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domingo, 28 de junho de 2020

An Illustrated Book of Bad Arguments - O livro ilustrado dos maus argumentos



SPOILER FREE

Você está cansado de ler coisas bizarras na internet? Argumentos que não fazem sentido? Ideias sem pé nem cabeça? O que você precisa ler e fazer os doidos por aí lerem é esse livro: O livro ilustrado dos maus argumentos.

Cheio de desenhos fofos e explicações bem simples e básicas de falácias argumentativas, o livro do Ali Almossawi é uma leitura necessária em tempos de fake news e bolsonarismo. E o melhor? Se você não tem dinheiro por motivos de pandemia e quarentena para comprar a versão oficial, ele pode ser lido gratuitamente online, em mais de 10 idiomas nesse site. E não é pirata.

Aviso logo que não é uma leitura compreensiva sobre lógica. É uma leitura introdutória e bastante básica. Mas, considerando o atual estado das coisas e a falta de paciência e talvez até de capacidade para leituras mais complexas, digamos que o livro tem o tamanho certo.

Fica a dica!

Nota 10 pelos exemplos e ilustrações.


terça-feira, 23 de junho de 2020

Freshwater - Água doce



SPOILER FREE

Para fechar o mês de junho com chave de ouro, com o tema LGBT do Desafio Literário Popoca, resolvi me aventurar na literatura africana. E o livro de nigeriane Akwaeke Emezi é um campeão da crítica literária, especialmente por ser a primeira obra, uma autobiografia ficcionalizada, de autore trans não binária.

Freshwater, ou Água doce na tradução para o português, é um dos livros mais interessantes que já li, e dos mais difíceis de falar sobre. O texto tem uma questão cultural fortíssima envolvida na história de protagonista Ada, que é meio que possuída por diversos espíritos chamados Ogbanje no idioma Igbo, o que a torna uma personagem muito especial e única. Se você procurar no Google, vai encontrar que Ogbanje é um espírito que persegue uma determinada família, nascendo em crianças que morrem cedo e são muito diferentes, ao longo de gerações. Mas essa concepção não abrange o que acontece em Água doce, onde os Ogbanje levam Ada a ser uma pessoa que não é nem mulher (apesar de ter nascido com corpo feminino), e nem homem.

O livro é narrado em diversas vozes dentro de Ada, sendo que poucos são os capítulos narrados por si mesme. Na maioria das vezes quem está no comando é Asugara, um dos espíritos que habita Ada, e que nasceu por conta de uma experiência extremamente traumática. Muitos dos capítulos são narrados pelo coletivo dos Ogbanje, o que traz um distanciamento muito interessante e uma oportunidade a autore de tratar de temas diferentes, como consciência e questões psicológicas e espirituais profundas. 

A narração pelos Ogbanje também é uma oportunidade de se ver escrito um texto não binário. Em inglês isso é feito com o uso dos plurais "we" e "they", em português não sei como ficou na tradução, mas varia. Essa resenha, por exemplo, foi escrita usando-se uma forma de se fazer isso (minha primeira vez, tenham paciência comigo). Foi uma experiência interessante porque apesar de já ter encontrado personagens não binários em outros livros, essa é a primeira vez que vejo uma protagonista não binárie. E ainda por cima o livro nos conta sobre a descoberta dessa identidade e da sua sexualidade. 

O texto de Akwaeke Emezi é belíssimo, ainda que eu entenda as passagens em Igbo, e fácil de se tirar lindas citações. Mesmo com todas as mudanças de ponto de vista, o enredo é claro, ainda que extremamente complexo. Uma imperdível viagem pela cultura africana, com excelentes questionamentos sobre imigração, coletivo e identidade.

Nota 10.

domingo, 21 de junho de 2020

Pulp



SPOILER FREE

Mantendo o tema de junho do Desafio Literário Popoca, segui lendo livros de temática LGBT, e tentei dar preferência pelos young adults, para ver o que tem sido publicado para esse público. Acabei por escolher Pulp, que conta duas histórias em épocas diferentes sobre mulheres jovens lésbicas, lançado em 2018 e ainda sem tradução para o português.

