SPOILER FREE
Esse livro foi um grande achado que fiz durante minhas perambulações por livrarias virtuais (sim, isso é possível!), pois se trata do relato de uma mulher fantástica! Huda Shaarawi foi uma feminista egípcia nascida no século XIX, e uma das últimas mulheres a serem criadas no sistema do Harém em vigor no Egito até início do século XX. Nesse sistema de segregação completa entre os sexos, as mulheres egípcias tinham uma vida muito limitada, não tinham acesso a uma educação formal (apenas com tutores em casa, e portanto limitado a 1- dinheiro disponível para gastar com a sua educação, que não era considerada importante, 2- limitado apenas aos assuntos definidos pela sua família - e também pelos eunucos e demais criados, vejam só), não podiam andar sozinhas na rua, e estavam sempre sujeitas a autoridade masculina.
Então surge Huda, uma mulher que teve sorte por ter uma boa formação (talvez isso seja devido a morte prematura do seu pai, quando a casa passou a ser gerida pelas suas viúvas - sim, no plural), e que apesar de ter casado muito cedo (13 anos era a idade normal para se casar na época), por um golpe do destino conseguiu passar os 7 anos seguintes longe do marido, quando conseguiu melhorar ainda mais a sua formação. Dotada desde criança de um grande senso crítico, já percebia desde cedo a diferença de tratamento entre ela e seu irmão, e isso sempre a incomodou.
Sendo de uma classe extremamente abastada, ainda pode conviver com mulheres estrangeiras, que na época estavam começando a desenhar o movimento feminista europeu, e Huda embarcou com grande paixão no tema, sendo a fundadora do movimento feminista egípcio, e a primeira mulher a retirar o véu em público no início dos anos 20!
Huda e a delegação egípcia num encontro feminista em Roma |
Então, não é apaixonante? Pois esse livro traz suas memórias da sua vida no Harém, antes do seu envolvimento com o feminismo e com o nacionalismo egípcio (mas o livro tem um apêndice DIVINO que trata dessa época e que mostra o quão importante foi o movimento das mulheres para a independência do Egito). O livro foi organizado pela historiadora Margot Badran, especialista em estudos femininos e islamismo, com base no caderno escrito por Huda com suas memórias. Margot apenas juntou os assuntos de forma que a história ficasse numa ordem cronológica, e se atendo apenas ao texto que se referia aos anos vividos no Harém. Porém, como as memórias de Huda iam além disso, e incluem uma longa defesa ao nacionalismo do seu pai, Margot fez um apêndice lindo sobre a história do Egito, utilizando partes das memórias e passagens de textos importantes, como cartas e discursos políticos da época, e também reportagens de jornais.
Além disso tudo, o livro é rico em fotografias! Tem fotos do Cairo antigo, da Huda e de outras personalidades importantes da época. Um primor!
Huda sem o véu, na primeira foto de uma mulher egípcia sem véu publicada em jornais egípcios |
Nota 9
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