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quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

O teste do casamento - The bride test


SPOILER FREE

E finalmente chegamos no último tema do Desafio Literário Popoca 2022! Em dezembro, o tema livros com protagonistas com deficiência entrou em campo, e resolvi escolher um livro da nossa lista de sugestões: O teste do casamento, da norte americana descendente de vietnamitas Helen Hoang.

Atenção, na nossa lista de sugestões, o livro está com o título Noiva à Experiência, que é da tradução portuguesa da obra! No Brasil, saiu com o título O teste do casamento.

A autora Helen Hoang foi diagnosticada como autista em 2016, já adulta, e escreveu sobre a experiência dessa descoberta no seu primeiro livro, Os números do amor, que fez um enorme sucesso, e, por isso, ela escreveu uma nova obra sobre pessoas com autismo. 

Em O teste do casamento, temos Khai Diep, um jovem filho de vietnamitas que foi diagnosticado com autismo, mas que a família nunca realmente tratou, então, ele acha que não tem sentimentos. Seguindo a linha de famílias asiáticas que se metem nas vidas dos seus integrantes, a mãe de Khai viaja ao Vietnã para encontrar uma noiva para ele, e retorna com Esme Tran, uma jovem mestiça que nunca conheceu o próprio pai.

O interessante de autores como Helen Hoang é que eles podem descrever pessoas com deficiência de uma forma mais profunda de quem apenas pesquisa sobre o assunto, e, para mim, isso foi muito marcante no livro. O foco da narrativa não é a estranheza que Khai provoca, e sim, como ele se sente ao perceber que é diferente, e como aqueles que o amam procuram entender essas diferenças e se adaptar.

Fora toda essa questão do autismo de Khai, o livro é uma histórica romântica como muitas outras, seguindo inclusive fórmulas conhecidas do gênero. O que mostra que essas narrativas, assim como todas as outras, podem e devem ser universais e incluir todo tipo de pessoa. 

Fazia muito tempo que eu não lia nada desse gênero, que, confesso, adoro, então, foi muito difícil parar de ler, trabalhar, comer e dormir. Fiquei totalmente viciada, e o livro não durou nada na minha mão. Agora terei que ler o primeiro livro da autora, porque gostei da sua escrita.

Recomendo muitíssimo, não só porque é uma boa história e bem escrito, mas porque de quebra você ainda sai entendendo melhor uma questão que atinge mais pessoas do que se imagina.

Nota 9,5.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

A Rede de Alice - The Alice Network


SPOILER FREE

Depois da rasgação de seda do nosso editor chefe no Popoca sobre A Rede de Alice, eu não resisti e peguei o livro para o Desafio Literário Popoca 2022 de novembro, com o tema ficção ou fantasia que se passem em guerras. Vou lembrar que, apesar de toda a pesquisa histórica incrível da autora norte americana Kate Quinn, o livro ainda é um romance histórico, portanto, ficcional.

Adoro pegar livros indicados, pois sei melhor onde estou me metendo. E apesar de não ter ficado tão entusiasmada com a história de Rose e Eve quanto o Tiago ficou, preciso tirar o chapéu para a autora. Gostei o suficiente para já ter incluído outros livros dela na minha lista de desejos interminável na Amazon.

A parte histórica e as descrições do período da primeira guerra estão um primor. Dá um prazer enorme ler romances históricos assim, que delícia! A divisão da narrativa entre o período da primeira guerra, com Eve como narradora, e o pós segunda guerra, com Rose como narradora, dá um dinamismo muito interessante para a leitura, o que realmente faz o livro parecer passar mais rápido.

Entretanto, confesso que passei a primeira metade do livro com vontade de pular todos os capítulos da Rose, porque os da Eve eram muito melhores e mais divertidos. Demorei muito para entrar no ritmo da história da Rose, e só realmente passei a curtir os seus capítulos já no final do livro. 

Se alguém sentir isso, vai na fé, eu prometo que o livro melhora.

Fora esse pequeno porém, faço coro com o nosso editor sobre a maravilhosa escrita da Kate Quinn, que conseguiu a proeza de aparecer duas vezes num único ano com o mesmo livro no Popoca!

Nota 8,5.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

A Caçadora (A Última Caça-Vampiros #1) - Slayer (Slayer #1)


SPOILER FREE

“Em cada geração nasce uma garota: apenas uma garota em todo o mundo, uma escolhida. Ela sozinha terá a força e habilidade para lutar contra os vampiros, demônios e as forças do mal. Ela é a Caça-Vampiros.”

