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terça-feira, 31 de março de 2020

The Automobile Club of Egypt by Alaa Al Aswany



SPOILER FREE

Para fechar o Desafio Literário Popoca do mês de março, com o tema autores orientais, resolvi ler o autor mais celebrado do Egito hoje, Alaa Al Aswany. Autor de diversos best-sellers traduzidos para nem sei quantos idiomas, o egípcio é considerado o novo Naguib Mahfouz (para os desavisados, ele foi o primeiro ganhador do Nobel de Literatura do mundo árabe, recomendo a leitura também).

Apesar de The Automobile Club of Egypt ser meu terceiro livro desse autor, é a primeira vez que a comparação com Naguib Mahfouz me pareceu realmente apropriada. Não só pela riqueza do enredo desse livro, mas também pelas posições políticas dos personagens e a escolha da época que se passa a história, isto é, o final da ocupação do Egito pelos Britânicos, que é um período histórico extremamente usado pelo prêmio Nobel árabe.

Apesar de Alaa Al Aswany ser bem mais picante que seu conterrâneo, ele soube retratar de forma muito rica uma família vinda do Alto Egito em desgraça financeira, que acaba se estabelecendo no Cairo e se envolvendo com o Clube do Automóvel do Egito, uma instituição bastante inglesa patrocinada pelo rei do Egito. É importante apontar que o Egito, durante a ocupação inglesa, foi uma monarquia fantoche dos britânicos, e que diversos movimentos conhecidos até hoje, como a Irmandade Muçulmana, surgiram nessa época, o que explica seu favoritismo pelos autores locais.

Pessoalmente eu gosto muito da história do Egito moderno, e estudei muito essa fase em particular, portanto, posso atestar a qualidade do retrato feito pelo autor. Soma-se a isso excelentes personagens e uma história cheia de reviravoltas e surpresas e você tem The Automobile Club of Egypt. Não é uma leitura exatamente leve, mas vale os momentos mais tensos e pesados.

Apesar de ainda não ter sido traduzido para o português, é possível encontrar o livro em inglês e espanhol. Recomendo a leitura!

Nota 10.

Crazy Rich Asians (Crazy Rich Asians #1) - Asiáticos Podres de Ricos



SPOILER FREE

Aproveitando o último respiro de março, com o tema do Desafio Literário Popoca de autores orientais, resolvi ler algo um tanto quanto diferente, por mais que o livro tenha feito tanto sucesso que virou filme em 2018. Dessa vez apostei num autor de Cingapura.

Cingapura é uma ilhota ao sul da Malásia, e é uma versão mais chique e mais rica do país asiático, que, por acaso, visitei ano passado (super recomendo aliás). Também é uma versão mais chinesa e mais ocidentalizada que o país muçulmano vizinho. O autor Kevin Kwan retrata a porção mais rica de um país bastante rico, não é a toa que o nome do livro ficou Crazy Rich Asians, com a tradução Asiáticos Podres de Ricos em português.

O estilo de vida das famílias retratadas não deixa nada a desejar às famílias reais europeias, sultões e grandes magnatas. E isso tanto do lado de quantidade de dinheiro quanto do lado de esnobismo. Mas, como em qualquer lugar do mundo, existem as pessoas legais e as pessoas letais. 

Esse primeiro volume do que veio a se tornar uma trilogia por causa do estrondoso sucesso, acompanha a história de Rachel, uma americana de origem chinesa criada nos EUA desde bebê, que é convidada pelo namorado Nick Young a conhecer sua família em Cingapura. O que ela nem desconfia é que Nick faz parte de uma das famílias mais ricas e influentes do país. Claro também que a família Young é pega de surpresa com uma namorada que ninguém sabia que existia e por isso todos assumem que ela é uma alpinista social atrás da fortuna da família.

A história é retratada sob diversos pontos de vista diferentes, o que torna a leitura bastante interessante, pois o leitor acompanha a trama de todos os lados e é apresentado a muitas opiniões divergentes. E isso tudo imerso numa cultura extremamente rica, diversificada e interessante. O texto, por exemplo, é recheado de expressões de origens chinesas e malaias, de vários idiomas distintos, além de ser apresentado a muitas explicações da riquíssima culinária local (que não recomendo para quem não gosta de pimenta e temperos fortes).

Apesar das tramas diabólicas, a leitura é leve e a história é extremamente divertida. Mal se sente que o livro tem mais de 500 páginas (o que me deixou surpresa quando descobri). É muito claro que a razão do sucesso do autor está nas suas belíssimas construções de personagens, aliado a um senso de humor original e o tempero asiático que o torna exótico, mas facilmente relacionável.

Para tempos de quarentena é uma excelente leitura!

Nota 9.

sábado, 7 de março de 2020

Contemporary Iraqi Fiction: An Anthology



SPOILER FREE

Seguindo o tema autores orientais do Desafio Literário Popoca de março, resolvi pegar um livro raro. Sem tradução para o português, Contemporary Iraqi Fiction é uma lindíssima coletânea de contos de autores iraquianos, traduzida e editada por Shakir Mustafa. Não o ator Mustafa Shakir, favor não confundir, apesar dele ser um colírio.


