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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Retrospectiva Literária 2012


Esse é um Meme do Blog Pensamento Tangencial, que é muito interessante! Para maiores detalhes de como participar, é só clicar aqui!

Mas, como estou enrolada nesse final de ano, vou direto às perguntas:
  • A aventura que me tirou o fôlego:
Esse ano, quem mais me prendeu em termos de aventura foi Neil Gaiman, com "American Gods"! Maiores detalhes sobre o que achei aqui :-)


  • O terror que me deixou sem dormir:
Esse é muito fácil! O clássico "O Iluminado", do rei do terror, Stephen King! Acho que deixei até o meu marido com dificuldade em dormir só de comentar do livro rsrsrs detalhes aqui.


  • O suspense mais eletrizante:
Acho que não li nada que fosse especificamente de suspense, mas certamente o que mais se aproxima e foi mais eletrizante foi "Criança 44", que ainda por cima fala da antiga União Soviética. E com direito a um serial killer! De suar frio! Detalhes aqui. (não contei "O Perfume" aqui porque você já sabe quem é o assassino desde o início, então não tem suspense)


  • O romance que me fez suspirar:

Ah... a "Mulher do Viajante no tempo"! Tudo bem que em alguns momentos o romance entre os dois era mais assustador do que romântico, e em outros podia muito bem lembrar Lolita, mas de uma forma geral é um amor que nos faz suspirar o tempo todo, ainda mais quando você entende qual será o final da história. Detalhes aqui.

  • A saga que me conquistou:

Esse não foi um ano de sagas... mas acho que "Musashi" pode muito bem se encaixar nessa categoria :-) mais detalhes aqui, aqui e aqui.

  • O clássico que me marcou:

Que difícil! Começo com outra pergunta: clássico para quem? Porque "Musashi" é um clássico japonês... Naguib Mahfouz é um escritor de clássicos egípcios... "Peter Pan" é um clássico? E "Salomé"? "O Iluminado" é um clássico da literatura de terror... "Woman at point zero" é um clássico feminista... e todos eles foram marcantes, cada um da sua forma.

  • O livro que me fez refletir:
De todos os livros que li esse ano, o que mais me fez pensar foi  "Woman at point zero". É só clicar no link para entender o porquê.

  • O livro que me fez rir:
Você percebe que seu ano de leitura foi bem pesado quando o único livro que te fez rir foi "Eat Pray Love".

  • O livro que me fez chorar:
Nunca choro lendo livros. Sério.

  • O livro de fantasia que me encantou:
Ah... esse ano o título vai para American Gods, com louvor. De novo. São poucos os livros que merecem ser mencionados mais de uma vez.

  • O livro que me decepcionou:
O pior do ano nesse quesito, sem sombra de dúvida, foi "Como ser mulher".

  • O livro que me surpreendeu:
"Habibi" foi o que mais surpreendeu esse ano. Me fez rever conceitos e me deixou absolutamente deslumbrada com suas ilustrações.

  • A frase que não saiu da minha cabeça:
Juro que não lembro de nenhuma citação de livro nenhum que eu tenha lido, então não tenho como responder isso.

  • O(a) personagem do ano:
Marjane Satrapi, que além de ser ilustradora e escritora, é a personagem principal do autobiográfico "Persépolis". De longe a personagem mais interessante do ano.

  • O casal perfeito:
Não acredito em casais perfeitos, mas o que mais se aproximou disso esse ano foi Fat Charlie e Daisy Day em "Anansi Boys".

  • O(a) autor(a) revelação:
Vou citar dois que são novos para mim, nenhum deles é novidade para outros leitores: Craig Thompson de "Habibi", e Tariq Ali, que dominou um mês inteiro com o seu quinteto islâmico (uma obra-prima!).

  • O melhor livro nacional:
Sem a menor sombra de dúvida, a "Hora da Estrela", da aclamada Clarice Lispector.

  • O melhor livro que li em 2012:
Sacanagem, foram muitos muito bons, é uma escolha muito difícil! Vou colocar um livro que ainda não mencionei, mas que não pode passar em branco: "Miramar" do egípcio Naguib Mahfouz. Mas fica a ressalva de que muitos outros poderiam estar aqui.

  • Li em 2012 ...... livros.
Esse ano eu simplesmente me superei: 52 livros!

  • A minha meta literária para 2013 é:
Vou manter minha meta de 30 livros... esse ano foi muito atípico para justificar mudar minha meta "clássica". E eu prefiro não me decepcionar no final do ano.

As Memórias do Livro


SPOILER FREE

Fechando o ano com os incríveis 52 livros lidos, ficou As Memórias do Livro, uma indicação absolutamente acertada da minha sogra.

De leitura agradável e que te prende ao pular os séculos de história da Hagadá de Sarajevo, Geraldine Brooks prova o porquê de ter ganho o prêmio Pulitzer com essa obra. Sua personagem principal já seria interessante e renderia um livro sozinha, mas ela divide as atenções com um manuscrito multi-cultural e único, a tal Hagadá (livro judaico usado nas celebrações da Páscoa).

E essa Hagadá é feita de fatos improváveis e sobrevive aos momentos mais cruéis da história da Europa, desde a inquisição, passando pela segunda guerra e chegando ao conflito em Sarajevo. E ela representa em seu âmago a possibilidade da convivência pacífica de 3 religiões que vivem se digladiando: cristianismo, judaísmo e islamismo. E ela consegue esse feito por conta de pessoas comuns que fazem o que julgam certo. Tem coisa mais bonita e inspiradora do que isso?

Fechou o ano com chave de ouro!!!

Nota 9.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Luka e o fogo da vida


SPOILER FREE

Esse final de ano está tão agitado que me atrasei nessa resenha! Mas vamos, antes que o ano acabe!

Depois de reler "Haroun e o Mar de Histórias", estava morrendo de vontade de ler a quase continuação que Salman Rushdie escreveu para o seu filho mais novo, mais de 10 anos depois de lançar "Haroun". E o livro tem toques absolutamente autobiográficos que são lindos! E Haroun está lá, claro, como o irmão 18 anos mais velho de Luka, o que não deixa de ser fofo.

Para melhorar (afinal estamos falando de Salman Rushdie, então já começa muito bem), o livro é recheado de referências de tudo quanto é filme, videogame e seriado, e isso é uma atração à parte na leitura (e olha que certamente eu não percebi um monte delas). Em outras palavras, é um livro infantil absolutamente delicioso para jovens adultos.

A história é muito divertida, e a ideia de imitar um jogo de videogame com direito a fases e vidas que se perde e se ganha é absolutamente genial, imagino que para uma criança viciada em jogos seja uma atração à parte muito legal (eu certamente adoraria), só que misturada com todo o toque oriental à la Mil e Uma Noites de Rushdie fica simplesmente lindo. Eu acho que é o tipo de livro que se virasse animação seria uma das coisas mais lindas do mundo. Espero realmente que um dia alguém tope esse desafio.

