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terça-feira, 31 de agosto de 2021

Rainha Vermelha - Red Queen (Red Queen #1)


SPOILER FREE

Para abrir o Desafio Literário Popoca 2021 de setembro, com o tema ditadores e governadores autoritários ou insanos, decidi apostar na famosa série Rainha Vermelha, da autora americana Victoria Aveyard. Porque nada com um young adult para relaxar...

Só que não.

A Rainha Vermelha não é relaxante, não porque o enredo se passa num mundo dividido em duas castas separadas por sangue, sangue vermelho e sangue prateado, onde os prateados dominam os vermelhos por serem mutantes benders magos terem poderes que podem aniquilar os vermelhos num piscar de olhos e por serem a elite econômica, não. A Rainha Vermelha também não é relaxante, não por causa da violência, da guerra ou das mortes, não. 

A Rainha Vermelha não é relaxante porque os personagens são irritantes ao extremo.

Explico. Imagina um enredo com uma personagem principal chamada Mare Barrow (prometo não sacanear o nome, apesar da vontade) que é uma ladra, excelente nisso, daquelas que saca tudo do que está acontecendo ao redor e saber ler as pessoas. Agora, ela praticamente ganha numa loteria, vira uma princesa, e do nada ela não saca mais nada.

Dos que não curtiram a série, muitos reclamam do triângulo, digo, quadrado amoroso de Mare, Cal, Maven e Kilorn (porque sim, ela precisava não de dois, mas três interesses românticos), especialmente pelo fato de terem dois irmãos nesse polígono. Mas, sinceramente, isso não me incomodou, achei até interessante, e um tanto quanto corajoso da autora. O que incomoda é saber logo de cara quem é bonzinho e quem é malzinho na história e ter que esperar a protagonista perceber o que está explícito desde o início.

Pior ainda é ter que esperar isso acontecer dentro da cabeça da protagonista, que não sabe o que sente, não sabe o que quer e não sabe o que fazer ou esperar. Angústia adolescente é um tempero praticamente obrigatório em young adult, mas o leitor de qualquer idade precisa de mais do que isso num livro.

Talvez tudo ficasse mais interessante se os demais personagens fossem espertos, e Mare ficasse perdida justamente porque cada um tenta usá-la de uma forma diferente. Mas, para uma corte supostamente tão perigosa e cheia de intrigas, os prateados são extremamente simplórios e pouco percebem as artimanhas uns dos outros. Uma coisa é a menina que veio de fora não sacar o que está acontecendo, por mais sagaz que ela seja descrita no início da história, outra coisa é o Rei e outros chefes das famílias importantes não sacarem o que está acontecendo. Gente, eles nem desconfiam. Como assim?

Inclui aí um grupo revolucionário que por um lado é super ultra mega organizado, e por outro lado parece saber pouco do sistema ou contra quem eles estão lutando.

O resultado de tudo isso é um livro com boas ideias, mas mal montado, desconjuntado e com uma coerência interna que deixa a desejar. Para disfarçar, a autora faz uso de repetir as coisas, pra ver se convence o leitor do que deveria estar acontecendo martelando na nossa cabeça.

Definitivamente não é uma leitura relaxante.

Mas, pelo sucesso de público a gente fica curiosa, né? E não tem nada melhor do que reclamar com propriedade nesses casos.

Nota 5.

Severance

SPOILER FREE

Para fechar o Desafio Literário Popoca 2021 de agosto, com o tema pandemias e doenças, decidi me aventurar no romance da chinesa Ling Ma, publicado em 2018, mas ainda sem tradução para o português, apesar de estar disponível em outros idiomas, como espanhol e francês.

O romance, escrito originalmente em inglês, traz a história de Candace Chen, uma millennial, nascida na China, mas que cresceu nos EUA (como a autora). Alternando entre passado e presente, acompanhamos a fuga de Candace de Nova Iorque, após uma pandemia mundial que praticamente dizimou a humanidade.

Apesar de ter sido lançado em 2018, o livro tem coincidências absurdas com a atual pandemia de Covid-19, como o local onde ela se inicia e a falta de importância que as pessoas dão inicialmente para a doença. Só que a febre (em tradução livre minha) de Severance é bem mais fatal, não tem cura, e não deixa de ser uma forma da autora criticar traços da sociedade moderna. Falar mais sobre isso é spoiler.