Aqui estamos falando do PHD e professor de árabe Shakir Mustafa, que se deu ao trabalho de levantar uma lista extremamente variada de autores iraquianos com pouca ou nenhuma tradução para qualquer outra língua. E põe variada, a lista inclui homens, mulheres, muçulmanos, judeus e cristãos de variadas épocas do século XX, com ênfase na produção literária do Iraque a partir dos anos 80. Com direito a diversas histórias sobre as diversas guerras no Iraque, guerra com o Irã, guerra do golfo (aquela do Kuwait), embargos e a invasão americana. Sem deixar de lado as questões do governo Saddam Hussein.

Como não achei a lista de autores de forma clara em nenhum site sobre esse livro, então segue para futura consulta e referência de todos: Mohammad Khodayyir, Lutfiyya al-Dulaimi, Mahdi Isa al-Saqr, Mayselun Hadi, Abdul Rahman Majeed al-Rubaie, Samira al-Mana, Abdul Sattar Nasir, Samir Naqqash, Salima Salih, Samuel Shimon, Mahmoud Saeed, Nasrat Mardan, Jalil al-Qaisi,Ibtisam Abdullah, Ibrahim Ahmed e Shmuel Moreh.

Não sei o que me deixou mais triste, as histórias mais pesadas da coletânea ou o fato de que não consegui achar mais quase nada desses autores para ler depois. Porque, conforme prometido pelo editor, esses são autores pouco traduzidos, o que me pareceu um grande desperdício quando li o livro, que é simplesmente maravilhoso.

Me sinto revoltada quando leio livros assim tão maravilhosos que, por conta de barreiras linguísticas e sociais, acabam tendo um alcance tão limitado. O mundo perde muito com esse tipo de situação.

Os contos escolhidos para compor Contemporary Iraqi Fiction são de altíssima qualidade, e o trabalho de tradução está primoroso, mesmo nos casos em que o editor escolheu romances para traduzir e montou contos com pequenos pedaços deles. Sim, tem essa heresia no livro, mas como está bem feita eu perdoo.

Meu amor pela literatura árabe só aumenta quando encontro obras assim. Indico para todos que possam ter acesso e ler.

Nota 10.

Kindred Spirits



SPOILER FREE

Depois de ler Landlines, prometi a mim mesma ler mais livros da americana Rainbow Rowell, e acabei cruzando com essa pequena pérola.

Pequena de forma literal, Kindred Spirits, ou Universos afins em português, tem meras 40 páginas. Mas nunca julgue um livro pelo seu tamanho. O quase conto é divertido até dizer chega, e extremamente fofo de uma forma bem nerd.

Aqui a autora traz o que acontece quando uma jovem, Elena, decide acampar na fila para assistir Force Awakens (O despertar da força) na estreia. Isso mesmo, é um livro sobre super fãs de Star Wars, com direito a leves discussões sobre mulheres no mundo nerd, o que é ser nerd num mundo onde a nerdice virou pop e os chatos pré-requisitos para você ser considerado fã.

Eu digo leves porque o livro é simplesmente curto demais para fazer qualquer discussão mais profunda sobre qualquer coisa. Para fãs de Star Wars é uma leitura com direito a easter eggs, claro. Mas, é preciso apontar que a maioria dos personagens aqui são adolescentes, então, talvez a leitura não agrade os fãs mais antigos da franquia.

Pessoalmente, eu adorei a leitura. Portanto, pretendo ler ainda mais livros da autora.

Nota 9.

I Could Pee on This, Too: And More Poems by More Cats



SPOILER FREE

Eu comprei esse livro simplesmente porque gostei do primeiro volume do autor gatófilo Francesco Marciuliano. Apesar do nome, ele é norte americano e tem no currículo não apenas livros escritos como se fossem de gatos, mas também de cachorros. 

Posso atestar pelo primeiro livro e por esse também que o autor entende de gatos. De cachorros não sei porque não li e não pretendo ler, pelo menos por enquanto.

Assim como o primeiro volume, I could pee on this too é recheado de fotos fofas de gatos entre os poemas para não só encher linguiça, mas também para enriquecer a leitura felina. Apreciadores de gatos de plantão certamente agradecem.

Apesar da qualidade felina do texto, confesso que não gostei tanto desse volume quanto do primeiro. Talvez a novidade não seja mais tanta, talvez o autor não tenha sido tão original aqui, o que me transpareceu pelos textos um tanto quanto repetitivos e curtos. Talvez ele simplesmente não tenha acertado na mão.

Para gatófilos de plantão, a leitura ainda vale a pena, mas não recomendo para amantes de poesia pela qualidade do texto.

Nota 7,5.

domingo, 1 de março de 2020

O coração disparado



SPOILER FREE

Quem acompanha o blog sabe que descobri há alguns anos a mineira Adélia Prado. Desde então já li Bagagem e uma coletânea de poesias da autora, que entrou na minha lista de poetas que vou comprando livros conforme encontro.