A autora Robin Talley se dispôs a retratar uma jovem em 2017 (durante o governo Trump) descobrindo a literatura lésbica dos anos 60, conhecida hoje por Pulp. E para isso ela conta não só a história atual de Abby, que decide fazer seu projeto final da escola sobre esse estilo literário, mas também de Janet Jones, uma jovem que em 1955 descobre que é lésbica ao ler um livro proibido.

Confesso que posterguei muito escrever essa resenha porque a premissa do livro é muito legal, e eu aprendi muito sobre a história do movimento LGBT nos EUA e sobre literatura Pulp. Tudo o que envolve essa parte do enredo no livro de Robin Talley é simplesmente sensacional.

Meu problema está com as personagens atuais, Abby e seu grupo super mega diverso. Gente, que personagens insuportáveis. Especialmente a narradora Abby, que está numa fase complicada porque se recusa a lidar com o iminente e óbvio divórcio dos pais, e para não ter que lidar com isso desenvolve uma fixação nada saudável, extremamente chata e repetitiva, com o livro escrito por Janet Jones. Quando eu digo repetitiva quero dizer que há literalmente diversos parágrafos e frases idênticas ao longo do livro.

Se o livro não contasse duas histórias ao mesmo tempo talvez o drama de Abby fosse mais emocionante ou pelo menos mais fácil de se simpatizar. Mas ao comparar com o que Janet Jones e outras lésbicas passaram nos anos 50 e 60, como Pulp acaba fazendo, o enredo de 2017 simplesmente perde o brilho e parece uma grande tempestade em copo d'água. Abby e seus amigos parecem grandes privilegiados que reclamam de coisas que não fazem muito sentido. Rola um desequilíbrio muito grande no livro nesse sentido.

O resultado é que metade do livro é muito bom e metade do livro é muito ruim, eu fiquei com vontade de pular metade dos capítulos.

Na média, nota 5.

sábado, 13 de junho de 2020

Get It Together, Delilah!



SPOILER FREE

Como junho é Pride Month e eu já li um livro de temática gay, resolvi ir para outra letra do arco-íris e ler algo com personagens lésbicas para o Desafio Literário Popoca. Acabei decidindo por outro young adult, infelizmente sem tradução para o português, da autora australiana Erin Gough.

Get it together, Delilah! é sobre uma jovem lésbica, com nome óbvio pelo título do livro, cujos maiores problemas são: bullying na escola, a separação dos pais e o fato que por um capricho do destino, misturado com uma dose de culpa, Delilah está gerenciando sozinha o café da família.

O interessante do livro é que não é sobre a descoberta da sexualidade de Delilah, ela sabe muito bem quem ela é. A questão é como os outros lidam com isso, e como ela lida com essas reações. O enredo tem questões de amizade muito interessantes também, que confesso que me surpreenderam, pois a autora conseguiu fugir de determinados clichês e trabalhar muito bem outros, que, considerando o mundo em que vivemos, são de alguma forma inevitáveis.

Além disso, os dramas não são exclusivos da sexualidade de Delilah, o que torna o enredo bem mais interessante e abrangente. A protagonista é uma adolescente com problemas de adolescente, por acaso ela é lésbica. Considerando a enorme quantidade de livros cujos protagonistas LGBT lidam apenas com problemas LGBT, é muito positivo começar a surgir volumes que falam de outras coisas também, afinal adolescente nenhum está livre dos seus tradicionais dilemas e problemas.

Por esses pontos, e pela qualidade da escrita, Get it together, Delilah é um livro excelente, e acima da média dos young adults que estão por aí, independentemente da sexualidade dos personagens. Porém, boa parte do drama do livro também se baseia na falta de comunicação, que é um clichê que eu detesto. E foi isso que me deixou dividida por boa parte da leitura.

Por um lado, amei ler sobre Delilah, seus problemas na escola, no café e na família, além do drama amoroso que eu achei particularmente interessante. Por outro lado, algumas decisões simplesmente me irritaram, apesar delas serem condizentes até certo ponto com a faixa etária da personagem.

De qualquer forma o resultado é muito divertido, com risadas garantidas em algumas passagens, suspiros em outras e alguns olhos revirados inevitáveis em livros adolescentes. Uma excelente leitura para o tema, precisamos de mais livros assim.

