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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Before they were belly dancers


      In 1896, my paternal great-grandmother and her only child, my grandmother, set out from Peoria, Illinois, on their Grand Tour of Europe, an extended vacation that eventually included a Cook's Cruise of Egypt's Nile. At the dock at Asyût, under a bright February sun, my great-grandmother wrote on her diary:
     Boats were drawn up along the shore; camels with huge loads went by and altogether it was a strangeand lively scene. Today just before the steamer started it was still more so. Many freight dahabehs [boats] were unloaded onto the camels and men with pig- and goat-skin water bagswere filling them from the river. A great gaunt, pink-legged ostrich strode by. A dancing girl with her face tattoed danced on the sand to the music of a coconut fiddle.

SPOILER FREE

Esse é um livro que fiquei muito feliz quando descobri que existia, dada a escassez de material acadêmico sobre a história da dança do ventre produzido por amantes da dança. Em consequência, fiquei meses namorando ele antes de comprar, até que não resisti. Acho inclusive que não o comprei em promoção, o que é algo muito raro.

E não me arrependi, pois o trabalho da Kathllen é excelente. Através de uma extensa pesquisa em textos de viajantes que visitaram o Egito entre 1770 e 1870, se não me engano, ela faz um levantamento bastante completo do que foi escrito sobre o mundo da dança no país, organizando a informação em diversos temas, de forma a melhor organizar os dados disponíveis.

Como boa pesquisadora, a autora ainda leva em consideração a questão do preconceito dos viajantes, em sua maioria ingleses e franceses, em seus relatos para tentar extrair o máximo de dados não corrompidos por uma visão eurocêntrica ou desmerecedora da cultura egípcia, especialmente no quesito de perceber a dança como excessivamente sexualizada ou animalesca.

Dessa forma, ela consegue apontar diversos fatos interessantes nos escritos de viagens, tais como a história das roupas utilizadas pelas bailarinas, a questão dos tipos de bailarinas que existiam na época, inclusive bailarinos homens que se apresentavam em tudo quanto é tipo de espaço. Ela consegue apontar alguns estilos de dança que já não existem mais, alguns acessórios que eram comuns, e até um pouco da biografia de algumas bailarinas e um bailarino da época.

De quebra ela ainda trata de alguns mitos comuns na comunidade da dança do ventre, apontando o que deles pode ser considerado apenas rumor e o que é de fato invenção. Levando em consideração a fonte de pesquisa, ela toma bastante cuidado ao não afirmar como verdade absoluta o que é contado pelos viajantes, o que é um ponto positivo. A única questão que eu acho que ela não trata muito bem é a questão dos europeus entenderem os bailarinos homens como travestis, pois pessoalmente eu tenho minhas dúvidas do quanto dessas afirmações são válidas e o quanto é julgamento europeu em cima de homens que dançavam "de saia ou vestido", usando maquiagem e mexendo o quadril.

A excelente qualidade do trabalho a parte, é preciso dizer que o livro é extremamente acadêmico, o que torna a leitura um tanto pesada e maçante em alguns pontos. Não que todos os textos acadêmicos sejam assim, mas não é o foco da autora fazer um texto leve ou agradável.

Fiquei tão feliz com essa leitura que já comprei mais um livro desse tipo, dessa vez do Anthony Shay (que eu já e gosto do trabalho) para ler no próximo ano.

Nota 9,5.

Retrospectiva 2017

Estamos no apagar das luzes do ano, então estou tentando fechar um post de retrospectiva do ano a tempo, levando em consideração que tem livros terminando ainda esse ano no momento que estou escrevendo, o objetivo ainda não está cumprido! Mas os deuses da literatura são poderosos e hão de me ajudar!

Vamos a algumas estatísticas interessantes:

Total de Livros Lidos: 78
Total de páginas lidas: 20.675
Livro mais curto: Invasão: um conto urbano - 5 páginas
Livro mais longo: The Prize - 929 páginas
Média de página por livro: 265 páginas
Total de livros de poesia: 22
Livros brasileiros: 3
Livros de não-ficção: 20
Livros de contos: 4
Livros de vencedores do Nobel: 6
Livros escritos por mulheres: 45

Retrospectiva:

O ano de 2017 começou extremamente auspicioso, primeiro comecei o ano meio doente (o que não é auspicioso, mas releva), então eu precisava de livros que me fizessem me sentir bem, logo, abri o ano só com gente boa: William Blake - The Marriage of Heaven and Hell, Valter Hugo Mãe - Homens imprudentemente poéticos e Ondjaki - E se amanhã o medo. Apostei em alguns nomes desconhecidos para mim, como Randa Ghazi - Sonhando a palestina, que me emocionou muitíssimo e Muriel Barbery - A elegância do ouriço, que já entrou na minha wish-list para eu ler outras obras da autora francesa. Ainda em janeiro, li a fabulosa Amélie Nothomb - Le sabotage amoureaux, Ismail Kadaré - Uma questão de Loucura e Nikki Giovanni - Bicycles. E consegui finalizar alguns livros iniciados no final de 2016, como Um amor feliz - Wislawa Szymborska, Cem Poemas - Kabir e Poemas - Adonis, sendo que esse último eu comecei a ler quase na virada para 2017.

Janeiro foi um mês extremamente produtivo, com todo o tempo que passei em casa de licença médica e de férias. E eu digo isso porque ainda terminei nesse mês mais livros bacanas: Weird Things Customers Say in Bookshops (volumes 1 e 2) - Jen Campbell e Fountain and Tomb - Naguib Mahfouz.

