SPOILER FREE
Esse é um livro que eu preciso confessar que estou lendo há tanto tempo que nem sei quando comecei. Mas isso é em parte culpa do meu hábito de ler poesia pela manhã, porque eu leio uma ou duas poesias no máximo, e eu vario os livros ao longo da semana para não ficar repetitivo. Agora considere que As Flores du Mal é um livro bem gordinho, e que a minha edição (essa aí da capa) veio bem recheada extras, e você tem a explicação para a minha demora.
Charles Baudelaire, poeta francês do século XIX, é reconhecido como um dos pioneiros da poesia moderna, e esse livro em específico é um marco do gênero. Os temas, até então inéditos, da decadência, da morte, dos pecados e da queda do homem, são por vezes bastante pesados mesmo, até para os padrões atuais (Sylvia Plath me vem à mente), mas aqui ainda estão mais presos em forma de poesia mais clássica, com direito a métrica, rima e organizado em estrofes bonitinhas.
Dá para imaginar o horror dos leitores do século XIX com uma poesia falando sobre cadáveres e monstros. Coitados, não tinham ideia do que ainda estava por vir, mas isso não é importante agora.
O livro As Flores do Mal em si é excelente, amei a leitura, o andamento e as escolhas do Baudelaire. Como li em francês não sei dizer como ficou a tradução, mas o texto original é realmente sensacional e sua posição como marco literário é bastante justificável e clara. Ou pelo menos a versão em francês que eu li. Aparentemente, o livro possui pelo menos 3 versões diferentes, publicadas em 1857, 1861 e 1868, com algumas variações de texto e de conteúdo (poesias inclusas ou não).
O livro foi tão vilificado que por diversas vezes e em diversos lugares passou por censura, sendo publicado na íntegra novamente apenas em 1949. Claro que o autor foi processado na época também e precisou viver no exílio.
Por conta de todas essas confusões, o autor deixou todo a sua produção nas mãos de amigos, que ficaram com os direitos de publicação do material, que em grande parte, quando não fez parte das primeiras edições do livro maldito, acabou sendo publicado apenas postumamente, às vezes em títulos separados, às vezes fazendo parte de uma edição de Flores do Mal.
Complicado, né?
Pois bem, essa edição que eu li é um grande apanhado de tudo isso. Tudo. Com direito a diversas versões dos mesmos poemas, diversas introduções escritas para o livro ao longo dos anos, cartas do autor e tudo quanto é poesia que ficou de fora do "livro original" (em aspas porque é difícil de definir o que é realmente original nessa bagunça).
Claro que tudo isso é muito interessante, mas é melhor para pesquisadores e viciados no autor do que para quem só queria ler Baudelaire, que era o meu caso. Confesso que fiquei bastante perdida em algumas partes do livro, eu já não tinha certeza o que era publicação póstuma, o que fazia parte do texto original e, gente, a parte com as variações dos textos das poesias... que surtado para se ler de manhã. Não servia exatamente para o meu propósito.
Só por isso, nota 9.
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