Mas não se engane, o livro é infantil mesmo, mas aquele infantil de qualidade, que não trata a criança como estúpida, e é recheado de descrições belíssimas! E usa toda a história do videogame para introduzir ao mundo infanto-juvenil uma quantidade absurda de mitologia de todo o mundo (em termos de quantidade de deuses apresentados, Rick Riordan fica no chinelo, e na qualidade da escrita também, nem tem como comparar), além de detalhes absolutamente orientais.

O texto flui com uma leveza impressionante, é simplesmente delicioso de ler!

Nota 9,5

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Por favor, cuide da Mamãe


SPOILER FREE

Esse foi um livro que resolvi ler por conta de resenhas de outros leitores participantes do Desafio Literário. Isso e o fato de eu ter esbarrado com ele na livraria do aeroporto quando o meu livro estava quase acabando. O engraçado é que não o li nessa viagem, pois acabei dormindo no avião ao invés de ler, então ele ficou meio que empacado na estante até agora, pois ele não encaixava nos temas seguintes do desafio.

E que coisa boa eu ter comprado esse livro! Ele é realmente muito muito muito bom! Conta a história de uma família que veio do interior camponês da Coréia do Sul, os pais já estão velhinhos, os filhos crescidos e já no auge das suas carreiras. Como os filhos moram em Seul, os pais de vez em quando vão visitá-los, e numa dessas visitas a mãe se perde do pai na estação do metrô e some.

A partir daí o livro contém os relatos dos filhos e do marido sobre o drama da busca por Mamãe, e como, conforme eles tentam em vão encontrá-la, vão se lembrando do passado e como, na verdade, eles não sabem nada sobre a Mamãe. É uma história muito triste e mexe com a nossa culpa, pois apesar de se tratar de um caso extremo, o que impede as personagens de encontrar tempo cuidar de Mamãe são as coisas que impedem todo o mundo hoje em dia: a falta de tempo, o excesso de trabalho, enfim, a vida moderna. Confesso que liguei diversas vezes para a minha mãe essa semana, com todas as desculpas possíveis por causa desse livro.

Apesar de ser muito triste e falar de um sentimento tão ruim como a culpa, o livro é LINDO! E te prende de um jeito que você não quer parar de ler, até o final! Que é previsível, mas isso não é importante nesse caso, pois o que importa aqui não é o que acontece, mas como cada um está se sentindo. Um belo estudo sobre a melancolia.

Eu poderia falar mais do livro, mas só me vem spoiler na cabeça, então vou parar por aqui dizendo que vale a pena! Não é a toa que a autora ficou famosa na Coréia do Sul e esse livro virou um bestseller mundial! É o tipo de livro que parece tão real que você duvida que é ficção! Kyung-Sook Shin vai merecer uma busca por outros títulos... não podemos ignorar a primeira mulher a ganhar o prêmio Literário Man Asian Literary Prize, não é?

Nota 9,5

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Desafio Literário 2013


Com 2012 quase acabando, já começou a ser organizado o Desafio Literário 2013!

2012 foi o meu primeiro ano participando do Desafio, e como eu gostei demais da experiência (apesar de não ter gostado tanto assim dos temas do ano que vem) resolvi que vou continuar participando. Cheguei a conclusão que o Desafio me motiva 1) a ler mais, o que é sempre bom e 2) a ler coisas diferentes, o que nem sempre tem bons resultados, mas a intenção é muito boa, e dizem que no final é ela que conta, né?

Então, comecei a organizar a minha lista de livros para o próximo ano. Como pretendo adquirir um e-book reader, resolvi me impor a seguinte regra: ler apenas livros que eu já tenha em casa. Confesso que fiquei algumas horas xeretando as minhas prateleiras para conseguir livros para todos os temas, e olha que o tema de dezembro do ano que vem ficou sem exemplar. Mas espero já ter o meu kindle até lá, daí poderei sanar rapidamente esse problema, abrindo uma exceção bastante justa.

Mas chega de lenga-lenga e vamos ao que interessa!


Janeiro - Tema Livre


Para aproveitar o tempo junto da família e dos amigos com muita leitura, o tema é livre! Aproveitem para escolher obras que, por algum motivo, não foram lidas no ano que se foi. Releituras não valem, pois o propósito maior do DL é desencalhar os livros daquela lista básica de leituras pendentes – que não para de crescer nunca.

Como não tem tema fixo, pretendo simplesmente ler o que der na telha :-)

Fevereiro - Livros que nos façam rir


No mês da alegria e da folia, está valendo quaisquer obras que despertem o riso pela comicidade presente no enredo.

-Viver de rir II - uma coletânea de contos de humor que eu nunca li e está encalhada a alguns anos na estante
-O Grande Mentecapto - livro que eu planejava ter lido em 2012, no mês do Prêmio Jabuti, mas que acabou ficando de fora
-O Menino no Espelho - livro adquirido por módica quantia quando uma amiga querida se mudou para o Canadá - já mencionei que adoro o Fernando Sabino?
-High Fidelity - livro comprado pelo maridão, o que é uma raridade, mas que nem ele nem eu lemos, acho que isso aconteceu porque vimos o filme...

Março - Animais protagonistas


Após as festas de fim de ano e o carnaval, quando a vida é retomada de fato, devemos ler obras cujos personagens protagonistas são os animais. Vale dizer que eles podem até compartilhar a posição de personagem principal com outros personagens humanos, mas nunca estando em menor destaque.


-A revolução dos bichos - livro herdado de uma tia minha... faz parte uma coleção gigante que ficou alguns meses escondida na casa do sogro até nos mudarmos para o nosso apê
-A Linguagem dos Pássaros - livro sufi que há anos quero ler mas nunca paro para fazer isso

Abril - Uma ou mais das quatro estações no título


Se a tendência é Outono/Inverno ou Primavera/Verão, não importa. A moda da vez é ler obras que contenham no título uma ou mais das quatro estações do ano.

-Le Voyage d’hiver - livro da minha amada Amélie Nothomb! Adquirido ano passado e um dos poucos que pude encontrar que seguisse o tema...
-O jardim e a primavera - mais um livro sufi! Ano que vem promete continuar com uma forte presença árabe!
-Sonho de Uma Noite de Verão - só porque eu nunca li e tenho em casa numa coletânea gigante de Shakespeare. Vamos ver se vai rolar tirar o tijolo da estante.

Maio - Livros citados em filmes


Literatura e Cinema são tão intrínsecos! Para quem é cinéfilo, não será tão difícil escolher as obras citadas em filmes; para quem não o é não há motivo para preocupação. Nossa equipe irá preparar uma lista especial para atender aos objetivos não só deste mês como também de todo DL.