Difícil de manter a qualidade depois de tantos livros, então primeiro dei uns azares, com Natural Year - Jane Alexander, que deixou um tanto a desejar, Ariel - Sylvia Plath, que detestei, e os medianos Dreamcartcher - Stephen King e Batman: O cavaleiro das trevas - Frank Miller. Entremeado a eles, para manter a força, consegui coisas boas como: Poemas - Wislawa Szymborska (virei fã de carteirinha, quero ler pra sempre), The Ilustrious Jade Egg - Saida Desilets (muito informativo, me animou a ler outro livro da autora, que espero continuar a ler no ano que vem), Há Prendisajens com o Xão - Ondjaki e A viagem iniciática - Christian Jacq.

A partir desse ponto a coisa virou meio montanha russa, primeiro com o péssimo O diabo veste Prada - Lauren Weisberg, o que me surpreendeu, pois gosto muito do filme, seguido do fofíssimo Howl's Moving Castle - Diana Wynne Jones, que eu curti tanto que ainda li esse ano suas duas continuações (vamos chegar lá), do muito bacana e leve Show your work! - Austin Kleon, e novamente outro ruinzinho, Petrobras: uma história de orgulho e vergonha - Roberta Paduan.

Esse momento montanha russa atingiu até as leituras de poesia, pois consegui ler Neruda - Teus pés toco na sombra e outros poemas inéditos e Jacques Prévert - Paroles, dois gigantes da poesia, junto com 2 livros meio méh, o Poemas da Antologia Palatina - José Paulo Paes, que não me animou, e o péssimo-nunca-mais-leio-nada-da-autora A teus pés - Cristina Cesar.

Aí entrei numa fase de literatura italiana, pois uma amiga emprestou o seu kindle para eu ler os livros da Elena Ferrante. O que me deixou meio abismada, primeiro porque me emprestaram um kindle, o que achei sensacional, eu não tenho maturidade pra isso, segundo porque Elena Ferrante é maravilhosa e amei tudo: A amiga genial, História do novo sobrenome, História de quem foge e de quem fica e, por fim, The Story of the Lost Child. Sim, o último livro eu li em inglês, minha amiga justificou o caso com "em inglês lançou primeiro", e eu não ia reclamar.

Claro que simultaneamente eu li outras coisas que foram bem interessantes, como: The tiny book of tiny stories 2 - Joseph Gordon-Levitt (só a organização!), Hemingway didn't say that - Garson O'Toole, que fez um estudo muito interessante sobre citações de internet, Fortunately the milk - Neil Gaiman (não tem como errar, tudo dele é interessante de ler), A maze me: poems for girls - Naomi Shihab Nye, que não foi lá essas coisas mas deu para aproveitar, Feminist Fight Club - Jessica Bennett, título bem autoexplicativo e leitura sensacional.

Confesso que foi uma fase um tanto de livros visuais, depois do primeiro volume de Tiny Stories e do livro do Neil Gaiman ainda li outros, como Lost in translation - Ella Frances Sanders, Adulthood is a myth - Sarah Andersen, o terceiro volume de The tiny book of tiny stories e Milk and honey - Rupi Kaur.

E dessa forma fui me preparando para o meu primeiro grande desafio do ano, lendo mais um livro do Neil Gaiman - Trigger Warning, dessa vez de contos, a ficção científica sensacional Sleeping giants - Sylvain Neuvel (que foi objeto de uma confusão de gênero da minha parte) e o livro fast-food-que-faz-mal-pra-saúde Beautiful Mistake - Vi Keeland. Então consegui estar pronta para encarar as quase mil páginas de The Prize - Daniel Yergin, ganhador do Pulitzer e quase bíblia de quem estuda história e geopolítica do petróleo.

Depois disso, fiquei um tempo desintoxicando, então li um monte de coisas leves, como A hidden witch - Debora Geary (rainha dos livros onde tudo é cor de rosa e céu de brigadeiro), os dois últimos volumes da série Trono de Vidro, Empire of Storms e Tower of Dawn, o leve 13 dates - Matt Dunn, e pra dizer que nem tudo foi suave, li a autobiografia maravilhosa do bailarino Kenny Pearl, The Dance Gods, e da americana de origem chinesa Amy Chua, Battle Hymn of the Tiger Mother, terminei os livros de poesia do Rûmi, Poemas de Rûmi, T.S.Eliot, Collected Poems 1909-1962, e Mia Couto, Poemas Escolhidos.

Paralelamente a isso, li o monstro Tails of Wonder and Imagination, um livro de contos que tem a proeza de ter 500 páginas. Mas gatos. Não tem como reclamar de gatos.


Então me senti bem o suficiente para o segundo desafio do ano: Orientalismo de Edward Said. Que, obviamente, foi seguido de uma segunda desintoxicação, com os surpreendentes Witches of New York - Ami McKay e The ghostwriter - Alessandra Torre. Como eu estava no ritmo dos contos ainda li o Once upon a curse, que não chegou aos pés dos gatos, claro.

Daí investi em algumas leituras garantidas, como a continuação de Castelo Animado, Castle in the air - Diana Wynne Jones e Spark Joy - Marie Kondo. Então tomei coragem e arrisquei com Invasão: um conto urbano, de um amigo meu, The Simple Sabbat - M. Flora Peterson, que não me deixou tão satisfeita e a surpresa A house in Fez - Suzanna Clarke, que me surpreendeu por não ser da Suzana Clarke e mesmo assim ser bom. Sim, isso mesmo, só leia com atenção.

