Espaço para eu escrever sobre o que eu leio... Com espaço também para falar sobre autores que eu gosto e que eu não gosto... porque falar dos outros é fácil!!!
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quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Miss Peregrine's Home for Peculiar Children
SPOILER FREE
Já não lembro onde vi a indicação para esse livro (andei procurando pelo meu google reader, mas não achei!), só sei que a capa e o que fiquei sabendo do livro me deixaram louca de vontade de lê-lo! Foi um daqueles livros que não durou nem um mês na lista de espera.
E que surpresa agradável! Hum, quer dizer, a história não é nada agradável ou leve, mas o livro é um dos mais divertidos e originais que li esse ano! O que faz desse livro tão peculiar, sem nenhuma dúvida, são as fotos que servem de ilustração. O autor fez uma bela pesquisa em coleções privadas de fotos vintage (todas são reais, apenas algumas foram levemente manipuladas digitalmente) para dar vida aos fatos e personagens. E que fotos! Nenhuma delas é "normal", e todas carregam um pouco de terror em si... eu sinceramente tenho medo de conhecer pessoalmente qualquer um dos modelos. E claro que fica no ar a questão: quem tiraria fotos assim?
Além das fotos, que são um extra muito bem vindo, a história em si é bem interessante. Jacob é um adolescente que passou a infância inteira ouvindo histórias fantásticas do seu avô, um judeu polonês que escapou do holocausto e mais tarde ainda foi lutar na guerra! E, apesar de convencido de que essas histórias eram apenas fantasias, um dia coisas começam a acontecer, e ele passa a ver que talvez elas sejam muito mais reais do que ele imagina... talvez os amigos de infância surreais do avô sejam reais, e pior, ainda estejam vivos! Para acrescentar ainda mais à história, tudo isso pode ser parte de uma trama ainda maior, perigosa e aterrorizante!
Em termos de qualidade, o texto deixa um pouco a desejar, como livro de estréia do autor, também não podemos exigir tanto, e por isso é passável. Mas o enredo é de fisgar o leitor e não largar o livro até o final! Já o final... bem, ele não está beeeeeem lá. Vai haver uma continuação, ainda sem nome ou data prevista de lançamento :-(
Realmente há espaço para um maior desenvolvimento da história e dos personagens, e uma sequência é interessante. Mas confesso que fiquei pensando na sua real necessidade no caso, ou se foi apenas uma jogada de marketing para conseguir mais dinheiro e aumentar a venda de livros do autor. O que aconteceu com os livros que se bastam em si mesmos? Acho que estão definitivamente fora de moda. Isso me deixa triste. E confesso que não era o que eu esperava.
Agora fiquei sabendo que, apesar de ter menos de um ano de lançado, os direitos para transformar o livro em filme já foram vendidos, e já há até rumores de um possível diretor para o projeto: Tim Burton. Combina com ele. Mas fica com mais cara ainda de que a divisão do livro em mais de um volume foi só uma forma de arrecadar mais dinheiro.
Apesar de tudo, o livro é um ótimo exemplar de literatura infanto-juvenil/young adults!
Nota 8,5
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Harem Years
SPOILER FREE
Esse livro foi um grande achado que fiz durante minhas perambulações por livrarias virtuais (sim, isso é possível!), pois se trata do relato de uma mulher fantástica! Huda Shaarawi foi uma feminista egípcia nascida no século XIX, e uma das últimas mulheres a serem criadas no sistema do Harém em vigor no Egito até início do século XX. Nesse sistema de segregação completa entre os sexos, as mulheres egípcias tinham uma vida muito limitada, não tinham acesso a uma educação formal (apenas com tutores em casa, e portanto limitado a 1- dinheiro disponível para gastar com a sua educação, que não era considerada importante, 2- limitado apenas aos assuntos definidos pela sua família - e também pelos eunucos e demais criados, vejam só), não podiam andar sozinhas na rua, e estavam sempre sujeitas a autoridade masculina.
