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domingo, 30 de agosto de 2020

Extraordinário - Wonder


SPOILER FREE

Nada como fechar o Desafio Literário Popoca de agosto, com o tema livro escrito sob pseudônimo com algo extraordinário e uma piadinha infame.

O livro Extraordinário, lançado em 2012 e que virou filme em 2017 com grandes nomes como Julia Roberts e Owen Wilson, foi escrito por R. J. Palacio, pseudônimo da escritora americana de origem colombiana Raquel Jaramillo. O livro foi um grande sucesso, e continua vendendo bem anos depois, com direito aos devidos spin-offs.

De alguma forma, Extraordinário é importante na visibilidade que tanto se fala hoje em dia, visto que seu personagem principal, August Pullman, é uma criança com uma síndrome genética que o leva a ter uma mal formação crânio-facial (li por aí que se trata da síndrome de Treacher Collins, mas não tenho certeza). E como o livro é voltado para o público infantojuvenil, ele ganha ainda mais relevância.

Claro que é um livro tipo armadilha, feito sob medida para você chorar no final, porque é óbvio que Auggie, nosso protagonista que é capaz de fazer adultos levarem um susto e crianças chorarem quando o veem, vai passar por poucas e boas. E ele também foi escrito como uma grande lição para seus leitores mais jovens, o que o torna um tanto quanto açucarado.

É complicado escrever algumas coisas sobre um livro com uma história relevante e de sucesso, mas estamos aqui pra isso.

Extraordinário é um livro que eu já dei muito de presente, mas confesso que ainda não tinha lido. Agora que li, não me arrependo dos presentes, mas entendo se alguns dos presenteados não curtiu muito, e, sinceramente, darei preferência a outros livros a partir de agora.

O problema de Extraordinário é que ele passa açúcar demais em realidades muito duras e difíceis. E tenho certeza que as crianças são capazes de perceber isso. Para quem gosta de histórias que são felizes mesmo quando são tristes é uma leitura incrível. Excelente se você está triste ou deprimido.

Porém, para um livro que era para falar de representatividade, de tolerância e de aprender a conviver com o diferente, ele é um pouco fantasioso demais. E cheio, cheio, cheio de clichês.

Como primeiro livro da autora, acho que ela se saiu bem, afinal, o primeiro livro dificilmente será o melhor. Espero que ela tenha superado seu medo de coisas tristes, complicadas e ruins nos livros seguintes. Mas, sendo sincera, Extraordinário não faz jus ao seu título.

Vale a leitura, mas não aposte alto.

Nota 8.

A súbita aparição de Hope Arden - The Sudden Appearance of Hope


SPOILER FREE

Agosto está acabando, mas ainda dá tempo de colocar no ar as resenhas do Desafio Literário Popoca do mês, cujo tema é um livro escrito sob um pseudônimo!

Aproveitei o tema para ler mais um livro da maravilhosa Claire North, que já apareceu por aqui com As primeiras quinze vidas de Harry August. Pois bem, Claire North é um dos pseudônimos da escritora Catherine Webb, que já ganhou diversos prêmios por seus livros. Como Claire North ela prima por suas histórias de realismo fantástico, como também é o caso de A súbita aparição de Hope Arden, na tradução de Portugal, porque o livro ainda não foi publicado no Brasil.

Pela primeira vez a autora traz uma protagonista feminina, Hope Arden, que tem o estranho poder de ser absolutamente esquecível. Você pode passar horas conversando com ela, mas se em um minuto você para para prestar atenção em alguma outra coisa que não seja Hope, ela foge completamente da sua memória. Ela e tudo o que você conversou com ela.

Só uma personagem com essa característica já é pano para manga para uma história sensacional e com um viés psicológico intenso para a protagonista, que se encontra eternamente sozinha e sem conhecidos, o que é devidamente explorado pela autora. Mas Claire North gosta também de tornar esse tipo de personagem apenas mais uma das partes dos seus enredos complexos.

Hope tira algum tipo de proveito da sua situação única, claro, e se torna uma ladra profissional, e com uma forma de atuação bastante incomum. Ela é pega algumas vezes, mas, quem se lembra não é mesmo? Até que ela se depara com algo que promete mudar o mundo, o aplicativo Perfection.

O aplicativo promete transformar seus usuários em pessoas perfeitas, perfeitamente belas, perfeitamente bem vestidas, perfeitamente bem atendidas em lugares exclusivos e também perfeitos. Em troca, ele tem acesso total à toda vida do usuário. Toda a vida.

Hope, apesar de ser totalmente esquecível por humanos, não é esquecida por máquinas, e por isso ela decide ficar distante de Perfection. Porém, quando uma pessoa de quem ela gosta se suicida, ela imediatamente culpa o aplicativo e a empresa por trás dele, iniciando um grande enredo de gato e rato, com direito a terrorismo, perseguições e tramas extremamente complexas de espionagem.

Apesar da história ser contada do ponto de vista de Hope, com todo o peso psicológico que ela traz, o livro é recheado de personagens incríveis, com direito a muita ação e adrenalina. É um livro que dá muito gosto de ler, e cheio de passagens belamente escritas e que questionam o atual status de vigilância que as pessoas aceitam em suas vidas.

Claire North sabe montar enredos com essa cara, que poderiam ser fantásticos e bem mais básicos, mas ela não se limita ao básico e vira a história de tudo quanto é ângulo, trazendo profundidade para os seus textos. Não é à toa que ela já recebeu tantos prêmios, são todos merecidos.

Nota 10!