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quarta-feira, 13 de abril de 2022

A pirâmide


 

SPOILER FREE

O Desafio Literário Popoca 2022 de abril tem como tema um romance histórico, e eu resolvi pegar um que se encaixa duplamente nesse quesito. O autor Ismail Kadaré é mais conhecido no Brasil por conta do filme Abril Despedaçado do que por conta de seus livros, mas, não é difícil encontrar traduções dele em português, o que mostra que o autor albanês é um tanto quanto fora da curva.

Apesar da Albânia ficar no que hoje chamamos Europa, a maioria da população do país é muçulmana, e a região ficou sob alguns séculos sob domínio do império otomano, do qual só saiu no século XX. De certa forma, isso transparece nos temas e nas narrativas de Ismail Kadaré, inclusive no texto original de Abril Despedaçado. Então, não é totalmente disparatado o autor, que não é egiptólogo, resolver escrever em A Pirâmide sobre a construção da maior pirâmide do Egito Antigo, chamada de pirâmide de Queóps, por conta do faraó que ordenou a sua construção.

Embora o enredo se passe totalmente dentro do período histórico da construção da pirâmide, o autor conseguiu fazer um retrato do que poderia ter ocorrido em qualquer época onde há uma ditadura. Numa narrativa concisa, mas poderosa, Ismail Kadaré traz à vida não apenas o Egito Antigo e diversas figuras históricas, mas também todo o clima do que poderia ser viver sob um regime e uma a figura tão dura quanto um faraó.

O melhor é que ele não escolhe o tema à toa, pouco antes dele escrever A Pirâmide, o secretário do partido comunista da Albânia, Enver Hoxha, que ficou em diversas posições no poder por cerca de 40 anos, havia mandado construir uma pirâmide na capital do país, Tirania. A pirâmide depois virou um museu, e durante a guerra de Kosovo foi uma base da OTAN, e durante muito tempo foi chamada de mausoléu de Enver Hoxha, porque ele faleceu na época da sua conclusão, apesar de não ter sido enterrado lá.

A pirâmide de Tirania

Por conta desse livro (e provavelmente de outros também), que só foi editado mesmo depois da queda do comunismo na Albânia, Ismail Kadaré se exilou na França, o que mostra o quão certeiro é o seu texto. Que, no final, é duplamente romance histórico, é um retrato do Egito Antigo e um retrato da Albânia dos anos 80. O autor é bom assim, vale a pena ler qualquer coisa dele, mas A Pirâmide é realmente especial.

Nota 10.

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