Mesmo com a febre sendo uma doença bem diferentona, o enredo de Ling Ma é extremamente realista. Talvez se eu tivesse lido em 2018 ou 2019, eu não achasse isso, mas hoje, acho. E essa, para mim, é a característica mais marcante do livro, tanto para o bem, e que explica os inúmeros prêmios que a obra ganhou, quanto para o mal, e que torna a leitura bem deprimente nos tempos atuais.

No fundo, Severance tem algo de Ensaio sobre a cegueira, com uma pitada de Sweet Tooth, no sentido que a pandemia é uma forma de explorar questões da natureza humana. Só que sob o ponto de vista da geração nascida entre 1980 e 1995, com foco naqueles dessa época que migraram quando crianças e por isso muitas vezes se sentem sozinhos. E a autora não nega suas origens na estrutura do enredo ou na forma como Candace se comporta.

A escrita de Ling Ma prende e nos faz sentir coisas, como a boa literatura deve fazer, mas isso não torna a leitura fácil. Severance foi um livro que demorei para terminar porque eu precisava respirar no meio para me recuperar.

Mas, certamente que vale o esforço, e espero que ele seja traduzido logo. Existem coisas que precisamos discutir e pensar que a autora traz a tona, especialmente nos dias de hoje, e recomendo muitíssimo a leitura, mesmo que acompanhado de chocolate ou outro livro mais leve para ajudar a digestão.

Nota 9,5.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O Cara dos Meus Sonhos - Alex, Approximately

SPOILER FREE

Me animei de ler esse livro por indicação de uma amiga, que não só leu esse volume da autora americana Jenn Bennet, mas alguns outros, e ela sempre elogia. Como confio nessa amiga, e eu estava precisando de algo leve, mergulhei de cabeça em O cara dos meus sonhos, como ficou a tradução de Alex, approximately em português pela editora Plataforma 21.

Gosto especialmente de indicações acertadas, tanto quanto gosto daquela leitura que acontece no momento certo. Apesar de que O cara dos meus sonhos me parece ser uma delícia de ler a qualquer momento, porque, nossa, que história mais fofa!

O enredo é bastante simples, Bailey está apaixonada por um cara que conheceu na internet, mas, como tem a cabeça no lugar (em termos) sabe que é um risco simplesmente marcar de encontrar um desconhecido, por mais simpático que ele seja online. Como os dois moram em lados opostos dos EUA, isso nunca tinha sido uma preocupação, até que ela resolve ir morar com o pai, que, coincidências do enredo do plot do roteiro da vida mora na mesma cidade do seu crush, Alex

Esperta como ela só, Bailey se muda sem dizer nada para o amigo, e decide passar o verão tentando descobrir quem ele é. Só que nesse plano perfeito surge um problema, na forma de um surfista sexy, Porter Roth, e que trabalha com ela no mesmo lugar, um museu caça-turista. Enquanto ela enrola Alex online, tenta achar quem ele é na vida real, Bailey e Porter embarcam num verão inesquecível. Só que Porter também tem lá os seus segredos.

Não é o enredo mais maravilhoso ou surpreendente do mundo. Mas, também fica claro que o objetivo da autora não era esse, e sim tratar de como desenvolver amizades, lidar com o mundo e saber olhar para suas próprias feridas. E se isso acontece no meio de uma história romântica super fofa, ninguém vai reclamar. De quebra, você leva um show de relacionamentos saudáveis como o objetivo da história.

O resultado é um livro leve, despretensioso e gostoso de ler. Excelente para aqueles momentos que você precisa de algo para levantar o seu astral sem comprometer os seus neurônios.

Nota 8,5.

Você pode adquirir o seu Cara dos meus sonhos aqui.

P.S.: Se você quiser spoiler da história, é só escutar a música Escape (The Piña Colada Song), que faz parte da trilha sonora de Guardians of the Galaxy.

Tunnel of Bones - Cassidy Blake #2


 

SPOILER FREE

Depois de me apaixonar pelos personagens de A cidade dos fantasmas, dei sorte, e o livro seguinte da série da autora americana Victoria Schwab entrou em promoção e eu comprei e comecei a ler. O que posso fazer? A ansiedade falou mais alto.

