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terça-feira, 30 de março de 2021

Olhos d'água


 

SPOILER FREE

Para fechar o Desafio Literário Popoca de março, com o tema escritoras, resolvi fazer uma escolha sem chance de errar: Conceição Evaristo.

Para quem não conhece ainda, Conceição Evaristo é uma escritora negra brasileira nascida em Minas Gerais, numa família pobre. Tanto que ela foi a primeira da sua casa a conseguir um diploma universitário, sendo que hoje ela é doutora. Uma das suas obras mais famosas é Becos da Memória, lançado 20 anos depois de ter sido escrito por motivos de preconceito.

Dessa vez, em Olhos d'água, a autora nos traz um livro de contos que, talvez se não fosse por ela, jamais seriam impressos. Conceição dá voz a personagens que não têm vez, que não saem em jornal com nome próprio, isso, se saírem, mesmo que a seja por motivo de morte trágica. São os favelados, os em situação de rua e desvalidos. Suas histórias, mesmo com a poética que a autora é capaz de imprimir, são muito mais denúncias do que enredo de livro comercial.

E por isso mesmo essa leitura é importante, por mais que seja dura.

Nesse sentido, a poética de Conceição Evaristo ajuda: é a camada de açúcar num remédio muito amargo, que não cura nada, só faz abrir os olhos. O que pode ser, em alguns casos, terapêutico. É bastante sintomático que histórias como as de Olhos d'água, que são muito mais comuns do que deveriam ser, sejam tão incomuns de serem contadas.

Por isso mesmo, por mais duro que seja, que precisamos delas. Precisamos delas para conhecer, para dar espaço e voz, e, principalmente, para nos mantermos empáticos em meio à situação calamitosa que, infelizmente, nos acostumamos a viver.

Ler Conceição Evaristo, nesse sentido, é ato de resistência. Vale cada lágrima.

Nota 10.

domingo, 14 de março de 2021

The Time of Contempt - Tempo do Desprezo (The Witcher #2)


 

SPOILER FREE

Depois de me divertir muito com os dois primeiros livros de contos da série The Witcher, do autor polonês Andrzej Sapkowski, e de finalmente começar a saga de Geralt de Rivia com Sangue dos Elfos, não resisti e peguei logo o próximo livro, que saiu em português como título Tempo do Desprezo.

Esse segundo, ou quarto, volume da série é bem parecido com os anteriores. A Ciri continua muito chata, mas o livro é repleto de ação e politicagem, o que nos distrai desse defeito. Fora que nesse ponto da saga, várias batalhas de diversos gêneros estão para acontecer. Por um lado, temos Geralt sendo perseguido por aqueles que também gostariam de se apossar de Ciri, herdeira de Cintra, por outro, temos uma cisão entre magos e reis e até mesmo entre os próprios magos. E para coroar temos uma revolta dos elfos, há séculos perseguidos, que tentam recuperar suas terras ancestrais.

Então, The Time of Contempt é uma grande salada de temas bastante interessantes, e que de alguma forma Andrzej consegue equilibrar muito bem. Mesmo com capítulos bastante longos, a leitura não é cansativa, pois o autor vai mudando a perspectiva ao longo da narrativa, com um humor bastante cínico no meio. Pessoalmente eu gosto desse tipo de humor, então, achei o texto extremamente divertido. E, de quebra, gostei da forma como ele lida com as decisões pouco honradas dos seus personagens. Nesse sentido, um defeito de menor importância é a repetição do título do livro ao longo da história, mas que faz sentido, pelo menos.

Um defeito um pouco maior, mas que sinceramente não me incomodou o suficiente, é a dificuldade de acompanhar a enorme quantidade de nomes, reinos e alianças entre todos os reis, magos e outros personagens envolvidos na trama, que é bastante complexa. O autor foi esperto nesse sentido, porque de alguma forma você tem uma noção de quem é quem, sem necessariamente saber todos os nomes complicados. Até porque, sinceramente, o nome mais complicado do livro é o do autor. Ficaria feliz se alguém me ensinasse como pronunciar Andrzej Sapkowski.

A cada livro que leio, mais satisfeita eu fico com a série do Netflix, especialmente com a escolha do Henry Cavill e da suas escolhas em como encarnar Geralt. Podem reclamar a vontade dele, mas ele está sendo extremamente fiel aos livros (que certamente o nerd já leu, além de certamente já ter jogado todos os jogos), e eu já tinha achado interessante antes mesmo de ler nada, só vendo a série. 

Henry Cavill deixa o personagem interessante em diversos ângulos...

Estou muito animada, tanto com o lançamento da segunda temporada de The Witcher no Netflix, quanto em continuar lendo os livros. A questão agora é, será que eu consigo segurar minha velocidade nessa série para seguir o Desafio Literário Popoca?

Nota 9.