Então surge Huda, uma mulher que teve sorte por ter uma boa formação (talvez isso seja devido a morte prematura do seu pai, quando a casa passou a ser gerida pelas suas viúvas - sim, no plural), e que apesar de ter casado muito cedo (13 anos era a idade normal para se casar na época), por um golpe do destino conseguiu passar os 7 anos seguintes longe do marido, quando conseguiu melhorar ainda mais a sua formação. Dotada desde criança de um grande senso crítico, já percebia desde cedo a diferença de tratamento entre ela e seu irmão, e isso sempre a incomodou.
Sendo de uma classe extremamente abastada, ainda pode conviver com mulheres estrangeiras, que na época estavam começando a desenhar o movimento feminista europeu, e Huda embarcou com grande paixão no tema, sendo a fundadora do movimento feminista egípcio, e a primeira mulher a retirar o véu em público no início dos anos 20!
Huda e a delegação egípcia num encontro feminista em Roma |
Então, não é apaixonante? Pois esse livro traz suas memórias da sua vida no Harém, antes do seu envolvimento com o feminismo e com o nacionalismo egípcio (mas o livro tem um apêndice DIVINO que trata dessa época e que mostra o quão importante foi o movimento das mulheres para a independência do Egito). O livro foi organizado pela historiadora Margot Badran, especialista em estudos femininos e islamismo, com base no caderno escrito por Huda com suas memórias. Margot apenas juntou os assuntos de forma que a história ficasse numa ordem cronológica, e se atendo apenas ao texto que se referia aos anos vividos no Harém. Porém, como as memórias de Huda iam além disso, e incluem uma longa defesa ao nacionalismo do seu pai, Margot fez um apêndice lindo sobre a história do Egito, utilizando partes das memórias e passagens de textos importantes, como cartas e discursos políticos da época, e também reportagens de jornais.
Além disso tudo, o livro é rico em fotografias! Tem fotos do Cairo antigo, da Huda e de outras personalidades importantes da época. Um primor!
Huda sem o véu, na primeira foto de uma mulher egípcia sem véu publicada em jornais egípcios |
Nota 9
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
The Yacoubian Building - O Edifício Yacoubian
SPOILER FREE
Continuando a saga dos autores egípcios do Desafio Literário (o tema esse mês é escritores africanos, e estou aproveitando que um dos meus países de interesse fica nesse vasto continente), resolvi variar um pouco e escolhi um romance bem mais moderno: The Yacoubian Building (lançado em português como O Edifício Yacoubian).
O livro foi publicado em árabe em 2002, e desde então foi publicado em mais de 20 idiomas, virou filme indicado pelo Egito ao Oscar (sem nem ir para a indicação final) em 2006, e fez tanto sucesso por lá que virou série de TV em 2007. E isso tudo me deixou muito surpresa! Juro que não sei nem como o livro foi publicado, muito menos como virou filme e foi parar na televisão, pois dada a rigidez da sociedade egípcia, o conteúdo do livro é escandaloso, libertino e fala muito mal do governo.
Quer entender alguma coisa sobre a sociedade egípcia moderna? Está tudo lá: a corrupção reinante entre os governantes, a economia em frangalhos (com todo o desemprego a tiracolo), a hipocrisia na relação homem-mulher, a hipocrisia com relação às religiões (não só o islamismo, mas os cristãos coptas também estão presentes), os problemas pelos quais os homossexuais passam, a violência, a desigualdade, a falta de educação e saúde públicas. E tudo isso dito sem papas na língua. Com direito a cenas explícitas de tortura realizadas pela polícia e transações escusas entre políticos.
