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terça-feira, 29 de outubro de 2013

The beginning and the end


SPOILER FREE

Ainda com o tema de histórias de superação, do Desafio Literário, escolhi mais um livro do Prêmio Nobel de Literatura Naguib Mahfouz (ou em outra opção de transliteração Nagib Mafuz). "The beginning and the end" infelizmente é um livro difícil de encontrar traduzido, seja em inglês ou em francês, em português ainda não tem, mas eu consegui comprá-lo pela Betterworldbooks.com uma espécie de sebo internacional que faz doações toda vez que você compra um livro com eles. E a edição que encontrei ainda é especial (essa da capa aí em cima) porque é da American University of Cairo, que publica livros em inglês no Egito (e só vende lá também).

Isso significa que a tradução é como um verdadeiro árabe teria feito para o inglês, mantendo quase literalmente a poesia original do texto, tão comum na prosa (e na música*) árabe e que às vezes se perde nas traduções. Mas isso também significa que às vezes faltam aspas, ou uma palavra ou outra está escrita errado, e em raríssimas ocasiões o texto não faz lá muito sentido.

Nesse lindo livro, Naguib Mahfouz nos conta a história de uma família que vive no Cairo durante a Segunda Guerra Mundial, e está muito bem de vida, até o momento em que o pai e único provedor da casa morre repentinamente. Numa situação de desespero e beirando a pobreza extrema, a família precisa sacrificar a reputação dos dois irmãos mais velhos (um primogênito solto na vida e uma filha considerada feia que chegou aos 23 anos solteira) para não passar fome e possibilitar a continuidade da educação formal dos dois irmãos mais jovens, grandes esperanças de dias melhores no futuro, caso eles consigam terminar sua educação e consigam bons empregos.

Naguib Mafouz destila poeticamente e para deleite do leitor as transformações que cada membro da família precisa passar para superar essa fase tão negra das suas histórias em comum, o que nem sempre o orgulho de alguns permite, enquanto outros acabam se degenerando completamente no processo. Todos precisam fazer sacrifícios pelo bem do núcleo familiar, e cada um lida com o seu quinhão de forma diferente, onde alguns conseguem passar pelo processo de superação, enquanto outros se perdem pelo caminho.

"The beginning and the end" é um livro lindo, poético e extremamente dramático, pois os sacrifícios exigidos são muito grandes, ainda mais numa sociedade onde a honra e um passado incólume são imprescindíveis para garantir um futuro de riquezas numa teia social extremamente desigual e conservadora. Dessa forma, o autor faz um belo retrato da sociedade cairota (e egípcia como um todo), sem deixar de lado as suas pungentes críticas tão características ao seu estilo (Mahfouz era filósofo e nacionalista).

Nota 10, para variar.

*como bailarina de dança do ventre, vivo procurando traduções de músicas árabes e confesso que ler esse livro foi como ler uma boa tradução de uma música do estilo da Oum Kalsoum com mais de 300 páginas. Simplesmente sublime.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O tempo entre costuras



SPOILER FREE

E dando prosseguimento ao Desafio Literário, com o tema histórias de superação, resolvi tirar da estante um livro que ganhei de aniversário no ano passado. E vou adiantando que o meu sogro (que me deu o livro) tem realmente bom gosto para livros (ou ele ou a namorada dele, dependendo de quem escolheu esse título rsrsrs). Dessa forma posso concluir que a família do meu marido tem bom gosto literário (minha sogra também é ótima escolhendo livros).

Divagando um pouco, vou sentir falta dessas histórias dos livros quando eu começar a ler apenas e-books... comprar livros pela internet não é tão divertido ou marcante quanto comprar numa livraria, e ganhar livros também é legal, não sei se vou lembrar tão bem de quem me deu cada livro se começar a receber notificações de presentes por email.

Reminiscências à parte, o livro conta a história de uma costureira de origem humilde de Madri, que se apaixona perdidamente por um cafajeste. Eles fogem juntos para o Marrocos e lá ela é abandonada por ele sem um tostão. Enquanto isso é deflagrada a guerra civil espanhola, e depois a Segunda Guerra Mundial, e por isso ela não pode voltar para a sua casa na Espanha.

A partir daí o livro trata de como essa mulher tão machucada emocionalmente se reergue até o ponto de se tornar uma famosa costureira de alta costura durante a Segunda Guerra Mundial. E apesar de parecer algo extremamente improvável, a história é convincente! E eletrizante! Nunca imaginei que uma história cheia de detalhes sobre costura pudesse ser tão interessante.

