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sexta-feira, 31 de julho de 2020

A Luneta Âmbar - The Amber Spyglass (His Dark Materials #3)



SPOILER FREE

E finalmente chegamos no último livro da trilogia His Dark Materials, ou Fronteiras do Universo em português, do autor inglês Philip Pullman. A série mais famosa do autor, que também já virou filme e agora é uma série da BBC e HBO.

Como mencionei na resenha da Bússola Dourada, o início da saga é muito bom, apesar do final estilo gancho do livro. Infelizmente a continuação, A Faca Sutil, deixa um tanto quanto a desejar, e, aparentemente, o autor ouviu algumas reclamações e fez diversos acertos para o final da série, A Luneta Âmbar, que também pode ser uma cor, e por isso estou colocando no Desafio Literário Popoca de julho, para fechar o mês com chave de ouro!

Depois de dois volumes cheios de adrenalina, que contam através da história de Lyra e Will uma grande e longa guerra entre forças angelicais, que acabam por ser reproduzidas em guerras humanas religiosas, o último livro não tinha como não ser apoteótico. E sim, apoteótico ele é do início ao fim. Esse é o volume que traumatiza os leitores de Philip Pullman, aquele que faz com que, mesmo tendo amado a história, as pessoas prometerem não ler de novo. Mas não se precipite, a leitura vale cada lágrima e as chatices do livro anterior.

Aqui finalmente fica explicado o que é a tal da Dust, ou na tradução para o português. Finalmente toda a confusão do Universo fica um pouco mais clara, e dessa forma, decisões importantes podem e precisam ser feitas.

A trilogia fecha mesmo com uma belíssima chave de ouro. E chegamos ao final da incrível história de amadurecimento de Lyra e Will, e como de alguma forma ela é universal. E também porque ela é importante para a humanidade como um todo. Afinal, amadurecimento não é necessariamente uma questão etária, mas é crucial para a sociedade evoluir. E Philip Pullman consegue demonstrar isso de forma maravilhosa na sua trilogia, usando como base diversos contos de fadas e também outras obras literárias.

O resultado final é tão bom que até dá para esquecer a pisada de bola no livro II.

E tem sim a questão religiosa, que ficou um tanto quanto de lado no segundo livro, mas no terceiro ela é escancarada e não tem muito o que dizer para tentar disfarçar. É um livro para pessoas que gostam de pensar e questionar. Certamente não vai agradar a todos e não necessariamente isso é ruim, até porque é impossível agradar todo o mundo.

E agora vou desagradar os fãs raiz do autor.

Apesar da trilogia ser muito maravilhosa e o enredo em si ser uma obra-prima, Philip Pullman não é um grande gênio literário. Sua escrita é boa, mas não é incrível, o enredo é melhor que o seu texto. Veja bem, meu objetivo não é diminuí-lo como escritor, mas diminuir um pouco a expectativa de futuros leitores e ser mais realista. As passagens exageradamente melosas dos livros continuam todas presentes no texto e parecem fazer parte do estilo do autor, e pessoalmente não me agradam.

No geral, nota 9,5.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

A Faca Sutil - The Subtle Knife (His Dark Materials #2)



SPOILER FREE

Depois de um primeiro volume maravilhoso, apesar do final em gancho, a série Fronteiras do Universo, His Dark Materials no original, segue com o livro A Faca Sutil.

Quem acompanhou a primeira temporada da série da BBC, distribuída pela HBO no Brasil, já teve um gostinho do início desse livro, pois ela mostra em paralelo as histórias de Lyra e Will, que nos livros só nos é apresentado nesse segundo volume. E, vamos ser sinceros, é uma apresentação um tanto quanto longa, o que torna a escolha na série bem mais interessante.

A Faca Sutil é uma grande reviravolta no enredo de Fronteiras do Universo, pois não só aparece pela primeira vez o Will, o coprotagonista de Lyra a partir daqui, mas também ocorre a primeira grande expansão do universo onde se passa a história. O que é um tanto quanto difícil de explicar sem dar spoilers... mas digamos que novos horizontes se abrem...

Mas nem tudo são flores na continuação da saga, não só pela continuação dos problemas, aventuras e violência associados, mas também porque Philip Pullman pisa na bola nesse livro. Mais especificamente, ele esquece quem é a Lyra.

O interessante é que eu não lembro dessa sensação ao ler a série há 15 anos, mas dessa vez as mudanças na Lyra me pareceram muito claras, e não me agradaram. Em diversos momentos fiquei com a sensação de que a personagem do primeiro livro não faria as coisas da forma como faz no segundo, e o que aconteceu entre um e outro não explica bem as mudanças. Outra questão, que pode ser da época do livro, é que no primeiro volume Lyra dá uma sensação muito interessante de quebra de expectativa de gênero, que é carregada pelo livro todo. Só para no volume seguinte ela parecer muito, mas muito mais, menininha.

Por que isso Philip? Precisava diminuir a Lyra para o Will ganhar importância?

O resultado deixa muito a desejar por causa disso. O enredo em si continua interessante, cheio de ação, adrenalina e emoção. Mas ele perde quando se perde a personagem mais interessante.

Lyra é tão mais interessante que ela que ganha destaque em todos os outros livros derivados da série original. Pena que o autor só realmente percebeu isso depois...