-Orgulho e Preconceito - confesso que precisei de diversas listas de livros citados em filmes para encontrar opções... está na lista apenas porque tenho em casa E no celular
-Tom Jones - juro que está aqui apenas porque tenho em casa também... o tamanho dele me desanima
-Madame Bovary - cheguei a começar a ler quando era adolescente, mas nunca terminei, quem sabe agora eu gosto do livro?
-O Mágico de Oz - fiquei surpresa com duas coisas: é um livro E foi citado num filme.
-Razão e Sensibilidade - só porque tenho em casa...

Junho - Romance Psicológico


No Brasil, o romance psicológico mais famoso é Dom Casmurro, de Machado de Assis. Até hoje, paira dúvida se Capitu traiu Bentinho. Este gênero literário, portanto, caracteriza-se por ressaltar a mente humana. O meio ambiente em que se passa a história é irrelevante se comparado ao pensamento e ao comportamento dos personagens, cuja intimidade é revelada pelo agir e sentir.

-Mercure - ah, Amélie Nothomb! Espero que 2013 você apareça mais vezes por aqui!
-O Vermelho e o Negro - foi sugerido pelo pessoal do Desafio, mas confesso que pela descrição quase qualquer livro pode ser um romance psicológico, mas enfim...
-Crime e Castigo - também foi sugerido pelo pessoal do Desafio

Julho - Cor ou cores no título


Férias é tudo de bom para quem pode! Pena que o tempo no inverno é acinzentado, né? Então aproveitem o tempo livre embaixo do edredom e com muita leitura. Neste mês só está valendo obras que contenha no título cor ou cores.

-The Scarlet letter - nunca imaginei que fosse tão difícil encontrar títulos com cores! Esse eu tenho no meu celular e no meu futuro kindle :-)
-Cinquenta Tons de Cinza - a que ponto podemos chegar por falta de livros com cores no título...



Agosto - Vingança


A vingança é o ato de agir contra uma pessoa em resposta ao que ela tenha feito de prejudicial, de modo que ela sinta na pele o que se passou e que não repita mais a ação nociva. É o famoso “Olho por olho, dente por dente”. Neste mês, devemos nos deliciar com obras cuja trama seja a da vingança.



-Shalimar, o equilibrista - Salman Rushdie! E segundo a orelha do livro tem vingança, então entrou na lista.
-God dies by the Nile - literatura egípcia feminista! E aparentemente fala sobre vingança, então não poderia ficar de fora.
-V de Vingança - nunca consegui ler até o final... quem sabe agora vai?

Setembro - Autores Portugueses Contemporâneos


O ícone maior da literatura portuguesa é, sem dúvida, José Saramago – o único a receber o Prêmio Nobel. Mas que tal descobrirmos outros talentos literários de Portugal? Neste mês, então, devemos ler obras de autores portugueses contemporâneos. Com certeza, haverá grandes revelações literárias!


-Tudo o que eu tiver do Saramago em casa e ainda não tiver lido.

Outubro - Histórias de superação


Quem sobrevive a grandes tragédias ou a graves doenças, comumente, relata sua experiência de superação, através da luta e da fé, pelos meios de comunicação locais, regionais, nacionais e internacionais. Neste mês, devemos ler histórias de superação – sejam reais ou fictícias e aproveitá-las como lições para toda a vida.


-As aventuras de Huckelberry Finn - se fugir da violência do pai na companhia de um escravo fugido em plena guerra civil americana não for sobre superação, então eu não sei o que é isso.
-The Beginning and the end - Naguib Mahfouz! Por si só já é razão para ler, sendo sobre a superação da pobreza no Egito é só uma desculpa para incluir na lista.
-Tempo entre costuras - livro que ganhei do sogro no meu último aniversário, parece promissor!

Novembro - Livros que foram banidos


A leitura é tão importante para a formação do ser humano que, em vários momentos da história, determinados livros foram banidos por serem considerados, pelas autoridades, inadequados à população – que poderia ser subvertida por meio da leitura. Em novembro, que tal ler livros que foram banidos?


-As Aventuras de Tom Sawyer - fiquei surpresa quando descobri que foi banido! Como faz quase um dueto com As Aventuras de Huckelberry Finn, achei que era melhor ler também.
-Admirável Mundo Novo - descobri que tenho muitos livros proibidos em casa...
-Lolita - confesso que nunca tive muita vontade de ler, mas sei lá, vai que é mesmo muito bom
-The catcher in the rye - comprei há muitos anos, antes da última edição ser lançada em português, mas curiosamente nunca li, apesar do trabalho que foi encontrar esse livro num sebo.

Dezembro - Natal


O ano passou voando! Para desacelerar o passo, devemos ler obras que falem do Natal – a época mais fraterna do ano. Entre um capítulo e outro, não se esqueçam de: montar o pinheiro, decorar a casa, comprar presentes, organizar o amigo secreto, preparar o cardápio e desejar FELIZ NATAL a todos! 

-Não tenho nenhum livro sobre o Natal que eu não tenha lido!!!! Juro!!! E não quero comprar nenhum... espero conseguir algo até lá.

Se eu conseguir ler tudo isso ano que vem terei batido minha meta anual de 30 livros... mas será que supero o que consegui ler esse ano? Afinal de contas 2012 ainda não acabou e estou no 50° livro do ano! Acho difícil superar... 


Poemas Místicos


Dezembro é o mês de um tema do Desafio Literário que já foi muito caro para mim: poesia. Afinal, fui uma adolescente que adorava ler e escrever poesia. Mas nos últimos anos confesso que me afastei muito desse estilo, pois a leitura do dia a dia do metrô não convida a ler calmamente poemas e ficar se deleitando com eles.

Mas é o desafio! Não podia deixar esse tema passar em branco! Mas daí surgiu outro problema, acho que já li praticamente tudo o que possuo de poesias, e o que eu não li são livros absolutamente proibitivos de se carregar na rua por causa do tamanho e do peso. Foi então que me lembrei de Rumi! O grande poeta persa que viveu em Konya (hoje na Turquia) e cujo túmulo eu pude visitar na minha viagem à Anatólia nesse ano.

Saquei o livro da estante de livros sufis (sim, eu tenho uma coleção deles) e tive um final de semana delicioso com ele!

Essa edição é simplesmente uma pérola! (só para usar uma das imagens mais presentes na obra de Rumi) Ela contém uma seleção de apenas 79 poemas de Jalal ud-Din Rumi, feitos para a sua alma gêmea (no sentido literal de alma, por favor) Shams de Tabriz. Para melhorar, o livro conta com 2 introduções muito boas sobre a história de Rumi e como o encontro com Shams mudou para sempre a história tanto desse místico quanto do sufismo, além de todos que foram  influenciados pelo trabalho do grande poeta (e não foram poucos!).

