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sábado, 30 de novembro de 2019

Brown Girl Dreaming



SPOILER FREE

Ainda aproveitando os últimos momentos do mês da consciência negra, resolvi ler um livro super premiado. Brown girl dreaming, lançado em 2014 nos EUA, ganhou o National Book Award for Young People's Literature, o Coretta Scott King Book Award e o NAACP Image Award. A autora, Jacqueline Woodson, se inspirou na sua própria infância para escrever um livro que é uma espécie de autobiografia em verso (com direito a fotos no final, fofíssimo!).

O interessante é que Jacqueline cresceu no sul dos EUA durante os anos 60, em pleno movimento dos direitos civis dos negros no país. Então, o livro é recheado de pérolas relacionadas a esse assunto, com os diferentes pontos de vista das personagens em termos de como participar do movimento (ninguém questiona a sua necessidade, claro).

Não tem como não se apaixonar pela pequena Jacqueline, com suas inseguranças, problemas na família, questões religiosas e sua visão do que acontece a sua volta. Em termos de história e personagens o livro é uma delícia. Vale muito a leitura, apesar dele ainda não ter sido traduzido para o português.

Em compensação, não achei a escrita em si tão maravilhosa assim. Não é ruim, é boa, mas eu esperava mais pela quantidade de prêmios, confesso. Talvez outras autoras estejam me deixando mal acostumada também. De qualquer forma, Brown girl dreaming vale entrar na lista de livros para ler.

Nota 9.

O alegre canto da perdiz



SPOILER FREE

Aproveitando o finalzinho do mês da consciência negra, peguei para ler a autora Paulina Chiziane. O alegre canto da perdiz foi escrito originalmente em português, apesar da língua materna de Paulina ser outra. Mas, como muitos moçambicanos ela aprendeu português numa missão católica.

Só a história da autora já dava um livro: primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, militante política que resolveu sair do partido por conta do seu posicionamento contra a poligamia e por sua luta pela independência econômica das mulheres. Paulina Chiziane ainda por cima escreve bem. Foi um dos livros que li esse ano que mais marquei passagens que me tocaram por sua beleza e sinceridade. Fiquei extremamente triste quando descobri que ela parou de escrever por causa das dificuldades impostas a sua carreira.

O alegre canto da perdiz traz diversas histórias entrelaçadas, com três gerações que lutam por melhorias em suas vidas e lutam entre si pela forma de se chegar lá. O livro ainda tem diversas passagens mitológicas, que dialogam com a história, que é centrada em Maria das Dores, uma mulher em condição de rua na Zambézia.

O alegre canto da perdiz não é uma história feliz. Mas Paulina a escreve com tanta maestria que é de uma beleza incrível, e extremamente africana. Amei o livro com tanta força que mesmo tendo detestado o final, não posso dizer que não gostei da obra como um todo. Mas o final, por que Paulina? Para que? Não entendi o propósito, confesso. Mas a culpa provavelmente é minha.

Nota 9.

domingo, 3 de novembro de 2019

Becos da memória



SPOILER FREE

Conceição Evaristo é uma escritora e poetisa mineira que deveria estar num pedestal na literatura brasileira há mais de 30 anos. Porém, como ela é negra, nascida e criada numa favela, ex-empregada doméstica, sua história no mercado editorial é um retrato do racismo no Brasil.

Becos da Memória, por exemplo, foi finalizado em 1986, e é um dos livros mais maravilhosos que já li na literatura nacional. Mas, ele só foi publicado pela primeira vez em 2006. E não há a menor razão para isso, visto a grandeza e a força do texto de Conceição Evaristo.

O livro conta a história de diversos personagens que vivem numa favela que vai ser removida, e as histórias são contadas do ponto de vista de Maria Nova, uma menina que é a única da favela a chegar no 2º grau, apesar de atrasada. Maria Nova gosta de ouvir histórias, então ela conversa com vários vizinhos e amigos para ouvir suas memórias, quanto mais triste a história, mais ela gosta. Então Becos é exatamente o que promete, uma colcha de retalhos de diversas pequenas histórias-memórias, que lembram mais becos do que ruas, pois, como os removidos na favela, as personagens não têm muito para onde ir.

Becos é um retrato da pobreza na cidade grande, uma cidade típica brasileira, com a favela colada no bairro rico. E Maria Nova, com suas aulas na escola, começa a perceber a relação entre as histórias reais da favela e as histórias da escravidão da aula de História. E Becos também é um livro de memórias, pois é baseado, sim, na infância da autora. Como a própria Conceição escreve no prefácio: 
Tenho dito que Becos da memória é uma criação que pode ser lida como ficções da memória. E, como a memória esquece, surge a necessidade da invenção.
As personagens de Becos são imemoriais, são personagens maiores que suas histórias, são ícones da da pobreza brasileira, e Conceição Evaristo faz com elas uma obra de enorme poder e beleza literária. É uma afronta um texto tão maravilhoso ter demorado tanto para ser publicado, quem perde não é a autora, são os leitores. Ainda bem que o erro foi corrigido e já temos até edição comemorativa de 10 anos. 

Agora é correr para ler ainda mais obras da autora.

Nota 10.

Up From the Grave (Night Huntress #7)




SPOILER FREE

Sei que uma série definitivamente não me agradou quando fico aliviada ao ler o último livro. Infelizmente Night Huntress caiu nessa categoria, o que me deixou muito triste, a personagem Cat merecia muito mais do que Jeaniene Frost ofereceu a ela.

Depois de seis volumes e mais uma novela que me forçaram a fazer exercícios oculares (haja revirar os olhos), eu não tinha muitas esperanças para o último volume, apenas resignação e vontade de acabar logo com a tortura. Up from the grave foi bem dentro do esperado.

Com um enredo forçado, mesmo tratando-se de vampiros, ghouls e demônios, pelo menos a série realmente acabou. Claro que para isso foi preciso aturar mais abusos psicológicos do Bones descritos como romance e amor, um grande show de possessividade dos personagens masculinos e uma personagem nova que não deveria existir e que, de quebra, extraiu reações ainda mais novelescas estilo novela das 6h.

Fico possessa quando vejo uma série young adult repetir várias e várias vezes que porque é família você tem que aturar qualquer coisa, e que por causa de amor você pode perdoar qualquer coisa. Desculpem, estamos no final de 2019, as coisas não precisam ser assim, e nem devem. 

Se os livros fossem do século passado, eu entendia, mas o último volume de Night Huntress foi publicado em 2014. E já está datado. Uma tristeza. Talvez seja por isso que esse último volume ainda nem foi publicado em português...

Nota 4.

Nota para a série: 4.