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domingo, 30 de maio de 2021

Ruína e ascensão - Ruin and Rising - The Shadow and Bone Trilogy #3


SPOILER FREE

E finalmente cheguei no terceiro e último livro da primeira série do Grishaverse, da autora Leigh Bardugo! Depois de dois livros, Sombra e Ossos e Sol e Tormenta, chegamos ao fim da história da conjuradora do sol Alina Starkov com o emocionante título Ruína e Ascensão.

Depois de volumes interessantes e bem escritos, apensar do eterno tema da identidade revelada que muda tudo, eu esperava mais do final da série Grisha, que quando foi lançado não tinha perspectiva de séries seguintes no mesmo universo.

Uma coisa não decepcionou, claro que o livro conta com uma revelação de verdadeira identidade. Infelizmente ela fica muito clara no início do livro, mas os personagens só descobrem quase no final. É irritante.

O pior para mim de Ruína e Ascensão é que me pareceu que a autora foi aumentando a criticidade da situação das personagens até o ponto do é tudo ou nada. O que nada tem de errado em si, é interessante e um clímax de respeito. Mas, ela se viu numa sinuca de bico: como tornar o final aceitável a partir daí? E então, pra mim, ela tomou a decisão mais preguiçosa possível para agradar os fãs. Uma grande oportunidade perdida de se diferenciar de outros livros do gênero.

Depois de tantos arcos interessantes e escolhas difíceis que a autora impôs a Alina, Mal e Nicolai, o fim da história soa muito simplista. E não direi mais nada sobre isso.

Fora isso, o livro novamente é cheio de ação, a leitura é fácil e dinâmica. Mas, de todos os três, é o pior, o que é muito triste, considerando que é o último.

Mesmo assim, fiquei animada de ler as outras séries que se passam no Grishaverse, o que pretendo fazer antes da próxima temporada do Netflix, para melhor avaliar a junção de histórias que decidiram fazer.

Nota 6.

Nota da série: 7,5.

Sol e tormenta - Siege and Storm - The Shadow and Bone Trilogy #2


 

SPOILER FREE

Depois de ler o primeiro livro da Trilogia Grisha, Sombra e Ossos, e assistir a primeira temporada da série no Netflix, ler o volume seguinte era inevitável. Então, sem mais delonga peguei Sol e Tormenta, na tradução meio torta de Siege and Storm, da autora Leigh Bardugo.

Como explicado na resenha do primeiro volume, a primeira Trilogia no universo Grisha não tem os personagens de Six of Crows, centrando-se na história de Alina Starkov, a escolhida a conjuradora do sol, chamada também de Santa Alina pelos devotos da religião local. Nessa continuação, acompanhamos a tentativa dela e do Mal de se esconderem e fugirem do Darkling, que eles não sabem se sobreviveu ou não à travessia da Fenda, o que, pra quem viu a série no Netflix não é nenhum spoiler.

Então, eles realmente precisam fugir do conjurador de sombras, e terminam num barco, onde boa parte do enredo desse volume se passa, e onde, adivinha, surge um personagem cuja verdadeira identidade vai ser revelada! E sim, a grande reviravolta desse livro ocorre em torno dessa revelação. Eu não disse que Leigh Bardugo tem um amor pouco saudável a esse clichê?

Clichês repetidos à exaustão à parte, o enredo é bastante agitado e cheio de cenas de ação, com menos foco nas questões amorosas de Alina, o que é uma vantagem com relação ao livro anterior. Alina como personagem cresce bastante nesse volume, e toma decisões corajosas, o que me agradou muitíssimo. Esquece a Alina do Netflix, a do livro é uma delícia de acompanhar e ver o desenvolvimento e em sua complexidade.

Mas, como bom livro best-seller comercial, rola seguir uma fórmula. É uma fórmula que deu certo? Sim. É gostoso de ler e tem lá a sua originalidade? Sim de novo. Mas ainda é uma fórmula e algumas coisas a gente cheira de longe por causa disso.

E mesmo assim a leitura é cativante. Existe uma boa razão para o seu sucesso, é um Young Adult de qualidade. Vale as páginas todas e o frisson em torno das séries Grisha é justificável.

Vale dizer também que estou ansiosa por ver a próxima temporada do Netflix e, em especial, para ver o casting de personagens importantes desse livro, como Nicolai e os gêmeos Tamar e Tolya. Torço para que sejam bons atores, vai precisar para capturarem a complexidade deles.

Nota 8,5.

Sapiens: A Brief History of Humankind - Uma breve história da humanidade


 

SPOILER FREE

Esse livro já estava na minha lista de "para ler ontem" há alguns anos, preciso confessar. Daí me inscrevi num curso online, salvação da sanidade mental durante a pandemia, sobre a obra do autor e historiador israelense Yuval Noah Harari, e me vi numa correria para tentar ler pelo menos esse livro para aproveitar melhor as aulas.

Não consegui ler toda a ementa do curso, entretanto, consegui ler essa obra-prima de não ficção. Aparentemente Yuval, por ser um professor novato na universidade onde ele trabalha em Israel, foi selecionado, sem poder negar, para dar um dos cursos introdutórios de história, com o tema "uma breve história da humanidade". E ele, como uma pessoa absolutamente brilhante e super dotado (sim, isso é fato, ele é mesmo super dotado), deu o tal curso de forma tão original e envolvente que sua aula introdutória ficou famosa entre os estudantes, e todos queriam fazer suas aulas. A coisa tomou uma proporção tão grande, que ele foi chamado para transformar seu curso num livro, e foi aí que surgiu Sapiens.

