazem temas importantes como o amor e a verdade ou mentira ditas entre os membros da família, e os tipos de família, os de laços de sangue e as construídas pela amizade, amor e pela adoção. O livro trata ainda de questões psicológicas como o poder da memória e como a visão que se tem de si mesmo pode influenciar a vida. Tudo isso dentro um mundo fantástico cheio de magia e criaturas mitológicas.

Como toda literatura infantojuvenil de qualidade, A garota que bebeu a lua é uma leitura maravilhosa para todas as idades. Recomendo para todos! E para quem está seguindo o Desafio Literário Popoca, é uma excelente sugestão para a leitura de março, com o tema livro escrito por uma mulher e que tenha uma personagem principal guerreira.

Nota 10.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Shaker, Why Don't You Sing?



SPOILER FREE

Quem tem seguido o blog nos últimos anos sabe que tenho dado um gás na minha leitura de poesias. O hábito de ler um pouco delas de manhã ajuda muito nisso. Mas às vezes a vida pede poesia ao longo do dia, para suavizar, e é aí que entram os meus livros de poesia em formato para kindle. Grandes salvadores da pátria de um dia ruim ou pesado.

Quem tem seguido o blog nos últimos meses sabe também que finalmente comecei a ler Maya Angelou, uma das poetisas mais importantes dos EUA da segunda metade do século XX e em especial para o movimento negro norte americano. Depois de ler uma espécie de autobiografia dela e um dos seus primeiros livros publicados, resolvi ler mais, e por acaso (ahã) eu tinha Shaker, Why Don't You Sing? no celular.

Eu não costumo fazer o que acabei fazendo com esse livro, pois gosto de ler poesia aos pouquinhos, mas Shaker é viciante. Eu não conseguia parar entre uma poesia e outra, dava sempre vontade de ler mais uma. Não é tão carregado nas questões raciais como Just give me a cool drink, e nem é autobiográfico como Letter to my daughter, é simplesmente Maya Angelou arrasando na poesia.

Com um quê de questões mais existenciais, Shaker é uma delícia de ler. Seu único defeito é ser tão curto. O que costuma ser comum em livros de poesia, e normalmente não me incomoda, mas o trabalho Maya está tão bom aqui que eu realmente queria mais.

Nota 10.

Nimona



SPOILER FREE

Nimona é um produto da era da internet. Lançada na web em 2012 pela autora, enquanto estava na faculdade, acabou sendo publicada em livro em 2015, e um filme já está em produção com data de lançamento marcada para 2020. Depois de colecionar alguns prêmios e ser muito bem avaliada pela crítica, acabei não resistindo e resolvi finalmente ler Nimona.

A autora, Noelle Stevenson, também é conhecida pela coautoria de outro trabalho queridinho da crítica, Lumberjanes, e tem se revelado uma excelente autora de HQs com representatividade para minorias, tais como mulheres e LGBTs. E Nimona se encaixa perfeitamente nesse quesito.





É uma excelente sugestão de leitura para o Desafio Literário Popoca de março, cujo tema é livro escrito por uma mulher e que tenha uma personagem principal guerreira.

Em Nimona, Noelle traz a história de uma adolescente aficionada por um vilão, Blackheart (os nomes são ótimos, vide Gondenloin), e que se oferece para ser sua sidekick. A história começa de uma forma bastante simples, e confesso que demorei a me interessar por ela, e minha primeira impressão foi que ela era muito boba e infantil.

Pura enganação, aviso logo. Ainda bem que não costumo parar leituras no meio, pois eu teria perdido essa pérola que é Nimona. Se a história parece simples no início, isso é só para enganar os incautos. Nimona é uma história bastante complexa e política, com vários níveis de críticas sociais. Os últimos capítulos são maravilhosos e é muito difícil de parar no meio, não sei como os leitores aguentaram durante o seu lançamento na internet.

Apesar de demorar a pegar no embalo, é uma leitura que vale a pena o esforço. Ficarei de olho nos futuros trabalhos da Noelle!

Nota 9.

Tripping on a Halo



SPOILER FREE

Como andei comentando em alguns posts anteriores, 2019 não está sendo fácil para ninguém, então minhas leituras tem tomado um rumo mais para o entretenimento... no caso desse livro, entretenimento adulto.

Alessandra Torre já apareceu por aqui por causa de um livro nada erótico, mas extremamente marcante, Ghostwriter, porém, como eu já havia mencionado nessa resenha, o forte dela é literatura caliente. Tripping on a halo é um dos seus últimos lançamentos e eu não consegui resistir ao blurb que falava sobre uma moça que acha que é o anjo da guarda de um arquiteto gato.

Tenho a sensação que Alessandra Torre gosta de histórias surreais, daquelas que são possíveis de acontecer, mas tão pouco provável que fica no limiar do crível. Autumn é uma mulher muito maluca, que, tudo bem, tem razões familiares para ser assim, mas, gente, ela ser louca é uma coisa, o cara gostar dela justamente por causa disso é outra. Não sei até que ponto a autora fez de propósito, mas a troca dos papeis mais comuns numa "história romântica de stalker" beira o cômico justamente porque mostra o quão surreal é esse tipo de relacionamento. Por que só se percebe isso mais claramente quando se inverte os papeis, né?