E se você acha que é pouco, no final do volume tem uma sessão razoavelmente extensa que explica diversas figuras que Rumi utiliza nos seus versos. E, claro, tem as suas lindas poesias!

O tema central do Divan de Shams de Tabriz é o anseio pelo reencontro do mestre com o discípulo, do buscador com deus, do amante com o amado. É a busca de Rumi por Shams. E ainda trabalha a ideia de como depois da separação forçada, o discípulo torna-se mestre de si mesmo, como o buscador encontra deus dentro de si e o amante se torna o próprio amado, numa alquimia espiritual poderosa! É lindo!

Outro tema muito mencionado nos poemas selecionados é o Sema, o ritual sufi criado por Rumi que consiste em dançar girando em torno do seu próprio eixo até entrar em êxtase! Eu gostei especialmente desses versos.

Para quem gosta de poesia fica a dica de um livro muito bonito numa edição extremamente caprichada.

Nota 10

Como ser mulher


SPOILER FREE

Demorei mais de uma semana para parar e fazer essa resenha na esperança de que eu conseguisse encontrar mais coisas positivas sobre esse livro. Mas minha espera foi em vão.

Resolvi ler esse livro porque ele foi comentado de forma positiva ou interessante em sites sobre o feminismo que eu acompanho (para os curiosos, as resenhas podem ser encontradas aqui e aqui), e sinceramente eu estava a fim de ler algo engraçado. E qual foi a minha surpresa quando descobri que o livro não é tão feminista assim e nem é engraçado.

Para quem nunca leu absolutamente nada sobre feminismo e tem asco dessa palavra, o livro é ótimo. Mas para quem tem um mínimo de leitura ou profundidade no assunto o livro deixa muito a desejar. Lembro que algumas vezes eu chegava em casa irada com o que eu tinha lido e tinha altas discussões com o maridão feminista destruindo tudo o que o livro colocava. Foram quase duas semanas tensas de leitura. E nesse período eu ri só uma vez de uma passagem do texto, que eu nem me lembro mais qual foi.

O problema é que a autora se propõe a escrever um manifesto feminino moderno sem nunca ter estudado o assunto (ela diz que leu uma autora durante o texto, mas também só fala dela e de mais ninguém, a não ser que você considere a Lady Gaga uma grande estudiosa do feminismo). Dessa forma o texto de Caitlin Moran é mais raso do que piscina infantil, e as coisas que ela menciona como grandes descobertas dela sobre a opressão à mulher no mundo moderno não são lá grandes coisas, dado que de vez em quando os mesmos assuntos que ela aborda como uma grande opressão que ela descobriu já viraram assunto de revista de moda. Sério, se já virou assunto de revista de moda é porque todo o mundo já reparou que é uma opressão. O problema (que a Caitlin também não aborda bem) é PORQUE ninguém faz nada depois que já se jogou a m... no ventilador.

Em diversas passagens fica clara a falta de estudos da autora (pode ser por conta da infância realmente difícil que ela teve), e boa parte do texto mais parece uma redação de adolescente. Grande parte dessa impressão fica por conta de a) todas as anedotas autobiográficas que compõem a maior parte do livro, b) o uso exacerbado da linguagem da internet, com direito a muitos pontos de exclamação e caixa alta. Tem mais cara de post de blog de que de livro. Mas sei que essa última parte "estilística" é um preconceito meu. Já a falta de conhecimento de Caitlin e a linguagem adolescente eu sinceramente achei um descaso com o leitor, já que o livro não se vende como sendo escrito para adolescentes nem para quem nunca leu nada sobre o feminismo. E mesmo para quem nunca leu nada sobre o assunto, o livro diversas vezes faz um desserviço à causa. Confesso que fiquei com vergonha alheia em diversas passagens.

E eu vou parar por aqui, antes que eu diga algum spoiler no meio de um ataque de raiva.

Nota 4, porque adorei a capa.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Miss Peregrine's Home for Peculiar Children


SPOILER FREE

Já não lembro onde vi a indicação para esse livro (andei procurando pelo meu google reader, mas não achei!), só sei que a capa e o que fiquei sabendo do livro me deixaram louca de vontade de lê-lo! Foi um daqueles livros que não durou nem um mês na lista de espera.

E que surpresa agradável! Hum, quer dizer, a história não é nada agradável ou leve, mas o livro é um dos mais divertidos e originais que li esse ano! O que faz desse livro tão peculiar, sem nenhuma dúvida, são as fotos que servem de ilustração. O autor fez uma bela pesquisa em coleções privadas de fotos vintage (todas são reais, apenas algumas foram levemente manipuladas digitalmente) para dar vida aos fatos e personagens. E que fotos! Nenhuma delas é "normal", e todas carregam um pouco de terror em si... eu sinceramente tenho medo de conhecer pessoalmente qualquer um dos modelos. E claro que fica no ar a questão: quem tiraria fotos assim?

Além das fotos, que são um extra muito bem vindo, a história em si é bem interessante. Jacob é um adolescente que passou a infância inteira ouvindo histórias fantásticas do seu avô, um judeu polonês que escapou do holocausto e mais tarde ainda foi lutar na guerra! E, apesar de convencido de que essas histórias eram apenas fantasias, um dia coisas começam a acontecer, e ele passa a ver que talvez elas sejam muito mais reais do que ele imagina... talvez os amigos de infância surreais do avô sejam reais, e pior, ainda estejam vivos! Para acrescentar ainda mais à história, tudo isso pode ser parte de uma trama ainda maior, perigosa e aterrorizante!

Em termos de qualidade, o texto deixa um pouco a desejar, como livro de estréia do autor, também não podemos exigir tanto, e por isso é passável. Mas o enredo é de fisgar o leitor e não largar o livro até o final! Já o final... bem, ele não está beeeeeem lá. Vai haver uma continuação, ainda sem nome ou data prevista de lançamento :-(

Realmente há espaço para um maior desenvolvimento da história e dos personagens, e uma sequência é interessante. Mas confesso que fiquei pensando na sua real necessidade no caso, ou se foi apenas uma jogada de marketing para conseguir mais dinheiro e aumentar a venda de livros do autor. O que aconteceu com os livros que se bastam em si mesmos? Acho que estão definitivamente fora de moda. Isso me deixa triste. E confesso que não era o que eu esperava.

Agora fiquei sabendo que, apesar de ter menos de um ano de lançado, os direitos para transformar o livro em filme já foram vendidos, e já há até rumores de um possível diretor para o projeto: Tim Burton. Combina com ele. Mas fica com mais cara ainda de que a divisão do livro em mais de um volume foi só uma forma de arrecadar mais dinheiro.

Apesar de tudo, o livro é um ótimo exemplar de literatura infanto-juvenil/young adults!