Isso tudo no livro! Ainda não vi o filme, estou tentando dar um jeito nisso :-)
Daí vocês entendem a minha surpresa por ele ter sido publicado? Para "piorar" a história do livro se passa num momento muito delicado para a memória do Oriente Médio: A Guerra do Golfo, quando o Iraque invadiu o Kwait e diversos países árabes se uniram aos americanos para libertar o vizinho "das garras de Saddam Hussein" nos idos dos anos 90. Tudo isso já é questionável por si só e, se você procurar, vai ver muitas versões para essa história. Agora imagine isso tudo sendo retratado como pano de fundo para a vida de diversos egípcios totalmente diferentes entre si: o jovem que se torna muçulmano fanático, o "don ruan" que vive de renda da família que era aristocrata antes da revolução dos anos 50, a jovem que não consegue emprego a não ser que se deixe "à disposição" dos patrões, o cara que nasceu pobre e virou milionário e está se envolvendo na política, o malandro que vive de pequenos esquemas... e todas essas histórias tem como ponto comum o Edifício Yacoubian, que adivinha? Existe na vida real!
Pois bem, o tal edifício do título está lá no Cairo até hoje (apesar de ser diferente da descrição dada no livro), e é lá onde se localizava o primeiro consultório do autor, que vive mesmo como dentista no Egito. Aparentemente a vida literária por lá é parecida com a nossa aqui, os escritores não conseguem viver só de literatura. Mas vamos combinar que dentista não é exatamente a profissão que você imaginaria. E o cara escreve bem!
Alaa Al-Aswany escreve tão bem que diversas vezes senti vontade de sublinhar passagens do seu texto (pena que não ando com um lápis ou uma caneta junto com meus livros, teria sido muito útil dessa vez), e sua pena pode ser extremamente afiada... sem perder a linha ou passar para o vulgar, o que, vamos combinar, é muito difícil no caso da história que ele está contando. Não sei se a tradução para o português ficou tão boa quanto a em inglês, mas gostei demais de ler o livro.
Nota 9!
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
O Beco do Pilão
SPOILER FREE
Mais um livro para o Desafio Literário! Esse é do famoso egípcio, prêmio nobel de literatura, Naguib Mahfouz, então não corri o risco de errar de continente! (o tema desse mês é escritores africanos, e o último livro que li comecei julgando que era de uma egípcia, mas descobri que a autora era libanesa! pode isso? me confundi bonito!)
Eu já virei fã do Naguib Mahfouz desde que li a Trilogia do Cairo, e já li outras obras simplesmente maravilhosas dele, como Noites das Mil e Uma Noites e Miramar, então O Beco do Pilão era um livro que gerou muitas expectativas. Ele também foi protagonista de uma grande caça pela internet, pois ele está esgotado! Mas eu consegui um exemplar no Submarino... podia ser pela Estante Virtual, eu sei, mas como sou alérgica, dou preferência a livros novos quando posso.
Voltando o livro, O Beco do Pilão é uma obra da fase realista do autor, retratando a história de diversos moradores do tal beco, no Cairo. Como se passa no final da segunda guerra mundial, as histórias são todas tristes e carregadas de ruptura com o passado do Egito, e com os problemas e dificuldades em se adaptar a uma "nova era". É interessante ver como os jovens buscam a modernidade e a mudança de vida e de status social, enquanto os mais velhos se agarram aos velhos costumes e quando pensam na atualidade é visando apenas o lucro nos seus negócios.
Tudo isso é muito interessante e muito bem trabalhado na narrativa de Mahfouz. Além disso, essa edição em específico tem um posfácio extremamente interessante, explicando alguma coisa sobre a obra do autor, sua importância na literatura árabe e esclarecendo alguns pontos que a tradução impede perceber (como o significado dos nomes em árabe e como Naguib brinca com isso para caracterizar seus personagens).
Porém, contudo, entretanto, todavia, não é o meu livro favorito dele. Acho que dessa vez, além é claro de ter lido outras obras do autor, o fato de ter lido outros livros de outras escritoras árabes me fez ver a forma como Mahfouz retrata suas personagens femininas com outros olhos. Confesso que dessa vez, ao ler as descrições delas fiquei com uma pulga atrás da orelha, como se de alguma forma, algo naquela descrição não me inspirasse tanta segurança ou verossimilhança com a realidade. E isso foi uma novidade na minha experiência com esse autor.