Se você assistia TV no final dos anos 90, é provável que tenha escutado essa chamada no início de cada episódio de Buffy, A Caça-Vampiros. O show, criado pelo então desconhecido Joss Whedon, pré-reconhecimento com Vingadores e pré-queda com Liga da Justiça, fez um sucesso enorme e angariou fãs, muitos fiéis até hoje. Depois de 7 temporadas (1997-2003), uma série spin-off (Angel, com 5 temporadas, 1999-2004) e diversos quadrinhos continuando a saga de Buffy (com os primeiros escritos ainda pelo criador Joss Whedon), e sem mencionar o filme original de 92, o Buffyverso volta a dar frutos.

A autora estadunidense Kiersten White assumiu a missão de criar um novo spin-off literário no universo de Buffy. A história se passa num mundo pós a série de TV, mas, não tenho certeza sobre ser após os quadrinhos, pois os quadrinhos são confusos, e é muito difícil de saber o que é considerado cânone e o que não é, dado o troca troca de direitos autorais entre diversas editoras. De qualquer forma, olha o spoiler para quem não viu a série, pule para o próximo parágrafo agora, já não há uma única caça-vampiros no mundo, o conselho dos guardiões foi pro saco, e Buffy agora age sozinha, liderando um grupo de caçadoras.

Mas o livro A Caçadora, como ficou a tradução para o português é sobre Nina, filha do primeiro guardião de Buffy (apenas mencionado na série, é preciso ver o filme pra saber quem ele é, assista com cautela), que tem uma irmã gêmea, Ártemis. Numa ode ao estilo da série, Nina se torna uma caça-vampiros no apagar das luzes da existência da magia no mundo, o que a torna a última, e, claro, ela parece estar conectada com uma profecia sobre o fim do mundo. Só que Nina, por ter perdido o seu pai por causa de Buffy, detesta as caçadoras, e passou sua vida trabalhando como uma espécie de enfermeira do conselho dos guardiões, e ela não aceita muito bem sua nova categoria.

Num enredo que faz inúmeras referências à série original (incluindo a diversos personagens mais obscuros), Kiersten White consegue recriar o clima da primeira temporada de Buffy, o que é uma mistura de profecias, questões adolescentes, relacionamentos amorosos e de amizade e a descoberta da sua identidade. Se você não curte alguma dessas coisas, pode deixar A Caçadora de lado.

Agora, você gosta de Buffy e tolera bem uma história muito young-adult com direito a parte do enredo só acontecer porque todos mantêm diversos segredos (o que era comum em Buffy, e faz parte da natureza dos guardiões, vamos ser sinceros), então, A Caçadora é o livro pra você ler no Desafio Literário Popoca 2022 de outubro, com o tema vampiros e criaturas afins, ou um livro da Anne Rice. Essa pelo menos foi a minha escolha.

Foi uma escolha extremamente dentro do tema, é verdade, e se por um lado, curti demais toda a nostalgia que a leitura me trouxe de Buffy (estou até pensando em rever pela enésima vez a série), além de ter adorado os novos personagens, por outro, acho que minha paciência com histórias adolescentes não anda das maiores. Todo o diálogo interno e as dúvidas foram um pouco demais para mim depois de um certo percentual do livro.

O fato do livro terminar num quase gancho não ajudou muito, mas, eu entendo o que a autora fez. A história principal desse primeiro volume termina, mas, ela deixa uma armadilha no final para você querer ler o volume seguinte, o que funciona, pois apesar de eu não ter terminado o livro apaixonada, já estou com o livro seguinte na minha lista de desejos da Amazon.

O que eu posso fazer? Tenho um fraco com histórias de vampiros.

Nota 7, isto é, Buffy passando de ano por pouco porque passa as noites patrulhando.

domingo, 25 de setembro de 2022

Incêndio Oculto


SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2022 de setembro, com o tema fantasia, ficção científica ou realismo fantástico brasileiro, resolvi pegar o livro recém lançado de uma autora que adoro, e pela primeira vez vi lançando um livro em português (ela normalmente escreve em inglês), a Vivian Wolkoff. Dessa vez, ela lançou em conjunto com outra autora, Giselle Almeida, que também é uma ilustradora de mão cheia.

Nessa colaboração, as autoras trazem uma história que mistura magia com tráfico de drogas e crime organizado. Somos apresentados a Katma, uma poderosa bruxa, que está disposta a enormes sacrifícios para tentar ajudar sua irmã, Emily, a superar a trágica morte dos seus pais. O problema é que as duas acabam parando na cidade de Woràk, na Polônia, onde há uma guerra entre a gangue local, os Spust, e a irmandade bruxa da cidade, pelo controle de uma droga alucinógena chamada ferrugem.

