SPOILER FREE
Depois
de um primeiro livro bastante original e relevante dentro da literatura
brasileira fantástica, P.J. Pereira resvalou num segundo volume
extremamente machista. E agora no último livro da trilogia Deuses de
Dois Mundos ele fez um merecido acerto de contas.
É muito
engraçado ler um livro onde o prefácio explica a estrutura do que você
vai ler. Isso porque a estrutura é realmente fora do comum, com as duas
histórias paralelas dos livros anteriores sendo contadas em sentidos
opostos. A história da mitologia no Orum continua do ponto onde terminou
o segundo livro e segue uma linha temporal normal, por assim dizer,
enquanto a história de New passa a ser contada de trás para frente.
P.J. Pereira resolveu fazer outras alterações também. Além da forma meio
inversa de contar a história, o autor trocou os emails por um blog.
Confesso que não entendi muito bem a razão de ser disso, porque não fez
tanta diferença em termos narrativos, só precisou de explicações extras
de como alguém escreve um blog para só uma outra pessoa ler. Mas como
escritora de um blog talvez eu esteja um pouco apressada no meu
julgamento nesse caso.
Mas de todas as alterações que o
autor trouxe para o último volume da saga, a mais importante é o ponto
de vista das mulheres em toda a história/mitologia. Confesso que me
senti bem menos pior com relação ao segundo livro ao ler o posfácio do
autor, onde ele chega a questionar a falta de críticas ao excesso de
machismo do segundo volume. E fiquei pensando em quais críticas ele leu e
quem as fez, porque esse excesso era absurdamente óbvio e difícil de
engolir. Menos mal porque o autor fez isso de propósito?
Vejamos,
toda a questão é que a princípio o terceiro livro deveria escancarar
essa situação e de alguma forma apontar o erro e corrigi-lo. Até que
ponto isso realmente funcionou?
O Livro da Morte consegue
de alguma forma apontar os absurdos dos volumes anteriores, mas, não
sei, apesar de ser bem mais equilibrado e interessante nesse sentido,
não acho que ele tenha atingido de todo o seu objetivo. As questões do
personagem New se mantiveram quase que totalmente inalteradas, por
exemplo. Ele continua sendo um personagem absurdamente misógino e sem
qualidades que o redimam, porque ele só se mexe quando fica ferrado.
As
orixás no Orum se tornam, sim, mais interessantes e profundas. Suas
causas ficam melhor explicadas e todo o desequilíbrio entre os e as
orixás bem mais aparente, o que dá razão às mulheres se você acreditar
que elas devem estar no mesmo pé de igualdade. Toda a questão é que não
há uma única defesa dessa igualdade como sendo o correto ou melhor. É
tudo levado na onda do sempre foi assim e as orixás sempre tentaram
mudar. Me parece que faltou convicção.
Melhor que o segundo volume e bom suficiente para eu não perder as esperanças para ler outras obras do autor, mas no geral...
Nota 8.
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