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quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Publicação da Mortalidade

 
 
SPOILER FREE

Quem me acompanha minhas resenhas há algum tempo sabe que eu sou fã do autor português Valter Hugo Mãe. Desde que o conheci leio pelo menos um livro dele por ano, e claro, não resisti comprar esse livro de poesias dele quando o vi numa livraria.

Então descobri que Valter Hugo Mãe, apesar de escrever prosa de forma absurdamente poética, não é exatamente um poeta. Ou pelo menos, esse volume não faz jus a qualidade dos demais livros que já li dele.

A Publicação da Mortalidade é dividido em diversas partes, como uma coletânea de pedaços de outros livros (o que eu não tenho certeza se procede ou se é só estilo para esse volume), algumas com poesias bem curtinhas, outras com poesias bastante extensas. Independentemente do tamanho, as poesias vão no máximo até bonitinhas, não há nada genial no livro inteiro.

Valter Hugo Mãe acerta em passagens das poesias, que realmente geram diversas citações belíssimas, mas no geral as poesias muitas vezes parecem uma tentativa fracassada de genialidade por chocar o leitor do que por algo inato do texto. O texto em si é bastante fraco, o que me deixou decepcionadíssima. Eu esperava muito, mas muito mais dele.

Uma pena. Talvez eu deva me manter apenas na leitura da prosa poética de Valter Hugo Mãe.

Nota 5.

sábado, 24 de novembro de 2018

Poet X - A Poeta X



SPOILER FREE

A Poeta X é um dos destaques dos livros lançados esse ano e finalista nos prêmios National Book Award, Boston-Globe Hornbook Award Prize for Best Children’s Fiction e Goodreads Choice Awards 2018 na categoria poesia. Mas o livro é um romance young adult.

Como assim? Pois é, A Poeta X desafia categorias assim como sua escritora, Elizabeth Acevedo, negra, filha de imigrantes da República Dominicana nascida em Nova Iorque e que se autodenomina AfroLatina. A autora é campeã nacional de Slam (competição de declamação de poesias autorais), palestrante do TED Talk e professora em diversas universidades nos EUA.

Eu não sabia nada disso quando peguei o livro para ler, claro, e posso dizer ele me surpreendeu em todas as páginas. A história é contada na forma de um diário escrito pela personagem principal, Xiomara Batista, que aliás, é uma das melhores personagens femininas que já li, mas ela escreve em forma de poemas. É um livro/diário/seleção de poemas/romance young adult. E funciona.

As poesias são escritas de forma a parecer que foram feitas por uma adolescente de 16 anos que escreve bem. E sim, elas parecem exatamente isso, incluindo inclusive expressões em espanhol no meio, porque, enfim, a personagem, assim como a escritora, é filha de dominicanos. A história é centrada na relação de Xiomara com a família, um pai ausente, uma mãe católica ferrenha e controladora e um irmão gêmeo, Xavier, sobre quem não posso dizer nada sem dar spoiler.

Minhas passagens favoritas são aquelas em que ela fala dos deveres de casa para a aula de literatura, porque achei muito sensacional o fato da personagem primeiro escrever no diário o que ela realmente queria dizer e depois você vê o que ela realmente entregou para a professora. Claro, tudo muda de uma coisa para outra e é de partir o coração em mil pedacinhos. É lindo.

Por ser um livro onde a narradora é uma adolescente AfroLatina, a questão das mulheres e do feminismo é muito presente em todo o texto. Questões que apenas mulheres conseguem realmente entender estão presentes ali. Tem um poema em especial que eu amei de paixão, em que Xiomara fala do assédio que ela sofre na rua que é simplesmente perfeito.

Por ser e família católica, ainda tem toda uma conexão com o que mulheres brasileiras passam também, em uma passagem inspirada do livro:

When I’m told to have faith in the father the son in men               and men are the first ones to make me feel so small.

Quando dizem para eu ter fé no pai no filho nos homens              e os homens são os primeiros a me fazer sentir tão pequena. (tradução minha)
Todo o enredo é um retrato bastante realista e chocante. E o fato de ser as duas coisas mostra porque precisamos tanto de livros como A Poeta X. Ele merece todos esses prêmios mesmo. Elizabeth Acevedo merece ser ovacionada de pé.

Nota 10.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Made you up - Inventei você?



SPOILER FREE

Esse livro estava na minha lista de leituras desde o seu lançamento em 2015, mas a lista é longa e a as minhas escolhas podem ser muito enviesadas de vez em quando. Acabei tirando da prateleira virtual porque estava a caça de algo relacionado a teorias da conspiração.