Num enredo cheio de adrenalina, magia, romance (com direito a boas cenas picantes) e questões complicadíssimas de família, as duas trazem à tona personagens excelentes, que não só ficaram ótimos no papel, mas que, sinceramente, dariam um banho em muita série de fantasia e ação que andei vendo por aí. O trio principal dos Spust, Lilend, Aaron e Pixie, são um show à parte, e eu gostaria de ver mais coisas com eles.


Não sei muito como foi a divisão do trabalho entre as duas autoras, esse é um tema que sempre me deixa curiosa, mas o resultado ficou extremamente divertido, tanto que li o livro muito rápido. A leitura é tão leve que nem me incomodei com os typos da edição em Kindle que comprei no dia do lançamento, e que, bem, até onde já pude perceber, são muito comuns em produções de baixo custo tanto brasileiras quanto gringas.

Para quem quer ler algo bem diferente, produzido no Rio de Janeiro, fica a dica!

Nota 9.

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

The Hidden Palace (The Golem and the Jinni #2)


SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2022 de agosto, com o tema folclore, aproveitei para pegar The Hidden Palace, uma continuação inesperada de O Golem e o Gênio, que foi o primeiro livro da americana Helene Wecker. Infelizmente The Hidden Palace, lançado no ano passado, ainda não foi traduzido para o português, mas O Golem e o Gênio está disponível numa linda edição da Darkside.

Depois de rasgar seda até não poder mais para esse primeiro volume, como vocês podem ver aqui, peguei o segundo com muito gosto. Por conta do tempo entre a leitura entre um livro e outro, confesso que recorri à internet para encontrar um resumo de O Golem e o Gênio, o que me deixou mais confortável, apesar de depois de ter lido Hidden Palace eu poder afirmar que não teria sido necessário.

Novamente Helene Wecker traz suas belíssimas personagens baseadas nas culturas árabe e judaica, com o enredo se passando nas comunidades imigrantes de Nova Iorque do pré-guerra no início do século XX. A história é centrada em Chava, uma golem criada por um rabino, e Ahmad, um gênio preso em forma humana por um feiticeiro, e entorno dos dois temos diversos personagens das comunidades judaicas e árabes locais.

Entretanto, serei sincera, O Golem e o Gênio não precisava de uma continuação, a história é muito redonda. Infelizmente, The Hidden Palace ficou com cara de continuação lançada para ganhar dinheiro, e não porque era uma história que a autoria precisava contar. Tudo bem que a escrita bonita e agradável continua presente, assim como um esmero fantástico na pesquisa histórica, tanto na parte do enredo que se passa em Nova Iorque, quanto a parte que se passa no Oriente Médio.

O problema é que parece que não tem muita história para contar. A trama é lenta e se arrasta por boa parte do livro, só pegando um ritmo mais interessante bem no final. Diferente do primeiro volume, aqui não há um vilão claro, o que poderia ser interessante, mas o resultado foi uma linha narrativa dispersa demais. Tanto que o livro parece bem mais longo do que realmente é.

Quer dizer que não vale a pena ler? Também não é assim, acho que foi uma questão de expectativa. Como minha lembrança do livro anterior é tão maravilhosa, eu esperava algo nesse nível, e não foi bem o que encontrei. Mas, The Hidden Palace tem suas qualidades, como já comentei, e se Helene Wecker lançar mais obras, certamente vou parar para ler.

Nota 7,5.

domingo, 31 de julho de 2022

Redemption in Indigo

SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2022 de julho, com o tema fantasia ou ficção científica escrita por autores africanos, escolhi um dos livros da escritora Karen Lord, de Barbados.

E gente, que escolha mais acertada. Redemption in Indigo, infelizmente ainda sem tradução em português, é um livro que ganhou diversos prêmios quando foi lançado em 2011. E certamente merecia ainda mais, mas, como foi o primeiro livro da autora e ela é negra... sabe como são essas coisas.

A história parece se passar em algum lugar não determinado no continente africano (eu confesso que não tenho ideia de que país poderia ser), e é cheia de referências a diversas culturas e mitologias africanas, que eu gostaria de conhecer mais para ter apreciado melhor suas aparições. No livro acompanhamos Paama, uma mulher casada que abandonou a casa do seu marido porque ele era um glutão sem noção. Por ter tomado essa decisão, ela chama atenção de seres imortais do mundo espiritual, os djombi, que resolvem dar a ela um artefato mágico, o cajado do caos.

