SPOILER FREE
Finalmente entrando no Desafio Literário Popoca de julho, com o tema livro com cor no título! Considerando a alta probabilidade da segunda temporada da série His Dark Materials ainda ser lançada em 2020, nada melhor do que verificar o trabalho original, a série de livros do autor inglês Philip Pullman!
Confesso que para mim A Bússola Dourada é mais uma releitura, já que li os livros há uns 15 anos. Depois de ver um filme fracassar completamente na adaptação desse clássico juvenil lançado em 1995, com direito a explicação de todo o mistério da trilogia ser colocada na abertura, em voice over! E mais de 10 anos depois desse desastre, finalmente ter uma boa surpresa em forma de série de TV, eu precisava reler os livros!
Em tempo, e para cumprir tabela: o filme foi lançado em 2007, e contou com um elenco estrelar: Nicole Kidman, Daniel Craig, Ian McKellen, Eva Green, Sam Elliott... mas, não foi um sucesso de bilheteria, por motivos de roteiro e direção. A cara congelada da pobre Nicole certamente não ajudou. Acho que foi o primeiro filme que vi dela pós botox e fiquei chocada. O filme teve um retorno financeiro tão ruim que, apesar de ter sido planejado para ser uma trilogia, nada nunca mais foi feito.
A série de TV foi lançada em 2019 pela BBC, disponibilizada no Brasil pela HBO, e, talvez porque a galera aprendeu a lição, ou talvez por ser uma série e eles terem mais tempo para desenvolver a história, ficou com uma pegada completamente diferente, e muito superior. A série também conta com grandes nomes: Dafne Keen (Logan), Andrew Scott (Sherlock e Fleabag), Lin-Manuel Miranda (Mary Poppins e Hamilton) e James McAvoy (X-Men e Atomic Blonde). A série tem muitos pontos positivos, e estou ansiosa para assistir a segunda temporada, mas vou parar por aqui para tentar manter o mínimo de foco.
O livro A Bússula Dourada é o primeiro da trilogia His Dark Materials, traduzida como Fronteiras do Universo em português (mais um caso das traduções inexplicáveis, mas que pelo menos se mantêm alinhadas com a ideia da obra). Apesar de normalmente ser descrito como um livro infantil, tenho minhas dúvidas com relação a isso, eu diria mais juvenil, por motivos de violência explícita.
A história se passa numa Inglaterra parecida, mas diferente, da nossa, e seguimos as aventuras da órfã Lyra Belacqua, uma jovem que cresceu na Universidade de Jordan em Oxford. Lyra não vai a escola, mas os acadêmicos da universidade tentam, muitas vezes em vão, suprir essa lacuna. Ela é mentirosa e adora uma boa briga, além de ser uma líder natural. No seu mundo as pessoas possuem daemons, algo semelhante à alma, mas é um animal que acompanha a pessoa fora do seu corpo, e é visível para os outros, e esse animal pode mudar de forma até assumir uma forma definitiva na puberdade.
Tudo vai bem até que o melhor amigo de Lyra, Roger, desaparece, capturado por um bando chamado de Gobblers, e ela decide viajar para o norte, onde vivem as bruxas e os clãs de ursos polares com armaduras. Até aí, tudo está na contra capa do livro! E para quem viu a série, nada de mais.
O sucesso da trilogia no mundo literário elevou o autor a um novo status, e desde então ele tem publicado diversas obras conectadas com os livros originais, e também sobre como escrever histórias e o poder dos contos de fadas. Aliás, Fronteiras do Universo parece um conto de fadas, daqueles tradicionais, onde ninguém omite a violência que existe no mundo, os riscos são muito reais e as personagens sofrem muito.
Agora imagine uma história nesse estilo só que com uma forte crítica às religiões, em especial às judaico-cristãs. Philip Pullman muitas vezes é comparado a Tolkien e C.S. Lewis (Nárnia), mas porque ele anda na direção oposta quando se trata de alegorias religiosas. A obra de Lewis é quase que uma ode ao cristianismo, enquanto Pullman faz de tudo para mostrar todos os podres das instituições religiosas e como algumas crenças podem fazer muito mal às pessoas e à sociedade onde elas vivem. A controvérsia com relação a isso nos livros é tão grande que várias organizações católicas já pediram que os livros fossem banidos.
Independentemente de crenças religiosas, A Bússola Dourada é um livro excelente, cheio de adrenalina, batalhas tanto físicas quanto psicológicas, grandes mistérios e personagens fascinantes. A mitologia criada por Pullman é muito bem feita, e a construção do mundo onde se passa o enredo é impecável. E o mais interessante, Lyra é uma criança de verdade! E mesmo sendo menina, ela é arteira, cheia de energia e uma guerreira feroz. Eu fico sempre feliz quando vejo homens escrevendo bem personagens femininos, isso é tão raro.
Claro que não dá para ler o primeiro volume e parar, até porque o final infelizmente tem gancho para o livro seguinte. Por isso mesmo já estou lendo A Faca Sutil, cujo início já começou a aparecer logo na primeira temporada da série da BBC, numa excelente escolha de adaptação.
Nota 10, indico em qualquer mundo.
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