Daí o ano já foi acabando e eu corri para terminar mais alguns livros de poesia, Poemas do Brasil - Elizabeth Bishop, O gueto/O eco da minha mãe - Tamara Kamenszain, Instante - Wislawa Szymborska (meu terceiro livro dela desse ano, puro amor) e Um útero é do tamanho de um punho. Consegui terminar antes do que eu esperava o livro quase sobre estatística Everybody lies - Seth Stephens-Davidowitz e por isso consegui ainda encaixar nos últimos dias do ano House of many ways - Diana Wynne Jones, o último da série do Castelo Animado, uma Agatha Christie - The murder at the vicarage, o interessante Dusk or Dark or Dawn or Day - Seanan McGuire, mais uma autobiografia, dessa vez da princesa Leia, The Princess Diarist - Carrie Fisher, o cheio de raiva Superman is an arab - Joumanna Haddad e, por fim, o super acadêmico Before they were belly dancers - Kathleen W. Fraser.

No mais, esse ano eu segui meio mais ou menos o Desafio Literário Corujesco, pois consegui fazer todos os temas do ano, porém, não consegui fazer nos meses previstos, o que não me deixa tão triste porque não li menos livros por causa disso.

Agora, a pedidos de amigos, os melhores do ano! Não vai ter top 5 ou listinha, não consigo, tem muito livro bom pra isso, mas dá para fazer umas concessões!

Melhores autores de poesia do ano: Wislawa Szymborska, Ondjaki, William Blake, Kabir e Mia Couto
Melhor livro de contos do ano: empate entre Fountain and Tomb, Trigger Warning e Tails of wonder and imagination
Melhor autobiografia: The dance gods - Kenny Pearl
Melhor não ficção: Spark Joy - Marie Kondo e Before they were belly dancers - Kathleen W. Fraser
Melhor HQ: Adulthood is a myth
Melhores livros romance: toda a série Napolitana da Elena Ferrante, Homens imprudentemente poéticos do Valter Hugo Mãe, A elegância do ouriço da Muriel Barbery, a trilogia de Castelo Animado da Dianna Wynne Jones, Sleeping Giants do Sylvain Neuvel e Le Sabotage amoureaux da Amélie Nothomb, com menção honrosa para The Whitches of New York de Ami McKay e The Ghostwriter da Alessandra Torre.

Que 2018 seja ainda melhor!

Desafio Literário 2018

E já no finalzinho do ano, é preciso parar pra planejar, pelo menos um pouco, as leituras de 2018. Novamente pretendo seguir o Desafio Literário do blog Coruja em Teto de Zinco Quente, porque eu gosto dos temas que a Luciana escolhe, e é sempre bom tentar sair da zona de conforto e ler algo diferente.

Então vamos ao que interessa!

Janeiro - tema livre
Ainda bem, devo passar umas 3 semanas viajando e não tenho a menor perspectiva de ler muito, ou nada, nesse mês.

Fevereiro - Uma Aventura no Mar
Para fevereiro vale tanto ler um livro de não-ficção sobre o período das Grandes Navegações, talvez uma biografia de Colombo; como uma aventura clássica estilo Moby Dick. Os horrores lovecraftianos estão muito ligados aos abismos marinhos sobre os quais ainda pouco sabemos e é sempre possível retornar a Verne e seu capitão Nemo. O gênero é o que menos importa, desde que estejamos singrando pelos sete mares!

Menor ideia! Até tenho Moby Dick pra ler, mas não sei se vou encarar esse tijolo esse ano. Vou precisar pensar durante o Carnaval.

Março - Um Livro, uma Estação
Um livro com uma estação do ano no título e/ou no enredo.

O que mais tem é romance com alguma estação do ano no título. Farei uni-duni-tê.

Abril - Uma História Oriental
Fica a critério do leitor o que quer entender como oriente: uma localização geográfica, cultural ou econômica, fato é que devemos de vez em quando fugir ao eixo Europa-EUA de nossas leituras.

Literatura árabe!!! Oba! O que lerei primeiro? É provável que seja um Naguib Mahfouz... como amo esse autor!

Maio - Uma História sobre Livros
Tema bastante autoexplicativo. Quer coisa melhor que um livro que fale sobre livros?

A minha sorte nesse sentido é que andei comprando alguns livros sobre esse tema, porque eu também gosto dele. Ótima desculpa para furar fila.

Junho - Uma História de Família
Pode ser uma história que abarque gerações de uma mesma família ou um drama familiar mais conciso. Pode ser tipo aquela macarronada de domingo em que todo mundo se reúne e todo mundo se mete na vida de todo mundo ou aqueles enredos de pais e filhos que não conseguem conviver. O importante é ter família, em conflito ou em harmonia, cheia de segredos e esqueletos no armário ou que lava a roupa suja em público, o gosto é do leitor.

Menor ideia... tem tanta opção. Até livro de não-ficção pode se enquadrar nesse tema...

Julho - Uma História Pós-Apocalíptica
Um livro que tenha um cenário apocalíptico ou pós-apocalíptico, onde a sociedade como conhecemos tenha sido destruída. Podem ter explodido a terra ou tornado ela inabitável; pode ser que estejamos morando nos subterrâneos ou num trem a toda velocidade... mas o conflito e as mudanças causadas pelo ‘fim do mundo’ como o conhecemos têm de aparecer por aqui.