Laura Dean Keeps Breaking Up with Me - Laura Dean vive terminando comigo


 

SPOILER FREE

E estamos no mês das mulheres, então, nada melhor que uma Graphic Novel escrita e ilustrada por mulheres, e de quebra dentro do tema do Desafio Literário Popoca! E que escolha, Laura Dean keeps breaking up with me foi um achado para mim, e começou me dando tapa da cara.

Pelo título, que pode saiu em português como Laura Dean vive terminando comigo (Editora Intrínseca, 2020), é óbvio do que se trata a história, mas eu confesso que comprei de impulso, e não me dei conta que o título é LGBTI+, e caí bonito em todos os estereótipos dos quais tento fugir olhando essa capa. Tapa na cara.

Aí comecei a ler e percebi que não era uma história sobre sair do armário ou se descobrir, que, claro, é o que se espera num romance LGBTI+, e sim sobre relacionamento tóxico, que não tem gênero. Tapa na cara.

Com uma autora de ascendência japonesa e uma protagonista nos mesmo moldes podia ter alguma menção a cultura japonesa ou imigração. Não tem. Tapa na cara.

Não que eu goste de tapas na cara literais, mas desse tipo? Volta e meia a gente precisa deles.

Laura Dean keeps breaking up with me é uma Graphic Novel simplesmente maravilhosa, e não é maravilhosa só pelos tapas na cara. Se não fosse LGBTI+, não tivesse personagens filhos de imigrantes e fosse bem tradicional nesse sentido, ainda assim seria uma excelente história sobre um tema extremamente relevante. Só que de quebra ela faz isso tudo com uma coleção absurdamente diversa de personagens. Como não se apaixonar?

A autora, Mariko Tamaki, é canadense e já escreveu para Marvel e DC, com alguns volumes de She-Hulk e Supergirl nas costas. E aqui ela conta com a colaboração da ilustradora americana Rosemary Valero-O'Connell. E as duas tiveram o seu trabalho reconhecido em Laura Dean keeps breaking up with me, que ganhou o Harvey Awards (2019), três Eisner (2019), melhor escritora, melhor desenho e melhor publicação para adolescentes, e o Ignatz Awards (2019).

Fora isso, o trabalho foi muitíssimo elogiado pela crítica e terminou o ano de lançamento em diversas listas de melhores publicações do ano de 2019. Não é pouca coisa!

Eu juro que não sabia de nada disso quando comecei a rasgar seda nessa resenha. Laura Dean keeps breaking up with me simplesmente me arrebatou. Dificilmente eu acharia algo mais adequado para o mês das mulheres. Maravilhoso do início ao fim, recomendo muitíssimo. Ainda bem que já saiu no Brasil, fica a dica!

Nota 10!

Devilish Mate (Claimed By Lucifer Book 2)


 

SPOILER FREE

Gente, esse ano tá difícil. Nem minhas metas de leitura andam bem, tanto que já comecei o ano apelando para tentar aumentar o número de livros lidos e continuo mal nessa conta. Mas, como dizem por aí, quem realmente está bem no meio dessa pandemia? Ou pandemônio pra ficar mais de acordo com o livro dessa resenha? E com o Brasil, diga-se de passagem.

O fato é que resolvi não esperar e esquecer os nomes de todas as personagens da série erótica Claimed by Lucifer, da americana Elizabeth Briggs, e peguei o segundo volume quase no mesmo dia em que ele foi lançado. Depois de uma primeira resenha bastante elogiosa e acima da média do gênero, minhas expectativas estavam bem altas.

Sabe o dito popular quanto maior a altura maior a queda? Pois bem, ele é muito realista. Não é a toa que é um dito popular.

Devilish Mate, segundo livro da série, foi uma grande decepção. Apesar do gancho no final do primeiro livro, coisa que detesto com todas as minhas forças, o final dava a entender que Hannah ia virar uma espécie de deusa vingadora e eu fiquei aguando com essa perspectiva. Quem não adora uma protagonista mulher fodona?

Ao invés disso, achei o livro muito parecido com o primeiro. Talvez um tanto mais machista e com muitos anjos e demônios com uma vida padrãozona demais para anjos e demônios. A questão familiar de Lucifer e Hannah é simplesmente estranha, e Hannah, mesmo com as memórias de suas vidas passadas é inocente demais, o que torna tudo muito previsível.

Até as cenas eróticas são menos interessantes, mais machistas e um tanto quanto bizarras. Nível tentáculos de bizarras.

O que equilibra um pouco mais o livro são as passagens de ação e politicagem, que são mais interessantes que os romances e questões familiares, e é justamente essa parte do enredo que está me motivando a ler o último livro da série. Que ainda não saiu, mas enfim. Se eu vier a ler o próximo volume, será para acompanhar a guerra entre os seres sobrenaturais e como eles irão impedir o apocalipse. Com direito a trocadilho, que o romance vá pro inferno.

Nota 4.