Espaço para eu escrever sobre o que eu leio... Com espaço também para falar sobre autores que eu gosto e que eu não gosto... porque falar dos outros é fácil!!!
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terça-feira, 26 de abril de 2016
Les danses dans le monde arabe ou l'héritage des almées
SPOILER FREE
Esse é um livro que deveria ser editado em todos os países onde se estuda dança do ventre, e que talvez eu devesse ter lido há muitos anos atrás, mas sabe como é a vida... nunca dá tempo de ler tudo que a gente gostaria e/ou deveria.
É uma coletânea de ensaios de diversos autores, começando pelo estudioso Christian Poché, francês, óbvio, que tem diversas obras muitíssimo interessantes sobre musicalidade, em especial a música árabe. Não consigo entender porque ele nunca foi traduzido para o inglês, é simplesmente uma perda para todos aqueles que não falam francês.
No ensaio de Christian (olha a intimidade), chamado "La danse arabe: quelques repères" (A dança árabe: algumas referências), ele trata da utilização de diversos termos pelos árabes para denotar ou não a dança ao longo da história. Porque, quem estuda dança do ventre deve ter percebido, existe uma total inexistência de estudos realizados por árabes acerca da dança árabe. Só se começa a ter algum tipo de registro de origem árabe, de estudos ou de forma puramente jornalística, a partir do século XX. E quando eu digo registro, não é alto do tipo, "na região Blá existe a dança Blé que se faz assim e assado", não, é algo ainda mais complicado, é a ausência da palavra em árabe que denomina o ato de dançar. De todos os textos do livro, esse é o mais pesado e complicado, mas é realmente essencial para se entender algumas dificuldades acadêmicas e também o posicionamento de diversos árabes com relação à dança.
No ensaio seguinte, da organizadora do livro, Djamila Henni-Chebra, cujo título é "Égypte: profession danseuse" (Egito: profissão bailarina), está o melhor texto do livro. No trabalho de Djamila está traçada toda a história documentada da dança do ventre, num trabalho primoroso de pesquisa em jornais e revistas egípcios. Pessoalmente, a melhor parte de ter lido esse texto é ter tido uma confirmação acadêmica e organizada de tudo o que eu já havia lido em pedaços por aí e que fui juntando na minha cabeça, Djamila simplesmente traduziu boa parte do que consegui apreender em 15 anos de dança e estudo num texto preciso e gostoso de ler. Pensando bem, acho que eu deveria me sentir mal.
O livro segue com 3 ensaios de danças folclóricas, o primeiro do Egito, compreendendo em trechos traduzidos da tese de mestrado escrita nos anos 70 por Magda Saleh, prima ballerina do Egito, que hoje vive nos EUA. Fiquei tão encucada com os trechos desse livro, que são tão ricos e bem escritos, que agora estou enlouquecida atrás do texto completo de Magda, e ainda não consegui. Uma tristeza.
O segundo ensaio de danças folclóricas é de Sellami Hosni, sobre a Tunísia, que achei interessante, mas eu não me interesso particularmente pelas danças tunisianas, então não li com tanta atenção.
E, por fim, um ensaio sobre danças da Algéria, de Brahim Bahloul.
Olha, é uma leitura obrigatória para quem estuda dança oriental.
Nota 10.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
How to tell if your cat is plotting to kill you
SPOILER FREE
Quem me conhece pessoalmente sabe que sou gateira. Adoro vídeos de gatos, fotos de gatos, pelúcias de gatos, bibelôs de gatos, e gatos de pele, pelo e osso também. Infelizmente sou alérgica a esse último tipo, o que me impede de adotar um. Mas depois de dizer isso tudo não preciso mais explicar porque comprei esse título na Amazon, não é mesmo?
Dentro do tema "um livro com um título bem longo, sem contar o subtítulo", acabei por pegá-lo para ler na minha última viagem de avião, agora que deixam a gente usar o celular no modo avião. Porque um livro de tiras em quadrinhos, originalmente coloridas, não poderia ser lido em preto e branco no kindle.
Pois bem, o livro é bem curtinho, e tem lá umas tirinhas bem engraçadinhas, a que tem o título do livro é especialmente divertida. Mas, de forma geral, a coleção não é tão boa assim, eu confesso que eu esperava mais de tirinhas sobre gatos. Gatos são tão legais e divertidos, eles mereciam um livro melhor.
Pelo menos as tirinhas são curtas e as histórias são independentes, então se você encher o saco no meio do caminho (se você realmente achar que precisa parar no meio do caminho... é tão curto que quando você encher o saco já vai estar acabando e aí vale mais a pena terminar logo de uma vez) dá para fazer uma pausa e voltar depois. Só para deixar mais claro: vale a pena ler de uma sentada só.
Sugerido para gateiros de plantão.
Nota 7.