Não, o livro não é sobre teorias da conspiração. É sobre uma adolescente ruiva no último ano da escola que sofre de esquizofrenia. A questão é que Alex é descrita no blurb como paranoica, o que é certo que vai envolver pelo menos a ideia de conspirações, por isso peguei o livro. Tcharã!

Como livro estilo young adult, Inventei você? (título da tradução no Brasil, pela editora Verus) funciona muito bem e a leitura é muito interessante. Toda a questão gira em torno do fato que Alex, nossa narradora, tem dificuldade de identificar o que é real e o que não é. Logo, conforme a história vai andando, você como leitor também não tem certeza se o que está acontecendo é real ou fruto de alucinações da narradora. 

Como estilo e linha narrativa funciona muito bem, é preciso tirar o chapéu para Francesca Zappia. Além de ter escrito uma das melhores citações de livros young adult: 

Sometimes I think people take reality for granted.

Às vezes eu acho que as pessoas não dão o devido valor à realidade. (tradução minha) 

E o enredo todo é muito divertido, cheio de situações muito interessantes, incluindo um excelente bad boy e interesse romântico, alunos imigrantes e diversas teorias estilo conspiração envolvendo as animadoras de torcida. Aliás, a escola onde Alex estuda tem um clube de teorias da conspiração. Viu como eu estava certa? 

Mas o livro tem um problema grave. Segundo alguns especialistas que andei lendo (porque eu não sou especialista), o livro faz uma representação pouquíssimo ou nada realista da esquizofrenia, o que é um desserviço aos leitores e aos que sofrem dessa doença. E é aí que mora o grande pecado da Francesca Zappia. Bons escritores fazem pesquisa, e caso tenham tomado liberdades com a realidade (ha ha ha) eles incluem um texto sobre o assunto no livro, o que ela não fez, claro.

Isso me deixa muito dividida, porque a leitura é divertida, dinâmica e original, mas o erro é imperdoável.

Por isso, nota 7.

sábado, 17 de novembro de 2018

Kingdom of Ash (Throne of Glass #7)



SPOILER FREE

E finalmente foi publicado o último volume da mega saga Trono de Vidro! A louca aqui, claro, comprou o livro ainda no pré-lançamento, e ficou só esperando o bendito aparecer no kindle. Vantagens da vida moderna!

Confesso que não sei quando a Record vai lançar esse livro, e há uma chance deles fazerem o mesmo que fizeram com Império de Tempestades, que foi vendido no Brasil dividido em dois tomos. Isso porque o livro tem quase mil páginas. Você leu certo. Mil páginas!

As mil páginas parecem menos do que isso, vou logo avisando, porque Sarah J. Maas resolveu elevar a um novo nível a alternância entre diversos pontos de vista. Ela já tinha feito testes desse formato em livros anteriores da série, e realmente ela foi ficando melhor nisso, e acredito que isso tenha dado a coragem necessária para finalmente colocar a sua habilidade a prova aqui. Entre os pontos de vista da Aelin, Chaol, Aedion, Dorian, Rowan, Manon e mais alguns, ela consegue não se perder e manter o ritmo da leitura ao fazer o estilo de narrativa de alternância de histórias que sempre pausam em momentos dramáticos.

Não é o meu estilo favorito. Me lembra muito Dan Brown, o que eu não considero um elogio.

Mas como ela consegue manter isso tudo indo por mil páginas? A resposta: muitas batalhas. Sério, eu nem sei quantas batalhas épicas ela inclui no livro, não me dei o trabalho de contar. São muitas, e todas bastante emocionantes, é preciso dizer. E claro, tinha aquele um zilhão de pontas soltas que ela foi deixando ao longo dos livros anteriores, até porque o livro sexto não tratou de nenhuma delas, só acrescentou.

Considerando isso tudo, o livro é satisfatório, porque realmente trata de todas elas, ou pelo menos de todas as mais importantes (considerando que essas sejam as que eu mesma conseguia lembrar). Tem uma questão deus ex maquina, tem, claro que tem, é um livro da Sarah J. Maas num mundo cheio de magia e seres fantásticos. E eu preciso lembrar que a autora ainda por cima tem um amor por personagens que beiram a perfeição, por mais que sejam imperfeitos?

Tem o problema dos mates? Tem, mas talvez por ter outras histórias e coisas acontecendo ao mesmo tempo a questão fica menos presente, ou pelo menos chama menos atenção e não enche tanto o saco. Exceto nas vozes da Aelin e do Rowan, nesses momentos uma dose de insulina é necessária.

Ela mata personagens importantes? Bem... é uma questão controversa, primeiro porque não quero dar spoiler, segundo porque precisa definir o que é ou não importante... mas sim, temos mortes no livro, e vou deixar só isso. Até porque com tantas batalhas como poderia ficar sem mortes?