O coração disparado foi lançado nos anos 70 e foi vencedor do Prêmio Jabuti, o que me parece justo, pois é um livro muito inovador em termos poéticos, com a qualidade e o jeitinho de Adélia. A mineira tem uma forma de escrever poesia muito própria, com uma mistura um tanto quanto inusitada de dia a dia, um amor pelas coisas terrenas bem mineira e o catolicismo que era presente com tanta força no Brasil.

Apesar do prêmio, o livro não é o meu favorito dela até o momento, mas isso é uma questão muito mais minha do que de Adélia Prado, com certeza absoluta. Para quem gosta de poesia, ler a mineira é sempre uma boa opção.

Nota 8.


Only For A Night (Lick #1)



SPOILER FREE

Naima Simone é atualmente uma das minhas autoras favoritas de literatura erótica. Com algumas ressalvas, gostei de tudo que já li dela, e Only for a night, o primeiro livro da série Lick, não foi uma exceção.

Se você está procurando por enredo, não se preocupe, aqui não tem. O lance desse livro é que ele se passa dentro de uma casa de sexo, onde são oferecidos serviços bastante variados. A desculpa para ler sobre a casa Lick é Harper Shaw, uma jovem recém viúva que resolve virar a página da sua vida com a antiga paixão de adolescente Rion Ward, que é ex-membro de uma gangue e um dos donos da Lick.

Apesar de curtinho, o livro é recheado de cenas picantes muito boas e bem escritas. Uma das marcas de Naima Simone é a garantia de coisas bem picantes. E aqui, certamente, ela não se faz de rogada. Terminei o livro comprando o volume seguinte da série, porque se for nessa mesma linha, eu vou gostar de ler.

Para quem gosta do estilo, é uma excelente leitura.

Nota 10.




A Girl Like That



SPOILER FREE

O Desafio Literário Popoca de março, que tem como tema autores orientais, começou muito bem e de forma muito multicultural para mim. Escolhi como primeiro livro o aclamado A girl like that, da indiana criada na Arábia Saudita e no Canadá Tanaz Bathena. O livro ainda não foi traduzido para o português, mas, para quem prefere, tem em espanhol.

A autora tira um grande proveito da sua própria história multicultural e traz um enredo fascinante, apesar de absurdamente triste. Em A girl like that o leitor acompanha de forma não cronológica a história de Zarin Wadia, uma jovem de 16 anos que vive em Jeddah na Arábia Saudita. Como a autora, Zarin nasceu na Índia, de mãe zoroastra e pai indiano, o que a marca como alguém que não se encaixa nem numa cultura e nem na outra. Órfã desde pequena, ela é criada pelos tios zoroastras, que arranjam emprego no país árabe.

Como a Arábia Saudita é um dos países mais bizarros em termos de regras sociais do mundo, dizer que Zarin tem dificuldades para se encaixar nessa sociedade é no mínimo redundante. Ela não só sofre com as questões da sua própria família, que tem dificuldade de aceitá-la, como também sofre com as limitações sociais da sua escola, se tornando uma jovem de pouquíssimos amigos.

O livro abre com o acidente de carro que mata Zarin junto com outro jovem, Porus, que também é de origem indiana, porém eles não são parentes, o que por si só já é um grande escândalo na sociedade saudita. Por que os dois estavam juntos? Como se conheciam? Seriam namorados? Essas e outras perguntas são feitas pelos os que conheciam Zarin, como suas colegas de turma, que apesar da proximidade, nunca realmente conheceram a jovem.

É um enredo muito rico. A autora conseguiu misturar culturas e retrata-las de forma impecável. Ouso dizer que é um dos melhores livros de 2020 para mim, de tanto que gostei. Recomendo muitíssimo a leitura.

Nota 10!

The Real Thing (Sugar Lake #1)



SPOILER FREE

No meio de leituras um pouco mais intensas eu preciso dar uma respirada, e para isso tenho usado literatura erótica com alguma frequência. Para o bem ou para o mal.

Infelizmente dessa vez não acertei muito com The Real Thing da americana Melissa Foster. Não que o livro sofra de forma intensa com grandes problemas como machismo ou relacionamentos abusivos. Só um pouquinho. O problema é que a história é só bobinha mesmo.

Aqui temos a dona de uma padaria, Willow, que é apaixonada pelo melhor amigo de infância do seu irmão mais velho que depois virou artista de cinema Zane. Os dois fazem um joguinho de gato e rato por anos, tudo por medo de dizer o que sentem. Detesto enredo que se baseia em não dizer as coisas.

Os dois são fofos, tem algum drama rolando, mas não chega a ser nada de mais. Parece aquele doce de padaria que parece muito mais gostoso do que realmente é, e no final, por ele não ser tão bom, você sente uma certa culpa pelas calorias extras.

Pelo menos Melissa Foster escreve direitinho, e a história ou as personagens não dão raiva, o que é positivo nesse estilo.

O resultado é simplesmente mediano.

Nota 7,5.