Espaço para eu escrever sobre o que eu leio... Com espaço também para falar sobre autores que eu gosto e que eu não gosto... porque falar dos outros é fácil!!!
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sexta-feira, 30 de março de 2012
Criança 44
SPOILER FREE
Esse foi um livro que comprei especialmente pro Desafio Literário! Óbvio que foi uma versão de bolso, que ainda por cima vem 2 livros em 1, senão o meu bolso é que não aguenta :-)
O livro em si é bem interessante... envolvendo diversas passagens no tempo, que você só realmente encaixa no final, ainda traz um retrato muito triste da União Soviética stalinista (daí se é realista eu não sei), você se envolve com os desejos de justiça das personagens e se revolta com cada acontecimento e assassinato. Bom, tecnicamente essa palavra era proibida, mas não muda a essência dos acontecimentos descritos no livro.
O assassino surpreende de uma forma assustadora! É daquelas histórias em que você realmente não consegue imaginar quem é o autor daquelas barbaridades! Mas também não tem cara de Scooby Doo ("eu teria conseguido se não fosse por essas crianças e esse maldito cachorro!"), as pistas realmente estão lá! Só que, como num truque de mágica, você simplesmente não consegue conectar uma coisa com a outra.
Ouvi falar que na verdade esse livro é o primeiro de uma trilogia, mas ele é completo em si, nada de ficar naquele desespero no final para ler o próximo (ainda bem, porque o mês já praticamente acabou!). Para quem não curte o tema, fiquei muito animada e realmente pretendo ler o livro seguinte, e isso quer dizer algo positivo sobre o autor! Ele não se prende apenas ao feijão com arroz da caçada ao serial killer e cria diversas personagens envolventes, que crescem ao longo da história e te fisgam e te surpreendem! Fiquei muito satisfeita!
Nota 8,5
quarta-feira, 28 de março de 2012
A leitura por Simone de Beauvoir
Copiado descaradamente do blog Avec Beauvoir, porque é lindo ler um depoimento de quem gosta tanto de ler!
Na infância, na adolescência, a leitura não era apenas minha distração predileta, mas também a chave que me abria o mundo. Ela me anunciava meu futuro: identificando-me com heroínas de romance, através delas pressentia meu destino. Nos momentos ingratos de minha juventude, salvou-me da solidão. Mais tarde, ajudou-me a ampliar meus conhecimentos, a multiplicar minhas experiências, a compreender melhor minha condição de ser humano e o sentido de meu trabalho de escritora. Hoje, minha vida está realizada, minha obra está realizada, ainda que possa prolongar-se: nenhum livro me proporcionaria uma revelação fulminante. No entanto, continuo lendo muito: pela manhã, à tarde, antes de começar a trabalhar, ou quando estou cansada de escrever; se, por acaso, passo uma noite sozinha, leio; no verão, em Roma, passo horas lendo. Nenhuma ocupação me parece tão natural. No entanto, pergunto-me: se nada mais de decisivo pode ocorrer-me através dos livros, por que continuo tão presa a eles?
A alegria de ler: esta não diminuiu. Fico sempre maravilhada com a metamorfose dos pequenos sinais pretos numa palavra que me joga no mundo, que traz o mundo para dentro de minhas quatro paredes. O texto mais ingrato consegue provocar esse milagre. J.F., 30 anos, estenodatilógrafa exp. procura trab. três vezes por semana. Leio esse pequeno anúncio e a França se povoa de máquinas de escrever e de jovens desempregadas. Já o sei: o taumaturgo sou eu. Se fico inerte diante das linhas impressas, elas se calam; para que adquiram vida, é preciso que eu lhes dê um sentido e que minha liberdade lhes proporcione sua própria temporalidade, conservando o passado e ultrapassando-o na direção do futuro. Mas, como durante essa operação escondo-me, ela me parece mágica. Por momentos, tenho consciência de que colaboro com o autor para fazer existir a página que decifro: agrada-me contribuir para a criação do objeto que usufruo. Esse prazer é recusado ao escritor: mesmo quando se relê, a frase saída de sua pena lhe escapa. O leitor é mais favorecido: é ativo e, no entanto, o livro lhe proporciona riquezas imprevisíveis.