A autora, María Dueñas, é uma iniciante, e esse é seu primeiro romance publicado, mas sua escrita não transparece isso, talvez por ela ser historiadora. O enredo é muito bem elaborado, extremamente realista, e bem fundamentado historicamente falando (até porque muitos personagens são reais e há toda uma bibliografia no final do livro para fundamentar o que foi usado). A construção psicológica dos personagens também é muito boa, e é um dos pontos altos da obra, que é escrita na primeira pessoa pela personagem principal, como se fossem memórias.

O livro me surpreendeu muito positivamente, pois confesso que fiquei com receio dele escambar para o típico água com açúcar, ainda mais com uma escritora iniciante, mas definitivamente não foi o caso. A superação da protagonista é linda e emocionante de acompanhar (emocionante no sentido de ter muita adrenalina, por incrível que pareça), e a qualidade do texto é surpreendente. Gostei muito, apesar do final não ter me deixado satisfeita, pois eu queria mais, muito mais! Talvez umas 100 páginas a mais teria sido bom, mas entendo que a autora ficasse com receio ou de ficar longo demais ou de começar uma série (respeito muito o autor que evita fazer séries numa época em que isso é quase uma norma e uma forma de ganhar mais dinheiro).

Nota 9.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A street cat named Bob



SPOILER FREE

Essa resenha vem um pouquinho atrasada, mas ainda dentro do prazo das leituras do mês do Desafio Literário, cujo tema para outubro é histórias de superação.

Esse livro, para variar, também tem uma história. Eu já conhecia por alto a história contada por causa do Facebook do James Bowen, que é cheio de fotos fofíssimas do Bob. E quando eu fui a Nova Iorque nesse último julho, acabei não resistindo e comprando o livro na bela livraria Strand, que é simplesmente a livraria mais simpática que já visitei, com funcionários antenados no assunto livros e sessões no mínimo curiosas, como a para adoradores de gatos (me identifiquei prontamente, claro), que foi onde dei de cara com o livro por um preço amigável.

Contada a história do livro, vamos à história no livro.

James Bowen é um viciado em drogas que sobrevive nas ruas de Londres tocando música, até que um dia ele encontra um lindo gato abandonado no seu prédio. Depois de cuidar do gato e eles se tornarem amigos inseparáveis a amizade entre homem e felino transforma a vida de James, que finalmente consegue abandonar o vício e começa a reconstruir a sua vida. Tudo regado a cenas fofíssimas do Bob, que é um gato extremamente carismático. (procure no youtube, você não vai se arrepender)

Agora, o livro foi realmente escrito pelo James Bowen, o que é interessante, mas aí você lembra que ele é um músico fracassado em recuperação de vício em drogas que não chegou à faculdade (sem juízos de valor, o Neil Gaiman também não fez faculdade) por conta de uma adolescência conturbada e regada a substâncias ilícitas. Preciso dizer que o texto não é bom, ou isso já é óbvio?

Enfim, a história em si é muito fofa, muito linda e muito tocante. Mas o texto definitivamente não faz jus ao seu conteúdo. Certamente é o tipo de história que funcionaria muito melhor sendo transposta diretamente para um filme ou documentário do que num livro auto-biográfico. Mas levando em consideração toda a superação do autor, eu também acho um esforço muito legal e digno de mérito ter escrito um livro. Não foi à toa que o comprei  :-)

Se você quer dar uma força ao James e ajudar, compre o livro (já saiu em português como "um gato de rua chamado Bob"), mas tenha consciência das limitações daquilo que está comprando. E não deixe de ver os vídeos e fotos, são realmente muito fofos e merecem muita babação.

Nota 6,5 porque o Bob é tudo de bom.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Fan Fiction - Year 1



SPOILER FREE

Esse é um livro escrito por uma amiga minha e publicado na Amazon.com (disponível apenas em inglês para kindle). Confesso que ele demorou um pouco mais de 2 semanas na minha cabeceira (no kindle), apesar de eu ter prometido lê-lo assim que o comprei. Mas acho que não foi um período muito longo de espera, né?

Apesar da Vivian ser minha amiga, tentarei ser o mais objetiva e imparcial possível.

A primeira coisa que me chamou atenção foi que li o livro em um dia (se não fosse pela pausa que fiz, teria durado uma tarde), o que não teria sido possível se ele não fosse bom (eu leio muito devagar quando acho o livro chato, como vocês devem ter percebido pelas resenhas anteriores). Outra coisa que me chamou atenção é que não há como negar de onde vieram as ideias da autora para a sua história tão surreal.