Nota 8,5

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Harem Years


SPOILER FREE

Esse livro foi um grande achado que fiz durante minhas perambulações por livrarias virtuais (sim, isso é possível!), pois se trata do relato de uma mulher fantástica! Huda Shaarawi foi uma feminista egípcia nascida no século XIX, e uma das últimas mulheres a serem criadas no sistema do Harém  em vigor no Egito até início do século XX. Nesse sistema de segregação completa entre os sexos, as mulheres egípcias tinham uma vida muito limitada, não tinham acesso a uma educação formal (apenas com tutores em casa, e portanto limitado a 1- dinheiro disponível para gastar com a sua educação, que não era considerada importante, 2- limitado apenas aos assuntos definidos pela sua família - e também pelos eunucos e demais criados, vejam só), não podiam andar sozinhas na rua, e estavam sempre sujeitas a autoridade masculina.

Então surge Huda, uma mulher que teve sorte por ter uma boa formação (talvez isso seja devido a morte prematura do seu pai, quando a casa passou a ser gerida pelas suas viúvas - sim, no plural), e que apesar de ter casado muito cedo (13 anos era a idade normal para se casar na época), por um golpe do destino conseguiu passar os 7 anos seguintes longe do marido, quando conseguiu melhorar ainda mais a sua formação. Dotada desde criança de um grande senso crítico, já percebia desde cedo a diferença de tratamento entre ela e seu irmão, e isso sempre a incomodou.

Sendo de uma classe extremamente abastada, ainda pode conviver com mulheres estrangeiras, que na época estavam começando a desenhar o movimento feminista europeu, e Huda embarcou com grande paixão no tema, sendo a fundadora do movimento feminista egípcio, e a primeira mulher a retirar o véu em público no início dos anos 20!

Huda e a delegação egípcia num encontro feminista em Roma

Então, não é apaixonante? Pois esse livro traz suas memórias da sua vida no Harém, antes do seu envolvimento com o feminismo e com o nacionalismo egípcio (mas o livro tem um apêndice DIVINO que trata dessa época e que mostra o quão importante foi o movimento das mulheres para a independência do Egito). O livro foi organizado pela historiadora Margot Badran, especialista em estudos femininos e islamismo, com base no caderno escrito por Huda com suas memórias. Margot apenas juntou os assuntos de forma que a história ficasse numa ordem cronológica, e se atendo apenas ao texto que se referia aos anos vividos no Harém. Porém, como as memórias de Huda iam além disso, e incluem uma longa defesa ao nacionalismo do seu pai, Margot fez um apêndice lindo sobre a história do Egito, utilizando partes das memórias e passagens de textos importantes, como cartas e discursos políticos da época, e também reportagens de jornais.

Além disso tudo, o livro é rico em fotografias! Tem fotos do Cairo antigo, da Huda e de outras personalidades importantes da época. Um primor!

Huda sem o véu, na primeira foto de uma mulher egípcia sem véu publicada em jornais egípcios
O único defeito é que o livro é curto! Adoraria ter muito mais descrições sobre a época e a vida de Huda para ler... acho que minha próxima aquisição será a sua biografia, que já descobri que existe :-)

Nota 9

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

The Yacoubian Building - O Edifício Yacoubian


SPOILER FREE

Continuando a saga dos autores egípcios do Desafio Literário (o tema esse mês é escritores africanos, e estou aproveitando que um dos meus países de interesse fica nesse vasto continente), resolvi variar um pouco e escolhi um romance bem mais moderno: The Yacoubian Building (lançado em português como O Edifício Yacoubian).

O livro foi publicado em árabe em 2002, e desde então foi publicado em mais de 20 idiomas, virou filme indicado pelo Egito ao Oscar (sem nem ir para a indicação final) em 2006, e fez tanto sucesso por lá que virou série de TV em 2007. E isso tudo me deixou muito surpresa! Juro que não sei nem como o livro foi publicado, muito menos como virou filme e foi parar na televisão, pois dada a rigidez da sociedade egípcia, o conteúdo do livro é escandaloso, libertino e fala muito mal do governo.

Quer entender alguma coisa sobre a sociedade egípcia moderna? Está tudo lá: a corrupção reinante entre os governantes, a economia em frangalhos (com todo o desemprego a tiracolo), a hipocrisia na relação homem-mulher, a hipocrisia com relação às religiões (não só o islamismo, mas os cristãos coptas também estão presentes), os problemas pelos quais os homossexuais passam, a violência, a desigualdade, a falta de educação e saúde públicas. E tudo isso dito sem papas na língua. Com direito a cenas explícitas de tortura realizadas pela polícia e transações escusas entre políticos.

Isso tudo no livro! Ainda não vi o filme, estou tentando dar um jeito nisso :-)

Daí vocês entendem a minha surpresa por ele ter sido publicado? Para "piorar" a história do livro se passa num momento muito delicado para a memória do Oriente Médio: A Guerra do Golfo, quando o Iraque invadiu o Kwait e diversos países árabes se uniram aos americanos para libertar o vizinho "das garras de Saddam Hussein" nos idos dos anos 90. Tudo isso já é questionável por si só e, se você procurar, vai ver muitas versões para essa história. Agora imagine isso tudo sendo retratado como pano de fundo para a vida de diversos egípcios  totalmente diferentes entre si: o jovem que se torna muçulmano fanático, o "don ruan" que vive de renda da família que era aristocrata antes da revolução dos anos 50, a jovem que não consegue emprego a não ser que se deixe "à disposição" dos patrões, o cara que nasceu pobre e virou milionário e está se envolvendo na política, o malandro que vive de pequenos esquemas... e todas essas histórias tem como ponto comum o Edifício Yacoubian, que adivinha? Existe na vida real!

Pois bem, o tal edifício do título está lá no Cairo até hoje (apesar de ser diferente da descrição dada no livro), e é lá onde se localizava o primeiro consultório do autor, que vive mesmo como dentista no Egito. Aparentemente a vida literária por lá é parecida com a nossa aqui, os escritores não conseguem viver só de literatura. Mas vamos combinar que dentista não é exatamente a profissão que você imaginaria. E o cara escreve bem!

Alaa Al-Aswany escreve tão bem que diversas vezes senti vontade de sublinhar passagens do seu texto (pena que não ando com um lápis ou uma caneta junto com meus livros, teria sido muito útil dessa vez), e sua pena pode ser extremamente afiada... sem perder a linha ou passar para o vulgar, o que, vamos combinar, é muito difícil no caso da história que ele está contando. Não sei se a tradução para o português ficou tão boa quanto a em inglês, mas gostei demais de ler o livro.

