SPOILER FREE
Esse livro já estava na minha lista de "para ler ontem" há alguns anos, preciso confessar. Daí me inscrevi num curso online, salvação da sanidade mental durante a pandemia, sobre a obra do autor e historiador israelense Yuval Noah Harari, e me vi numa correria para tentar ler pelo menos esse livro para aproveitar melhor as aulas.
Não consegui ler toda a ementa do curso, entretanto, consegui ler essa obra-prima de não ficção. Aparentemente Yuval, por ser um professor novato na universidade onde ele trabalha em Israel, foi selecionado, sem poder negar, para dar um dos cursos introdutórios de história, com o tema "uma breve história da humanidade". E ele, como uma pessoa absolutamente brilhante e super dotado (sim, isso é fato, ele é mesmo super dotado), deu o tal curso de forma tão original e envolvente que sua aula introdutória ficou famosa entre os estudantes, e todos queriam fazer suas aulas. A coisa tomou uma proporção tão grande, que ele foi chamado para transformar seu curso num livro, e foi aí que surgiu Sapiens.
Sapiens, continuando a fama do curso, se tornou um best-seller mundial, traduzido em dezenas de idiomas e vendendo muito bem em todos os continentes. Desde então, Yuval já publicou mais uns três livros, todos bem vendidos, mas não tão bem quanto esse primeiro, se tornou palestrante habitual no Ted Talk, foi chamado para falar em diversos locais ao redor do mundo, incluindo debates com grandes políticos e pensadores, se tornou o professor carro-chefe da sua universidade e uma figura respeitadíssima em Israel, apesar de ser homossexual e contra o atual governo israelense.
Sentiu o peso do homem? Pois bem, eu não sabia de nada disso quando parei para ler Sapiens. E tenho que dizer que o livro é realmente arrebatador. A grande novidade dessa obra é a habilidade do autor de pensar fora da caixa e dos padrões. Ele consegue dar uma roupagem absolutamente original e contemporânea para um assunto que poderia ser terrivelmente chato e árido, e o é em incontáveis livros, vamos ser sinceros. Além disso, por conseguir trazer um novo ângulo para o tema, Yuval consegue tirar novas conclusões e lições que são muito relevantes para entender os dias de hoje. Não é pouca coisa.
O livro não é exatamente pequeno, tem mais de 400 páginas, mas a leitura passa rápido, é leve, em termos, e dinâmica. Em outras palavras, é uma beleza e um feito para um texto de origem acadêmica. E não se engane, apesar da linguagem aparentemente simples, o texto é acadêmico, com uma quantidade impressionante de fontes, mas com a qualidade incomum de ser acessível para quem não é do meio.
Para deixar a coisa ainda melhor, talvez por ele ser do Oriente Médio, ele consegue contar uma versão de uma breve história da humanidade que não é centrada na Europa. Uma quantidade grande, se não a maioria, dos eventos e exemplos que ele dá ao longo do seu texto não são eurocêntricos, e mesmo quando são, não são relatados do ponto de vista Europeu. Isso é fantástico, e infelizmente, bastante raro.
Como não historiadora, não posso julgar a parte técnica do seu trabalho, mas, pelo o que vi de historiadores, esse livro é bastante elogiado. Os que reclamam, costumam reclamar das partes em que Yuval se arrisca a dizer o que ele acha que vai acontecer, o que é um certo tabu no meio, ou então reclamam do fato de que ele não é especialista no ramo, o que, pra mim, é um elogio.
Mas no fundo, isso não importa, porque o livro é uma delícia de ler, e você se sente mais inteligente no final. Tem leitura melhor?
Nota 10.