Independentemente disso o livro é extremamente engraçado. Com direito a, infelizmente apenas uma, cena de sexo que eu não consigo decidir se foi muito boa ou muito engraçada, o que por si só é algo notável. Gente, foi uma das melhores cenas que já li.

Daí quando a coisa engrena para mais cenas picantes, Alessandra Torre sacaneia o leitor e faz outro tipo de pornografia, a emocional. Não vou entrar em detalhes por causa dos spoilers, mulheres irão me entender quando lerem o livro e haverão de concordar comigo.

Pessoalmente, eu esperava o tipo de pornografia mais comum, então o livro deixou um tanto a desejar. Mas, caiu bem nesse período conturbado e ele tem lá os seus méritos, realmente.

Por isso, nota 9.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Save the date


SPOILER FREE

Apesar de ter apenas um livro publicado em português (Um verão para começar, que ainda não li), Morgan Matson é bastante conhecida do público norte americano young adult. Conhecida como a rainha da leitura contemporânea de verão (queen of summer contemporary reads), ela começou a publicar em 2008 com um pseudônimo, e em 2018 seu mais novo livro, Save the Date (ainda sem tradução para o português mas disponível em e-book na Amazon) chegou a ser nomeado para o prêmio Goodreads na categoria Young Adult.

Ele é um livro perfeito para o mês de fevereiro para o Desafio Literário Popoca, cujo tema é um livro com uma festa importante para a história. Save the Date traz a história de Charlie, a irmã mais nova de uma família com 5 filhos, e que a irmã mais velha está para se casar. Toda a história se passa em torno da festa de casamento da irmã, que além de ser um grande marco por si só na história da família, sendo a primeira filha do casal a contrair matrimônio (que expressão horrível), é também a última vez que toda a família vai ser reunir na casa onde todos cresceram, porque ela foi vendida pelos pais. Além disso, no dia seguinte do casamento vai ser publicada a última tirinha da mãe da família, que é uma cartunista super famosa, com direito a uma entrevista super importante com toda a família reunida, e de ressaca por causa da festa.

Eu mencionei que o livro tem alguns dos cartoons?

Ufa! Parece dramático, não é? Pois bem, o livro é bem estilo sessão da tarde, onde um monte de jovens irão arranjar um monte de confusão! Claro que num casamento feito às pressas para ainda aproveitar uma casa já vendida, com uma família grande desse jeito e ainda por cima famosa, tudo há de dar errado. E essa é a grande graça do livro.

Estamos apenas em fevereiro, mas acho que Save the Date será provavelmente o livro mais engraçado desse ano para mim. É o tipo de leitura jovem que eu gosto, onde toda a trama gira em torno muito mais de problemas que acontecem mais por azar do que por causa de coisas feitas ou que deixaram de ser feitas pelas personagens. Detesto livro que gira em torno da falta de conversa. Claro que esse tipo de coisa acontece em Save the Date, afinal estamos falando de um livro young adult onde a personagem principal está se preparando para sair de casa para ir para a faculdade, o que é um rito de passagem importante. Claro que tem drama adolescente. Mas as coisas não ficam só nisso e o enredo não depende dessas coisas para acontecer. Além disso, a resolução dos conflitos e dramas adolescentes é boa! Por isso o livro está bem acima da média.

Espero que Morgan Matson comece a ser traduzida com mais frequência, pois agora preciso ler mais coisas dela!

Nota 9,5.

Scoring off the Field (WAGS #2)



SPOILER FREE

Percebo que 2019, apesar de ainda estar no início, tem sido um ano difícil para muita gente. Eu não sou exceção, por isso, o ano mal começou e eu já estou precisando de algo para esvaziar e descansar a cabeça.

Como li Naima Simone ano passado e gostei muito da experiência, eu já estava com mais um livro dela guardado para o momento certo. Eu só não imaginava que ele fosse chegar tão rápido.

Seguindo um esquema muito comum na literatura erótica contemporânea, Naima escreveu uma série de livros independentes mas que os personagens aparecem nos volumes seguintes. Uma espécie de easter egg para o leitor matar as saudades dos personagens dos livros anteriores e de alguma forma ter uma ideia do que aconteceu com eles, mas sem eles serem o foco da história.

Então, dando continuidade aos personagens que aparecem em Scoring with the wrong twin, dessa vez seguimos o amigo de time de futebol americano do Zepherin do livro anterior, Dominic, que tem um relacionamento para lá de esquisito com sua amiga de infância Tennyson. Os dois aparecem muito rapidamente no livro anterior e agora eles tem a oportunidade de brilhar sozinhos, ou juntos, enfim.

A história aqui não é tão elaborada, nada muito complicado como irmãs gêmeas que resolvem trocar de lugar. Aqui o lance é aquela velha história de amigos de infância que ao crescerem acabam por desenvolver outros tipos de sentimentos um pelo outro. Um tema bastante comum também nesses livros. 