Eu entendo o dilema que a autora acabou criando com relação a essa questão. Depois de tantos livros com personagens tão marcantes que tanta gente se apaixonou, as batalhas finais precisam de sangue, mas como decidir entre todas essas personagens? Considerando que o estilo young adult tem uma propensão maior a seguir as vontades dos fãs e a criar finais felizes, Sarah J. Maas se colocou realmente numa sinuca de bico.

É preciso levar isso em consideração para avaliar o livro. Kingdom of Ash não faz feio no final das contas, e a leitura é muito agradável, dinâmica e possui muitos bons momentos de adrenalina. Dentro do estilo que a autora está desenvolvendo é um dos melhores livros dela, e isso é muito positivo. Mas o livro não é perfeito e não é genial.

Acredito que Sarah J. Maas tem potencial para fazer coisas muito melhores do que essa série. Mas não sei se vão permitir que ela alce esse tipo de voo. A indústria da literatura young adult é bastante poderosa e Sarah me parece que já foi engolida por ela. Prevejo que ela vai continuar escrevendo bons young adult, mas infelizmente não acredito que ela vá largar esse osso e tentar coisas mais abrangentes como ela me parecia ter vontade nos livros anteriores. Nesse sentido, Kingdom of Ash me parece um aviso da autora sobre o que ela pretende fazer no futuro.

Agora nos resta aguardar a nova série spin-off de Corte de Espinhos e Rosas para ver se estou certa ou não.

Nota 9.

Nota da série: 8.

Não lembra da série? Veja as resenhas anteriores aqui:

Trono de Vidro
Coroa da Meia Noite
Herdeira do Fogo
Rainha das Sombras
Império de Tempestades
Torre do Alvorecer
A lâmina da assassina - novelas

A retornada



SPOILER FREE

Confesso que não sou uma leitora muito assídua de literatura brasileira, mas de vez em quando eu tento diminuir um pouco o problema. Acabei comprando o livro da minha xará numa livraria no centro do Rio enquanto eu procurava novos autores de poesia para diversificar a vida.

Preciso dizer que foi uma decisão muito acertada. Laura Erber me surpreendeu com a força dos seus poemas. O livro pode ser curtinho, mas o conteúdo é denso. A autora faz o tipo de poesia que você precisa ler, reler e ficar remoendo. Não por ser complicada, mas porque cada uma é um mundo a ser desvendado.

Em especial a última poesia, que dá o título do livro, que me emocionou muitíssimo. Só por ela o livro já valeria a pena. Mas o volume tem outras belezas também, o que faz valer toda a leitura.

Gostei tanto do trabalho que agora vou procurar outras publicações dela, só espero que sejam tão maravilhosos quanto essa aqui. Uma pérola da literatura brasileira contemporânea!

Nota 9!

sábado, 10 de novembro de 2018

Histoires et d'autres histoires by Jacques Prévert



SPOILER FREE

Preciso começar dizendo que adoro Jacques Prévert. Eles faz parte do meu caso de amor com o idioma francês, e isso me torna um tanto enviesada com tudo o que ele escreve. Em compensação, ele é um dos autores mais lidos na França, reconhecido como um dos grandes da literatura francesa. Assim, eu posso dizer que sou enviesada mas tenho alguma razão para isso.

Como já contei em mais de um post por aqui, desenvolvi nos últimos anos o costume de ler poesias de manhã, o que torna a vida mais leve e feliz. Depende do livro e da poesia, ok, mas no geral funciona bem. E esse é um dos motivos pelos quais acabei acumulando uma coleção razoável de livros do autor. Aguardem mais Jacques Prévert no futuro.

Histórias pessoais à parte, essa edição de Histoires é uma coletânea de textos do autor francês, que variam entre poemas e histórias curtas, algo como contos, mas não exatamente isso, porque o que Jacques escreve não são exatamente contos, nem histórias. Confesso que tenho dificuldade de definir.

Prévert tem um pé no surrealismo, e isso é bastante notável em diversos dos seus trabalhos, o que não agrada todos os tipos de leitores. Mas ao mesmo tempo é essa qualidade que torna as suas críticas ao mundo que ele viveu (o que inclui as grandes guerras) tão interessante e ao mesmo tempo leves. Veja bem, seus textos são lidos por crianças na França por causa disso.

Ao mesmo tempo, por ele ser muito apegado a essas críticas, é preciso conhecer um tanto de história francesa e da política francesa para entender boa parte delas. Eu não sou nenhuma expert no assunto, apesar de não ser totalmente leiga, e preciso dizer que senti muita falta de algumas notas de rodapé. Talvez eu tenha dado azar com a edição francesa que consegui, talvez eu precisasse de uma edição bilíngue. Independentemente disso, o resultado é que me senti perdida em diversos textos. Estava claro que eu não estava captando tudo o que ele queria dizer.