Fieldwork in Ukrainian sex
SPOILER FREE
Eis um livro que eu nem lembro mais como foi exatamente que eu comprei, lembro vagamente de ser um tipo de best-seller, desses que a autora é considerada uma embaixatriz da literatura nacional fora do seu país. Mas só estou dizendo isso porque fui dar uma espiada no que se tratava logo no início da minha leitura, quando levei um susto com o conteúdo.
"Fieldwork in Ukrainian sex" é um livro auto-biográfico da poetiza e novelista ucraniana Oksana Zabuzhko, onde ela faz uma catarse poética em prosa em relação a um relacionamento abusivo que teve com um compatriota ucraniano. Escrito em fluxo de pensamento, o texto é absolutamente brilhante. Mas também é de embrulhar o estômago e deixar o leitor deprimido e perplexo.
Mais conhecida internacionalmente por suas poesias, Oksana traz um misto de memórias, sensações e admoestações acerca desse relacionamento, numa espécie de tentativa de entender e, talvez, justificar para si mesma o que aconteceu. O livro é um tapa, para quem já sofreu algum relacionamento abusivo é algo meio bizarro, porque cada um é cada um, mas tem elementos em comum e isso é assustador.
É uma leitura pesada, mas necessária, só recomendo evitar à noite e antes ou logo depois das refeições.
Nota 10.
terça-feira, 12 de abril de 2016
Secret Adversary - O inimigo secreto
SPOILER FREE
Mais um livro da série "esvaziando o kindle"! Dessa vez elegi o "O inimigo secreto", segundo romance publicado pela rainha do mistério, Agatha Christie, e o primeiro da dupla Tommy e Tuppence.
Confesso que nunca tinha ouvido falar deles, o que foi interessante, pois descobri novos personagens. Em compensação, para mim ficou muito claro que esse livro, por ser dos primeiros da autora, imagino, está muito longe do que Agatha já escreveu de realmente bom. O enredo é meio fraco em termos de mistério, eu passei a última metade do livro sabendo quem era o tal inimigo, o que tira parte da graça de ler algo desse gênero literário. Se os personagens fossem muito cativantes e o ambiente em que passa a história fosse interessante, acho que esse problema da falta de mistério não seria tão grande, porém nenhum desses pontos chamam atenção nesse volume.
A vantagem, para mim, é que o livro é curto, o que favoreceu o meu objetivo de esvaziar o meu aparelho, e também ajudou a conseguir terminar a leitura sem a autora cair do seu pedestal na minha humilde opinião. Não vou parar de ler Agatha Christie porque não gostei desse livro, definitivamente.
Em rápidas palavras, "O inimigo secreto" trata de dois amigos de infância, Tommy e Tuppence, que numa tentativa de melhorarem as suas finanças acabam se envolvendo num jogo de poder entre interesses ingleses e internacionais, envolvendo documentos que estavam a bordo do torpedeado RMS Lusitania, em 1915. Eles acabam enredados na trama de um misterioso Mr. Brown, figura inteligente e temida pelo governo britânico, que tenta a todas custas evitar o vazamento de informações poderiam ter grandes repercussões políticas.
Nota 6.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
The old man and the sea - O velho e o mar
SPOILER FREE
Como eu já disse algumas vezes aqui no blog, estou em campanha "esvaziando o meu kindle", portanto, estou adaptando algumas das minhas escolhas iniciais de leitura feitas no final do ano passado para livros que já estejam baixados no meu dispositivo com pouca memória. O tema de março (estou atrasada na resenha também, ó céus) foi "um livro de uma lista", que eu tirei desse site aqui, mas, como nenhum dos livros que eu havia escolhido estavam no kindle, resolvi chutar que "O velho e o mar" estaria nessa lista, porque, bem, é um CLÁSSICO. Claro que o livro realmente está na lista (n° 86, pode conferir).
Eu confesso que sempre tive receio de ler esse livro, puro preconceito com o título, que me sugeria uma leitura chata (tô falando, puro preconceito). Ainda bem que resolvi superar isso (preconceitos são SEMPRE ruins) e pude desfrutar da maravilhosa experiência que é ler Ernest Hemingway no original.
Fiquei simplesmente embasbacada com a maestria do autor, o livro é simplesmente assombroso de tão bom e de tão poético e de pura desenvoltura literária. Tudo no texto é perfeito. Cada frase parece ter sido escrita e reescrita até ficar da melhor forma humanamente possível, a coisa é tão bizarra que me deu a sensação de estar no barco junto com o velho. Dá para sentir o balanço do mar, sério. A forma como a história é contada parece que vem em ondas, então o ritmo da leitura simplesmente remete ao movimento das águas, é incrível.
E a personagem do pescador? Um lindo estudo sobre a dignidade e a resiliência do ser humano. Meus olhos enchem d'água só de lembrar.