(…)
Abro as cortinas do meu quarto, deito-me num divã, tudo em volta deixa de existir, ignoro-me a mim mesma: existe somente a página preta e branca que meus olhos percorrem. E eis que me ocorre a surpreendente aventura relatada por alguns sábios taoístas: abandonando em seu leito uma carcaça inerte, eles levantavam voo; durante séculos viajavam de cume em cume, através da terra inteira e até o céu. Quando reecontravam seu corpo, este não envelhecera. Assim vago eu, imóvel, sob outros céus em épocas passadas, e é possível que transcorram séculos antes que me reencontre, a duas ou três horas de distância, neste lugar do qual não saí. Nenhuma experiência é comparável a esta. (…) Somente a leitura, com uma economia extraordinária de meios – apenas um volume em minha mão -, cria relações novas e duráveis entre mim e as coisas.
Simone de Beauvoir. Balanço Final. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1990 [1972]. pp. 153-154.
quarta-feira, 21 de março de 2012
terça-feira, 20 de março de 2012
Eu mato
SPOILER FREE
Mais um livro do Desafio Literário! Mas dessa vez peguei emprestado... serial killer não é exatamente o meu tipo de leitura favorito... e esse, infelizmente, não foi exceção.
Primeiro eu já sabia quem era o assassino MUITO ANTES dos detetives descobrirem, e eu já sabia como ele enganava a polícia. Segundo, o livro tenta colocar diversas tramas paralelas, o que até que é legal, traz profundidade para os personagens e tal, mas, traz dois problemas: primeiro essas tramas não conseguiram ser muito verossímeis, e segundo, isso fez o livro ter um ar de filme do Kubrick, mas com a sua característica chata, que é ter mais de um final. Quer dizer, o livro já acabou, a história principal já acabou, não tem mais clímax mais nada para contar, mas o livro não termina, porque precisa fechar aquele monte de mini tramas. Sério, eles descobrem quem é o assassino umas 200 páginas antes do livro acabar! É muita enrolação.
Fora a falta de personagens femininos ativos... mas isso é implicância minha, eu confesso. Mas ainda assim fiquei chateada.
Enfim, a leitura em si é fácil, o jogo de texto para diferenciar entre o momento em que o assassino está agindo e o resto da trama é bacana, o livro é dinâmico e não cansa. Mas.... deixa muito a desejar e o final é chato.
Nota 7.
sábado, 10 de março de 2012
O perfume
SPOILER FREE
Esse foi o primeiro livro de serial killer de março para o Desafio Literário... e como dizer? Precisei, logo depois de fechar o livro, sentar com o maridão e contar a história toda para ele, porque o choque foi grande demais e eu precisava compartilhar a minha sensação de horror com alguém (ele não leria mesmo o livro, então fiquei com a consciência tranquila por ter feito isso).
Aí que eu percebi o quanto o livro é bem escrito, porque ele RIU da história, de tão absurda que achou, enquanto eu tentava explicar para ele que não, que a história era horripilante e que eu estava em choque etc. Eis um bom escritor: aquele que te envolve de tal forma, te faz mergulhar de um jeito que não tem mais volta e você simplesmente vivencia o que lê. Tiro o meu chapéu para o Patrick Süskind.
Para quem curte serial killers e personalidades bizarras o livro é um prato cheio. Para quem curte belas descrições de cheiros (nunca imaginei que perfumes e cheiros pudessem ser tão bem descritos, me lembrou o que a Pixar conseguiu fazer visualmente com gostos em Ratatouille), também é um prato cheio. Para quem não curte livros pesados, fica a dica: mantenha distância.
