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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O Peso do Pássaro Morto



SPOILER FREE

Sabe aquele livro que você compra porque o título chamou a sua atenção? Não é tão comum quanto aquela capa irresistível, mas tem aqueles títulos que você simplesmente precisa ter na estante. E aproveitando o tema do Desafio Literário Popoca de setembro, com um livro que se passe na sua cidade ou país, tirei da minha O Peso do Pássaro Morto, da paulista Aline Bei.

O livro é o primeiro romance publicado da autora, que, como o título, já chegou fazendo alarde, ganhando o Prêmio São Paulo de Literatura de Melhor Romance de Autor com menos de 40 anos de 2018. E lendo a obra, a escolha me pareceu muito justa e acertada.

O Peso do Pássaro Morto traz a história de uma mulher, narrada em sua própria voz, dos 8 aos 52 anos de idade, e essa história certamente faz jus ao seu título. É um dos livros mais pesados que li em 2020, mas ele é escrito com um lirismo tão interessante e inovador, que num ano de pandemia em que parei um monte de leituras no meio, especialmente com histórias mais pesadas, o volume durou apenas duas tardes na minha mão.

A primeira vista a escrita de Aline Bei engana, pois seu texto parece um poema. Mas também não é, é uma prosa, não tem outro adjetivo, poética, que foge do que comumente se chama de prosa poética e que já está um tanto quanto desgastada pelo uso excessivo. E o mais incrível é que a estrutura do texto muda conforme nossa protagonista vai crescendo e amadurecendo. Muito bem feita essa construção pela autora, fiquei impressionada.

Mas O Peso do Pássaro Morto não é uma leitura simples. A história é realmente muito pesada e com um grande peso emocional. E que podia ser a história de qualquer mulher. Para quem tem problemas com cenas mais violentas descritas em detalhes, aviso logo que vai ser necessário pular uma parte do texto. Mas a leitura vale demais a pena, mesmo que seja com uma caixa de lenços de papel do lado.

Uma merecida nota 10!

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Casa de Alvenaria: Diário de uma ex-favelada


 

SPOILER FREE

E chegou a primavera! Nada como comemorar com uma resenha para o Desafio Literário Popoca de setembro, cujo tema é uma obra que se passe na sua cidade ou país!

Já faz algum tempo que a importante autora negra brasileira Carolina Maria de Jesus ronda minhas listas de leituras a fazer, porém, sua obra não é fácil de encontrar em livro digital. Esse ano finalmente consegui comprar seu segundo livro estilo autobiografia, Casa de Alvenaria.

Carolina não deveria precisar de apresentações, mas sabemos como essas coisas são no Brasil. Nascida em 1914 no interior de Minas Gerais, de pais analfabetos, Carolina foi ainda jovem para São Paulo em busca de melhores condições de vida, e acabou morando numa favela, que hoje já não existe mais. Para sobreviver, a autora trabalhou como empregada doméstica e catadora de papel, sustentando sozinha seus três filhos. Ela mesma construiu o seu barraco na favela, e nas horas vagas escrevia um diário sobre como vivia na miséria. Descoberta pelo jornalista Audálio Dantas em 58, seu primeiro livro, Quarto de Despejo, foi lançado em 1960 e desde o seu lançamento vendeu mais de um milhão de exemplares no Brasil e no exterior, sendo traduzido para 13 idiomas em mais de 40 países.

Durante muito tempo ela foi uma das autoras brasileiras mais famosas fora do país, e hoje é considerada uma das autoras mais importantes da literatura brasileira, em especial da literatura negra.Depois de Quarto de Despejo, Carolina começou a escrever outro diário, onde registrou os problemas pelos quais passou quando se tornou famosa. Esse livro é Casa de Alvenaria. E que livro!

Sendo meu primeiro volume da autora não tenho como comparar com sua obra mais famosa, mas posso dizer que Casa de Alvenaria é um dos melhores livros que li esse ano. O estilo de Carolina Maria de Jesus é singular, considerando que apesar dela ter estudado por apenas dois anos quando criança, quando aprendeu a ler e a escrever, ela sempre foi apaixonada por livros e leu de tudo que conseguiu colocar as mãos. Soma-se a isso uma forma de pensar e de analisar a vida e o cotidiano com uma singeleza ímpar, porém muito realista e sem papas na língua, e você tem esse resultado único e absolutamente incrível.

Casa de Alvenaria é um diário muito interessante, que tem um retrato impressionante do início dos anos 60 de São Paulo, com direito às anedotas fantásticas da vida da autora, incluindo aos lançamentos, autógrafos, jantares em sua homenagem e a adaptação do seu livro em peça de teatro. Além disso, a autora incluiu seus pensamentos sobre política, economia, pessoas famosas que teve oportunidade de encontrar (e são muitas), racismo e também sobre os inúmeros pedidos de ajuda financeira que passou a receber.

Os dois últimos itens foram os que mais me fascinaram no texto de Carolina. Seu retrato da forma como o tratamento que recebia mudou de uma hora para a outra, como a olhavam como se fosse um animal exótico e como seus filhos eram tratados faz um contraste imenso com sua afirmação de que não existe racismo no Brasil, o que ela repete inúmeras vezes ao longo do texto. A maneira como seus antigos vizinhos de favela passaram a tratá-la, além de como ela passou a ser recebida em lugares que jamais imaginaria poder entrar também atestam sobre a luta de classes e a natureza humana.