Sapiens, continuando a fama do curso, se tornou um best-seller mundial, traduzido em dezenas de idiomas e vendendo muito bem em todos os continentes. Desde então, Yuval já publicou mais uns três livros, todos bem vendidos, mas não tão bem quanto esse primeiro, se tornou palestrante habitual no Ted Talk, foi chamado para falar em diversos locais ao redor do mundo, incluindo debates com grandes políticos e pensadores, se tornou o professor carro-chefe da sua universidade e uma figura respeitadíssima em Israel, apesar de ser homossexual e contra o atual governo israelense.

Sentiu o peso do homem? Pois bem, eu não sabia de nada disso quando parei para ler Sapiens. E tenho que dizer que o livro é realmente arrebatador. A grande novidade dessa obra é a habilidade do autor de pensar fora da caixa e dos padrões. Ele consegue dar uma roupagem absolutamente original e contemporânea para um assunto que poderia ser terrivelmente chato e árido, e o é em incontáveis livros, vamos ser sinceros. Além disso, por conseguir trazer um novo ângulo para o tema, Yuval consegue tirar novas conclusões e lições que são muito relevantes para entender os dias de hoje. Não é pouca coisa.

O livro não é exatamente pequeno, tem mais de 400 páginas, mas a leitura passa rápido, é leve, em termos, e dinâmica. Em outras palavras, é uma beleza e um feito para um texto de origem acadêmica. E não se engane, apesar da linguagem aparentemente simples, o texto é acadêmico, com uma quantidade impressionante de fontes, mas com a qualidade incomum de ser acessível para quem não é do meio.

Para deixar a coisa ainda melhor, talvez por ele ser do Oriente Médio, ele consegue contar uma versão de uma breve história da humanidade que não é centrada na Europa. Uma quantidade grande, se não a maioria, dos eventos e exemplos que ele dá ao longo do seu texto não são eurocêntricos, e mesmo quando são, não são relatados do ponto de vista Europeu. Isso é fantástico, e infelizmente, bastante raro.

Como não historiadora, não posso julgar a parte técnica do seu trabalho, mas, pelo o que vi de historiadores, esse livro é bastante elogiado. Os que reclamam, costumam reclamar das partes em que Yuval se arrisca a dizer o que ele acha que vai acontecer, o que é um certo tabu no meio, ou então reclamam do fato de que ele não é especialista no ramo, o que, pra mim, é um elogio. 

Mas no fundo, isso não importa, porque o livro é uma delícia de ler, e você se sente mais inteligente no final. Tem leitura melhor?

Nota 10.

Os da minha rua


SPOILER FREE

E quase no apagar das luzes do mês, aproveitei para tirar da estante o escolhido para o tema do Desafio Literário Popoca de maio: livros escritos originalmente em português! Dessa vez optei pelo premiadíssimo angolano Ondjaki com o seu vencedor do Grande Prêmio de Conto Camilo Castelo Branco de 2007: Os da minha rua.

Para quem nunca ouviu falar de Ondjaki, alcunha do angolano Ndalu de Almeida, ele é um poeta e escritor nascido em Luanda, Angola, em 1977, formado em sociologia, estudos africanos e teatro. Ele escreve de tudo, poesia, contos, romances, livros infantis, infantojuvenis e adultos. Já ganhou diversos prêmios, como o Jabuti (AvóDezanove e o segredo do soviético, 2010) e o José Saramago (Os transparentes, 2013), para dizer só dois. Seus livros já foram traduzidos para diversos idiomas, e boa parte da sua obra já foi publicada no Brasil, o que é uma maravilha.

No Brasil, você vai encontrar suas obras editadas pela Companhia das Letras, pela Pallas e pela Língua Geral. É um autor africano bastante disputado, como se pode notar, o que não é comum.

Pessoalmente sou muito fã do seu trabalho, tudo o que já li dele é de uma beleza ímpar, não importa o gênero literário, e sou afortunada, já li diversas de suas obras. Os da minha rua não foge à regra de que Ondjaki escreve admiravelmente bem.

Nesse livro de contos, todos bem curtinhos, o autor caminha por suas memórias de infância em Luanda, nos anos 80. Vale mencionar que nessa época o país passava por uma guerra civil, entre um partido comunista e um partido anticomunista, de forma que Angola era um terreno de guerra por procuração entre os EUA e a URSS. Não tenho certeza de quão autobiográficos os contos realmente são, mas as histórias soam sinceras, e apesar de não entrarem na questão política que marcava o país, a presença soviete está lá em quase todos os momentos, de pano de fundo. O que é interessante, pois, como numa visão infantil, o autor não julga aquilo, eles simplesmente estão lá. E essa presença é marcante em diversas obras de Ondjaki.

Em Os da minha rua, o autor usa os contos não exatamente para contar uma história, ou várias, mas sim, como num álbum de fotografias, para construir um conjunto de imagens de uma época, que apesar de serem suas memórias pessoais, são capazes de dar um panorama do que era ser criança em Luanda nesses anos. E, quem foi criança nos anos 80 no Brasil, vai ver diversas similaridades no mínimo curiosas. E quem não foi, sentirá aquele gosto nostálgico de ser criança, porque no fundo, são histórias e momentos muito humanos que o autor descreve.

E como ele descreve... Ondjaki tem um talento para palavras, seu texto tem uma beleza simples, que no fundo esconde uma sofisticação e erudição interessantes. Sua prosa tem um quê de poético e cria imagens belíssimas e cheias de sinestesia que são características do autor. Não é à toa que ele ganhou tantos prêmios, e que tudo o que ele escreve acaba sendo bonito e gostoso de ler.

Recomendo realmente qualquer coisa dele. Mas, se você quiser começar por Os da minha rua, será uma belíssima porta de entrada.

Nota 10.