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domingo, 30 de janeiro de 2022

Beirute Noir


 

SPOILER FREE

Para abrir o ano, e o Desafio Literário Popoca 2022, que tem o tema de janeiro livro de contos, escolhi um exemplar da série Noir da editora liberal e alternativa Akashic Books. A editora se especializa em autores que são ignorados ou não querem trabalhar no mainstream editorial dos EUA, e a série Noir tem ainda um viés internacional, pois foca em autores de diversos países.

A série Noir hoje já conta com mais de 70 cidades espalhadas por todos os continentes, com contos de autores locais e histórias inéditas que se passam na cidade título do livro. Beirute Noir, a minha escolha da vez, pode ser encontrado também em português, pois foi publicado no Brasil pela Editora Tabla, especializada em literatura árabe.

Para a capital libanesa, a seleção de contos foi organizada pela autora Iman Humaydan, também libanesa, e contem 15 contos de 14 autores libaneses e um palestino criado no Líbano. Os contos foram originalmente escritos em três idiomas, árabe, francês e inglês, o que já uma traz uma característica bastante interessante do Líbano, onde não só é comum encontrar pessoas bilíngues, mas o país também possui uma diáspora considerável espalhada pelo mundo inteiro.

Uma característica da série Noir é que os contos acontecem por diversos bairros da cidade título, e no caso específico de Beirute, os contos ainda se passam durante a guerra civil libanesa, que ocorreu entre 1974 e 1990, acontecimento que marcou profundamente o país. Por ainda por cima ser um livro de temática noir e com contos passados durante uma guerra civil... já dá pra sentir que as histórias não são exatamente leves.

Como todo livro de contos, é claro que Beirute Noir tem seus altos e baixos, mas de forma geral os autores trazem um retrato bastante interessante da cidade dividida pela guerra, com personagens pertencentes às diversas etnias e religiões que dividem o país. Achei especialmente interessante ver os armênios (com direito a citação à fuga do que hoje é a Turquia e o genocídio armênio), os muçulmanos, os cristãos, com direito as suas variações... o Líbano é um país muito mais diverso do que se costuma imaginar.

Mas é preciso estar preparado para a brutalidade da guerra, que muitas vezes é retratada de forma corriqueira, e o fato de que nenhuma história vai ter um final feliz. Eu confesso que gostei particularmente das histórias cujos protagonistas são mulheres, e algumas com protagonistas homens foram especialmente marcantes também. Com exceção de um ou outro conto que não me caiu bem, a leitura foi bem rápida e surpreendente agradável, considerando o tema.

Recomendo muitíssimo para ter contato com autores que dificilmente temos acesso, especialmente em português. É uma oportunidade imperdível.

Nota 9.