SPOILER FREE
Para abrir o Desafio Literário Popoca 2021 de setembro, com o tema ditadores e governadores autoritários ou insanos, decidi apostar na famosa série Rainha Vermelha, da autora americana Victoria Aveyard. Porque nada com um young adult para relaxar...
Só que não.
A Rainha Vermelha não é relaxante, não porque o enredo se passa num mundo dividido em duas castas separadas por sangue, sangue vermelho e sangue prateado, onde os prateados dominam os vermelhos por serem mutantes benders magos terem poderes que podem aniquilar os vermelhos num piscar de olhos e por serem a elite econômica, não. A Rainha Vermelha também não é relaxante, não por causa da violência, da guerra ou das mortes, não.
A Rainha Vermelha não é relaxante porque os personagens são irritantes ao extremo.
Explico. Imagina um enredo com uma personagem principal chamada Mare Barrow (prometo não sacanear o nome, apesar da vontade) que é uma ladra, excelente nisso, daquelas que saca tudo do que está acontecendo ao redor e saber ler as pessoas. Agora, ela praticamente ganha numa loteria, vira uma princesa, e do nada ela não saca mais nada.
Dos que não curtiram a série, muitos reclamam do triângulo, digo, quadrado amoroso de Mare, Cal, Maven e Kilorn (porque sim, ela precisava não de dois, mas três interesses românticos), especialmente pelo fato de terem dois irmãos nesse polígono. Mas, sinceramente, isso não me incomodou, achei até interessante, e um tanto quanto corajoso da autora. O que incomoda é saber logo de cara quem é bonzinho e quem é malzinho na história e ter que esperar a protagonista perceber o que está explícito desde o início.
Pior ainda é ter que esperar isso acontecer dentro da cabeça da protagonista, que não sabe o que sente, não sabe o que quer e não sabe o que fazer ou esperar. Angústia adolescente é um tempero praticamente obrigatório em young adult, mas o leitor de qualquer idade precisa de mais do que isso num livro.
Talvez tudo ficasse mais interessante se os demais personagens fossem espertos, e Mare ficasse perdida justamente porque cada um tenta usá-la de uma forma diferente. Mas, para uma corte supostamente tão perigosa e cheia de intrigas, os prateados são extremamente simplórios e pouco percebem as artimanhas uns dos outros. Uma coisa é a menina que veio de fora não sacar o que está acontecendo, por mais sagaz que ela seja descrita no início da história, outra coisa é o Rei e outros chefes das famílias importantes não sacarem o que está acontecendo. Gente, eles nem desconfiam. Como assim?
Inclui aí um grupo revolucionário que por um lado é super ultra mega organizado, e por outro lado parece saber pouco do sistema ou contra quem eles estão lutando.
O resultado de tudo isso é um livro com boas ideias, mas mal montado, desconjuntado e com uma coerência interna que deixa a desejar. Para disfarçar, a autora faz uso de repetir as coisas, pra ver se convence o leitor do que deveria estar acontecendo martelando na nossa cabeça.
Definitivamente não é uma leitura relaxante.
Mas, pelo sucesso de público a gente fica curiosa, né? E não tem nada melhor do que reclamar com propriedade nesses casos.
Nota 5.