Houston, temos um problema. Eis uma temática que não é exatamente o meu forte. Vou precisar procurar bem nos meus livros pra ver se tem algum que se encaixa aqui. E eu já li Jogos Vorazes :-/

Agosto - Uma História em Tempos de Guerra
Uma história que aconteça no nosso mundo ou mesmo num lugar e época ficcionais: histórias que se passam em tempos de guerra são um bom exercício para entendermos empatia, coragem e desespero, para vermos o que há de melhor e pior no ser humano. São histórias necessárias, sem dúvida alguma.

Outro tema que não é o meu forte, mas acho que tenho mais livros nessa linha, nem que sejam sobre a Palestina. Tenho certeza de que contam.

Setembro - Uma História narrada em Primeira Pessoa
E é isso. :-) Precisa de mais?

Vixi... normalmente eu não sei se um livro é narrado assim antes de começar a ler. Vai precisar de uma pesquisa também. Ou então uma autobiografia!!!! Ainda tenho várias para ler.

Outubro - Uma História que te Provoque Risos

Também não precisa explicar muito, não é mesmo? A essa altura, já estamos chegando no fim do ano e um pouco de risada para ajudar com o estresse é simplesmente necessário.


São tantas opções... vou ler o que der vontade na época. Espero que até lá eu tenha conseguido um livro que estou namorando na Amazon *.*

Novembro - Uma história com Teoria da Conspiração
Histórias de organizações secretas que tramam e acobertam uma situação ou evento da humanidade. Adoro uma boa teoria da conspiração, não importa se ridícula ou completamente crível. A imaginação é o limite!

Hum... eu tenho alguns livros interessantes de não-ficção sobre isso... sobre a CIA o 11 de setembro... espero que contem!

Dezembro - tema livre!

Ainda bem, no final do ano o lance é ler o que dá.

Superman is an arab


     Once upon a time, there was a little girl who loved to read more than anything else in the whole world. She read everything seh could get her hands on: her father's newspapers, her mother's glossy magazines, and all the books that were stuffed in their house's big library. She even read the tiny information leaflets that come inside drug boxes, notifying users about dosage, administration and side effects. That's how she learnet, by age eight, that antacids and alcohol were not a good mix, and that 'Ranitidine may decrease the absorption of diazepam and reduce its plasma concentration': warnings which proved not to be useful later in her life.

SPOILER FREE

Joumana Haddad é uma autora libanesa conhecida no Brasil pelo livro "eu matei Sherazade". No Líbano ela é uma das vozes mais proeminentes do feminismo, e seu trabalho e seus textos são muito importantes para o movimento feminista no Oriente Médio.

Dito isso, é preciso dizer que Superman is an Arab não é um bom livro. Infelizmente ele sofre de um problema estrutural sério, que é o excesso de assuntos envolvidos em menos de 300 páginas. O segundo problema é mais complicado, que é a forma como os assuntos são abordados. A sensação que tive é que Joumana fez desse livro uma oportunidade de gritar aos quatro ventos toda a sua raiva e frustração. O que é válido, claro, mas enfraquece o livro em termos de argumentos. Até porque todo esse sentimento acabou por tornar o texto bem mais genérico do que a autora diz pretender.

Por ser um livro muito baseado em opiniões da própria autora, e por conta da sua visão que muitas vezes glorifica a situação feminina na Europa e nos Estados Unidos (que na verdade está longe de ser ideal, mas vamos relevar por conta do ponto de vista da libanesa), a sensação que eu tive ao ler o volume foi de estar lendo um texto feminista de uns 10 anos atrás.

Isso certamente não invalida a importância de Joumana no seu país, no Oriente Médio e no Mundo Árabe em geral, acho que o seu trabalho é muito pertinente e espero que gere muitos frutos. Mas, para leitores fora de lá o livro pode dar uma visão equivocada de algumas realidades.

Por exemplo, uma das coisas que ela reclama no livro (com absolutamente toda razão) é a questão do casamento infantil, o que dá a sensação de que o mundo árabe é o campeão nessa prática execrável. O que não é exatamente verdade, as estatísticas da Índia são muito piores do que dos países do Oriente Médio e, podem deixar o queixo cair, o Brasil não é tão melhor assim. Segundo a UNICEF nossa estatística é pior do que a do Afeganistão. É sério. Olhem aqui. E aqui.  Segundo as estatísticas comparadas mundiais, os piores países são os Africanos, não os do Oriente Médio. Não que uma coisa justifique a outra, é só uma questão do tamanho do problema não ser da forma como ela pinta.

Então, o que quero apontar especificamente é que o livro é muito voltado para o público árabe, sendo pouco aproveitado por pessoas de fora que não consigam contextualizar o seu conteúdo. O que pode ser um desserviço nesses tempos de islamofobia. Não que ela só ataque o Islã, não mesmo, ela ataca tudo quanto é religião, sendo muito igualitária nesse sentido.

Mas o livro tem coisas positivas. Todos os seus capítulos são divididos em três partes, uma poesia, uma espécie de caso pessoal e um texto mais completo. As poesias me agradaram muito, se não me engano só teve uma que eu não curti. Portanto, na média é um livro mediano.