Só que nem todos os djombis ficam satisfeitos com a escolha de Paama para receber um poder tão grande. E o Indigo Lord, um poderoso djombi, resolve ir atrás dela para tentar convencê-la a entregar para ele o cajado do caos.

Numa história que parece saída diretamente dos mitos, mas com uma pegada mais atual, a saga da luta entre Paama e o Indigo Lord é de uma delícia ímpar de se ler. Não só temos elementos pouco comuns nas narrativas de escritores mais famosos no Brasil, diga-se europeus e americanos, mas temos também uma personagem feminina forte e decidida, que está cercada de outras personagens femininas muito incríveis. Para coroar, Karen escreve absurdamente bem.

Terminei Redemption in Indigo procurando por outros livros da Karen Lord, porque se o primeiro foi assim, imagine os seguintes? Quero ler tudo dessa mulher.

Nota 10.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Os noivos do inverno - Les Fiancés de l'hiver (La Passe-Miroir - A Passa-Espelhos #1)


 

SPOILER FREE

Para o mês de junho do Desafio Literário Popoca 2022, com o tema um livro com inverno no título ou que se passe no inverno, consegui escolher um que se encaixa nas duas características, Os noivos do inverno da escritora francesa Christelle Dabos.

Aviso que li o livro em francês e por isso posso usar nomes ou termos diferentes do que se encontra na tradução para o português da editora Morro Branco

A escritora Christelle Dabos é de uma família de músicos, e se formou em biblioteconomia, e começou a escrever a série A Passa-Espelhos quando descobriu que estava com câncer. Ao receber boas respostas de uma comunidade de escritores na internet, ela finalmente publicou Os noivos do inverno em 2013, aos 33 anos de idade, e ganhou logo de cara um prêmio pela obra, que depois veio a ganhar outros prêmios, inclusive o mais importante de ficção especulativa da França, o Grand prix de l’Imaginaire. Desde então, já foram 4 volumes publicados e ela agora se dedica unicamente a escrever fantasia.

Os livros já foram traduzidos para diversos idiomas, e ela fez bastante sucesso com a série, sendo até mesmo comparada a JK Rowling e Philip Pullman. Depois de ler seu primeiro livro, posso dizer que a comparação não é descabida.

Os noivos do inverno introduz a história de Ophélie, que vive no arche Anima, uma espécie de pedaço que sobrou do planeta terra depois de uma tragédia, a Déchirure. Nesse mundo, existem vários desses arches, que são espécies de ilhas flutuantes. Cada ilha possui um "espírito de família", que é um ser ancestral imortal de quem descende todos os seus habitantes. Em Anima, os habitantes possuem poderes de controle dos objetos, e Ophélie é capaz de ler a história dos objetos que toca, além de conseguir se transportar através de espelhos.

Apesar de viver uma vida bastante pacata em Anima, sendo rebelde apenas no ponto de não querer casar com os pretendentes escolhidos pela família e só querer ficar trabalhando no museu junto com o seu tio avô, Ophélie acaba sendo escolhida pelas matriarcas para um casamento quase que diplomático. Ela se torna noiva de Thorn, uma figura importante de outra ilha, o Polo Norte. Amparada dos parcos conhecimentos desse lugar que ela conseguiu obter no museu e acompanhada de uma tia distante, ela parte com Thorn para o Polo Norte, um lugar onde os poderes de seus habitantes são bem diferentes, e onde o inverno é brutal.

A história por um lado é muito aventuresca, com momentos de muita adrenalina, com o extra do mundo maravilhoso criado pela autora, que é bastante complexo e muito diferente de tudo que já li de fantasia, por outro, é uma aventura regada a política de corte e artimanhas, que Ophélie precisa navegar para conseguir sobreviver ao inverno até a data do casamento.

O ritmo do texto de Christelle Dabos é tão delicioso, que eu precisei emendar o primeiro volume com o segundo, de tanto que gostei. O mundo que ela criou é muito redondo (mesmo estando em pedaços) até onde fui na narrativa, e conforme a protagonista vai descobrindo mais sobre sua nova casa, mais as coisas ficam interessantes. Apesar do livro ser grande, com cerca de 600 páginas, não dá pra sentir e eu terminei o livro bastante rápido, ainda que estivesse enferrujada no francês.

Recomendo muitíssimo para quem gosta de fantasia e para quem gosta de livros young adult. Vale a pena carregar esse calhamaço por aí, mas, podendo, recomendo a versão kindle que é mais leve.

Nota 10.