Aviso importante, o primeiro livro da série só foi publicado no Brasil pela Galera Record em maio de 2021, então, o Túnel de Ossos (tradução livre minha) ainda não tem data prevista de lançamento em português.

Mas, temos uma boa notícia! Os direitos dos livros foram comprados pela emissora ABC para se tornar uma série, e a autora vai participar como produtora executiva! Tomara que as aventuras de Cass cheguem logo às telas!

Voltando ao livro, a continuação da saga de Cassidy Blake acompanha nossa heroína em Paris, a segunda parada dos seus pais na gravação de uma série de televisão sobre cidades mal assombradas. Em meio a vistas em locais turísticos, mas às vezes de turistas mais corajosos, Cass e seu melhor amigo fantasma Jacob acabam despertando um espírito um tanto quanto forte, e eles precisam desvendar um mistério antes que a assombração se torne forte demais.

Como todo livro de série de aventura, Tunnel of Bones segue uma certa fórmula, claro, temos o vilão da semana, um novo obstáculo para nossa protagonista superar, coisas novas para aprender etc. Mas, o interessante do trabalho da autora Victoria Schwab é como ela consegue seguir essa receita de forma interessante e sem cair nos clichês de sempre dos livros young adult. Eu gosto particularmente do fato que Cass e Jacob são apenas amigos, e amigos de verdade, com um relacionamento com problemas que amigos têm mesmo.

Outra coisa que sai do clichê crianças nunca são levadas a sério é que Cass, mesmo sendo adolescente, não deixa de ser levada a sério por isso. A questão é que o quê ela tem para contar é um pouco difícil de acreditar, e é por isso que ela escapa dos pais. Outros adultos que têm experiências paranormais não deixam de acreditar nela.

Além disso, gente, a história se passa em Paris, como não amar? A descrição das catacumbas está excelente, e eu visitei, posso atestar. Temos alguns clichês sobre Paris? Temos, mas são clichês por razões de serem bem verdadeiros, como a comida excelente, o metrô um tanto quanto complicado, o jeitão fechado dos franceses. Garanto que ficou melhor do que os clichês de Emily in Paris.

Outro ponto positivo é que finalmente temos uma aparição de um vilão maior e mais interessante para os próximos livros da série! E não direi mais nada sobre isso...

Enfim, um excelente livro de ação e aventura, com uma pitada de mistério, de personagens interessantes, que foge dos maiores clichês do gênero e, de quebra, de uma autora LGBTQ+. Recomendo!

Nota 9.

domingo, 1 de agosto de 2021

Spoiler Alert


SPOILER FREE

Confesso que comprei esse livro porque não resisti ao blurb que mistura um ator famoso por uma série que lembraria Game of Thrones na vida real, que por baixo dos panos escreve fanfiction, uma gordinha que finalmente resolve tirar sua paixão pela dita série do armário quando consegue um emprego mais amigável, a saída, feita através de cosplay gera um monte de maldade na internet e o galã resolve chamá-la para jantar, só que na verdade os dois já se conhecem há anos no universo de fandom sem saberem.

Como dizer não pra essa história? Eu precisava ler e ver o que a autora ia fazer.

Por um lado, todo o enredo e a relação entre os personagens principais, Marcus e April, é extremamente fofo, sem trocadilho. Tem um pouco de forçação de barra com relação ao peso de April e sua atitude com relação a isso, confesso, em alguns momentos eu não conseguia mais dizer se o texto era tão anti-gordofóbico que me pareceu gordofóbico por tabela. Mas, fora alguns momentos especialmente estranhos, no geral, o livro é bastante empoderador nesse sentido.

A história dos personagens também é interessante, cada um com seu passado de trauma etc., e como isso leva os dois a se ajudarem. Achei muito saudável nesse sentido, não é sempre que vemos esses temas sendo tratados de forma tão aberta, e o resultado é, novamente, fofo, mesmo que um tanto corrido. E é justamente por isso que o principal drama do livro parece extremamente gratuito. Com toda a carga emocional que os personagens investem um no outro, e a confiança que isso gera, o drama principal não faz o menor sentido.

Por outro lado, todas as cenas mais calientes são bem escritas e me agradaram muitíssimo. O romance é um pouco instalove em alguns momentos, mas nada realmente comprometedor. O resultado é adorável.

