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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

O Livro da Morte (Deuses de Dois Mundos #3)

SPOILER FREE

Depois de um primeiro livro bastante original e relevante dentro da literatura brasileira fantástica, P.J. Pereira resvalou num segundo volume extremamente machista. E agora no último livro da trilogia Deuses de Dois Mundos ele fez um merecido acerto de contas.

É muito engraçado ler um livro onde o prefácio explica a estrutura do que você vai ler. Isso porque a estrutura é realmente fora do comum, com as duas histórias paralelas dos livros anteriores sendo contadas em sentidos opostos. A história da mitologia no Orum continua do ponto onde terminou o segundo livro e segue uma linha temporal normal, por assim dizer, enquanto a história de New passa a ser contada de trás para frente.

P.J. Pereira resolveu fazer outras alterações também. Além da forma meio inversa de contar a história, o autor trocou os emails por um blog. Confesso que não entendi muito bem a razão de ser disso, porque não fez tanta diferença em termos narrativos, só precisou de explicações extras de como alguém escreve um blog para só uma outra pessoa ler. Mas como escritora de um blog talvez eu esteja um pouco apressada no meu julgamento nesse caso.

Mas de todas as alterações que o autor trouxe para o último volume da saga, a mais importante é o ponto de vista das mulheres em toda a história/mitologia. Confesso que me senti bem menos pior com relação ao segundo livro ao ler o posfácio do autor, onde ele chega a questionar a falta de críticas ao excesso de machismo do segundo volume. E fiquei pensando em quais críticas ele leu e quem as fez, porque esse excesso era absurdamente óbvio e difícil de engolir. Menos mal porque o autor fez isso de propósito?

Vejamos, toda a questão é que a princípio o terceiro livro deveria escancarar essa situação e de alguma forma apontar o erro e corrigi-lo. Até que ponto isso realmente funcionou?

O Livro da Morte consegue de alguma forma apontar os absurdos dos volumes anteriores, mas, não sei, apesar de ser bem mais equilibrado e interessante nesse sentido, não acho que ele tenha atingido de todo o seu objetivo. As questões do personagem New se mantiveram quase que totalmente inalteradas, por exemplo. Ele continua sendo um personagem absurdamente misógino e sem qualidades que o redimam, porque ele só se mexe quando fica ferrado.

As orixás no Orum se tornam, sim, mais interessantes e profundas. Suas causas ficam melhor explicadas e todo o desequilíbrio entre os e as orixás bem mais aparente, o que dá razão às mulheres se você acreditar que elas devem estar no mesmo pé de igualdade. Toda a questão é que não há uma única defesa dessa igualdade como sendo o correto ou melhor. É tudo levado na onda do sempre foi assim e as orixás sempre tentaram mudar. Me parece que faltou convicção.

Melhor que o segundo volume e bom suficiente para eu não perder as esperanças para ler outras obras do autor, mas no geral...

Nota 8.

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