Agora, só para deixar um gostinho, porque eu amei essa passagem (calma, não é spoiler, tá na primeira página do livro):
"Na época de que falamos, reinava nas cidades um fedor dificilmente concebível por nós, hoje. As ruas fediam a merda, os pátios fediam a mijo, as escadarias fediam a madeira podre e bosta de rato; as cozinhas, a couve estragada e gordura de ovelha; sem ventilação, salas fediam a poeira, mofo; os quartos, a lençóis sebosos, a úmidos colchões de penas, impregnados do odor azedo dos penicos. Das chaminés fedia o enxofre; dos curtumes, as lixívias corrosivas; dos matadouros, fedia o sangue coagulado. Os homens fediam a suor e a roupas não lavadas; da boca eles fediam a dentes estragados, dos estômagos fediam a cebola e, nos corpos, quando já não eram mais bem novos, a queijo velho, a leite azedo e a doenças infecciosas. Fediam os rios, fediam as praças, fediam as igrejas, fedia sob as pontes e dentro dos palácios. Fediam o camponês e o padre, o aprendiz e a mulher do mestre, fedia a nobreza toda, até o rei fedia como um animal de rapina, e a rainha como uma cabra velha, tanto no verão quanto no inverno. Pois à ação desagregadora das bactérias, no século XVIII, não havia sido colocado ainda nenhum limite e, assim, não havia atividade humana, construtiva ou destrutiva, manifestação alguma de vida, a vicejar ou a fenecer, que não fosse acompanhada de fedor."
Nota 9
quinta-feira, 8 de março de 2012
Dia da mulher - dia de ler!
Para comemorar o dia da mulher resolvi fazer uma lista de blogs e posts que falam da luta pela igualdade da mulher, que, vamos combinar, melhorou e avançou muito. Mas ainda temos um longo caminho pela frente, então que tal tirarmos o dia para lermos sobre o assunto e refletirmos? Quem sabe assim no próximo 8 de março estaremos melhor do que hoje?
Para quem tiver preguiça de ler todos os links, fique pelo menos com esse texto da Marjorie Rodrigues:
Dispenso Esta Rosa
por Marjorie RodriguesDia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns. Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum deles vai soltar: ”parabéns”.
Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia). Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde “obrigada”, pensando: “mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?”.
Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa.
Dizem que a rosa simboliza a “feminilidade”, a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade — da supervalorização da virgindidade é que saiu o verbo “deflorar” (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a – afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a idéia de que mulheres sexualmente ativas são “putas”, inferiores, menos respeitáveis.
A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas. Dizem o mesmo de nós: que somos o “sexo frágil” e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com estes homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger. Mas, bem, segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro.Este tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes “passionais” – o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acomete ambos os sexos. Tratam os homens autores destes crimes como “românticos” exagerados, príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que “amam demais”, não os homens.
Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladoras, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da vagina dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a “sedução” para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de “respeito” e as mulheres têm “mentes perigosas”. A mensagem subliminar é: “cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado”. E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua “mente perigosa” causaria coisas terríveis.
Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo “pós-feminista” afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher?
Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades. Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 10oº lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso — onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas. Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.
A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor…). Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua pele é alterada a ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca. Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser “feminina”. Porque, sim, feminilidade é isso: é “se cuidar”. Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: “let yourself go”). Usar uma porrada de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama. “Você se ama? Então corrija-se”. Por mais contraditória que pareça, é esta a mensagem.
Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte. Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.
Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a idéia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são “convidativas”, propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir. Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio , isso nunca vai deixar de existir. Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo “ê lá em casa” para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o “combo” da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores desta peça não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando “chupá-la todinha”.
Então, dá licença, mas eu dispenso esta rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade de salários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário.
…Enquanto isso não acontecer, meu querido, enfia esta rosa no dignissímo senhor seu cu.