Para deixar a situação ainda pior, o livro termina com mais um gancho... leia com o volume seguinte a postos.

Nota 8.

terça-feira, 21 de julho de 2020

A Bússola Dourada - The Golden Compass (His Dark Materials #1)



SPOILER FREE

Finalmente entrando no Desafio Literário Popoca de julho, com o tema livro com cor no título! Considerando a alta probabilidade da segunda temporada da série His Dark Materials ainda ser lançada em 2020, nada melhor do que verificar o trabalho original, a série de livros do autor inglês Philip Pullman!

Confesso que para mim A Bússola Dourada é mais uma releitura, já que li os livros há uns 15 anos. Depois de ver um filme fracassar completamente na adaptação desse clássico juvenil lançado em 1995, com direito a explicação de todo o mistério da trilogia ser colocada na abertura, em voice over! E mais de 10 anos depois desse desastre, finalmente ter uma boa surpresa em forma de série de TV, eu precisava reler os livros!

Em tempo, e para cumprir tabela: o filme foi lançado em 2007, e contou com um elenco estrelar: Nicole Kidman, Daniel Craig, Ian McKellen, Eva Green, Sam Elliott... mas, não foi um sucesso de bilheteria, por motivos de roteiro e direção. A cara congelada da pobre Nicole certamente não ajudou. Acho que foi o primeiro filme que vi dela pós botox e fiquei chocada. O filme teve um retorno financeiro tão ruim que, apesar de ter sido planejado para ser uma trilogia, nada nunca mais foi feito.

A série de TV foi lançada em 2019 pela BBC, disponibilizada no Brasil pela HBO, e, talvez porque a galera aprendeu a lição, ou talvez por ser uma série e eles terem mais tempo para desenvolver a história, ficou com uma pegada completamente diferente, e muito superior. A série também conta com grandes nomes: Dafne Keen (Logan), Andrew Scott (Sherlock e Fleabag), Lin-Manuel Miranda (Mary Poppins e Hamilton) e James McAvoy (X-Men e Atomic Blonde). A série tem muitos pontos positivos, e estou ansiosa para assistir a segunda temporada, mas vou parar por aqui para tentar manter o mínimo de foco.

O livro A Bússula Dourada é o primeiro da trilogia His Dark Materials, traduzida como Fronteiras do Universo em português (mais um caso das traduções inexplicáveis, mas que pelo menos se mantêm alinhadas com a ideia da obra). Apesar de normalmente ser descrito como um livro infantil, tenho minhas dúvidas com relação a isso, eu diria mais juvenil, por motivos de violência explícita.

A história se passa numa Inglaterra parecida, mas diferente, da nossa, e seguimos as aventuras da órfã Lyra Belacqua, uma jovem que cresceu na Universidade de Jordan em Oxford. Lyra não vai a escola, mas os acadêmicos da universidade tentam, muitas vezes em vão, suprir essa lacuna. Ela é mentirosa e adora uma boa briga, além de ser uma líder natural. No seu mundo as pessoas possuem daemons, algo semelhante à alma, mas é um animal que acompanha a pessoa fora do seu corpo, e é visível para os outros, e esse animal pode mudar de forma até assumir uma forma definitiva na puberdade.

Tudo vai bem até que o melhor amigo de Lyra, Roger, desaparece, capturado por um bando chamado de Gobblers, e ela decide viajar para o norte, onde vivem as bruxas e os clãs de ursos polares com armaduras. Até aí, tudo está na contra capa do livro! E para quem viu a série, nada de mais.

O sucesso da trilogia no mundo literário elevou o autor a um novo status, e desde então ele tem publicado diversas obras conectadas com os livros originais, e também sobre como escrever histórias e o poder dos contos de fadas. Aliás, Fronteiras do Universo parece um conto de fadas, daqueles tradicionais, onde ninguém omite a violência que existe no mundo, os riscos são muito reais e as personagens sofrem muito.

Agora imagine uma história nesse estilo só que com uma forte crítica às religiões, em especial às judaico-cristãs. Philip Pullman muitas vezes é comparado a Tolkien e C.S. Lewis (Nárnia), mas porque ele anda na direção oposta quando se trata de alegorias religiosas. A obra de Lewis é quase que uma ode ao cristianismo, enquanto Pullman faz de tudo para mostrar todos os podres das instituições religiosas e como algumas crenças podem fazer muito mal às pessoas e à sociedade onde elas vivem. A controvérsia com relação a isso nos livros é tão grande que várias organizações católicas já pediram que os livros fossem banidos.

Independentemente de crenças religiosas, A Bússola Dourada é um livro excelente, cheio de adrenalina, batalhas tanto físicas quanto psicológicas, grandes mistérios e personagens fascinantes. A mitologia criada por Pullman é muito bem feita, e a construção do mundo onde se passa o enredo é impecável. E o mais interessante, Lyra é uma criança de verdade! E mesmo sendo menina, ela é arteira, cheia de energia e uma guerreira feroz. Eu fico sempre feliz quando vejo homens escrevendo bem personagens femininos, isso é tão raro.

Claro que não dá para ler o primeiro volume e parar, até porque o final infelizmente tem gancho para o livro seguinte. Por isso mesmo já estou lendo A Faca Sutil, cujo início já começou a aparecer logo na primeira temporada da série da BBC, numa excelente escolha de adaptação.

Nota 10, indico em qualquer mundo.