Nota 9!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Beco do Pilão


SPOILER FREE

Mais um livro para o Desafio Literário! Esse é do famoso egípcio, prêmio nobel de literatura, Naguib Mahfouz, então não corri o risco de errar de continente! (o tema desse mês é escritores africanos, e o último livro que li comecei julgando que era de uma egípcia, mas descobri que a autora era libanesa! pode isso? me confundi bonito!)

Eu já virei fã do Naguib Mahfouz desde que li a Trilogia do Cairo, e já li outras obras simplesmente maravilhosas dele, como Noites das Mil e Uma Noites e Miramar, então O Beco do Pilão era um livro que gerou muitas expectativas. Ele também foi protagonista de uma grande caça pela internet, pois ele está esgotado! Mas eu consegui um exemplar no Submarino... podia ser pela Estante Virtual, eu sei, mas como sou alérgica, dou preferência a livros novos quando posso.

Voltando o livro, O Beco do Pilão é uma obra da fase realista do autor, retratando a história de diversos moradores do tal beco, no Cairo. Como se passa no final da segunda guerra mundial, as histórias são todas tristes e carregadas de ruptura com o passado do Egito, e com os problemas e dificuldades em se adaptar a uma "nova era". É interessante ver como os jovens buscam a modernidade e a mudança de vida e de status social, enquanto os mais velhos se agarram aos velhos costumes e quando pensam na atualidade é visando apenas o lucro nos seus negócios.

Tudo isso é muito interessante e muito bem trabalhado na narrativa de Mahfouz. Além disso, essa edição em específico tem um posfácio extremamente interessante, explicando alguma coisa sobre a obra do autor, sua importância na literatura árabe e esclarecendo alguns pontos que a tradução impede perceber (como o significado dos nomes em árabe e como Naguib brinca com isso para caracterizar seus personagens).

Porém, contudo, entretanto, todavia, não é o meu livro favorito dele. Acho que dessa vez, além é claro de ter lido outras obras do autor, o fato de ter lido outros livros de outras escritoras árabes me fez ver a forma como Mahfouz retrata suas personagens femininas com outros olhos. Confesso que dessa vez, ao ler as descrições delas fiquei com uma pulga atrás da orelha, como se de alguma forma, algo naquela descrição não me inspirasse tanta segurança ou verossimilhança com a realidade. E isso foi uma novidade na minha experiência com esse autor.

Fiquei com a sensação de que alguma forma que não sei precisar muito bem elas foram descritas com um pouco mais de liberdade e segurança do que teriam na realidade, como se a situação da mulher na sociedade egípcia estivesse de alguma forma amenizada ou omitida. Levando em consideração que o autor é homem isso é compreensível. Levando em consideração que ele era de esquerda e, portanto, provavelmente a favor do feminismo ou pelo menos de mais direitos para mulheres, eu confesso que esperava mais.

Mas talvez seja apenas uma forma de demonstrar que toda a limitação da situação feminina era vista pelos personagens (e talvez até pelo autor) como absolutamente normal, e portanto indigno de nota.

Mas fora essa questão, esse romance é muito carregado de drama e de discussões familiares, um pouco no estilo novela das 8, e confesso que isso também me deixou um pouco irritada. Talvez o excesso de discussões intermináveis e por motivos fúteis seja uma forma de retratar a realidade da época e do extrato social tratado no livro, mas não torna a leitura nada agradável. Se esse era o objetivo, Naguib acertou em cheio, pois a vida do beco aqui retratada é massante, repetitiva, cheia de brigas de vizinhos, pequenas e grandes tragédias e traições de todo tipo.

A falta de um personagem central também não ajuda, pois são muitas pequenas histórias para acompanhar e que se entrelaçam ao longo da narrativa. Temos a jovem Hamida, que só pensa em dinheiro e como subir de vida, sua mãe adotiva Umm Hamida, que também só quer saber de dinheiro e como tirar proveito dos casamentos que ajuda a arranjar, a Sra. Afifi, viúva e razoavelmente rica, que depois de anos sozinha resolve casar novamente, Helu, um jovem barbeiro ingênuo apaixonado por Hamida, seu melhor amigo Hussein, que só quer saber de sair do beco e viver no "mundo moderno", o pai de Hussei, Kircha, viciado em haxixe, dono do café do beco e com tendências sexuais pouco ortodoxas... ainda tem o padeiro e sua esposa, o companheiro de quarto de Helu, o dervixe que está sempre no bar, o dentista sem graduação, o malandro que vive de "criar mendigos", o dono da única empresa do beco e o grande homem espiritual a quem todos recorrem para conselhos. É muita gente! Parece novela mesmo!

Mas apesar disso tudo, é Naguib Mahfouz, e mesmo sem ser um dos seus melhores livros não pode ser classificado como ruim nem de longe.

Nota 8,5.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

The Story of Zahra


SPOILER FREE

Novamente estou escrevendo logo depois de ler... e dessa vez a invés de raiva sinto como se tivesse levado uma surra. O livro da libanesa Hanan Al-Shaykh é um soco no estômago.

Numa história alucinante e permeada de tragédias, ela conta a história de Zahra, desde a sua infância até a idade madura, e como a sociedade esquizofrênica em que ela vive a deixou com alguns parafusos a menos. Tudo isso com a história do Líbano ao fundo, incluindo a guerra civil que devastou Beirute.

É tanta loucura e violência de todo tipo que não dá nem para sentir raiva, só ficar tonta e completamente abismada: como isso tudo pode acontecer? Quão insensíveis, cruéis e loucas as pessoas precisam ser para que esse tipo de coisa possa ser realidade? Ah, sim, porque a parte da guerra é real.

Hanan não poupa ninguém, não há inocentes nessa história, nem as vítimas (até mesmo as mais injustiçadas tem os seus momentos de vingança perversa). É muito duro isso. Ver esse tipo de verdade tão nua e crua sendo colocada na nossa frente. Dói a alma. Você torce para que as pessoas saiam dos seus ciclos viciosos, mas ao mesmo tempo vê que elas não tem alternativa a não ser continuar caminhando rumo ao abismo. E o fundo do poço é aterrador.

Estou surpresa com a força da literatura feminina árabe... queria ter descoberto esses livros mais cedo!

Nota 10

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Woman at Point Zero


SPOILER FREE

Acabei de terminar esse livro... sério, faz apenas pouco mais de 2 horas que virei sua última página, e ainda não consigo definir tudo o que se passa dentro de mim depois de lê-lo. Sei que há uma mistura de raiva, com revolta, ódio e muito alívio por não viver numa sociedade como a da Firdaus. Como um livro de pouco mais de 100 páginas pode ter tanto impacto?

