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domingo, 22 de outubro de 2017

[poemas escolhidos]

Idades

No início,
eu queria um instante.
A flor.

Depois,
nem a eternidade me bastava.
E desejava a vertigem
do incêndio partilhado.
O fruto.

Agora,
quero apenas
o que havia antes de haver vida.
A semente.
 
SPOILER FREE

Fiquei surpresa ao descobrir esse livro na estante de livros de poesia, eu confesso que não tinha a menor ideia de que Mia Couto escrevia poesia. Como gostei do outro livro que li dele, nem pensei muito, resolvi levar pra casa.

Foi então que descobri que gosto do Mia Couto como poeta. Sua poesia é muito terrosa, cheia de alusões a natureza e a família, tanto os antepassados quanto os filhos. E seguindo essa linha, ele faz uso de palavras simples, mas sempre cheias de significado pela forma como ele as usa. Seus poemas também costumam ser bem curtos e, definitivamente, uma delícia de ler.

Como não conheço muito dos outros livros do autor, não posso afirmar com certeza que mesmo quem não curtiu o sua prosa deveria experimentar sua poesia, mas para quem gosta de poesia, certamente é um prato cheio. O livro ficou lotado de marcações minhas. Espero encontrar outros livros de poesia dele por aí.

Nota 10.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A confissão da leoa



SPOILER FREE

Escolhi esse livro porque em fevereiro, em um dos desafios literários que estou seguindo, o tema é um autor africano, o que achei interessante, porque realmente costumamos negligenciar muito a literatura da África (e a arte, e a política, e as pessoas... mas isso é problema para outro papo).

Mia Couto eu só conhecia de nome, e confesso que fiquei surpresa ao descobrir que o autor de Moçambique é branco (eu esperava que ele fosse negro por uma questão de representação dos negros na literatura africana, que sempre me surpreendeu por ser mais baixa do que o esperado dado a sua população majoritariamente negra). Mas ele sempre viveu em Moçambique, e ele traz a sua experiência de vida para retratar os problemas típicos da sociedade africana.

Na "confissão da leoa" em particular, ele nos traz a história de Mariamar e Arcanjo, uma negra que vive numa aldeia no interior do país, mergulhada em tradições ancestrais, e um caçador mulato que vive na cidade, e sobrevive à tragédia de não pertencer a grupo nenhum (ele nem é branco e nem é negro). A aldeia de Mariamar está sofrendo ataques de leões com frequência, e uma empresa de petróleo que tem negócios na região contrata o caçador Arcanjo para dar cabo na feras que atormentam a população. O problema é que numa sociedade onde séculos de culturas se misturam, não se tem certeza de quão reais são os leões, ou se as mortes e ataques tem origem em outro tipo de fera.

A prosa de Mia Couto é rica, e nos relatos de Mariamar e Arcanjo realidade, alegoria e sentimentos se misturam de uma forma em que a verdade se mostra multifacetada, e jamais única. E no meio das figuras de linguagem, uma realidade triste, mas extremamente presente na África, nos é apresentada aos poucos, criando um quadro realmente perturbador. No final das contas, os leões podem ser os menores problemas.

Eu já li muito livro pesado, muita história de arrepiar (sem ser terror, hein?), mas confesso que "a confissão da leoa" foi difícil de digerir. E não sei se a dificuldade dos personagens em lidar com a sua própria história tornou a narrativa ainda mais pesada, ou se é tanta coisa junta que foi demais para mim. Só sei que fiquei incomodada, e isso não caiu bem na minha leitura, apesar da qualidade do texto.

Por isso, nota 9.