Nota 7.

um útero é do tamanho de um punho


porque uma mulher boa
é uma mulher limpa
e se ela é uma mulher limpa
ela é uma mulher boa

há milhões, milhões de anos
pôs-se sobre duas patas
a mulher braba e suja
braba e suja e ladrava

porque uma mulher braba
não é uma mulher boa
e uma mulher boa
é uma mulher limpa

há milhões, milhões de anos
pôs-se sobre duas patas
não ladra mais, é mansa
é mansa e boa e limpa
SPOILER FREE

Mais um livro de uma autora brasileira, meio que só pra dizer que eu li algo de literatura nacional esse ano. Mas, ao mesmo tempo preciso dizer que estava namorando esse livro desde a Bienal que aconteceu em setembro desse ano, e onde acabei não comprando o bendito porque o estande da editora estava cheio demais e eu já estava sem paciência.

Mas depois eu o vi novamente na Livraria Cultura e não resisti. Comecei a ler agora no final do ano, e como o livro é muito curtinho e as poesias dele funcionam quase que em bloco, ele foi devidamente lido rapidinho, mesmo no esquema de ler de manhã.

Angélica Freitas, autora do sul do país, caprichou na sua temática feminina, o livro é quase que um manifesto sobre o que se fala e pensa da mulher, com foco mais voltado para a parte complicada disso na sociedade brasileira e, por que não, mundial. Diversos textos não funcionam bem sozinhos, pois a obra foi feita meio em pedaços e em cada sessão as poesias são correlacionadas, funcionando muito melhor quando lidas seguidinhas.

De forma geral eu gostei muito do livro, mas como ele tem essa questão do conjunto da obra e não de cada poema em si, confesso que não marquei nenhum deles como excelente. Talvez isso também tenha acontecido por conta do incômodo que me pareceu proposital nos textos. Ou talvez eu tenha exagerado um pouco na temática feminista esse ano e o assunto esteja temporariamente carregado demais para mim. Afinal, tive um problema parecido com outro livro nesse final de ano, a resenha sairá daqui a pouco, aguardem.

Fora isso, é um livro importante dentro do cenário poético nacional e eu recomendo bastante.

Nota 7,5.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

The Princess Diarist

it was 1976...Charlie's Angels, Laverne & Shirley, and Family Feud premiered on TV.
     Steve Wozniak and Steve Jobs founded the Apple computer company in a garage.
    The Food and Drug Administration banned Red Dye No.2 after it was found to cause tumors on the bladder of dogs.
   Howard Hughes died at age seventy of kidney failure in a private jet en route to a Houston hospital. He was worth more than $2 billion and weighed 90 pounds.
    Anne Rice's debut novel,
Interview with the Vampire, was published.

SPOILER FREE

Com o lançamento de mais um filme de Star Wars, nada mais adequado do que ler uma das autobiografias da maravilhosa Carrie Fisher. Sim, autobiografias, no plural. Ela chegou a publicar 3 livros desse tipo antes de falecer no final de 2016. Fora os outros livros que eu só descobri que ela publicou quando li esse. E que vão entrar na minha wish list, claro.

O mais interessante do livro da atriz não é nem as fofocas relacionadas a Star Wars, apensar desse volume em específico (não sei dos outros) ser bem recheado delas, fica a dica para os fãs, e sim o seu humor. Carrie Fisher tem um humor maravilhoso, e melhor ainda, consegue aplicar esse humor para tudo e todos, inclusive, ou melhor, especialmente, a ela mesma.

É impossível passar incólume por The Princess Diarist. Em algum momento você vai passar vergonha dando uma boa gargalhada.

Mas o livro não é baseado só em humor, a eterna Princesa Leia é absurdamente humana. Sem deixar o seu sucesso ou status de ícone subir a cabeça (talvez pelo fato de que ela não ficou milionária assim, ou por conta de ser filha de outro ícone do cinema), Carrie fala de si mesma com muita franqueza e sobriedade. Talvez não tanta sobriedade no sentido de pura de álcool, realmente tenho minhas dúvidas com relação a isso, mas certamente com muito pé no chão. E isso dá um peso, uma realidade muito palpável ao que ela escreve.

E dessa forma ela trata de diversos assuntos interessantes, tais como ela foi parar em Star Wars, como era sua relação com a mãe, Debie Reynolds, o relacionamento fugaz que teve com Harrison Ford, como é o relacionamento com os fãs de Star Wars (gente, muito surtado!), como foi se tornar a Princesa Leia mesmo depois de terminar a trilogia original, e, por fim, sobre a sensação de voltar a grande personagem da sua carreira com o Episódio VII (lançado em 2015).

Enfim, foi uma experiência muitíssimo interessante entrar um pouco na pele de Carrie Fisher e sentir a força dessa mulher. Vale a pena mesmo para quem não é fã de Star Wars.

Nota 8,5.

Dusk or Dark or Dawn or Day

     The wind howls, the rain comes down in sheets, and Patty is still dead.
    The earth settles, the grave grows green with the first shoots of hungry scrub grass and dandelion root, and Patty is still dead.
    The funeral bells are silent, the last of the we're-so-sorry cakes have been reduced to stale crumbs that attract marching regiments of ants, and Patty is still dead. Patty is going to be dead forever, because that's what dead
means: dead is the change you can't take back, dead is the mistake that can't be unmade.