Seu diário é fascinante não apenas por seu estilo maravilhoso, mas porque Carolina Maria de Jesus tem uma mente afiada para observar o que a cerca e tirar conclusões. Seu lugar no panteão da literatura brasileira é muito mais que merecido. Estou doida para conseguir outros livros dela. 

Nota 10!

sábado, 19 de setembro de 2020

Here


SPOILER FREE

Cada um lida com a pandemia de uma forma diferente... eu, por exemplo, acabei quase parando de ler poesia diariamente. O que mudanças na rotina não fazem, não é mesmo?

Enquanto não consigo retomar o hábito, vou aproveitar e colocar as resenhas atrasadas em dia, porque sim, também tem afetado escrever, claro.

Então, Here é um dos livros da poetisa polonesa que mora no meu coração, Wisława Szymborska, que não tem tradução para o português, apesar de alguns dos seus poemas estarem nas poucas edições de coletâneas da autora disponíveis no Brasil. Mas o kindle abre portas, então consegui a tradução para o inglês mesmo.

Para variar, a leitura é um deleite, que só Wisława Szymborska é capaz de oferecer, independentemente do idioma. Aliás, foi especialmente divertido reconhecer os poemas que eu já tinha lido em português. Ou os tradutores se falaram ou realmente a poetisa usa uma forma de escrever quase que universal.

Não importa a razão, Wisława Szymborska é sempre uma boa pedida.

Nota 10.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Love Lettering


 

SPOILER FREE

Essa foi a leitura que separei para fazer durante as minhas férias... porque de pesado e triste já basta o que acontece na vida real. E se você curte histórias românticas no estilo pornô suave, pode abrir Love Lettering com vontade.

A autora estadunidense Kate Clayborn traz a história de Meg, uma caligrafista que mora em Nova Iorque e que durante muito tempo teve como ganha pão a caligrafia de convites e programas de casamento. O problema é que Meg saiu do ramo por um bom motivo, tentando evitar um confronto como o com Reid, um ex-noivo pra quem ela trabalhou e que anos depois a procura em busca de respostas.

No jargão, é um livro tipo slow burn, onde Meg e Reid ficam a maior parte do livro dando voltas um no outro, e quando finalmente a coisa esquenta, eu confesso que esperava cenas mais descritivas. Por isso o pornô suave. De qualquer forma, o enredo tem lá suas reviravoltas, e eu confesso que essa me pegou de surpresa, definitivamente não é um clichê.

E tem as belíssimas descrições das caligrafias de Meg. Kate Clayborn incorporou uma caligrafista apaixonada por letras e artes visuais. Fiquei impressionada. Dá até vontade de aprender caligrafia também.

Excelente leitura de férias, final de semana e para desanuviar a cabeça.

Nota 8,5.

The Immortals (Olympus Bound #1)


 

SPOILER FREE

De vez em quando precisamos ler o que dá na telha, e foi assim que resolvi pegar o primeiro volume da série Olympus Bound, da autora estadunidense Jordanna Max Brodsky. E que escolha surpreendente!

O que eu sabia do enredo é que nele os deuses do Olimpo viviam como pessoas normais nos dias de hoje, e que a protagonista era Ártemis. Mas o livro não tem só ares de Deuses Americanos, de onde a autora realmente tirou muitas ideias, mas é uma história de mistério e suspense! Tudo começa quando Selene DiSilva encontra uma mulher morta no Central Park, Nova Iorque, com cara do assassinato ter características ritualísticas...

Para bom entendedor, meio nome basta, certo? Selene, por ser protetora de mulheres, resolve investigar o assassinato, e acaba por ter que lidar com um professor universitário especialista na Grécia Antiga. Claro que um enredo desses, com personagens assim, é um prato cheio, melhor, uma refeição completa com vários pratos para conhecedores e entusiastas de mitologia. Até grego antigo e citações de obras clássicas o livro tem.

Não tinha como eu não gostar.

O mistério, para quem sabe mitologia, não é tão misterioso assim, mas a adrenalina acaba compensando. Fora que é muito divertido ver as adaptações que a autora escolheu para os diversos deuses do Olimpo terem vidas normais nos dias atuais. É uma boa versão para adultos de Percy Jackson. E o volume de pesquisa que a autora fez é visível no texto.

Aliás,The Immortals é a mistura perfeita entre O ladrão de raios e Deuses Americanos. Não me surpreenderia que fosse inclusive essa a encomenda da editora. Afinal, os leitores do primeiro, lançado em 2005, já são adultos, e o segundo já vai fazer 20 anos de publicado com uma série de TV nas costas. Esses números me assustam, mas também explicam o timing da autora.

Aviso logo para os fãs de Shadow e Percy que Selene não é tão boa assim. Shadow é humano, logo, mais interessante, e Percy, bom, chegou na frente e tinha um público menos exigente. Em termos de escrita Jordanna é melhor do que Rick Riordan, mas pior que Neil Gaiman.

Feitos os avisos, pode aproveitar o primeiro livro da trilogia, que é diversão garantida! Infelizmente, por enquanto o livro ainda só está disponível em inglês.

Nota 9.