E é tão simples! A história de em pescador numa de suas viagens ao mar. Incrível como pode ser tão rico.
Simplesmente um dos melhores livros que eu já li na minha vida.
Nota 10.
Curiosidade: a história se passa em Cuba, antes da revolução, sensacional isso!
terça-feira, 5 de abril de 2016
Doctor Sleep - Doutor Sono
SPOILER FREE
Há alguns anos atrás eu resolvi ler "O iluminado", e gostei tanto da experiência que quando, 30 anos depois do lançamento desse best seller, Stephen King resolveu publicar uma continuação, ela entrou imediatamente na minha wishlist, e no momento em que entrou em promoção eu fui garantir uma cópia para o meu kindle.
Depois de alguns meses, por conta do meu atual projeto hercúleo de esvaziar o meu superlotado kindle (ele mostra um aviso de pouca memória toda vez que eu o ligo, tadinho), "Doctor Sleep" foi devidamente devorado.
Apesar de ser uma continuação, "Doctor Sleep", lançado em português como "Doutor Sono", não requer a leitura prévia do livro original, apesar dela ajudar, o que eu achei um ponto positivo, visto que eu já não me lembrava de um monte de coisas e o que é realmente necessário lembrar, o novo volume fornece ao leitor. Dito isso, o livro conta um pouquinho do que passa com o menininho "iliminado" pouco tempo após os acontecimentos do primeiro livro e logo pula uns 30 anos à frente, para relatar a vida adulta de Dan Torrance.
No início eu fiquei meio chocada e meio decepcionada com o menino já crescido ("como ele pode fazer isso???"), mas conforme a história evolui e fica mais claro as razões por ele ter escolhido o seu caminho de vida, eu fui simpatizando cada vez mais com ele. Além disso, vão sendo apresentadas as novas personagens, muitas delas interessantes e cativantes, que serão importantíssimas nessa nova trama, que apesar de ter origem independente do Hotel Overlook, tem lá as suas coincidências. Apesar desse tipo de história sobrenatural não costumar ter exatamente coincidências, aqui elas não soam falsas, e nem trazem aquele apelo de querer explicar tudo, o que também é um ponto positivo, na minha opinião.
Agora, apesar de não se centrar num enredo de fantasmas, o livro ainda é de terror, pois o seu tema principal é o poder psíquico de algumas pessoas, e como esse poder pode ser utilizado tanto de forma positiva, para ajudar os outros, como também de forma extremamente maligna e cruel. E é sobre como um grupo de pessoas com esse tipo de poder visam se manter imortais, e, para isso, são capazes de realizar atos terríveis.
Nota 10.
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Wild Children
SPOILER FREE
Ainda na minha cruzada pessoal para esvaziar o meu kindle, resolvi ler outro livro do autor da série "please, don't tell my parents I'm a supervillain". Dessa vez, Richard Roberts traz um novo mundo, até bem parecido com o nosso em alguns aspectos religiosos, onde crianças podem sofrer uma espécie de transformação onde elas ganham características físicas de diferentes animais, essas crianças são chamadas de "wild chindren" (crianças selvagens).
A premissa é que os animais que as crianças se transformam seriam manifestações físicas dos traços mais fortes de suas personalidades, porém, não se sabe exatamente o porquê, nem sempre as coisas acontecem exatamente da forma que deveriam.
O livro é dividido em diferentes capítulos, onde cada capítulo é narrado por uma wild child diferente, contanto a sua experiência de transmutação e de vida como uma wild child, com direito aos preconceitos envolvidos no processo e mudanças na sua rotina. Porém, conforme as personagens vão sendo apresentadas, elas muitas vezes reaparecem nos capítulos subsequentes, dando uma ideia melhor de como o mundo onde existem wild children funciona, e também da história da sociedade onde elas vivem, especialmente de como os adultos lidam com elas.
De forma geral, esse livro é mais bem escrito do que "please, don't tell my parents", e a capacidade imaginativa do autor é absurda, é pura fantasia. O mundo das crianças selvagens é lindo e ao mesmo tempo perigoso, suas histórias são poéticas e às vezes trágicas, como se o autor pegasse diversas características do mundo real e simplesmente as tornasse mais fortes e incluísse elementos fantásticos que dão um colorido extra único.
Outro fator interessante é que o livro é infanto-juvenil, mas não fica poupando o leitor, o que eu, pessoalmente, acho fantástico.
O único "defeito" desse livro, para mim, é o final. Eu esperava algo mais apoteótico, que desse de alguma forma uma sensação de finalização para as personagens que acompanhei ao longo do livro, então o final me deixou chupando o dedo. O que, definitivamente, não invalidou todo o prazer que senti ao longo da leitura. Valeu a pena cada uma das das quinhentas páginas.
Nota 8,5!
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