Nota 9.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Red, White & Royal Blue - Vermelho, Branco e Sangue Azul



SPOILER FREE

E começamos o tema de junho do Desafio Literário Popoca! Junho é mês do orgulho LGBTQ, então claro que o tema tinha quer ser esse. Resolvi entrar de cabeça com um dos maiores sucessos da literatura young adult de 2019 do tema: Vermelho, Branco e Sangue Azul.

Vencedor do prêmio Goodreads de 2019, o livro de Casey McQuiston traz a história de Alex, filho de uma fictícia presidenta norte americana, que ganhou as eleições de 2016 nos EUA (sim, é uma realidade alternativa). Alex é texano, filho de dois políticos, a presidenta, que é uma americana loirinha típica, e um senador/deputado/não-lembro-em-detalhes de origem mexicana. Alex é carismático, tem uma personalidade forte e é estilo galã, o que o torna um novo queridinho da América quando se torna um dos primeiros filhos do país.

Para completar o par gay do livro, Casey escolheu um dos príncipes da família real britânica, uma também numa realidade alternativa, com nomes diferentes, mas com o mesmo espírito, o príncipe Henry. Como é uma história romântica, a autora seguiu a receita de inimigos a amantes, que sendo bem feita, costuma gerar excelentes resultados, especialmente no quesito humor.

E como o grande sucesso do livro já mostra, a autora certamente acertou no ponto.

A história de Alex e Henry não só é muito fofa e engraçada, mas toca em diversos problemas reais que um casal desse tipo pode enfrentar. Não só o preconceito nos dois países, mas também a perseguição da mídia e as tramas da política norte americana quando as eleições seguintes se aproximam. São esses pontos que tornam o livro interessante dentro do universo literário LGBTQ, que muitas vezes trata de pessoas comuns ou artistas, esse é o primeiro que vi onde seus protagonistas são pessoas da política mundial.

O tom do livro é extremamente contemporâneo, e a história é narrada apenas pelo ponto de vista de Alex, o que o torna uma leitura leve, recheado de mensagens de celular e de emails deliciosos de ler. E a auto descoberta de Alex como um membro da comunidade LGBTQ é satisfatória, mesmo que um tanto quanto clichê. A autora se redime com o humor entranhado por todo o enredo e uma excelente coletânea de citações de cartas de personagens famosos da história americana e britânica.

Como livro de história romântica young adult, Vermelho, Branco e Sangue Azul é uma excelente leitura, com a vantagem de ser LGBTQ.

Nota 9.

The Girl in 6E (Deanna Madden #1)



SPOILER FREE

Descobri a autora Alessandra Torre por causa do livro Ghostwriter, que é maravilhoso, e desde então tenho experimentado outros livros dela, visto que ela se aventura por diversos gêneros diferentes.

A maior parte dos seus livros é do tipo romance erótico, mas de vez em quando ela escreve coisas tipo Ghostwriter e The Girl in 6E. Apesar da capa, e da personagem principal, Deanna, ser uma camgirl, o livro na verdade é um suspense sobre um assassino. Tem um monte de cena erótica no meio? Tem, mas elas não são essa coisa toda, e não são para ser, visto que a Deanna está trabalhando na maior parte delas.

Dentro dos livros que já li da A Torre, esse é o que mais se aproximou da sua obra-prima até o momento, que certamente é Ghostwriter, mas não chega a ser essa coca-cola toda não. Mas é uma excelente leitura! E bem fora dos padrões, o que a torna muito interessante e única. A personagem Deanna é extremamente diferente de tudo que já li, sendo uma camgirl psicopata que sabe que é psicopata, e por isso vive trancada no seu apartamento 6E. Foi especialmente interessante ler sobre esse auto isolamento da personagem no meio da pandemia do COVID-19, sendo que eu não saio de casa há 2 meses. Acho que me fez bem.

Outra coisa que ficou bastante clara ao ler esse livro é que certamente Alessandra escreveu ele antes de Ghostwriter, e que a ideia do tipo de crime de The Girl in 6E simplesmente grudou na cabeça da autora, o que a levou mais tarde à sua obra-prima. É muito interessante fazer essas conexões entre os diversos livros de um determinado autor.

Para quem gosta de livros de suspense e crimes fica a dica para uma leitura exótica e que certamente vale a pena.

Nota 9.