Fiquei com a sensação de que alguma forma que não sei precisar muito bem elas foram descritas com um pouco mais de liberdade e segurança do que teriam na realidade, como se a situação da mulher na sociedade egípcia estivesse de alguma forma amenizada ou omitida. Levando em consideração que o autor é homem isso é compreensível. Levando em consideração que ele era de esquerda e, portanto, provavelmente a favor do feminismo ou pelo menos de mais direitos para mulheres, eu confesso que esperava mais.
Mas talvez seja apenas uma forma de demonstrar que toda a limitação da situação feminina era vista pelos personagens (e talvez até pelo autor) como absolutamente normal, e portanto indigno de nota.
Mas fora essa questão, esse romance é muito carregado de drama e de discussões familiares, um pouco no estilo novela das 8, e confesso que isso também me deixou um pouco irritada. Talvez o excesso de discussões intermináveis e por motivos fúteis seja uma forma de retratar a realidade da época e do extrato social tratado no livro, mas não torna a leitura nada agradável. Se esse era o objetivo, Naguib acertou em cheio, pois a vida do beco aqui retratada é massante, repetitiva, cheia de brigas de vizinhos, pequenas e grandes tragédias e traições de todo tipo.
A falta de um personagem central também não ajuda, pois são muitas pequenas histórias para acompanhar e que se entrelaçam ao longo da narrativa. Temos a jovem Hamida, que só pensa em dinheiro e como subir de vida, sua mãe adotiva Umm Hamida, que também só quer saber de dinheiro e como tirar proveito dos casamentos que ajuda a arranjar, a Sra. Afifi, viúva e razoavelmente rica, que depois de anos sozinha resolve casar novamente, Helu, um jovem barbeiro ingênuo apaixonado por Hamida, seu melhor amigo Hussein, que só quer saber de sair do beco e viver no "mundo moderno", o pai de Hussei, Kircha, viciado em haxixe, dono do café do beco e com tendências sexuais pouco ortodoxas... ainda tem o padeiro e sua esposa, o companheiro de quarto de Helu, o dervixe que está sempre no bar, o dentista sem graduação, o malandro que vive de "criar mendigos", o dono da única empresa do beco e o grande homem espiritual a quem todos recorrem para conselhos. É muita gente! Parece novela mesmo!
Mas apesar disso tudo, é Naguib Mahfouz, e mesmo sem ser um dos seus melhores livros não pode ser classificado como ruim nem de longe.
Nota 8,5.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
The Story of Zahra
SPOILER FREE
Novamente estou escrevendo logo depois de ler... e dessa vez a invés de raiva sinto como se tivesse levado uma surra. O livro da libanesa Hanan Al-Shaykh é um soco no estômago.
Numa história alucinante e permeada de tragédias, ela conta a história de Zahra, desde a sua infância até a idade madura, e como a sociedade esquizofrênica em que ela vive a deixou com alguns parafusos a menos. Tudo isso com a história do Líbano ao fundo, incluindo a guerra civil que devastou Beirute.
É tanta loucura e violência de todo tipo que não dá nem para sentir raiva, só ficar tonta e completamente abismada: como isso tudo pode acontecer? Quão insensíveis, cruéis e loucas as pessoas precisam ser para que esse tipo de coisa possa ser realidade? Ah, sim, porque a parte da guerra é real.
Hanan não poupa ninguém, não há inocentes nessa história, nem as vítimas (até mesmo as mais injustiçadas tem os seus momentos de vingança perversa). É muito duro isso. Ver esse tipo de verdade tão nua e crua sendo colocada na nossa frente. Dói a alma. Você torce para que as pessoas saiam dos seus ciclos viciosos, mas ao mesmo tempo vê que elas não tem alternativa a não ser continuar caminhando rumo ao abismo. E o fundo do poço é aterrador.
Estou surpresa com a força da literatura feminina árabe... queria ter descoberto esses livros mais cedo!