Como Spoiler Alert foi lançado ano passado, até onde consegui descobrir, não tem tradução para o português, e nem sei se vai ter. Mas esse ano devem lançar um novo volume dessa série, centrado no melhor amigo de Marcus, o que achei uma premissa interessante. Infelizmente, já teve gente lendo as cópias avançadas e fazendo resenhas pouco elogiosas, então, não sei se vou ler, desanimei.

Mas, por esse livro, nota 7.

Infernal God (Claimed By Lucifer Book 3)


SPOILER FREE

Depois de um excelente primeiro volume, seguido de um fiasco monumental, eu não tinha muitas expectativas no terceiro livro da série Claimed by Lucifer. Mas, como diz o ditado, a curiosidade matou o gato e eu fui lá comprei e li Infernal God. Certamente o livro faz jus ao título, mas não de uma forma positiva.

Ainda bem que foi o último livro da série da Elizabeth Briggs, porque certamente já sofri demais lendo, e depois dessa tortura não pretendo ler mais nada dessa autora. Toda a graça da história do primeiro livro já não existe mais nesse ponto, e eu que esperava mais lutas e politicagem pra me fazer esquecer a parte chata do enredo, tive que me contentar com uma narrativa absurdamente previsível, açucarada e, vamos ser sinceros, chata.

Demorei muito mais do que seria razoável para ler esse livro, justamente porque toda vez que eu pegava pra ler ficava irritada. No final, recorri a uma leitura mais diagonal só pra terminar, confesso. E eu nunca faço isso. Mas realmente, não havia insulina suficiente para lidar com a quantidade enlouquecida de clichês de Infernal God. A história simplesmente não acabava!

Enfim, fica a recomendação de passar longe.

Nota 2.

A Menina Mais Fria de Coldtown - The Coldest Girl in Coldtown


SPOILER FREE

Quando peguei esse livro da autora americana Holly Black eu só estava procurando por um bom livro de vampiros, mas logo percebi que ele seria perfeito para o Desafio Literário Popoca de agosto, com o tema pandemias e doenças. Hein? Vampiros para o tema pandemia e doenças?

Se você já viu o filme Army of the dead (disponível no Netflix, é divertido, recomendo pela Tig Notaro que está impagável), você vai entender. A receita é: pegue um ser sobrenatural, nesse caso vampiros, não os zumbis do filme, considere que a transformação de uma pessoa normal nesse ser é na verdade uma doença sem cura, o que leva as autoridades a criarem zonas de quarentena nas cidades mais atingidas pela pandemia, as tais Coldtowns do livro, e você tem o pano de fundo de A menina mais fria de Coldtown, no título traduzido no Brasil pela editora Novo Conceito.

Mas essa é só a ambientação, Holly Black traz a história de Tana, uma jovem que já viu de perto os horrores de pessoas contaminadas pelo Cold (não sei como ficou em português) que é a doença que leva alguém a se tornar um vampiro, e que por conta disso não entende a fascinação de muita gente pelos seres da noite. Entretanto, logo no primeiro capítulo, ela acorda numa festa que deu muito errado, e no meio de todo o horror causado pelos vampiros ela se vê numa jornada justamente para uma Coldtown, na presença de um ex-namorado, dois jovens aspirantes a vampiros e um vampiro em carne e osso.

Fazia muito tempo que eu não lia algo tão bom de vampiros, não só porque a autora faz referências maravilhosas aos grandes autores do gênero (Anne Rice deve ter ficado orgulhosa), mas porque ela consegue trazer uma história nova, bastante atual, mas sem abandonar o que é um vampiro clássico. Os vampiros de Holly Black são assustadores, violentos e charmosos, a combinação perfeita do gênero, e que é muito difícil de fazer de forma crível. E ela consegue isso na história de Tana, que é uma personagem muito interessante e complexa.

A autora conseguiu criar um enredo não só instigante e cheio de adrenalina, mas onde nenhum dos personagens é simples, ninguém é totalmente bom ou mau, estão todos numa escala de cinza. Fiquei impressionada, não esperava isso num livro young adult. Aliás, o nível de violência também não é muito comum, mas considerando que se trata de vampiros, é inevitável.

Acredito que o final não seja do agrado de todos, mas, pessoalmente, eu gostei. E fiquei tão impressionada com a autora, que já comecei a catar outros livros dela, não é a toa que ela anda fazendo sucesso. Virei fã também.

Nota 9,5.