Hoje não é dia de flor, da Leticia
Outros marços virão, do Blogueiras Feministas
O que é um homem? O que é uma mulher?, da Jeanne Callegari do Papo de Homem
Prá não dizer que não falei das flores, do Matizes Feministas
Troque sua rosa por um mundo com mais igualdade, da Srta Bia
8 de março, dia de você repensar o seu machismo, do Igor
8 de março é dia de luta, da Clara Guimarães
Dia Internacional da Mulher: um pouco sobre história, muito sobre lutas, do Jardim de Lilith
Metáfora Perfeita, da Luciana Nepomuceno
Notas a acerca do 8 de março, do Bill
Sim, nós podemos fazer quadrinhos, da Mariamma Fonseca
E o Dia das Mulheres serve para quê, afinal?, da Marcela Ortolan
domingo, 4 de março de 2012
Peter Pan
SPOILER FREE
E já no segundo mês do Desafio Literário eu me atrasei... mas foi por conta de uma gripe muito muito muito chata que me persegue há mais de uma semana e ainda não me deixou em paz! Mas atrasada ou não aqui vai a última resenha do mês "nomes próprios"!
Se tem uma história infantil que eu sempre adorei, essa história certamente é Peter Pan! O menino que nunca cresce sempre me fascinou... acho que é porque eu curti demais ser criança :-)
Mas especulações à parte, eu peguei a versão original da história, num livro comprado bem baratinho na última bienal, e só depois de pegar para ler a linda publicação da Collector's Library é que eu descobri que 1) o livro tinha DUAS histórias, uma com o primeiro conto em que o autor mencionou Peter Pan (que, aliás, é adorável e lembra demais o filme De Volta Para a Terra do Nunca), 2) a peça fez tanto sucesso que depois o autor criou o romance, que 3) não se chama Peter Pan e sim Peter and Wendy.
Depois de toda essa reviravolta caí de cara no livro, que além de ter explicações muito bem colocadas sobre a vida do autor no final, é lindamente ilustrado! Fora a capa dura, as páginas com as bordas douradas e o fato de já vir com um daqueles lindos marcadores de pano embutido... dá gosto de ler livro assim.
Mas vamos às histórias, senão esse post não termina :-)
A primeira história é na verdade um conto meio doido, que começa sobre a vida do narrador e como ele leva um menino para passear num parque, e depois descamba para como vivem as fadas, de onde vêm os bebês e só depois é que aparece o Peter Pan, e a partir desse ponto a história passa a ser sobre ele e suas aventuras. É muito interessante, porque lembra muito como alguém conta uma história, e no meio do caminho a pessoa lembra de alguma coisa muito interessante e a partir daí a conversa muda de rumo. Achei inesperado para um conto do século XIX. E muito fofo! E claro, nesse conto você já percebe diversas ideias que depois estarão presentes na peça Peter Pan! É legal você ver como as ideias foram crescendo e amadurecendo na mente do autor... é uma leitura leve e fascinante!
A segunda história é o grande clássico da literatura infantil, que, vamos ser sinceros, não foi escrito para criança! É bem legal você ver como a história foi realmente concebida, sem aquelas amenizações da Disney ou sem cortes e simplificações para os livros infantis. Peter é muito mais sacana e doidinho! Às vezes você tem até raiva dele! Mas ele é uma criança, no sentido mais puro da palavra, e você acaba por perdoa-lo, não sem querer deixa-lo de castigo, claro! Mas com a vida que ele leva... bom, já pode ser considerado um castigo, então a gente deixa pra lá. E a Sininho/Tinker Bell??? Nossa, fiquei impressionada com ela! Nada fofinha.
A história é lindamente escrita, e é mesmo muito mágica... mas... é preciso relevar como o autor trata os personagens femininos. Sério, tinha vezes que eu precisava respirar fundo e contar até dez, me lembrar que foi escrito na Inglaterra Vitoriana e que o autor apenas está dizendo o que se pensava mesmo na época. Mas é revoltante. Mulheres não servem para nada a não ser cuidar da casa e dos filhos. E são burras e escravas dos seus sentimentos, sem nenhum auto-controle. Fora que simplesmente não tem um corpo forte o suficiente para brincar de correr e pular. Sério, era isso mesmo que se pensava. (o pior é que tem gente que ainda pensa assim...)
Mas ainda assim é uma leitura imperdível!
Nota 9
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