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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Woman at Point Zero


SPOILER FREE

Acabei de terminar esse livro... sério, faz apenas pouco mais de 2 horas que virei sua última página, e ainda não consigo definir tudo o que se passa dentro de mim depois de lê-lo. Sei que há uma mistura de raiva, com revolta, ódio e muito alívio por não viver numa sociedade como a da Firdaus. Como um livro de pouco mais de 100 páginas pode ter tanto impacto?

Se eu já era feminista, agora sou mais. E não só por todo o sofrimento e humilhação que o livro mostra, mas pelo sistema que permite que tudo isso ocorra e que é tão bem demonstrado nas suas páginas. Tudo bem que não vivemos no extremo que o livro narra, mas tampouco vivemos livres como seria desejável e necessário para uma sociedade chamada de evoluída ou democrática. Não há como ter democracia sem igualdade. E a desigualdade da condição feminina é a pior que pode existir, não só por atingir mais de metade da população do planeta, mas pela sua extrema crueldade que se alimenta de si mesma e portanto se repete de geração em geração. E o pior de tudo: é feita de tal forma que muitas pessoas nem percebem os seus reais contornos e lidam com os seus preconceitos como se fosse algo natural. O bacana de ver esse tipo de sistema numa cultura diferente da nossa é justamente para perceber algumas partes dele, justamente nos pontos em que ele se diferencia do nosso. Quem sabe assim não nos ajuda a ver parte das nossas próprias grades?

Lembrando que apesar de tudo eu ainda sou privilegiada (pois afinal de contas sou branca, heterossexual e não sou pobre), fico ainda mais indignada e triste com a situação daquelas que tem ainda mais problemas do que eu. Nesse momento vejo como tenho sorte, muita sorte. Não consigo dizer o que eu faria se estivesse no lugar da protagonista, nem de outras mulheres em situação mais precária, mas sei que meu corpo arde de raiva quando leio sobre o assunto.

Voltando ao livro, ele foi escrito por uma egípcia (por isso entra no Desafio Literário do mês!), formada em psiquiatria. Ela é uma raridade na sociedade egípcia, pois se formou no início dos anos 60 e foi educada da mesma forma que seus irmãos do sexo masculino. Chegou a trabalhar para o governo egípcio, até haver uma mudança na sua política e ela passou a ser uma militante perseguida por seus ideais feministas. Chegou a passar alguns anos presa, e viveu outros tantos no exílio. Pode-se dizer que ela escreve com conhecimento de causa. Inclusive, a história narrada é real (com algumas adaptações, claro, mas os acontecimentos narrados são reais), obtida em entrevistas com mulheres presas por conta de uma das suas pesquisas em psiquiatria, o que deixa tudo ainda mais horripilante e dá ainda mais raiva.

De qualquer forma, é uma leitura obrigatória, e pode mudar a forma de ver a vida de uma pessoa.

Nota 10.

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