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domingo, 29 de novembro de 2020

Meio sol amarelo - Half of a Yellow Sun


 

SPOILER FREE

Para terminar o Desafio Literário 2020 de novembro, com o tema autores africanos, resolvi ostentar e fechar com chave de ouro, com a sensação nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

Adichie é uma das autoras africanas mais conhecidas e aclamadas atualmente, com diversos livros na lista de best-seller e sempre muito bem recebida pela crítica. Há rumores de que um dia há de ganhar um Nobel, sente o poder da mulher.

Meio sol amarelo foi o segundo romance publicado pela autora, em 2006, e também foi muito bem recebido, ganhando os prêmios Anisfield-Wolf Book Award (2007), PEN Open Book Awards (2007), Baileys Women's Prize for Fiction (2007) e Best of the Best (2015), um prêmio especial do Baileys Women's Prize for Fiction. O livro fez tanto sucesso que foi traduzido em 37 idiomas e virou um filme nigeriano em 2014, que não fez tanto sucesso, com os críticos dizendo que não fazia jus ao material original.

Esse foi meu primeiro livro da autora que eu diria que é um romance histórico, pois traz sob a ótica dos seus personagens um dos eventos históricos mais marcantes do século XX na Nigéria, a guerra civil da independência de Biafra. Biafra o país, não o cantor. O que, para bons entendedores era para ser óbvio pelo título da obra, que descreve a bandeira de Biafra. Eu como boa ignorante da história da Nigéria, confesso que não tinha a menor ideia, e quando saquei que o livro teria como pano de fundo uma coisa tão triste e violenta, já estava mergulhada na leitura e, mesmo com a pandemia e uma tentativa de ler coisas mais leves, não consegui parar.


A escrita de Chimamanda é simplesmente poderosa, e o romance ganha profundidades que vão muito além da história da guerra civil e suas consequências. Adichie trata de política, de relacionamentos familiares e amorosos, problemas entre as diversas etnias que compõe a Nigéria, as atrocidades da guerra, colonialismo, o papel da educação e a luta de classes. E ela faz isso tudo caber e te emocionar em 560 páginas.

Confesso que ao longo da leitura dei uma pesquisada sobre a guerra de Biafra para me situar melhor, porque fiquei muito curiosa, eu nunca tinha lido sobre o assunto, mas lembro de já ter ouvido falar pela geração dos meus pais (a guerra durou de 67 a 70, e foi um grande escândalo, com uma das primeiras grandes campanhas mundiais contra a fome). Não só isso, mas me ajudou a entender mais o país hoje, que ainda tem dissidências relacionadas a Biafra, com grandes manifestações pedindo novamente por sua independência agora em junho de 2020.

Nada disso era necessário para apreciar o livro, diga-se de passagem. Mas esse tipo de leitura, que escancara a minha própria ignorância, me faz querer saber mais, o que eu gosto, porque me faz estudar.

E Adichie consegue tratar desse tema, que poderia ser um grande clichê, de uma forma muito original. Você se envolve no seu enredo muito mais por causa dos personagens do que por causa da guerra. É um livro extremamente nigeriano, com um tema extremamente nigeriano, mas que foge da literatura exótica que muitas vezes é o que vende ou chama atenção ou que se espera de lugares como a África. Uma grande obra, extremamente humana, com a marca do capricho literário da autora.

Vale cada página.

Nota 10.

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