E aí chegamos num ponto crítico: o tema do livro. Fan Fiction é sobre as loucuras que passam pela cabeça de fãs, podendo chegar até mesmo ao ponto do assassinato! Bom, pelo menos é o que o início do livro sugere, mas ele acontece no futuro, então, logo em seguida vamos ver onde tudo começou. E tudo começa com uma série de livros que está fazendo um sucesso tremendo com adolescentes e mães/donas de casa que se sentem frustradas com suas vidas. A série de 4 livros logo vira uma produção cinematográfica de qualidade extremamente duvidosa, mas embalada no sucesso do livro logo também vira um sucesso de bilheteria. E aí é que as grandes loucuras começam.

Sabe aquela dificuldade em que as pessoas às vezes têm para diferenciar ficção de realidade? Bom, isso já é complicado para algumas pessoas com livros, agora imagine isso sendo elevado a enésima potência com um filme, onde os atores serão o tempo inteiro confundidos com os seus personagens e as pessoas esperam que eles ajam de forma idêntica dentro e fora da telona. Acrescente a isso um estúdio louco para ganhar dinheiro e dar um jeito de disfarçar que o filme é ruim, e na tentativa de alavancar as vendas se utiliza de técnicas de marketing (tanto convencionais quanto mais modernas - mídias sociais incluídas aí) para vender às pessoas justamente essa ideia: de que os atores estão tão apaixonados na vida real quanto na ficção. (já deu para descobrir de onde veio isso? Se não deu, não se preocupe, você descobrirá rapidinho no livro)

Agora, apesar da fonte inspiradora de tudo isso ser bastante óbvia, sem dúvida não impede de você se divertir horrores com as loucuras que as pessoas são capazes de imaginar, dizer e fazer. Na verdade, eu achei que perceber de onde veio a história "original" só deixou o livro ainda mais divertido, até porque esse é na verdade o pano de fundo, o livro tem outros personagens absolutamente fictícios que só deixam a leitura ainda mais interessante e envolvente.

Agora, Fan Fiction também deve ser uma série, e isso deixou o final muito chato. Sabe aquele final em que você fica seco para saber o que acontece depois? (exemplos: Senhor dos Anéis, A Hora das Bruxas...) Pois é, o final do livro é exatamente assim. E nesse caso, a minha única vantagem é ser amiga da autora para poder fazer chantagem e receber o livro seguinte antes dele ser publicado. Tomara que cole.

Nota 8,5

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Beautiful Redemption


SPOILER FREE

E só porque só faltava mais um livro na série, resolvi encarar Beautiful Redemption ou Dezenove Luas em português.

Lembra que eu mencionei que o final do terceiro livro era muito ousado? Pois bem, a continuação, apesar de bem óbvia (não tinha muito para onde ir), também pode ser considerada ousada. A história, assim como nos volumes anteriores, continua muito boa, porém a qualidade da escrita... continua ruim. Melhor do que Crepúsculo, mas ainda assim deixa a desejar. Realmente a impressão que me deu é que as autoras são ótimas criadoras de mundos e de histórias de fantasia, mas que elas 1) realmente passam mais tempo jogando videogames do que lendo (afinal elas trabalhavam criando videogames), 2) não tiveram bons editores, porque o espaço para melhoria dos livros é bem fácil de ver e não é difícil de melhorar.

Fora esse "detalhe", o livro é cativante e segue a linha do terceiro volume, onde a ação é o fio condutor da história, mantendo a adrenalina rolando solta o tempo todo, e, consequentemente, eu não consegui largar o livro até terminar. E novamente as autoras têm uma inspiração no Joss Whedon, e na sua falta de cerimônia ao matar personagens, ponto positivo para elas.

Com toda a ação rolando, o excesso de açúcar adolescente ficou novamente controlado, assim como no livro anterior. Outro ponto positivo.

Dito isso, gostaria de aproveitar para reclamar da mania dos editores brasileiros de adaptarem títulos ao invés de simplesmente traduzi-los. Sério, para quê isso? Não é que as traduções ficassem ruins ou soassem mal em português! Tudo bem que os primeiros 3 livros ficaram com adaptações passáveis (apesar de totalmente desnecessárias), mas o quarto livro ficou muito ruim, mas muito ruim mesmo. Sabe o que tem a ver Dezenove Luas com a história? NADA. Nada de nada de nada mesmo. O que era óbvio que uma hora ia acontecer, né? Mas não, resolveram manter a "ideia brilhante" da adaptação. E não é razoável dizer que a ideia veio por causa do filme, que mantem o nome original do livro em inglês. Opa, mas não em português! Será que a culpa é dos tradutores de títulos de filme? Mesmo que seja, imperdoável.