SPOILER FREE

Eis um livro que resolvi comprar porque estava barato e ele tinha boas resenhas no Goodreads. Fora isso, nada que a autora americana Seanan McGuire já escreveu me deu vontade de ler, exceto esse livro.

Como não resistir a uma boa história de fantasmas?

E impressionada eu fiquei. Devidamente. Não sei quanto aos demais livros da autora que não tenho vontade de ler, mas esse aqui valeu a pena. Não só o enredo em si é bastante interessante, com uma construção de mundo bem feita, mas eu amei a personagem principal.

Apesar dela parecer a princípio uma alma muito benevolente e que só faz boas ações, no fundo ela é medrosa e egoísta, o que a torna bastante complexa. Assim como outras personagens que vão sendo apresentadas ao longo da história. É até complicado falar muito da história ou dos demais personagens sem dar spoiler do livro.

Mas ficou tão legal que eu leria outras histórias passadas nesse mundo que Seanan criou, pois ele ficou muito muito muito interessante. Valia mais livros do que apenas esse, que sim, tem final, sem abertura para continuações. Grande raridade hoje em dia. Ponto positivo.

Mas nem tudo são flores... tudo é muito legal no livro depois que você entende como as coisas funcionam, o que demora um pouquinho, porque é um tanto confuso mesmo e os termos que a autora escolheu não ajudam tanto assim, isso quando não atrapalham. E às vezes o texto fica piegas, afinal, está-se falando de morte e saudades dos entes queridos etc.

Em resumo, é uma boa leitura que vale a pena o esforço, mas é preciso um pouco de paciência para entender o contexto e com as breguices. Superado isso, um prato cheio de literatura young adult.

Nota 8,5

domingo, 24 de dezembro de 2017

The Murder at the Vicarage - Assassinato na casa do pastor

      It is difficult to know quite where to begin this story, but I have fixed my choice on a certain Wednesday at luncheon at the Vicarage. The conversation, though in the main irrelevant to the matter in hand, yet contained one or two suggestive incidents wich influenced later developments.
     I had just finished carving some boiled beef (remarkably  tough by the way) and on resuming my seat I remarked, in a spirit most unbecomng to my cloth, that anyone who murdered Colonel Protheroe would be doing the world at large a service.

SPOILER FREE

Mais um livro da rainha do romance de detetive, a inglesa Agatha Christie. Depois de passar anos (tipo, uns vinte) sem ler nada dela, voltei a ler alguns volumes há alguns anos e me reapaixonei. Existe um motivo para ela ser tão perene e tão famosa. E certamente não é porque ela escreveu inúmeros livros, é porque ela é boa mesmo.

É preciso reconhecer que Agatha Christie sabia o que ela estava fazendo. Não é só uma questão dos mistérios serem tão maravilhosos ou complicados, até porque nesse quesito ela ficou um tanto datada, o que é o destino de todos os autores que lidam com a ciência que os policiais usam para desvendar assassinatos, mas sim da forma como ela cria e apresenta seus personagens principais.

Eu tenho um fraco pela Miss Marple. Ela é uma velhinha tão simpática, daquelas que poderia ser a vizinha de qualquer um. E no fundo, ela é só uma fofoqueira. Tem coisa mais comum que uma velhinha fofoqueira? Mas ela é descrita de tal forma que não tem como não se apaixonar por ela.

Aparentemente, esse foi o primeiro livro que a autora lançou da Miss Marple, o que o torna especial por um lado, mas meio fora do que você está acostumado de ler da solteirona por outro. O narrador é o pastor, dono da casa onde acontece o assassinato do título, e na verdade, a Miss Marple não aparece tanto assim, afinal, ela ainda não era famosa.

E mesmo sem se apoiar tanto no carisma de uma de suas personagens mais famosas, Agatha Christie faz um romance de primeira qualidade. Não é um dos seus maiores clássicos, mas faz jus ao nome da autora. Além de que, foge um pouco da sua fórmula mais comum, o que o torna interessante.

Nota 8,5.

House of Many Ways (Howl's Moving Castle, #3) - A casa dos muitos caminhos

     "Chairman must do it," said Aunt Sempronia. "We can't leave Great-Uncle William to face this on his own."
     "Your Great-Uncle William?" said Mrs. Baker. "Isn't he -" She coughed and lowered her voice because this, to her mind, was not quite nice. "Isn't he a
wizard?"
     "Of course," said Aunt Sempronia. "But he has -" She too lowered her voice. "He has a
growth, you know, on his insides, and only the elves can help him. They have to carry him off in order to cure him, and someone has to look after his house. Spells, you know, escape if there's no one there to watch them. And I am far too busy to do it. My stray dogs' charity alone-"
     "Me too. We're up to our ears in wedding cakes orders this month," Mrs. Baker said hastily. "Sam was saying only this morning -"
     "Then it has to be Charmain," Aunt Sempronia decreed. "Surely she's old enough now."

SPOILER FREE

Depois de ler os dois primeiros volumes de "Howl's Moving Castle" (O Castelo Animado e O Castelo no Ar) e tendo o terceiro na minha biblioteca, achei de bom tom terminar o ano sem deixar nada pendente para 2018.

E foi uma excelente decisão! A casa dos muitos caminhos é tão bom quanto o primeiro livro! Voltamos a ter uma protagonista feminina divertida, com suas próprias ideias e formas de fazer as coisas! E gente, que livro FOFO.