O diferencial está no fato de que Naima Simone, além de escrever bem, sabe escrever uma cena caliente boa. E sem afundar (demais) nos machismos de todo dia desse tipo de livro também. Para quem gosta de literatura erótica eu super indico. E já estou com mais livros dela no meu kindle, para casos de emergência!

Dentro do gênero, nota 8,5.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Um Sopro de Vida (Pulsações)



SPOILER FREE

Preciso começar dizendo que eu adoro Clarice Lispector. A Hora da Estrela é um livro maravilhoso e inesquecível. Além disso, a brasileira nascida na Ucrânia está no rol dos autores clássicos e mais importantes do século XX por mérito, porque ela é mesmo fantástica.

Dito isso, é também preciso apontar que Um Sopro de Vida (Pulsações) é um livro póstumo, organizado para publicação por outra pessoa que não Clarice. Apesar de Clarice estar doente na época que escreveu esse livro, sua doença, um câncer de ovário, só foi descoberto mais tarde e quando já era inoperável. E ele tem cara de exatamente isso.

O livro é uma espécie de literatura experimental, onde temos uma não-conversa entre um autor e uma personagem criada por ele. Parece uma grande busca interna psicológica do porquê os autores precisam de personagens e o que elas significam. Aqui o autor não tem nome, mas a personagem tem, Angela.

É estranho porque o livro não possui uma linha narrativa, e não tem exatamente nem início e nem fim, é só uma grande catarse. Eu não conseguiria dar spoiler nem se quisesse.

Foi um dos livros mais difíceis e chatos que já li na minha vida. Pronto falei.

Tem belíssimas citações, é verdade, mas também me pareceu um exercício muito sem sentido sobre o sentido da escrita. Pura masturbação mental que não me levou a lugar nenhum. Espero em breve ler algo da autora que limpe esse ranço da minha mente.

Nota 3.

Desato



SPOILER FREE

Quando descobri Viviane Mosé na internet, declamando seus poemas ou simplesmente falando sobre educação, me apaixonei. Quando depois descobri que ela tinha alguns livros publicados comecei a procurar. Desato é um desses achados.

Infelizmente, acredito que Desato não é o melhor livro da autora. Apesar de já conhecer o seu estilo de escrita corriqueira, onde os poemas surgem de coisas bastante mundanas, em Desato são poucos os poemas com o poder, por exemplo, de palavra suja.



Ou então com o peso e o significado de poemas presos.



Tem alguns bons poemas em Desato, claro, mas, não sei, tem muita coisa repetitiva e bem chatinha no meio desses bons poemas. Como sei que muitas vezes os autores são obrigados a publicar mesmo quando não tem material tão maravilhoso assim, não perderei as esperanças e lerei mais de Viviane.

Nota 7.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Bubble Gum

 
 
SPOILER FREE
 
Para o mês de fevereiro do Desafio Literário Popoca, resolvi dar um tiro no escuro com o livro da francesa Lolita Pille, Blubble Gum. Em outras palavras, pelo blurb do livro eu supus que uma história sobre um mega ricaço e uma aspirante a modelo e atriz certamente deveria ter uma festa importante.

Claro que eu acertei em cheio. Bubble Gum conta a história de Derek, dono de uma empresa de petróleo e de um grande conglomerado de outras empresas, e de Manon, uma francesa do interior. Derek e Manon não poderiam ser mais diferentes e mais parecidos. Os dois detestam a vida que levam, por motivos extremamente diferentes, claro. Derek sofre de tédio porque não existe nada que ele não possa fazer ou ter. Manon sofre de tédio porque não tem nada para fazer na sua cidade natal.

As soluções que eles encontram também são diferentes, Manon vai para Paris testar a sorte como modelo. Derek resolve testar o limite do possível ao escolher alguém para destruir. A partir daí o livro é uma das histórias mais bizarras e surreais que já li na minha vida.

Numa trama enlouquecida, Lolita Pille faz uma crítica bastante contundente à sociedade de consumo desenfreado e a consequente coisificação das pessoas. Nenhum dos personagens é gostável, são todos loucos, megalomaníacos e egoístas ao extremo. Mas o livro foi feito para ser assim.

Confesso que fiquei bastante dividida. Por um lado o livro é maravilhoso, por outro, a coisa toda é tão extrema e enlouquecida e detestável que a leitura se torna pesada. Não é um livro para quem quer ler para relaxar. E se você tem gatilhos com violência, sexo ou uso de drogas é melhor passar longe também.

Mas preciso dizer que apesar ou por causa dessas coisas todas, adorei o livro.

Depois de lançar três livros com bastante sucesso de público (Hell em 2003, Bubble Gum em 2004 e Cidade da Penumbra em 2008), mas nem tanto sucesso entre os críticos literários, com um deles, Hell, virando filme em 2006, a escritora Lolita Pille sumiu. Quer dizer, ela tem um instagram pouquíssimo acessado... e só.

Uma pena, adoraria ler mais obras dela.

Nota 8,5.