Se eu já era feminista, agora sou mais. E não só por todo o sofrimento e humilhação que o livro mostra, mas pelo sistema que permite que tudo isso ocorra e que é tão bem demonstrado nas suas páginas. Tudo bem que não vivemos no extremo que o livro narra, mas tampouco vivemos livres como seria desejável e necessário para uma sociedade chamada de evoluída ou democrática. Não há como ter democracia sem igualdade. E a desigualdade da condição feminina é a pior que pode existir, não só por atingir mais de metade da população do planeta, mas pela sua extrema crueldade que se alimenta de si mesma e portanto se repete de geração em geração. E o pior de tudo: é feita de tal forma que muitas pessoas nem percebem os seus reais contornos e lidam com os seus preconceitos como se fosse algo natural. O bacana de ver esse tipo de sistema numa cultura diferente da nossa é justamente para perceber algumas partes dele, justamente nos pontos em que ele se diferencia do nosso. Quem sabe assim não nos ajuda a ver parte das nossas próprias grades?

Lembrando que apesar de tudo eu ainda sou privilegiada (pois afinal de contas sou branca, heterossexual e não sou pobre), fico ainda mais indignada e triste com a situação daquelas que tem ainda mais problemas do que eu. Nesse momento vejo como tenho sorte, muita sorte. Não consigo dizer o que eu faria se estivesse no lugar da protagonista, nem de outras mulheres em situação mais precária, mas sei que meu corpo arde de raiva quando leio sobre o assunto.

Voltando ao livro, ele foi escrito por uma egípcia (por isso entra no Desafio Literário do mês!), formada em psiquiatria. Ela é uma raridade na sociedade egípcia, pois se formou no início dos anos 60 e foi educada da mesma forma que seus irmãos do sexo masculino. Chegou a trabalhar para o governo egípcio, até haver uma mudança na sua política e ela passou a ser uma militante perseguida por seus ideais feministas. Chegou a passar alguns anos presa, e viveu outros tantos no exílio. Pode-se dizer que ela escreve com conhecimento de causa. Inclusive, a história narrada é real (com algumas adaptações, claro, mas os acontecimentos narrados são reais), obtida em entrevistas com mulheres presas por conta de uma das suas pesquisas em psiquiatria, o que deixa tudo ainda mais horripilante e dá ainda mais raiva.

De qualquer forma, é uma leitura obrigatória, e pode mudar a forma de ver a vida de uma pessoa.

Nota 10.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Histórias para não dormir


SPOILER FREE

Eis um livro que veio parar nas minhas mãos de forma pouco convencional... eu estava numa festa de aniversário, quando um amigo meu (vizinho do aniversariante em questão) veio me falar desse livro. Como ilustrador, ele achava o livro muito bonito, o que me deixou curiosa, dado que se trata de histórias de terror! Ao ver o meu interesse, esse amigo não perdeu tempo: foi até a sua casa (alguns andares acima) e trouxe o dito cujo para que eu olhasse.

Não deu outra, passei uma parte da festa num canto bebendo dry martíni acompanhada do livro. E justamente por ser um livro de contos curtos e por ser em quadrinhos, ele não durou nada na minha mão. O que foi bom, pois ainda consegui aproveitar parte da festa!

O livro é uma coletânea de contos de mestres como Guy de Maupassant, Sheridan Le Fannu, Edward White, J. William Polidori, Catherine Crowe, Robert Stevenson e Edgar Allan Poe. Cada um tem um conto adaptado e ilustrado pelo espanhol Pedro Rodríguez (ele tem um site fofo, veja aqui).

Todos os contos são interessantes, uns mais do que outros, claro. Pessoalmente eu gostei mais do último conto, do Poe, chamado "O Gato Preto", seguido do primeiro conto, "A Mão", cujo autor me escapa da memória. Tem história de vampiro, de fantasma, algo parecido com zumbis... enfim, é uma grande salada mista da literatura de terror do século XIX, e o tempo gasto com ele é muito bem aproveitado.

Mas confesso que depois de ler Stephen King e a literatura de terror atual com seus detalhes escatológicos, os contos de terror "de antigamente" deixam de ser tão assustadores, parecendo quase infantis, mas mesmo assim não perdem o seu charme. Não chega e dar insônia como promete o título (não para mim, pelo menos, O Iluminado foi muito muito muito muito pior nesse sentido), mas é o tipo de história bacana de se contar no escuro só com uma lanterna ligada!

Nota 8,5

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Inheritance


SPOILER FREE

E mais de 2 anos depois de ter o início da série (apesar do livro ter chegado lá em casa no início do ano, o desafio literário me manteve ocupada até agora), finalmente li o último livro do Christopher Paolini! Foi meio estranho, pois como fazia muito tempo desde que li os livros anteriores, havia muita coisa que eu já não me lembrava direito... mas conforme a história foi andando e o autor foi mencionando o passado de Eragon, as coisas ficaram melhores nesse sentido.

Agora, o autor me deixou chateada, eu sei que gostei do terceiro livro, mas juro que dessa vez, conforme fui lembrando o que aconteceu anteriormente e juntando com tudo o que aconteceu nesse quarto volume, não pude deixar de achar que Paolini estava me enrolando. É um excesso de informação e detalhes que, sério, duvido da sua real importância para a narrativa. Diversas vezes me peguei pensando "que saco, por que a história não anda???". E depois que a história acaba, o livro ainda tem umas 100 páginas!!!! Pura enrolação!

O clímax da história começa na metade do livro! E enrola, enrola, enrola... ainda bem que durante esse mês eu tirei folgas de Inheritance para ler as Graphic Novels do desafio literário.

Agora a parte positiva: o autor sabe descrever batalhas! Todas (e são muitas, acredite) são muito boas e bem descritas, realmente eletrizante! Valeu a pena a enrolação entre elas só para passar pelas emoções dos confrontos! Além disso, o mundo criado por Paolini é muito interessante, a forma como Alagaësia foi criada, as raças foram dominando o seu espaço, e o jeito como funciona a magia é muito interessante e bem montado! A parte das línguas que ele criou é interessante, mas para mim não chamou tanta atenção, gosto mais da mitologia da coisa mesmo.

Anteriormente eu comparei o trabalho do autor com Senhor dos Anéis, e a comparação é válida (inclusive na lenga lenga, excesso de detalhes e até em músicas - apesar de não ter músicas nesse livro), mas no final acho que ele resolveu se inspirar em História Sem Fim II ou III (não lembro qual deles tem o final parecido com o do livro). Eu juro que esperava algo mais interessante ou elaborado, e não algo como: sério, do jeito que a coisa tá indo eles não vão conseguir, mas aí na última hora alguém tem uma ideia brilhante (e bizarra e meio plágio de filme) que resolve o problema. Não gostei da solução do autor, mas isso é culpa dele mesmo, que tanto alongou a história que deixou os seus personagens sem saída. Sabe o problema de tornar os seus personagens tão "overpower" que a coisa ou perde a graça ou você tem que apelar muito pra conseguir resolver o enredo? Paolini apelou feio.

