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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Razão e sensibilidade


SPOILER FREE

E no apagar das luzes do mês de maio, consegui terminar mais um livro para o Desafio Literário! Num mês onde a tema "livros citados em filmes" me levou a ler clássicos da literatura, nunca imaginei que fosse me surpreender tão positivamente com Jane Austen. Citado no filme "O Clube de Leitura de Jane Austen", o livro me pegou de jeito.

Apesar de se passar numa época que me parece absolutamente insossa para se escrever sobre histórias de amor, Austen mostra toda a sua maestria na arte da escrita e no seu conhecimento das emoções humanas (o que é assustador e incrível para uma época onde demonstrações de emoções eram tidas como algo ruim e de pouca classe). A história narrada no livro não tem nada de mais, o que é interessante mesmo de observar é a forma como ela é contada. Austen consegue descrever de forma cativante como as mulheres da época precisavam se conter e como elas sofriam ao esconder seus sentimentos, e como isso às vezes não impedia que elas flertassem e conseguissem se casar com quem elas amavam, e como às vezes isso trazia na verdade grandes confusões, mal entendidos e consequentemente partia corações.

A história das irmãs Dashwood é quase até o final do livro, digna de pena. É tanta coisa ruim que você se surpreende como elas conseguem manter a compostura. Ok, nem todas conseguem fazer isso o tempo todo, mas tudo bem, faz parte da história e da forma de comparar uma irmã com a outra, ressaltando o quanto a mais contida é mais virtuosa do que a que se lança desenfreadamente às suas emoções.

Dessa forma, o livro mostra um retrato muito fiel e interessante de uma época onde a divisão entre as classes sociais era não feita só por direito de nascimento, mas também pelo dinheiro, mas que um nunca poderia compensar o outro, o que torna a vida de forma geral muito complicada para quem é mal nascido ou é pobre. Mas esse não é o tema do livro, já que dentro desse cenário tão complicado e de pouca mobilidade ou possibilidade de ascensão social, o caso da mulheres era infinitamente pior que o dos homens, dado que elas dependiam inteiramente do casamento simplesmente para continuarem subsistindo (aqui não estou considerando serviçais), e a autora faz questão então de tratar desse assunto em particular. E o interessante é ver como o que era considerado um grande sonho feminino era conseguir um bom marido, que não só tivesse dinheiro, mas que fosse bonito e de classe (ou igual ou superior à sua, claro), e que, de quebra, ela amasse.

Entendo que essa seja a graça para muitas leitoras até hoje, mas sinceramente, essa parte da história é simplesmente fantasiosa demais e "princesas da Disney" demais para o meu gosto feminista, por mais que da forma descrita as soluções para os problemas sejam em grande parte discordantes com o que era moralmente aceito na época (Cinderela, alguém nota a semelhança?). E eu gostei do livro apesar dessa característica, dado, ainda por cima, que ele foi escrito numa época em que não havia nenhuma outra possibilidade para as mulheres, e que, portanto, dentro desses limites todos, Austen ainda consegue levantar algumas críticas ao mundo em torno de suas personagens.

E o fato de que, apesar das dificuldades da época, esse livro foi tão brilhantemente escrito por uma mulher, me faz ter orgulho do que o ser humano é capaz de fazer, mesmo com tantas limitações e preconceitos à sua volta.

Nota 9.

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