Nota 8.

Nota da Saga: 7,5 só porque podia ser melhor.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Beautiful Chaos


SPOILER FREE

Continuando a fase de fastfood literário, li o terceiro livro "das luas" (em português o título ficou dezoito luas, coisas que só a tradução brasileira de títulos consegue fazer). Aqui as autoras finalmente resolvem sair do clima Crepúsculo e resolvem fazer algo original, o que me deu muito alívio.

Não que o clima adolescente da história tenha diminuído, ele continua lá firme e forte, mas pelo menos está mais disfarçado debaixo de uma grande camada de ação e adrenalina, que nesse volume permeia a história desde o início até o fim. E que fim! Não digo que seja o mais original do mundo (já vi acontecer em outras séries de livros de fantasia), mas sem dúvida é um final corajoso. Meu respeito às autoras por isso. Nesse ponto elas me lembraram o Joss Whedon e digo isso de uma forma positiva, apesar da mania que eles têm em comum poder ser irritante de vez em quando.

A qualidade da escrita até deu uma melhorada (ou eu me acostumei... melhor não pensar nessa alternativa), mas ainda não ficou lá essas coisas. Talvez seja apenas a atenuada no clima adolescente da história que tenha me dado essa sensação. Qualquer que seja o motivo, tornou a leitura mais agradável e para mim isso é o que conta.

Só para não dizer que não falei nada do plot sem dar spoiler: nesse volume, o mundo está indo para o saco, literalmente falando, por conta do que aconteceu no final do livro anterior. E agora os heróis da história estão numa busca desenfreada pela solução do problema (aí está a razão pela adrenalina constante), e nessa busca eles esbarram em um problema atrás do outro. Graças a deus os problemas já não envolvem o clichê de histórias adolescentes "será que ele/a me ama?", e sim apenas um monte de situações que podem terminar em sangue, morte e destruição (como se isso já não fosse iminente pela premissa da narrativa, mas tudo bem, pra quê apressar esse tipo de coisa não é mesmo?). Não é a toa que título em inglês é "belo caos", ele realmente tem uma razão de ser (pessoalmente eu acho melhor do que a tradução, apesar dela ainda fazer sentido nesse livro).

Nota 8 porque melhorou com relação aos livros anteriores.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Beautiful Darkness


SPOILER FREE

E como o mês de setembro estava no final e não daria tempo de ler mais um livro do Saramago dentro do prazo do Desafio Literário, resolvi matar o tempo com o que eu tenho chamado de fastfood literário. Sabe aquele tipo de livro que você sabe que não é bem escrito (assim como fastfood não alimenta de verdade), mas te diverte horrores mesmo assim (análoga aquela sensação de comer algo gorduroso que você sabe que não faz bem mas é gostoso assim mesmo)?

Pois é, a continuação de Beautiful Creatures se encaixa perfeitamente nessa descrição. Beautiful Darkness, ou Dezessete Luas em português, é um livro divertido, apesar de mal escrito, seguindo a receita mostrada no primeiro volume. A comparação com Twilight aqui é ainda mais perfeita, pois Beautiful Darkness é a versão de Kami Garcia e Margareth Stohl para Lua Nova, trocando o sexo da personagem principal e vampiros por bruxas. E não estou exagerando nessa comparação, a trama é exatamente a mesma: personagem principal é largado pelo amor da sua vida, que está numa fase ruim e busca a auto-destruição. O livro todo se passa na tentativa da personagem principal encontrar o seu grande amor antes que seja tarde demais.

As grandes diferenças entre esse livro e Twilight é que 1) o personagem principal não é chato nem incoerente; 2) o personagem principal sofre mas não tenta se matar quando é abandonado pela namorada; 3) os demais personagens e a relação entre eles fazem sentido; 4) o mundo onde se passa a história é coerente. Em outras palavras, Kami Garcia e Margareth Stohl deram um banho na Stephenie Meyer novamente. O único defeito das autoras é realmente não saberem escrever bem. Mas isso pode ter remédio, ainda tenho esperanças quanto aos próximos 2 livros da série.

Claro que o tema extremamente adolescente me incomodou novamente, mas como entendo que era esse o objetivo, não considero como um defeito do livro, é só algo que eu não gostei.

Nota 7,5 assim como o primeiro volume.