Uma Arte
A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! e nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudades deles. Mas não é nada sério.
-Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
SPOILER FREE
Esse é um livro que eu já tinha há muitos anos, mas só fui descobrir mais sobre a autora quando saiu o filme brasileiro "Flores Raras", o qual eu não vi, mas li sobre. Vai entender.
Mas como rearrumei minhas estantes de livros há um certo tempo e meus livros de poesia voltaram a ficar num local mais acessível, não demorou muito para Elizabeth Bishop entrar na lista de leituras. O que foi muito bem vindo.
O interessante sobre essa edição específica, é que além de ser bilíngue (muitos pontos positivos), ela tem uma biografia rápida da autora, com direito a correlação da sua vida com a sua obra e porque os poemas que estão no livro foram classificados como "poemas do Brasil". Vale a leitura.
Algumas questões de preconceitos à parte, o mais interessante da poetiza americana Bishop, é que ela realmente captou o Brasil, em especial o Rio de Janeiro e o interior do país. É meio doido, mas fantástico, ler em inglês algo que poderia ter sido escrito em português por uma brasileira.
Nem sempre as traduções ficaram à altura, o que é compreensível, e ao mesmo tempo estranho, porque o texto é muito brasileiro, mas não foi feito para o português, fora os casos em que Elizabeth decidiu fazer misturas, o que ficou muito interessante, e na tradução essa miscigenação se perde, infelizmente.
Nota 9,5
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