SPOILER FREE
Para fechar o Desafio Literário Popoca de março, com o tema escritoras, resolvi fazer uma escolha sem chance de errar: Conceição Evaristo.
Para quem não conhece ainda, Conceição Evaristo é uma escritora negra brasileira nascida em Minas Gerais, numa família pobre. Tanto que ela foi a primeira da sua casa a conseguir um diploma universitário, sendo que hoje ela é doutora. Uma das suas obras mais famosas é Becos da Memória, lançado 20 anos depois de ter sido escrito por motivos de preconceito.
Dessa vez, em Olhos d'água, a autora nos traz um livro de contos que, talvez se não fosse por ela, jamais seriam impressos. Conceição dá voz a personagens que não têm vez, que não saem em jornal com nome próprio, isso, se saírem, mesmo que a seja por motivo de morte trágica. São os favelados, os em situação de rua e desvalidos. Suas histórias, mesmo com a poética que a autora é capaz de imprimir, são muito mais denúncias do que enredo de livro comercial.
E por isso mesmo essa leitura é importante, por mais que seja dura.
Nesse sentido, a poética de Conceição Evaristo ajuda: é a camada de açúcar num remédio muito amargo, que não cura nada, só faz abrir os olhos. O que pode ser, em alguns casos, terapêutico. É bastante sintomático que histórias como as de Olhos d'água, que são muito mais comuns do que deveriam ser, sejam tão incomuns de serem contadas.
Por isso mesmo, por mais duro que seja, que precisamos delas. Precisamos delas para conhecer, para dar espaço e voz, e, principalmente, para nos mantermos empáticos em meio à situação calamitosa que, infelizmente, nos acostumamos a viver.
Ler Conceição Evaristo, nesse sentido, é ato de resistência. Vale cada lágrima.
Nota 10.