Apesar disso, Jacques é maravilhoso, e não é necessário entender cada crítica escondida que ele coloca nos seus textos para apreciar seu trabalho. A leitura ainda assim é extremamente agradável, leve e divertida. Na maioria das vezes, pois de vez em quando ele traz temas bastante pesados.

Então, como boa fã que sou:

Nota 9. Pela falta dos rodapés. Pura preguiça dos editores!

Only Human (Themis Files #3)



SPOILER FREE

E finalmente chegamos no final da saga Themis Files! Depois de um primeiro livro fabuloso e muito original, o autor deu uma escorregada no segundo, mas aí levantou e foi para a galera no terceiro! Como amo resenhar bons livros...

Infelizmente o livro ainda não foi lançado no Brasil. Mas espero que isso seja corrigido em breve, visto que o nos EUA ele foi lançado em maio de 2018.

Sylvain Neuvel fez o improvável, conseguiu dar a volta por cima depois de um segundo volume bastante morno, o que comparado ao primeiro livro da série, tinha sido um banho de água fria para mim. Preciso confessar que eu não esperava grandes coisas do último livro da série, apesar de não ter conseguido me controlar e ler os dois seguidinho. A razão disso foi mais por conta do gancho no final do segundo volume do que pela obra maravilhosa, verdade seja dita.

Mas o canadense não titubeou. Usou o terceiro livro para um final simplesmente sensacional. Sylvain fez uma das melhores e mais contundentes críticas a geopolítica atual que já li. Não só as questões da política internacional, não, senhoras e senhores, ele fez questão de criticar a cultura dominante atualmente, e isso não quer dizer a cultura estado unidense. Em uma passagem que eu amei, ele resume:

"I hate this world. People are small. They’re ignorant, and they’re happy to stay that way. They make an effort to. They’ll spend time and energy finding ways not to learn things just to feel comfortable with their beliefs."

Em tradução livre minha:

"Eu odeio esse mundo. As pessoas são pequenas. Elas são ignorantes e são felizes em ficar assim. Elas fazem um esforço para se manter assim. Elas gastam tempo e energia para encontrar formas de não aprender as coisas apenas para se sentirem confortáveis com as suas crenças." 

Contundente é pouco para definir. Passei o livro inteiro sorrindo e gargalhando com a forma tão delicada quanto um chute na canela que o autor usou para criticar a humanidade. Amei cada palavra, cada crítica ferrenha, cada bizarrice tão atual e, infelizmente, real. 

Será que assim a galera vai entender a mensagem? Tomara. Quem sabe um choque de realidade via ficção científica não faz algumas pessoas acordarem. Já passou da hora, né?

Nota 10.
 

Monstress, Vol. 3: Haven

SPOILER FREE

Depois de ler os dois primeiros volumes de Monstress, O Despertar e Sangue, mal consegui me segurar e comprei sem me importar com o preço o terceiro volume lançado em Setembro de 2018 no mercado americano. Vício é uma coisa terrível para o bolso.

O terceiro volume, Haven, ainda sem tradução para o português, me deixou tão ou ainda mais encantada do que os livros anteriores com os capítulos dessa saga. Não sei o que acontece, mas a arte da japonesa Sana Takeda me parece cada vez mais bonita. As escolhas estéticas realçam a narrativa, e dão um tom particular à história, intensificando a experiência de imersão na leitura.

Aliado ao visual realmente incrível, a autora Marjorie M. Liu me parece cada vez mais à vontade com as suas personagens, e outras histórias paralelas a de Maika ganham mais corpo e complexidade. É muito sangue, morte, destruição e jogo de poder! Em uma frase: estou apaixonada por Monstress. É o tipo de narrativa que segura o leitor e você mal consegue dormir pensando no que vai acontecer.

E a construção matriarcal do mundo, gente, que coisa linda de se ver. Quase morri de amor quando surgiu um possível casamento lésbico para fechar uma aliança entre estados. Não é por menos que a série tem ganho tantos prêmios, é muito merecido. Nada como quebrar paradigmas em épocas onde a sociedade parece que quer viajar para o passado. Ajuda a manter a esperança no futuro da humanidade.

O triste é que cada volume termina rápido demais, e agora eu não tenho a menor ideia de quando será lançada a próxima coletânea de seis capítulos. Não é a toa que pessoalmente eu não gosto de ler séries antes delas terminarem e eu ter todos os volumes em mãos. Mas às vezes acontece de eu iniciar uma sem saber que ela ainda está em andamento. E a culpa é minha, claro.

Marjorie e Sana são inocentes nisso, apesar de terem roubado o meu coração.

Nota 10.