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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Coffee will make you black

SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca 2021 de novembro, com o tema protagonista negro, escolhi um já quase clássico da autora norte americana April Sinclair, Coffee will make you black. