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quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

O teste do casamento - The bride test


SPOILER FREE

E finalmente chegamos no último tema do Desafio Literário Popoca 2022! Em dezembro, o tema livros com protagonistas com deficiência entrou em campo, e resolvi escolher um livro da nossa lista de sugestões: O teste do casamento, da norte americana descendente de vietnamitas Helen Hoang.

Atenção, na nossa lista de sugestões, o livro está com o título Noiva à Experiência, que é da tradução portuguesa da obra! No Brasil, saiu com o título O teste do casamento.

A autora Helen Hoang foi diagnosticada como autista em 2016, já adulta, e escreveu sobre a experiência dessa descoberta no seu primeiro livro, Os números do amor, que fez um enorme sucesso, e, por isso, ela escreveu uma nova obra sobre pessoas com autismo. 

Em O teste do casamento, temos Khai Diep, um jovem filho de vietnamitas que foi diagnosticado com autismo, mas que a família nunca realmente tratou, então, ele acha que não tem sentimentos. Seguindo a linha de famílias asiáticas que se metem nas vidas dos seus integrantes, a mãe de Khai viaja ao Vietnã para encontrar uma noiva para ele, e retorna com Esme Tran, uma jovem mestiça que nunca conheceu o próprio pai.

O interessante de autores como Helen Hoang é que eles podem descrever pessoas com deficiência de uma forma mais profunda de quem apenas pesquisa sobre o assunto, e, para mim, isso foi muito marcante no livro. O foco da narrativa não é a estranheza que Khai provoca, e sim, como ele se sente ao perceber que é diferente, e como aqueles que o amam procuram entender essas diferenças e se adaptar.

Fora toda essa questão do autismo de Khai, o livro é uma histórica romântica como muitas outras, seguindo inclusive fórmulas conhecidas do gênero. O que mostra que essas narrativas, assim como todas as outras, podem e devem ser universais e incluir todo tipo de pessoa. 

Fazia muito tempo que eu não lia nada desse gênero, que, confesso, adoro, então, foi muito difícil parar de ler, trabalhar, comer e dormir. Fiquei totalmente viciada, e o livro não durou nada na minha mão. Agora terei que ler o primeiro livro da autora, porque gostei da sua escrita.

Recomendo muitíssimo, não só porque é uma boa história e bem escrito, mas porque de quebra você ainda sai entendendo melhor uma questão que atinge mais pessoas do que se imagina.

Nota 9,5.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

A Rede de Alice - The Alice Network


SPOILER FREE

Depois da rasgação de seda do nosso editor chefe no Popoca sobre A Rede de Alice, eu não resisti e peguei o livro para o Desafio Literário Popoca 2022 de novembro, com o tema ficção ou fantasia que se passem em guerras. Vou lembrar que, apesar de toda a pesquisa histórica incrível da autora norte americana Kate Quinn, o livro ainda é um romance histórico, portanto, ficcional.

Adoro pegar livros indicados, pois sei melhor onde estou me metendo. E apesar de não ter ficado tão entusiasmada com a história de Rose e Eve quanto o Tiago ficou, preciso tirar o chapéu para a autora. Gostei o suficiente para já ter incluído outros livros dela na minha lista de desejos interminável na Amazon.

A parte histórica e as descrições do período da primeira guerra estão um primor. Dá um prazer enorme ler romances históricos assim, que delícia! A divisão da narrativa entre o período da primeira guerra, com Eve como narradora, e o pós segunda guerra, com Rose como narradora, dá um dinamismo muito interessante para a leitura, o que realmente faz o livro parecer passar mais rápido.

Entretanto, confesso que passei a primeira metade do livro com vontade de pular todos os capítulos da Rose, porque os da Eve eram muito melhores e mais divertidos. Demorei muito para entrar no ritmo da história da Rose, e só realmente passei a curtir os seus capítulos já no final do livro. 

Se alguém sentir isso, vai na fé, eu prometo que o livro melhora.

Fora esse pequeno porém, faço coro com o nosso editor sobre a maravilhosa escrita da Kate Quinn, que conseguiu a proeza de aparecer duas vezes num único ano com o mesmo livro no Popoca!

Nota 8,5.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

A Caçadora (A Última Caça-Vampiros #1) - Slayer (Slayer #1)


SPOILER FREE

“Em cada geração nasce uma garota: apenas uma garota em todo o mundo, uma escolhida. Ela sozinha terá a força e habilidade para lutar contra os vampiros, demônios e as forças do mal. Ela é a Caça-Vampiros.”

Se você assistia TV no final dos anos 90, é provável que tenha escutado essa chamada no início de cada episódio de Buffy, A Caça-Vampiros. O show, criado pelo então desconhecido Joss Whedon, pré-reconhecimento com Vingadores e pré-queda com Liga da Justiça, fez um sucesso enorme e angariou fãs, muitos fiéis até hoje. Depois de 7 temporadas (1997-2003), uma série spin-off (Angel, com 5 temporadas, 1999-2004) e diversos quadrinhos continuando a saga de Buffy (com os primeiros escritos ainda pelo criador Joss Whedon), e sem mencionar o filme original de 92, o Buffyverso volta a dar frutos.

A autora estadunidense Kiersten White assumiu a missão de criar um novo spin-off literário no universo de Buffy. A história se passa num mundo pós a série de TV, mas, não tenho certeza sobre ser após os quadrinhos, pois os quadrinhos são confusos, e é muito difícil de saber o que é considerado cânone e o que não é, dado o troca troca de direitos autorais entre diversas editoras. De qualquer forma, olha o spoiler para quem não viu a série, pule para o próximo parágrafo agora, já não há uma única caça-vampiros no mundo, o conselho dos guardiões foi pro saco, e Buffy agora age sozinha, liderando um grupo de caçadoras.

Mas o livro A Caçadora, como ficou a tradução para o português é sobre Nina, filha do primeiro guardião de Buffy (apenas mencionado na série, é preciso ver o filme pra saber quem ele é, assista com cautela), que tem uma irmã gêmea, Ártemis. Numa ode ao estilo da série, Nina se torna uma caça-vampiros no apagar das luzes da existência da magia no mundo, o que a torna a última, e, claro, ela parece estar conectada com uma profecia sobre o fim do mundo. Só que Nina, por ter perdido o seu pai por causa de Buffy, detesta as caçadoras, e passou sua vida trabalhando como uma espécie de enfermeira do conselho dos guardiões, e ela não aceita muito bem sua nova categoria.

Num enredo que faz inúmeras referências à série original (incluindo a diversos personagens mais obscuros), Kiersten White consegue recriar o clima da primeira temporada de Buffy, o que é uma mistura de profecias, questões adolescentes, relacionamentos amorosos e de amizade e a descoberta da sua identidade. Se você não curte alguma dessas coisas, pode deixar A Caçadora de lado.

Agora, você gosta de Buffy e tolera bem uma história muito young-adult com direito a parte do enredo só acontecer porque todos mantêm diversos segredos (o que era comum em Buffy, e faz parte da natureza dos guardiões, vamos ser sinceros), então, A Caçadora é o livro pra você ler no Desafio Literário Popoca 2022 de outubro, com o tema vampiros e criaturas afins, ou um livro da Anne Rice. Essa pelo menos foi a minha escolha.

Foi uma escolha extremamente dentro do tema, é verdade, e se por um lado, curti demais toda a nostalgia que a leitura me trouxe de Buffy (estou até pensando em rever pela enésima vez a série), além de ter adorado os novos personagens, por outro, acho que minha paciência com histórias adolescentes não anda das maiores. Todo o diálogo interno e as dúvidas foram um pouco demais para mim depois de um certo percentual do livro.

O fato do livro terminar num quase gancho não ajudou muito, mas, eu entendo o que a autora fez. A história principal desse primeiro volume termina, mas, ela deixa uma armadilha no final para você querer ler o volume seguinte, o que funciona, pois apesar de eu não ter terminado o livro apaixonada, já estou com o livro seguinte na minha lista de desejos da Amazon.

O que eu posso fazer? Tenho um fraco com histórias de vampiros.

Nota 7, isto é, Buffy passando de ano por pouco porque passa as noites patrulhando.

domingo, 25 de setembro de 2022

Incêndio Oculto


SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2022 de setembro, com o tema fantasia, ficção científica ou realismo fantástico brasileiro, resolvi pegar o livro recém lançado de uma autora que adoro, e pela primeira vez vi lançando um livro em português (ela normalmente escreve em inglês), a Vivian Wolkoff. Dessa vez, ela lançou em conjunto com outra autora, Giselle Almeida, que também é uma ilustradora de mão cheia.

Nessa colaboração, as autoras trazem uma história que mistura magia com tráfico de drogas e crime organizado. Somos apresentados a Katma, uma poderosa bruxa, que está disposta a enormes sacrifícios para tentar ajudar sua irmã, Emily, a superar a trágica morte dos seus pais. O problema é que as duas acabam parando na cidade de Woràk, na Polônia, onde há uma guerra entre a gangue local, os Spust, e a irmandade bruxa da cidade, pelo controle de uma droga alucinógena chamada ferrugem.

Num enredo cheio de adrenalina, magia, romance (com direito a boas cenas picantes) e questões complicadíssimas de família, as duas trazem à tona personagens excelentes, que não só ficaram ótimos no papel, mas que, sinceramente, dariam um banho em muita série de fantasia e ação que andei vendo por aí. O trio principal dos Spust, Lilend, Aaron e Pixie, são um show à parte, e eu gostaria de ver mais coisas com eles.


Não sei muito como foi a divisão do trabalho entre as duas autoras, esse é um tema que sempre me deixa curiosa, mas o resultado ficou extremamente divertido, tanto que li o livro muito rápido. A leitura é tão leve que nem me incomodei com os typos da edição em Kindle que comprei no dia do lançamento, e que, bem, até onde já pude perceber, são muito comuns em produções de baixo custo tanto brasileiras quanto gringas.

Para quem quer ler algo bem diferente, produzido no Rio de Janeiro, fica a dica!

Nota 9.

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

The Hidden Palace (The Golem and the Jinni #2)


SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2022 de agosto, com o tema folclore, aproveitei para pegar The Hidden Palace, uma continuação inesperada de O Golem e o Gênio, que foi o primeiro livro da americana Helene Wecker. Infelizmente The Hidden Palace, lançado no ano passado, ainda não foi traduzido para o português, mas O Golem e o Gênio está disponível numa linda edição da Darkside.

Depois de rasgar seda até não poder mais para esse primeiro volume, como vocês podem ver aqui, peguei o segundo com muito gosto. Por conta do tempo entre a leitura entre um livro e outro, confesso que recorri à internet para encontrar um resumo de O Golem e o Gênio, o que me deixou mais confortável, apesar de depois de ter lido Hidden Palace eu poder afirmar que não teria sido necessário.

Novamente Helene Wecker traz suas belíssimas personagens baseadas nas culturas árabe e judaica, com o enredo se passando nas comunidades imigrantes de Nova Iorque do pré-guerra no início do século XX. A história é centrada em Chava, uma golem criada por um rabino, e Ahmad, um gênio preso em forma humana por um feiticeiro, e entorno dos dois temos diversos personagens das comunidades judaicas e árabes locais.

Entretanto, serei sincera, O Golem e o Gênio não precisava de uma continuação, a história é muito redonda. Infelizmente, The Hidden Palace ficou com cara de continuação lançada para ganhar dinheiro, e não porque era uma história que a autoria precisava contar. Tudo bem que a escrita bonita e agradável continua presente, assim como um esmero fantástico na pesquisa histórica, tanto na parte do enredo que se passa em Nova Iorque, quanto a parte que se passa no Oriente Médio.

O problema é que parece que não tem muita história para contar. A trama é lenta e se arrasta por boa parte do livro, só pegando um ritmo mais interessante bem no final. Diferente do primeiro volume, aqui não há um vilão claro, o que poderia ser interessante, mas o resultado foi uma linha narrativa dispersa demais. Tanto que o livro parece bem mais longo do que realmente é.

Quer dizer que não vale a pena ler? Também não é assim, acho que foi uma questão de expectativa. Como minha lembrança do livro anterior é tão maravilhosa, eu esperava algo nesse nível, e não foi bem o que encontrei. Mas, The Hidden Palace tem suas qualidades, como já comentei, e se Helene Wecker lançar mais obras, certamente vou parar para ler.

Nota 7,5.

domingo, 31 de julho de 2022

Redemption in Indigo

SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2022 de julho, com o tema fantasia ou ficção científica escrita por autores africanos, escolhi um dos livros da escritora Karen Lord, de Barbados.

E gente, que escolha mais acertada. Redemption in Indigo, infelizmente ainda sem tradução em português, é um livro que ganhou diversos prêmios quando foi lançado em 2011. E certamente merecia ainda mais, mas, como foi o primeiro livro da autora e ela é negra... sabe como são essas coisas.

A história parece se passar em algum lugar não determinado no continente africano (eu confesso que não tenho ideia de que país poderia ser), e é cheia de referências a diversas culturas e mitologias africanas, que eu gostaria de conhecer mais para ter apreciado melhor suas aparições. No livro acompanhamos Paama, uma mulher casada que abandonou a casa do seu marido porque ele era um glutão sem noção. Por ter tomado essa decisão, ela chama atenção de seres imortais do mundo espiritual, os djombi, que resolvem dar a ela um artefato mágico, o cajado do caos.

Só que nem todos os djombis ficam satisfeitos com a escolha de Paama para receber um poder tão grande. E o Indigo Lord, um poderoso djombi, resolve ir atrás dela para tentar convencê-la a entregar para ele o cajado do caos.

Numa história que parece saída diretamente dos mitos, mas com uma pegada mais atual, a saga da luta entre Paama e o Indigo Lord é de uma delícia ímpar de se ler. Não só temos elementos pouco comuns nas narrativas de escritores mais famosos no Brasil, diga-se europeus e americanos, mas temos também uma personagem feminina forte e decidida, que está cercada de outras personagens femininas muito incríveis. Para coroar, Karen escreve absurdamente bem.

Terminei Redemption in Indigo procurando por outros livros da Karen Lord, porque se o primeiro foi assim, imagine os seguintes? Quero ler tudo dessa mulher.

Nota 10.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Os noivos do inverno - Les Fiancés de l'hiver (La Passe-Miroir - A Passa-Espelhos #1)


 

SPOILER FREE

Para o mês de junho do Desafio Literário Popoca 2022, com o tema um livro com inverno no título ou que se passe no inverno, consegui escolher um que se encaixa nas duas características, Os noivos do inverno da escritora francesa Christelle Dabos.

Aviso que li o livro em francês e por isso posso usar nomes ou termos diferentes do que se encontra na tradução para o português da editora Morro Branco

A escritora Christelle Dabos é de uma família de músicos, e se formou em biblioteconomia, e começou a escrever a série A Passa-Espelhos quando descobriu que estava com câncer. Ao receber boas respostas de uma comunidade de escritores na internet, ela finalmente publicou Os noivos do inverno em 2013, aos 33 anos de idade, e ganhou logo de cara um prêmio pela obra, que depois veio a ganhar outros prêmios, inclusive o mais importante de ficção especulativa da França, o Grand prix de l’Imaginaire. Desde então, já foram 4 volumes publicados e ela agora se dedica unicamente a escrever fantasia.

Os livros já foram traduzidos para diversos idiomas, e ela fez bastante sucesso com a série, sendo até mesmo comparada a JK Rowling e Philip Pullman. Depois de ler seu primeiro livro, posso dizer que a comparação não é descabida.

Os noivos do inverno introduz a história de Ophélie, que vive no arche Anima, uma espécie de pedaço que sobrou do planeta terra depois de uma tragédia, a Déchirure. Nesse mundo, existem vários desses arches, que são espécies de ilhas flutuantes. Cada ilha possui um "espírito de família", que é um ser ancestral imortal de quem descende todos os seus habitantes. Em Anima, os habitantes possuem poderes de controle dos objetos, e Ophélie é capaz de ler a história dos objetos que toca, além de conseguir se transportar através de espelhos.

Apesar de viver uma vida bastante pacata em Anima, sendo rebelde apenas no ponto de não querer casar com os pretendentes escolhidos pela família e só querer ficar trabalhando no museu junto com o seu tio avô, Ophélie acaba sendo escolhida pelas matriarcas para um casamento quase que diplomático. Ela se torna noiva de Thorn, uma figura importante de outra ilha, o Polo Norte. Amparada dos parcos conhecimentos desse lugar que ela conseguiu obter no museu e acompanhada de uma tia distante, ela parte com Thorn para o Polo Norte, um lugar onde os poderes de seus habitantes são bem diferentes, e onde o inverno é brutal.

A história por um lado é muito aventuresca, com momentos de muita adrenalina, com o extra do mundo maravilhoso criado pela autora, que é bastante complexo e muito diferente de tudo que já li de fantasia, por outro, é uma aventura regada a política de corte e artimanhas, que Ophélie precisa navegar para conseguir sobreviver ao inverno até a data do casamento.

O ritmo do texto de Christelle Dabos é tão delicioso, que eu precisei emendar o primeiro volume com o segundo, de tanto que gostei. O mundo que ela criou é muito redondo (mesmo estando em pedaços) até onde fui na narrativa, e conforme a protagonista vai descobrindo mais sobre sua nova casa, mais as coisas ficam interessantes. Apesar do livro ser grande, com cerca de 600 páginas, não dá pra sentir e eu terminei o livro bastante rápido, ainda que estivesse enferrujada no francês.

Recomendo muitíssimo para quem gosta de fantasia e para quem gosta de livros young adult. Vale a pena carregar esse calhamaço por aí, mas, podendo, recomendo a versão kindle que é mais leve.

Nota 10.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Os cinco porquinhos - Five little pigs


SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2022 de maio, com o tema um livro com o número cinco no título, me deparei com o problema de ter poucos livros (ou quase nenhum) ainda não lidos que se encaixavam nessa categoria. Ao mesmo tempo, me encontrei com uma oportunidade de ler um livro que eu confesso que tinha um certo preconceito somente por causa do título. 

Os cinco porquinhos, um mistério da grande rainha Agatha Christie, do seu famoso detetive Poirot, recebe esse título por conta de uma rima infantil, que em inglês tem até mais de uma versão. Toda a questão ocorre em torno de cinco personagens principais, que foram testemunhas de um caso antigo e já considerado encerrado, a morte do pintor Crale, cuja esposa, Caroline, foi declarada culpada do seu assassinato. Entretanto, a filha do casal, uma criança de colo na época do ocorrido, às vésperas de seu casamento, contrata Poirot para provar que sua mãe era inocente.

Uma das coisas mais interessantes desse volume, é que é um dos poucos que vi da Agatha (se não o único que li até agora dela assim) onde é possível encontrar a história sendo contada de diversos pontos de vista diferentes. E não apenas porque Poirot vai conversar com cada um dos cinco envolvidos: Philip Blake (amigo de Crale), seu irmão Meredith Blake, Elsa Greer (a amante), Cecilia Williams (a governanta) e Angela Warren (irmã de Caroline). Além das entrevistas, cada um deles escreve uma espécie de carta, relatando tudo o que lembra do fatídico dia do assassinato.

O mistério, dessa forma, nos é apresentado em diversas camadas e ângulos distintos, o que é imprescindível por se tratar de um crime de arquivo morto, isto é, muito antigo e considerado já resolvido. E além das questões tradicionais dos livros de mistério da Agatha, esse ainda traz uma discussão bastante interessante sobre a memória.

De forma geral, a leitura, como na maioria dos livros da Rainha do Crime, é uma delícia, fluida e gostosa. E preciso dizer que Os cinco porquinhos me impressionou muito, e consigo dizer sem medo que, dos livros que já li dela, é simplesmente dos melhores, se não o melhor. Vale muito a pena.

Nota 10.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

O Diabo do Rio - River Marked (Mercy Thompson #6)


 

SPOILER FREE

Seguindo para mais um volume da meu vício atual, a série Mercy Thompson, cheguei no livro 6, River Marked, que ficou traduzido como O Diabo do Rio pela editora portuguesa Saída de Emergência. A tradução do título ficou meio abrasileirada na minha opinião, mas pelo menos tem a ver com o enredo.

Nesse livro, Mercy finalmente casa com o lobisomem Adam, e, claro a lua de mel deles se torna uma grande confusão. Tudo porque os fae oferecem para eles um lugar para ficar perto de um rio, e claro, o tal rio está tendo um aumento de mortes nos seus arredores que ninguém sabe explicar.

Um dos pontos mais interessantes de O Diabo do Rio é que é o primeiro volume da série totalmente voltado para os antepassados da Mercy, os nativos dos EUA. Temos presente toda a questão indígena e a origem do poder de Mercy de se tornar um coiote e ver fantasmas, além de finalmente sabermos mais sobre o seu pai.

Nesse sentido, para mim esse é o volume mais interessante da série até agora. Realmente estava fazendo falta ter mais esse lado da história dos indígenas, e uma discussão sobre Mercy ter sido criada totalmente fora da sua herança cultural, o que a torna pouco conhecedora das suas próprias potencialidades.

Fora esse pano de fundo mais interessante que a média dos livros da série até agora, as demais características da série continuam as mesmas. Temos muita ação por lado, pouco ou nada de cenas mais sensuais, apesar da história se passar numa lua de mel, e, infelizmente a falta de personagens femininas. Pelo menos, dessa vez, as pouquíssimas personagens femininas que aparecem não odeiam a protagonista. Menos mal, mas podia ser muito melhor do que é.

Até o momento, a série Mercy Thompson da americana Patricia Briggs é uma excelente leitura. Para quem gosta de fantasia e de ação, é uma excelente pedida. Não é perfeito, poderia ser melhor, mas ainda assim recomendo muito.

Nota 9,5.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Segredo de Prata - Silver Borne (Mercy Thompson #5)

SPOILER FREE

Seguindo na minha atual saga de ler a série Mercy Thompson da americana Patricia Briggs, cheguei no quinto volume, Segredo de Prata, como ficou a tradução pela editora portuguesa Saída de Emergência.

Dessa vez, Mercy volta a se envolver com questões dos fae, e numa tentativa de ajudar o amigo do filho do seu mentor, se vê no meio de uma busca desenfreada por um artefato mágico. O problema é que tem gente que acha que ela é que tem posse do tal artefato, o que significa que ela está sendo perseguida. Para piorar a situação, sua entrada no grupo de lobisomens não tem sido muito fácil, e um possível complô está se formando.

Num misto de história de mistério e ação, Patricia Briggs traz a tona algumas narrativas estilo contos de fadas, no que combinou muito bem com os lobisomens e vampiros. O mundo criado pela autora, em sua riqueza e complexidade, é um dos trunfos da série Mercy Thompson, e isso é particularmente verdade nesse volume. A adaptação que ela fez para narrativas clássicas ficou muito interessante.

Ainda temos algumas questões que são constantes nos livros da série. De forma positiva, temos a nossa protagonista, que foge à fórmula da escolhida e mega poderosa, pelo contrário, as coisas acontecem muito por sorte (ou azar, ou força do roteiro) e Mercy é sempre uma das personagens menos fortes presentes no enredo, o que torna toda a ação muito mais interessante. E claro, como boa brasileira, adoro torcer para a zebra da situação.

De forma negativa, a falta de personagens femininas que sejam amigas de Mercy ao invés de olhar torto pra ela o tempo todo é uma das coisas que me irrita. A única personagem feminina que ela se dá bem e sempre aparece nos livros é a filha do Adam, o par amoroso dela. Menos mal porque ela poderia nem se dar bem bom ela, mas, é simplesmente estranho todas as outras mulheres detestarem ela sem grandes motivos. Digo sem grandes motivos porque os citados são os mesmos para alguns homens, o que parece afetar só parte da população masculina, mas quase toda a população feminina. Estou torcendo para isso mudar em algum momento.

Por outro lado, Patricia Briggs consegue fugir dos finais com gancho, e seus livros são sempre redondinhos e com um final que te deixa com gosto de quero mais ao invés de ódio eterno. Estou ficando até com vontade de ler outras séries da autora, como a Alfa e Ômega, que se passa no mesmo universo. Agora vamos ver até onde vai o meu fôlego para ler as aventuras de Mercy, e até onde a autora consegue manter os volumes interessantes.

Nota 9.

terça-feira, 19 de abril de 2022

o nosso reino


SPOILER FREE

Quem acompanha minhas resenhas sabe que quando eu gosto de determinado autor, eu não meço esforços de ler qualquer coisa nova ou antiga, eu gosto é de completar o álbum. Mas, quanto mais a gente lê determinado autor, maior a probabilidade de encontrar algo dele que não nos agrada.

Infelizmente esse foi o caso com o nosso reino do português Valter Hugo Mãe. Apesar de eu adorar o português, ter quase que todos os seus livros, e de forma geral adorar a sua obra, preciso ser sincera e dizer que não gostei desse livro.

A história se passa num vilarejo português na década de 70, e é narrada do ponto de vista de Benjamim, uma criança de cerca de 9 anos. História talvez seja exagero, o livro é quase que uma coletânea de impressões e pequenos causos, onde a percepção carregadíssima de catolicismo do menino é o fio da meada.

Valter Hugo Mãe faz uso da sua forma de escrever repleta de lirismo e poesia, mas, as imagens não me agradaram e nem me prenderam na narrativa. De forma geral, achei tudo muito exagerado por um lado e grosseiro por outro. Nada contra os exageros ou grosserias de forma geral, mas, precisa ter um objetivo ou um papel na narrativa. E sinceramente, não achei que agregou, ficou só com cara que o autor queria chocar o leitor só pra chocar mesmo.

O resultado ficou um tanto quanto desconjuntado, numa leitura sonolenta e sem graça. O resultado certamente independe de qual edição você encontre, a antiga pela Editora 34, e a nova pela Biblioteca Azul.

Minha nossa, como me doeu escrever isso sobre o autor... então, vou terminar dizendo que ele tem coisas incríveis, mas não recomendo o nosso reino como uma das suas obras a serem lidas. Pega qualquer outro livro, é provável de acertar.

Nota 4.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Bone Crossed - Cruz de Ossos (Mercy Thompson #4)


 

SPOILER FREE

Continuando o meu atual vício com a série Mercy Thompson, não resisti e já terminei de ler o quarto volume, Cruz de Ossos, como ficou a tradução em Portugal pela editora Saída de Emergência. Depois de um livro voltado para cada um dos três grupos importantes do mundo criado pela americana Patricia Briggs, não tinha como não fazer um repeteco no livro número quatro.

Dessa forma, em Cruz de Ossos, temos quase que uma continuação do segundo livro, onde foi iniciada uma trama com os vampiros. Mas, dessa vez, Mercy precisa lidar não só com a rainha do clã local de vampiros, Marsilia, uma vampira muito antiga, mas acaba se metendo sem saber com um vampiro solitário de uma cidade próxima. 

Apesar dos momentos bem cheios de aventura, a questão aqui tem cores mais fortes de politicagem, não só pela relação entre os vampiros e os lobisomens, mas porque finalmente Mercy começa a fazer parte do grupo de lobisomens, como parceira do alfa Adam. Tinham me avisado que finalmente rolava uma ação interessante por conta disso, mas, fica o aviso de que não é bem o que eu esperava no quesito caliente. Melhor não esperar grandes coisas. Apesar das capas sugestivas, os livros de Patricia Briggs não têm esse tipo de cena. Não faz falta, porque a ação e o enredo seguram bem a leitura, mas, para quem curte, fica o aviso.

Estando no quarto livro, é interessante reparar que os volumes de Mercy Thompson são bem redondos. Cada um tem uma história com início, meio e fim, nada daqueles ganchos no final que levam os autores para um lugar especial do inferno, o que acho muito positivo. Patricia Briggs, ao invés de usar esse subterfúgio fácil, consegue criar sempre situações diferentes para cada livro, mas com temas e enredos mais longos, porém menos cheios de adrenalina, para compor o fundo e a conexão entre os volumes. Então, é importante ler na ordem, mas você não fica com ódio no coração por não saber o que vai acontecer em seguida.

O problema crônico da falta de personagens femininas que sejam amigas da protagonista continua, infelizmente. Entretanto, o texto também continua altamente viciante. Já peguei o livro seguinte. Não sei ainda se acho bom ou ruim a série ser tão longa... o décimo terceiro volume vai ser lançado em agosto de 2022 ainda! Vamos ver até onde a autora consegue levar essa fórmula e manter interessante e legal de ler.

Nota 9.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Iron Kissed - Beijo do Ferro (Mercy Thompson #3)


SPOILER FREE

Como boa leitora compulsiva que sou, mal terminei o segundo livro da série Mercy Thompson, da autora americana Patricia Briggs, e já entrei de cara no terceiro, Beijo do Ferro, como saiu na editora portuguesa Saída de Emergência.

Se no primeiro volume, O Apelo da Lua, conhecemos melhor como funcionam os lobisomens no mundo criado pela autora, no segundo volume, Vínculo de Sangue, conhecemos os vampiros, no livro seguinte era esperado sermos melhor apresentados aos fae. Os fae não são uma novidade, o mentor de mecânica de Mercy, Zee, que aparece logo no primeiro livro, é apresentado como um tipo de fae, um gremlin, um dos poucos tipos de fae que consegue lidar bem com ferro.

Então, dessa vez, é Zee que pede ajuda a Mercedes, e quando ela se envolve na investigação de assassinatos na reserva de faes da região onde ela mora, ela acaba sendo também a única interessada em ajudar Zee quando ele é preso injustamente. Novamente, temos a nossa protagonista, a menos poderosa entre todos os envolvidos, tentando fazer o que ela acha certo e, claro, ela se dá sempre mal, de uma forma ou de outra.

Além do drama do mentor preso, o clima na matilha local de lobisomens está estranho. Para tentar proteger Mercy, o alfa do grupo, Adam, decretou que ela era a sua parceira, mas, ela nunca aceitou a posição. Para piorar a situação, ela está morando com um ex-namorado, Samuel, que depois de abandonar a matilha mais importante do país, resolveu ir morar com ela, numa tentativa de reconquista-la, o que deixa tudo mais confuso.

O terceiro volume da série é mais um mistério do que um livro de ação, com Mercy tentando investigar os assassinatos para limpar o nome de Zee, mas outras tramas, que começaram nos livros anteriores, tem um peso interessante que torna o enredo mais complexo. Mesmo assim, o clímax do livro é pura adrenalina, com uma reviravolta que eu confesso que não esperava. Não sei o quão necessário era ter alguns acontecimentos, que podem gerar gatilho em alguns leitores, mas, deixa a personagem ainda mais interessante, e leva a algumas discussões importantes. O resultado no final das contas me agradou.

A única coisa que realmente me deixa insatisfeita com a série da Patricia Briggs é a falta de personagens femininas que não odeiem a protagonista. É um detalhe que acho triste, e que não vejo nenhum objetivo para ser assim, é só chato e deixa algumas situações bem mais machistas do que o necessário, considerando que Mercy sabe que vive em construções sociais machistas e reclama disso com alguma frequência.

Para quem curte séries de fantasia, recomendo muito Mercy Thompson, com apenas o aviso de gatilho de violência sexual nesse volume.

Nota 9.


quarta-feira, 13 de abril de 2022

A pirâmide


 

SPOILER FREE

O Desafio Literário Popoca 2022 de abril tem como tema um romance histórico, e eu resolvi pegar um que se encaixa duplamente nesse quesito. O autor Ismail Kadaré é mais conhecido no Brasil por conta do filme Abril Despedaçado do que por conta de seus livros, mas, não é difícil encontrar traduções dele em português, o que mostra que o autor albanês é um tanto quanto fora da curva.

Apesar da Albânia ficar no que hoje chamamos Europa, a maioria da população do país é muçulmana, e a região ficou sob alguns séculos sob domínio do império otomano, do qual só saiu no século XX. De certa forma, isso transparece nos temas e nas narrativas de Ismail Kadaré, inclusive no texto original de Abril Despedaçado. Então, não é totalmente disparatado o autor, que não é egiptólogo, resolver escrever em A Pirâmide sobre a construção da maior pirâmide do Egito Antigo, chamada de pirâmide de Queóps, por conta do faraó que ordenou a sua construção.

Embora o enredo se passe totalmente dentro do período histórico da construção da pirâmide, o autor conseguiu fazer um retrato do que poderia ter ocorrido em qualquer época onde há uma ditadura. Numa narrativa concisa, mas poderosa, Ismail Kadaré traz à vida não apenas o Egito Antigo e diversas figuras históricas, mas também todo o clima do que poderia ser viver sob um regime e uma a figura tão dura quanto um faraó.

O melhor é que ele não escolhe o tema à toa, pouco antes dele escrever A Pirâmide, o secretário do partido comunista da Albânia, Enver Hoxha, que ficou em diversas posições no poder por cerca de 40 anos, havia mandado construir uma pirâmide na capital do país, Tirania. A pirâmide depois virou um museu, e durante a guerra de Kosovo foi uma base da OTAN, e durante muito tempo foi chamada de mausoléu de Enver Hoxha, porque ele faleceu na época da sua conclusão, apesar de não ter sido enterrado lá.

A pirâmide de Tirania

Por conta desse livro (e provavelmente de outros também), que só foi editado mesmo depois da queda do comunismo na Albânia, Ismail Kadaré se exilou na França, o que mostra o quão certeiro é o seu texto. Que, no final, é duplamente romance histórico, é um retrato do Egito Antigo e um retrato da Albânia dos anos 80. O autor é bom assim, vale a pena ler qualquer coisa dele, mas A Pirâmide é realmente especial.

Nota 10.

Vínculo de Sangue - Blood Bound (Mercy Thompson #2)


 

SPOILER FREE

Depois de ler O apelo da lua, confesso que fiquei um tanto vidrada na personagem Mercy Thompson e no texto da americana Patricia Briggs. Nem respirei entre fechar o primeiro volume e abrir o seguinte, o que me deixou feliz por ter deixado para ler a série depois de ter conseguido a maioria dos livros.

Apesar das capas sugestivas, Patricia Briggs não segue a linha mais comum de fantasia com uma protagonista feminina que seja recheada de cenas picantes, apesar do triângulo amoroso e de certa importância dos relacionamentos amorosos no enredo. Por um lado isso é interessante, porque sobra mais espaço para ação e adrenalina, por outro, eu gosto de cenas picantes, mas não acho que faça falta em Vínculo de Sangue, como ficou o título em português de Portugal.

Dessa vez, Mercedes, a mecânica de Volkswagen, por conta de estar devendo um favor para um amigo vampiro no primeiro volume, aceita ir com Stefan atrás de um outro vampiro. O que era para ser um encontro tranquilo, se revela um problema porque o tal vampiro controla um demônio, e coloca todos, inclusive os seres sobrenaturais da região em risco.

A partir daí, Mercy, que entre todos os tipos de seres sobrenaturais descritos no mundo criado por Patricia Briggs, é um dos mais fracos e frágeis, acaba sendo colocada numa posição complicada onde ela precisa caçar o tal vampiro ultra poderoso. E essa é uma das características interessantes da walker, apesar de se considerar sempre menos poderosa que todos ao seu redor, ela nunca se recusa a ajudar os amigos, e mesmo com os riscos ela sempre tenta fazer o que ela considera a coisa certa.

É um tanto quanto fascinante acompanhar uma personagem heroica como Mercy, mas que não é super poderosa. Ela acaba conseguindo vencer os obstáculos de forma inesperada, e mais por pensar e se comportar fora da caixa, do que por força ou magia ou poder. Diferente de um grande número de séries por aí, ela não é a escolhida, ela não é a mais poderosa e ela não tem um grande objetivo a cumprir.

Mercy é a heroína de ocasião, que só estava no lugar errado e na hora errada, e que, por um senso de obrigação doido resolve se meter na briga de cachorro grande. E claro ela não sai ilesa, o que torna a coisa interessante, porque ela sabe que tem coisas a perder e não vai sair inteira, mas ela vai mesmo assim.

Então, além de ter uma protagonista interessante, personagens secundários interessantes, e um mundo muito bem construído e pensado, Patricia Briggs escreve bem, e consegue entregar um enredo cheio de adrenalina e que termina com gosto de quero mais. Ainda bem que eu já tenho o próximo livro para ler. É simplesmente viciante.

Nota 9.

terça-feira, 5 de abril de 2022

O Céu Não Sabe Dançar Sozinho


 

SPOILER FREE

Quem me acompanha sabe que eu tenho uma listinha de autores favoritos que eu tento ler algo com alguma frequência, Ondjaki é um deles. O autor angolano é uma preciosidade capaz de escrever em diversos estilos literários, incluindo poesia, livro infantil, livro adulto, contos e romances. E ele não só escreve de tudo, mas escreve tudo muito bem.

Esse livro já estava fora da estante, rodando por aí na minha bolsa de praia, mas só essa semana eu consegui sentar na areia e lê-lo, de uma vez só, diga-se de passagem. Ainda bem que estava debaixo de uma barraca e com protetor solar, porque só consegui fechar o livro quando terminei.

O céu não sabe dançar sozinho é uma coletânea de contos, com um quê de realismo fantástico, que parecem relatos do autor em suas estadias ao redor do mundo. Cada conto se passa numa cidade diferente, num continente diferente, mas todos tem aquele quê característico de Ondjaki.

Apesar do livro se passar por diversos cantos do mundo, não espere um relato de viagens ou descrições de diversas cidades. Isso talvez seja comum demais para o autor. Seja na África, na Ásia ou na Europa, o autor traz pequenos retratos do que é um ser humano num lugar onde não pertence, onde se sente um tanto quanto inseguro e incerto das regras, mas que mesmo assim tem uma razão para estar ali. Nem que essa razão seja estar aberto para o improvável e para novas experiências.

Assim como outros livros supostamente autobiográficos do autor, não é claro o quão real ou fantasioso ou uma mistura dos dois os contos são. E no fundo, esse é um dos trunfos de Ondjaki, ele consegue capturar o humano em situações por vezes estranhas, mas não necessariamente impossíveis. E com isso ele transmite uma beleza única em coisas que podem parecer banais ou simplesmente surreais.

Mais um livro do autor que entra na lista de mais uma razão para ler Ondjaki.

Nota 10.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Um de nós está mentindo - One of us is lying


 

SPOILER FREE

Fazia muito tempo que esse livro estava na minha lista de leituras, mas com pandemia e desafios literários, não havia surgido ainda o momento dele. Quando vi que iria sair a série no Netflix de One of us is lying, não teve jeito, precisei tirar o livro da estante virtual e lê-lo o mais rápido possível para poder assistir à série.

Confesso que não li o livro inteiro primeiro, quando cheguei na metade comecei a ver os episódios, o que foi uma experiência interessante, pois deu para saber bem direitinho todas as alterações que fizeram do livro para a TV. Claro que terminei o livro antes da série, porque prefiro assim, e ainda bem que fiz isso.

Esse foi o primeiro livro publicado da Karen M. McManus, e fez um enorme sucesso na época, o que nem faz muito tempo, ele é de 2017, e desde então sua carreira deslanchou, com mais uns 5 livros publicados, incluindo uma continuação (que sim, eu já tenho). O lance de best-sellers é que nem sempre a gente entende como eles chegaram lá. Mas Um de nós está mentindo, como ficou o título em português pela editora Galera, faz jus a todo o bafafá e ter virado série.


O livro é um mistério, daqueles em que você tem um assassinato e vários suspeitos e todo o enredo gira em torno de quem matou quem. Nesse caso, temos Simon, um garoto pouco social que criou um app de fofoca da sua escola, onde ele posta as histórias mais escabrosas (e sempre verdadeiras) de seus colegas. Claro, ele que foi assassinado. Na lista de suspeitos temos quatro estereótipos personagens muito diferentes entre si, a cdf Bronwyn, o atleta Cooper, a patricinha Addy e o encrenqueiro Nate.

A história é narrada trocando a voz entre esses quatro suspeitos, sendo que todos, claro, assim como o resto a escola, tinham motivo para se livrar de Simon. Misturando o dia a dia da escola, com o circo midiático que não poderia deixar de acontecer nos EUA, o enredo é cheio de reviravoltas e surpresas. Não só com relação ao conteúdo dos quatro de Bayview High no app de Simon, mas com relação a outros aspectos da vida de cada um dos personagens principais, que dá todo um sabor extra e complexidade para cada um deles.

Particularmente, amei demais o livro. Achei bem escrito, com boas reviravoltas, um final que me surpreendeu e bons personagens não só principais, mas secundários também. Incluindo aí a irmã da Addy, que amei de coração e fiquei danada de não ter aparecido na série, assim como outros bons personagens, como o advogado Eli. O relacionamento entre eles também foi muito bem explorado pela autora. Gostei tanto que estou animada de ler outros dos seus trabalhos.

E aí chegamos à série de TV, que aqui no Brasil está disponível no Netflix... por um lado, a adaptação é muito interessante, porque me parece que eles fizeram um esforço de deixar os personagens mais diversos do que no livro, o que é sempre bom. Outro ponto positivo é que eles capricharam na realidade online da juventude atual, que está no livro, mas é diferente quando você usa uma mídia visual para contar a história. 

Por outro lado, eles mudaram bastante coisa do texto original. Isso por si só não é um problema, adaptações precisam disso. Não me considero uma purista nesse sentido. Inclusive eu já esperava que eles fossem mudar o final da história, só pra não ficar exatamente como no livro. O meu problema com as alterações é que eu acho que elas deixaram a história mais boba e os personagens menos profundos. Se tiraram bons personagens secundários porque não ia dar tempo, eu entendo, faz parte, fico triste claro, mas entendo. Entretanto, colocaram no lugar toda uma história muito complicada com uma das professoras. E o desfecho dessa história foi péssimo em diversos sentidos na minha opinião.

Mais um caso de o livro era melhor.

Nota 10 para o livro.

A série foi renovada, mas sinceramente, não pretendo assistir outra temporada, vou ficar só nos livros, obrigada.

quinta-feira, 31 de março de 2022

O Apelo da Lua - Moon Called - Mercy Thompson #1


 

SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2022 de março, com o tema escritora de fantasia ou ficção científica, resolvi tirar da estante uma indicação antiga, Patricia Briggs. A autora estado-unidense ficou famosa com sua série Mercy Thompson, e vai lançar agora em agosto de 2022 seu livro nº 13! Mas eu não tinha lido nada dela ainda, por motivos de saber que era uma série longa, e eu não tinha conseguido comprar o livro nº 2, e, conhecendo o estilo literário, gostar do primeiro sem ter o segundo seria um problema. Que foi resolvido ainda em março, quando consegui o volume faltante numa promoção. 

E assim peguei para ler O Apelo da Lua, como ficou a tradução pela editora portuguesa Saída de Emergência, que já publicou os 6 primeiros volumes de Mercy Thompson em português na terrinha. Não sei como ficou a tradução, mas, é a mesma editora portuguesa da Charlaine Harris, então imagino que façam um bom trabalho.

A série traz como protagonista Mercy Thompson, uma walker, que é um mito nativo dos EUA, onde uma espécie de bruxa seria capaz de se transformar ou disfarçar de animais (ver skin-walker). No caso do livro, Mercy é filha de um indígena, e é capaz de se transformar em coiote. Sua mãe, que não chegou a conhecer bem o seu pai, morto durante a gravidez num acidente, quando vê um filhote de coiote no berço da filha vai atrás da família do cara, e Mercy acaba sendo criada numa matilha de lobisomens.

Se você não achou nada de muito original até agora, some o fato de que Mercy, ou Mercedes, se formou em história na universidade, e na impossibilidade de conseguir um emprego no seu ramo, virou mecânica de carros da Volkswagen (sim, é uma piada proposital), tendo aprendido o ofício com um gremlin. O mundo onde se passa a história ainda é povoado de vampiros, bruxas e outros seres mágicos.

O livro tem um jeito que lembra o estilo da Charlaine Harris na série Sookie Stackhouse, que deu origem a True Blood, mas o mundo de Patricia Briggs me parece mais complexo e interessante, pra ser sincera. Fora que todo o romance não é o tema central do enredo, o que dá um certo alívio, e mais espaço para ação e adrenalina. Mas, não se engane, tem romance, tem triângulo amoroso, afinal ainda é uma fantasia urbana que tem lá seu público específico.

Tem umas questões estranhas nos relacionamentos também, mas, justiça seja feita, a autora deixa claro que são coisas estranhas e não romantiza. Ponto pra ela. No quesito problemas femininos do livro, o que acho mais complicado é a ausência de amigas mulheres da Mercy, mas, tudo bem, ela tem amigos homens que são só amigos mesmo, e não é como se o livro não tivesse outras personagens femininas ou que a Mercy só falasse com mulheres sobre seus interesses românticos. Meio ponto, podia ser melhor.

Agora no quesito ação e aventura, acho que é aí que está o trunfo da Patricia Briggs. A ação e o mistério do enredo, que envolve uma conspiração contra as matilhas de lobisomens que nossa protagonista conhece, é de tirar o chapéu. Me deixou ligada na leitura até o fim, e nem respirei e já comecei o livro seguinte, como eu sabia que corria o risco.

É um bom livro de abertura de série, tem toda uma ambientação no início, explicando como algumas coisas funcionam e em que ponto o mundo se encontra (os seres mágicos são parcialmente conhecidos dos humanos porque é difícil de se esconder com a tecnologia e ciência atuais), mas sem perder o fio da meada. Quando você vê já está envolvido no enredo. Confesso que fazia tempo que eu não pegava um livro que me deixasse tão viciada.

Estou animada para os volumes seguintes.

Nota 9.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

The Apocalypse of Elena Mendoza



SPOILER FREE

Continuando o Desafio Literário Popoca de fevereiro de 2022, com o tema livro com uma capa ou muito colorida ou um livro que foi comprado porque a capa era bonita, escolhi um livro que não só tem uma capa lindona (tanto a versão original dela quanto a nova), como tem um título super interessante, O apocalipse de Elena Mendoza (em tradução minha, porque nada do autor Shaun David Hutchinson foi traduzido até hoje para o português).

Dessa vez, o autor nos traz a história de Elena Mendoza, nascida de uma mãe virgem (e cientificamente comprovado como único caso de partenogênese da história), e que certo dia, colocada diante de uma situação inesperada, descobre que tem o poder da cura. Porém, cada vez que ela usa esse poder coisas terríveis acontecem.

Eu já conhecia o trabalho de Shaun David Hutchinson do livro The five stages of Andrew Brawley, e como amei, fui com convicção de que esse também seria bom. Adoro estar certa. O apocalipse de Elena Mendoza tem momentos tensos e de ação, mas a história não é sobre isso, é sobre o que cada um acredita estar certo, o poder de escolha individual, também conhecido como livre arbítrio, e ter empatia pela humanidade de todas as pessoas, independentemente de escolhas ruins ou más mesmo.

Por ser um livro sobre escolhas, e com uma protagonista com a escolha mais difícil a ser feita, o enredo é um tanto quanto lento, porque todo o drama gira entorno de como Elena vai escolher, e ela no fundo não quer fazer uma escolha. Mas, no caminho temos situações muito interessantes e um dos poucos livros que a maioria dos personagens não são héteros e onde isso não é o tema central da história que eu já li, o que é muito bom para variar. 

Shaun escreve muito bem, e sua voz para Elena convence e engaja o leitor no problema em questão, escolher quem deve ser salvo e como num apocalipse. E apesar do tema pesado e complexo em termos de como lidar com a fé das pessoas, Shaun não só faz escolhas interessantes e fora do padrão (inclusive em termos religiosos), como ele consegue trazer humor para a narrativa.

É um livro que vale tanto pela capa quanto pelo conteúdo.

Nota 9.

Broken (in the best possible way)

 


SPOILER FREE 

Para o Desafio Literário Popoca de fevereiro de 2022 o tema é livro com uma capa ou muito colorida ou um livro que foi comprado porque a capa era bonita. Esse caso é uma mistura de motivos. Particularmente, amo a capa de Broken pintada pelo artista Omar Rayyan, e teria pensado em comprar esse livro só por causa dela. Só que eu adoro o trabalho da autora Jenny Lawson, e teria comprado o livro independente da capa. Mas, claro, uma capa com a autora pintada segurando um monstro fofo é simplesmente irresistível e um bônus.

Jenny Lawson é uma figura interessante, seu blog me proporciona bons momentos semanais, e eu já li os dois outros livros dela, Alucinadamente Feliz e Vamos fingir que isso nunca aconteceu, e amei os dois. Não havia a menor chance de eu deixar Broken passar sem ler. 

A autora sofre de diversos distúrbios mentais e problemas de saúde, incluindo depressão, ansiedade e uma doença autoimune. Mas, ela consegue escrever sobre isso com uma honestidade bem humorada e sarcástica que não só torna a leitura agradável, mas também ajuda a entender melhor as suas questões e tornar o leitor mais empático com outras pessoas que possam ter problemas parecidos. Melhor tipo de literatura, né?

Entretanto, Broken foi escrito durante a pandemia, e eu confesso que acompanhei o processo no blog da Jenny, e não foi fácil. Atribuo a isso a minha sensação ao ler Broken, que foi diferente dos livros anteriores dela. Minha percepção é que a autora não estava nos seus melhores momentos, e, bem, por questões de prazo e da vida, ela fez o que dava para terminar o livro, mas, o resultado final não é o seu melhor trabalho. 

O livro tem bons momentos, assim como os volumes anteriores, é quase que uma coleção de causos e pensamentos da autora, e alguns dos capítulos são brilhantes. Porém, na média, Broken não é tão bom. Vale a leitura, claro, mas se você nunca leu nada dela eu indicaria os dois outros livros.

Mas, esse tem a capa mais bonita, sem a menor dúvida. Pena que como foi lançado em 2021, ainda não tem tradução para o português.

Nota 8.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Beirute Noir


 

SPOILER FREE

Para abrir o ano, e o Desafio Literário Popoca 2022, que tem o tema de janeiro livro de contos, escolhi um exemplar da série Noir da editora liberal e alternativa Akashic Books. A editora se especializa em autores que são ignorados ou não querem trabalhar no mainstream editorial dos EUA, e a série Noir tem ainda um viés internacional, pois foca em autores de diversos países.

A série Noir hoje já conta com mais de 70 cidades espalhadas por todos os continentes, com contos de autores locais e histórias inéditas que se passam na cidade título do livro. Beirute Noir, a minha escolha da vez, pode ser encontrado também em português, pois foi publicado no Brasil pela Editora Tabla, especializada em literatura árabe.

Para a capital libanesa, a seleção de contos foi organizada pela autora Iman Humaydan, também libanesa, e contem 15 contos de 14 autores libaneses e um palestino criado no Líbano. Os contos foram originalmente escritos em três idiomas, árabe, francês e inglês, o que já uma traz uma característica bastante interessante do Líbano, onde não só é comum encontrar pessoas bilíngues, mas o país também possui uma diáspora considerável espalhada pelo mundo inteiro.

Uma característica da série Noir é que os contos acontecem por diversos bairros da cidade título, e no caso específico de Beirute, os contos ainda se passam durante a guerra civil libanesa, que ocorreu entre 1974 e 1990, acontecimento que marcou profundamente o país. Por ainda por cima ser um livro de temática noir e com contos passados durante uma guerra civil... já dá pra sentir que as histórias não são exatamente leves.

Como todo livro de contos, é claro que Beirute Noir tem seus altos e baixos, mas de forma geral os autores trazem um retrato bastante interessante da cidade dividida pela guerra, com personagens pertencentes às diversas etnias e religiões que dividem o país. Achei especialmente interessante ver os armênios (com direito a citação à fuga do que hoje é a Turquia e o genocídio armênio), os muçulmanos, os cristãos, com direito as suas variações... o Líbano é um país muito mais diverso do que se costuma imaginar.

Mas é preciso estar preparado para a brutalidade da guerra, que muitas vezes é retratada de forma corriqueira, e o fato de que nenhuma história vai ter um final feliz. Eu confesso que gostei particularmente das histórias cujos protagonistas são mulheres, e algumas com protagonistas homens foram especialmente marcantes também. Com exceção de um ou outro conto que não me caiu bem, a leitura foi bem rápida e surpreendente agradável, considerando o tema.

Recomendo muitíssimo para ter contato com autores que dificilmente temos acesso, especialmente em português. É uma oportunidade imperdível.

Nota 9.