Nota 10
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Woman at Point Zero
SPOILER FREE
Acabei de terminar esse livro... sério, faz apenas pouco mais de 2 horas que virei sua última página, e ainda não consigo definir tudo o que se passa dentro de mim depois de lê-lo. Sei que há uma mistura de raiva, com revolta, ódio e muito alívio por não viver numa sociedade como a da Firdaus. Como um livro de pouco mais de 100 páginas pode ter tanto impacto?
Se eu já era feminista, agora sou mais. E não só por todo o sofrimento e humilhação que o livro mostra, mas pelo sistema que permite que tudo isso ocorra e que é tão bem demonstrado nas suas páginas. Tudo bem que não vivemos no extremo que o livro narra, mas tampouco vivemos livres como seria desejável e necessário para uma sociedade chamada de evoluída ou democrática. Não há como ter democracia sem igualdade. E a desigualdade da condição feminina é a pior que pode existir, não só por atingir mais de metade da população do planeta, mas pela sua extrema crueldade que se alimenta de si mesma e portanto se repete de geração em geração. E o pior de tudo: é feita de tal forma que muitas pessoas nem percebem os seus reais contornos e lidam com os seus preconceitos como se fosse algo natural. O bacana de ver esse tipo de sistema numa cultura diferente da nossa é justamente para perceber algumas partes dele, justamente nos pontos em que ele se diferencia do nosso. Quem sabe assim não nos ajuda a ver parte das nossas próprias grades?
Lembrando que apesar de tudo eu ainda sou privilegiada (pois afinal de contas sou branca, heterossexual e não sou pobre), fico ainda mais indignada e triste com a situação daquelas que tem ainda mais problemas do que eu. Nesse momento vejo como tenho sorte, muita sorte. Não consigo dizer o que eu faria se estivesse no lugar da protagonista, nem de outras mulheres em situação mais precária, mas sei que meu corpo arde de raiva quando leio sobre o assunto.
Voltando ao livro, ele foi escrito por uma egípcia (por isso entra no Desafio Literário do mês!), formada em psiquiatria. Ela é uma raridade na sociedade egípcia, pois se formou no início dos anos 60 e foi educada da mesma forma que seus irmãos do sexo masculino. Chegou a trabalhar para o governo egípcio, até haver uma mudança na sua política e ela passou a ser uma militante perseguida por seus ideais feministas. Chegou a passar alguns anos presa, e viveu outros tantos no exílio. Pode-se dizer que ela escreve com conhecimento de causa. Inclusive, a história narrada é real (com algumas adaptações, claro, mas os acontecimentos narrados são reais), obtida em entrevistas com mulheres presas por conta de uma das suas pesquisas em psiquiatria, o que deixa tudo ainda mais horripilante e dá ainda mais raiva.
De qualquer forma, é uma leitura obrigatória, e pode mudar a forma de ver a vida de uma pessoa.
Nota 10.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Histórias para não dormir
SPOILER FREE
Eis um livro que veio parar nas minhas mãos de forma pouco convencional... eu estava numa festa de aniversário, quando um amigo meu (vizinho do aniversariante em questão) veio me falar desse livro. Como ilustrador, ele achava o livro muito bonito, o que me deixou curiosa, dado que se trata de histórias de terror! Ao ver o meu interesse, esse amigo não perdeu tempo: foi até a sua casa (alguns andares acima) e trouxe o dito cujo para que eu olhasse.
Não deu outra, passei uma parte da festa num canto bebendo dry martíni acompanhada do livro. E justamente por ser um livro de contos curtos e por ser em quadrinhos, ele não durou nada na minha mão. O que foi bom, pois ainda consegui aproveitar parte da festa!
O livro é uma coletânea de contos de mestres como Guy de Maupassant, Sheridan Le Fannu, Edward White, J. William Polidori, Catherine Crowe, Robert Stevenson e Edgar Allan Poe. Cada um tem um conto adaptado e ilustrado pelo espanhol Pedro Rodríguez (ele tem um site fofo, veja aqui).