Mesmo assim, o saldo do livro (e da saga) é positivo, pois apesar de todos os defeitos, a leitura é agradável (na maior parte do tempo) e dinâmica (na maior parte do tempo). Temos que levar em consideração também a idade do autor, pois fazer o que ele fez antes dos 30 não é para qualquer um. O rapaz tem talento.

Acho que vale a pena continuar acompanhando o trabalho dele, tem muito a melhorar, mas ele está num bom caminho.

Nota 8 para Inheritance e para a saga como um todo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Meme Literário de Um Mês - 2012 - Dia 31



Dia 31 - Qual o livro que você leu esse ano que mais gostou? Fale sobre ele.

Ai, esse ano essa pergunta vai ser difícil... gostei de muitos livros... dentre os que mais gostei estão:

Como água para chocolate: achei que fosse ser uma novelona mexicana, mas é literatura de primeira qualidade.

O Quinteto Islâmico do Tariq Ali: 5 livros primorosos... Sombras da Romãzeira, O Livro de Saladino, A Mulher de Pedra, Um Sultão em Palermo e A Noite da Borboleta Dourada. Cada um se passa numa época diferente (tipo séculos diferentes), num país diferente e com personagens diferentes, e juntos eles compõe uma belíssima colcha de retalhos sobre o mundo islâmico. E todos os livros são muito bons! 

A Mulher do Viajante no Tempo: um livro que me surpreendeu demais, não imaginava que fosse tão bom. E é muito divertido, apesar do final ser angustiante.

A Hora da Estrela: apesar do meu preconceito, eu ainda leio livros nacionais :-) e Clarice foi alçada ao posto de diva com esse livro.

American Gods: acho que é o melhor livro do Neil Gaiman, foi um dos que levou nota 10 esse ano, e super merecido.

Habibi: minha primeira Graphic Novel lida até o fim... além de ser linda de morrer e ter uma história absolutamente tocante.


Dia 01 – Que livro você está lendo? Sobre o que é? Onde você está? Você está gostando?
Resposta aqui.
Dia 02 – Qual foi o último livro que leu e qual é o próximo livro que lerá? Fale um pouco sobre eles.
Resposta aqui.
Dia 03 – Como você escolhe seus livros? Por autor? Por assunto? Pela sinopse? Por uma indicação? Fale sobre isso.
Resposta aqui.
Dia 04 – Você costuma lê certo livro só porque ele está em voga? Você é do tipo que lê o que todo mundo está lendo só para estar na “moda” ou segue o seu próprio estilo de leitura?
Resposta aqui.
Dia 05 – Você costuma ler graphic novels e/ou gibis?  Gosta? Não gosta? Tem algum que seja o favorito? Fale sobre isso.
Resposta aqui.
Dia 06 – Um livro que todos deveriam ler pelo menos uma vez. (Pergunta feita no Meme de 2010. Se você participou na época, procure comparar as respostas.)
Resposta aqui.
Dia 07 – Você já pensou em escrever um livro? Se sim, sobre o que seria? Fale um pouco sobre o assunto.
Resposta aqui.
Dia 08 – Cite um livro que você gostaria que nunca acabasse. Por que?
Resposta aqui.
Dia 09 – O que você acha dessa “moda” de livros que acabam virando séries? É a favor? É contra? Não fede nem cheira? Diga o por quê.
Resposta aqui.
Dia 10 – Spoilers te assustam? Fica triste quando lê algum sem aviso prévio ou não faz diferença saber detalhes essenciais da história?
Resposta aqui.
Dia 11 – O que faz um grande escritor? O que faz um grande livro? Quais são as qualidades essenciais em ambos, na sua opinião, para que eles estejam entre os melhores?
Resposta aqui.
Dia 12 – Você prefere livros narrados em primeira ou em terceira pessoa? Na sua opinião, o tipo de narrador pode influenciar a história do livro? Fale sobre o assunto.
Resposta aqui.
Dia 13 – Cite um trecho de um livro que você gosta.
Resposta aqui.
Dia 14 – Você costuma frequentar bibliotecas? A biblioteca municipal? A da faculdade? Quantos livros costuma pegar? Fale um pouco sobre o assunto.
Resposta aqui.
Dia 15 – Se você pudesse escolher um único livro para ganhar/comprar até o final do ano, qual seria?(Pergunta  feita no Meme de 2011. Se você participou na época, procure comparar as respostas. Ainda é o mesmo livro? Você acabou conseguindo o livro escolhido da época?)
Resposta aqui.
Dia 16 - O que te faz largar a leitura de um livro no meio do caminho? Que defeitos imperdoáveis um livro tem que ter para você abandoná-lo?
Resposta aqui.
Dia 17 – Na sua opinião, qual é o propósito da literatura? Entreter? Educar? Ampliar horizontes? Fale um pouco sobre isso.
Resposta aqui.
Dia 18 – Você costumar ler e-books? Ou prefere o bom e velho livro em papel? Por que? (Pergunta feita no Meme de 2011. Se você participou na época, procure comparar as respostas.)
Resposta aqui.
Dia 19 – O que você acha da elitização da literatura? Você acha que realmente só é intelectualizado aquele que lê os clássicos da literatura? Que ler 1000 livros “de banca” não equivalem a 10 clássicos? O que você acha das pessoas que criticam a literatura “para a massa”, os blockbusters literários? É mesmo possível julgar o nível de intelecto de uma pessoa pelo que ela lê? Você tem algum preconceito literário?
Resposta aqui.
Dia 20 – Cite 3 livros especiais na sua vida. Fale sobre eles.
Resposta aqui.
Dia 21 - Cite 3 personagens literários favoritos. Fale sobre eles.
Resposta aqui.
Dia 22 – Cite 3 escritores que você gosta. Fale sobre eles.
Resposta aqui.
Dia 23 - Com que frequência você lê fora de sua zona de conforto? Você costuma abrir os horizontes para novos escritores, gêneros, países quando o assunto é leitura ou você lê sempre o mesmo dos mesmos?
Resposta aqui.
Dia 24 – Cite um livro que você achou que não iria gostar e acabou adorando. Fale sobre ele. (Pergunta feita no Meme de 2011. Se você participou na época, procure comparar as respostas.)
Resposta aqui.
Dia 25 – Cite um livro que você achou que iria gostar e acabou não gostando. Fale sobre ele. (Pergunta feita no Meme de 2011. Se você participou na época, procure comparar as respostas.)
Resposta aqui.
Dia 26 – Fale de alguns hábitos literários seu. Como inspiração, veja a lista 1 e a lista 2 que fiz há algum tempo.
Resposta aqui.
Dia 29 - Qual foi o último livro que você comprou? Fale sobre ele.
Resposta aqui.
Dia 30 - Qual o livro que você leu esse ano que menos gostou? Fale sobre ele.
Resposta aqui.