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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

As aventuras de Huckleberry Finn



SPOILER FREE

Como já comentei anteriormente, comprei na Amazon a coletânea completa das obras de Mark Twain, e como eu já tinha lido no início do mês "As aventuras de Tom Sawyer", fiquei com vontade de ler a continuação da história, que conta como narrador e personagem principal o melhor amigo de Tom, Huckleberry Finn.

Assim como o primeiro livro, "As Aventuras de Huckleberry Finn" foi proibido pelos mesmos motivos: racismo, linguagem chula e violência. Só que as duas primeiras acusações são bem piores nesse volume do que no primeiro.

Nessa continuação, Huck Finn foge de sua cidadezinha na companhia de um escravo, Jim, e os dois passam por diversas aventuras ao descer o rio Mississipi numa balsa, e o assunto preconceito/racismo/escravidão acaba ficando com uma enorme evidência, e é tratado pelo autor com uma enorme ironia, que certamente pode ser (e foi) muito mal interpretada. Além disso, assim como nas aventuras de Tom Sawyer, novamente o autor prima reprodução da linguagem falada (daí a acusação de linguagem chula e completamente fora das normas gramaticais e ortográficas), o que no caso do escravo, pode trazer enormes dificuldades para entender diversas palavras. Como meu marido comentou acertadamente comigo, a única forma de entender as falas do Jim é ler em voz alta o que está escrito. Sério.

Agora, diferentemente das aventuras de Tom, as aventuras de Huck não é um livro preocupado com fazer um retrato da infância, e sim de toda uma sociedade em uma época específica, e o assunto escravidão e ética são exaustivamente trabalhados pelo autor, pois essa era uma grande questão daqueles tempos. Por isso é que o livro foi tão criticado, pois a ferramenta usada por Mark Twain, o humor irônico, pode diversas vezes ser entendido de forma equivocada, e diversas passagens do livro são extremamente racistas e preconceituosas se você não ver com esse olhar (e com certeza muita gente acha que é racista e preconceituoso independentemente da ironia, porque a ironia não é tão clara). Além disso, tem a questão do uso exaustivo da palavra "nigger", que é considerada extremamente racista. Por conta disso, a leitura pode ser meio chocante, pois a forma como Jim é tratado durante toda a narrativa é, no mínimo, absurda. Mas serve como um retrato de quão bizarra era a forma de ver os seres humanos antigamente, desafiando a racionalidade do leitor. (mais absurdo ainda é quando você pensa que ainda tem gente que pensa assim, mas enfim, isso é outra discussão)

Levando tudo isso em consideração, a leitura certamente não é tão leve quanto no primeiro livro, e algumas passagens são tão chocantes que chegam a dar raiva. Apesar de ser um livro com uma grande afirmação política velada, pessoalmente acho que a mensagem ficou um pouco disfarçada demais, e em alguns momentos isso pesa muito. Além disso, a leitura não teve para mim o mesmo frescor de novidade que "As aventuras de Tom Sawyer".

Nota 8,5.

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