Todos os contos são interessantes, uns mais do que outros, claro. Pessoalmente eu gostei mais do último conto, do Poe, chamado "O Gato Preto", seguido do primeiro conto, "A Mão", cujo autor me escapa da memória. Tem história de vampiro, de fantasma, algo parecido com zumbis... enfim, é uma grande salada mista da literatura de terror do século XIX, e o tempo gasto com ele é muito bem aproveitado.
Mas confesso que depois de ler Stephen King e a literatura de terror atual com seus detalhes escatológicos, os contos de terror "de antigamente" deixam de ser tão assustadores, parecendo quase infantis, mas mesmo assim não perdem o seu charme. Não chega e dar insônia como promete o título (não para mim, pelo menos, O Iluminado foi muito muito muito muito pior nesse sentido), mas é o tipo de história bacana de se contar no escuro só com uma lanterna ligada!
Nota 8,5
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Inheritance
SPOILER FREE
E mais de 2 anos depois de ter o início da série (apesar do livro ter chegado lá em casa no início do ano, o desafio literário me manteve ocupada até agora), finalmente li o último livro do Christopher Paolini! Foi meio estranho, pois como fazia muito tempo desde que li os livros anteriores, havia muita coisa que eu já não me lembrava direito... mas conforme a história foi andando e o autor foi mencionando o passado de Eragon, as coisas ficaram melhores nesse sentido.
Agora, o autor me deixou chateada, eu sei que gostei do terceiro livro, mas juro que dessa vez, conforme fui lembrando o que aconteceu anteriormente e juntando com tudo o que aconteceu nesse quarto volume, não pude deixar de achar que Paolini estava me enrolando. É um excesso de informação e detalhes que, sério, duvido da sua real importância para a narrativa. Diversas vezes me peguei pensando "que saco, por que a história não anda???". E depois que a história acaba, o livro ainda tem umas 100 páginas!!!! Pura enrolação!
O clímax da história começa na metade do livro! E enrola, enrola, enrola... ainda bem que durante esse mês eu tirei folgas de Inheritance para ler as Graphic Novels do desafio literário.
Agora a parte positiva: o autor sabe descrever batalhas! Todas (e são muitas, acredite) são muito boas e bem descritas, realmente eletrizante! Valeu a pena a enrolação entre elas só para passar pelas emoções dos confrontos! Além disso, o mundo criado por Paolini é muito interessante, a forma como Alagaësia foi criada, as raças foram dominando o seu espaço, e o jeito como funciona a magia é muito interessante e bem montado! A parte das línguas que ele criou é interessante, mas para mim não chamou tanta atenção, gosto mais da mitologia da coisa mesmo.
Anteriormente eu comparei o trabalho do autor com Senhor dos Anéis, e a comparação é válida (inclusive na lenga lenga, excesso de detalhes e até em músicas - apesar de não ter músicas nesse livro), mas no final acho que ele resolveu se inspirar em História Sem Fim II ou III (não lembro qual deles tem o final parecido com o do livro). Eu juro que esperava algo mais interessante ou elaborado, e não algo como: sério, do jeito que a coisa tá indo eles não vão conseguir, mas aí na última hora alguém tem uma ideia brilhante (e bizarra e meio plágio de filme) que resolve o problema. Não gostei da solução do autor, mas isso é culpa dele mesmo, que tanto alongou a história que deixou os seus personagens sem saída. Sabe o problema de tornar os seus personagens tão "overpower" que a coisa ou perde a graça ou você tem que apelar muito pra conseguir resolver o enredo? Paolini apelou feio.
Mesmo assim, o saldo do livro (e da saga) é positivo, pois apesar de todos os defeitos, a leitura é agradável (na maior parte do tempo) e dinâmica (na maior parte do tempo). Temos que levar em consideração também a idade do autor, pois fazer o que ele fez antes dos 30 não é para qualquer um. O rapaz tem talento.
Acho que vale a pena continuar acompanhando o trabalho dele, tem muito a melhorar, mas ele está num bom caminho.
Nota 8 para Inheritance e para a saga como um todo.
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