De certa forma, esse volume é ainda melhor que o primeiro, pois ele tem o frescor de Castelo Animado, mas sem os pequenos problemas. Charmain não é perfeita, é uma menina extremamente mimada, mas ela de alguma forma sabe disso, entende as suas limitações e tenta de algum jeito ultrapassar essas questões, sem perder de todo sua inocência ou deixando de ser criança.

O livro é tão legal que me animei de comprar o primeiro da série de Natal para as crianças da família, o que me deixou muito triste, pois descobri que está esgotado em português. Como assim minha gente??? Tudo bem que o livro é antigo, dos anos 80, mas o filme saiu em 2004, não faz tanto tempo assim para justificar a falta do livro nas livrarias. Ou faz? Me senti velha. Velha e triste. Os livros são bons e divertidos demais para não estarem disponíveis para essa geração.

Quem tiver a oportunidade, leia a série. Vale muito a pena.

Nota 9,5.

Everybody Lies: Big Data, New Data, and What the Internet Can Tell Us About Who We Really Are

     Ever since philosophers speculated about a "cerebroscope," a mythical device that would display a person's thoughts on a screen, social scientists have been looking for tools to expose the workings of human nature. During my career as a experimental psychologist, different ones have gone in and out of fashion, and I've tried them all - rating scales, reaction times, pupil dilation, function neuroimaging, even epilepsy patients with implanted electrodes who were happy to while away the hours in a language experiment while waiting for a seizure.
     Yet none of these methods provides an unobstructed view into the mind. The problem is a savage trade off. Human thoughts are complex propositions; unlike Wood Allen speed-reading
War and Peace, we don't just think "It was about some Russians." But propositions in all their tangled multidimensional glory are difficult for a scientist to analyze.

SPOILER FREE

Esse é um livro que foi lançado agora em 2017, o que é uma raridade para mim, quer dizer, é raro eu ler um livro ainda no seu ano de lançamento, por motivos de muitos e muitos e muitos livros para ler. Mas esse pulou a fila por conta do seu tema, estatísticas de internet sendo utilizadas para estudar a natureza humana.

Como não se interessar em como se pode determinar em quais lugares as pessoas são realmente racistas sem precisar fazer pesquisas de opinião, em que ninguém em sã consciência irá dizer abertamente que sim, é uma pessoa racista? Ok, existem exceções, mas a pesquisa nunca vai ter um resultado muito exato.

Todo o trabalho de Davidowitz começou a fazer sucesso no meio acadêmico quando ele produziu um mapa de estatísticas de racismo nos EUA, que ele na verdade tinha desenvolvido para tentar entender as eleições ganhas pelo Barack Obama, mas que previram melhor que todos os modelos dos grandes pesquisadores eleitorais a vitória (não prevista por ninguém de fama da área) do atual presidente americano Trump, com direito a acertar quase todos os locais onde ele venceu.

Simplesmente irresistível, né? Com a questão de ser um campo novo, ainda em desenvolvimento, o que quer dizer que em 5 anos provavelmente esse livro já vai estar bastante ultrapassado nessa área.

Questões do porquê eu escolhi ler logo o livro e questões técnicas à parte, o livro é muito divertido. O autor consegue tornar a leitura simplesmente leve, com inúmeras anedotas muito engraçadas. O trade-off disso é, claro, ele não fala muito sobre os aspectos técnicos de como se faz estudos com big-data (que são bancos de dados gigantes), ou exatamente que modelos ele utilizou para fazer os trabalhos que ele apresenta nesse livro.

Mas tudo bem, não era exatamente o objetivo desse livro em específico, para isso você teria que ver um livro técnico de estatística. Nesse livro, Davidowitz quer fazer uma explicação do porque usar big-data, quando funciona, quando não faz diferença, e abrir os olhos da galera para um novo campo de pesquisa e coleta de dados: a internet. (Isso foi antes de acabaram com a neutralidade da rede, o que é outro assunto, mas, eu não podia deixar de mencionar e apontar minha tristeza e perda de parte da minha esperança na humanidade com isso - pesquisem sobre esse assunto, afeta a todos que usam a internet)

E não, você não precisa entender nada de estatística ou base de dados para ler esse livro e se divertir. Pontos extras!

Nota 10!

Poemas do Brasil

 Uma Arte

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! e nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudades deles. Mas não é nada sério.

-Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (
Escreve!) muito sério.

SPOILER FREE

Esse é um livro que eu já tinha há muitos anos, mas só fui descobrir mais sobre a autora quando saiu o filme brasileiro "Flores Raras", o qual eu não vi, mas li sobre. Vai entender.

Mas como rearrumei minhas estantes de livros há um certo tempo e meus livros de poesia voltaram a ficar num local mais acessível, não demorou muito para Elizabeth Bishop entrar na lista de leituras. O que foi muito bem vindo.

O interessante sobre essa edição específica, é que além de ser bilíngue (muitos pontos positivos), ela tem uma biografia rápida da autora, com direito a correlação da sua vida com a sua obra e porque os poemas que estão no livro foram classificados como "poemas do Brasil". Vale a leitura.

Algumas questões de preconceitos à parte, o mais interessante da poetiza americana Bishop, é que ela realmente captou o Brasil, em especial o Rio de Janeiro e o interior do país. É meio doido, mas fantástico, ler em inglês algo que poderia ter sido escrito em português por uma brasileira.

Nem sempre as traduções ficaram à altura, o que é compreensível, e ao mesmo tempo estranho, porque o texto é muito brasileiro, mas não foi feito para o português, fora os casos em que Elizabeth decidiu fazer misturas, o que ficou muito interessante, e na tradução essa miscigenação se perde, infelizmente.

Nota 9,5

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O gueto/ O eco da minha mãe

 ANNE FRANK

Não há porão mais escuro
que este ao que desce a alma
para esconder com palavras
o que deveria chamar-se
                                      MORTE.
Perseguem-nos por isso
deixamos registro
de sobrevivência.
É uma homenagem ao gueto
clausura precoce
onde a menina aprende a trocar
vinte e quatro horas em claro
por segundo de escrita.

SPOILER FREE

Poetisa nova no pedaço! Apresento a vocês a argentina Tamara Kamenszain, descendente de judeus e, aparentemente, uma escritora muito conhecida na sua terra natal.

Essa edição bilíngue foi uma escolha muito feliz para o meu primeiro contato com ela. A editora juntou 2 obras da autora que apesar de terem sido lançadas com anos de distância entre uma e outra, funcionam especialmente bem juntas, pois as duas são formas de trabalhar o luto. Em "O gueto" Tamara fala sobre a perda do seu pai, enquanto em "O eco de minha mãe" ela trata não só da morte da sua mãe, mas também da dificuldade de lidar com as doenças da idade avançada.

Claro que por vezes o texto é bastante pesado, o que era de se esperar com o tema proposto, e tem uma quantidade grande de referências judaicas que eu certamente não captei por completo, ou pior, talvez nem tenha percebido que estavam ali. Mas achei essa presença muito interessante e enriquecedora, justamente porque não tenho tanto contato com a comunidade judaica.

Apesar de ter gostado da leitura, preciso dizer que diferentemente de outros livros, esse ficou com poucos marcadores de poesias das quais gostei. Não sei explicar bem como posso ter gostado do livro como um todo e não ter me apaixonado por quase nenhuma poesia em específico, mas é assim.

Agora quero ver mais obras dela, com outros temas, para experimentar mais do seu trabalho. Já estou com outro livro dela em casa, e ela está na lista de leituras de 2018. Aguardem mais notícias.
Nota 8.

Instante

TUDO

Tudo -
Palavra atrevida e enfunada de soberba.
Deveria escrever-se entre aspas;
Aparenta nada omitir,
tudo reunir, abarcar, conter e ter.
Porém, não é mais
do que um farrapo do caos.


SPOILER FREE

Quem acompanhou minhas leituras esse ano já viu que eu virei fã de carteirinha da Wislawa. Então, já imagina a minha felicidade quando encontrei na Livraria Cultura mais um livro da poetisa polonesa em português! De Portugal.

Não que seja uma reclamação, apesar de ser uma. A questão é que a forma de pensar poesia, a escolha das palavras pelos tradutores, tudo, enfim, é um pouco diferente, e Wislawa trabalha muito com o cotidiano, o comum, e você perde essa sensação com o português lusitano.

Mas Wislawa é superior a essas coisas, e, pra variar, eu amei o livro. Daqui a pouco terei que começar a reler os livros que eu tenho dela, visto que muito pouco da sua obra foi traduzida tanto no Brasil quanto em Portugal. A notícia boa é que tem muita coisa traduzida para o inglês, e como ler no polonês original não é uma opção, vai ser assim mesmo! Aguardem mais da vencedora do nobel Wislawa em 2018.

Nota 10.

A House in Fez: Building a Life in the Ancient Heart of Morocco

Maybe it was a fit of madness,but on just our second visit to the old Moroccan capital of Fez, my husband and I decided to buy a house there - as one does in a foreign country where you can't speak the language and have virtually nothing in common with the locals.
Morocco is only 13 kilometers across the Strait of Gibraltar from Europe, but in almost every respect it might as well be on another planet. Situated in the northwest corner of Africa but separeted from the rest of the continent by the vast Sahara, its Arabic name, al-Maghreb al-Aqsa, means "the extreme west." It's a land of cultural and ethnic amalgams, of Berber, African, Arab, and, in more recent times, French and Spanish influences. The writer Paul Bowles called Morocco a place where travelers "expect mystery, and they find it." He wasn't wrong.

SPOILER FREE
Esse livro foi uma surpresa pelos motivos mais inusitados. Eu sou fã da escritora inglesa Susanna Clarke, que escreveu Jonathan Strange & Mr. Norrell, e eu achei que esse livro era dela, o que o tornaria automaticamente um bom livro.

Agora olhem de novo o nome da autora na imagem.

Então, essa é a Suzanna Clarke. Autora da Nova Zelândia, que fez carreira de jornalista na Austrália e agora vive no Marrocos.

Sacanagem, né?

Mas tudo bem, essa Suzanna também escreve bem, e o livro é muito divertido, mesmo se tratando de uma obra, ou justamente por isso. Além disso, o livro é surpreendentemente pouco preconceituoso, o que torna a leitura muito agradável e tranquila. As fotos são especialmente bonitas, por isso vale a pena ler o livro numa versão física ou pelo menos ver as fotos do kindle no aplicativo do celular ou tablet.

Me corrigindo, vale mais a pena a versão física mesmo, porque a versão digital está cheia de erros, não de digitação, mas de digitalização, pois no meio do texto volta e meia aperecem perdidos o título do livro, ou o número da página, ou os 2 num combo, o que é muito desagradável.

Levando em consideração que eu li a versão para kindle, nota 7.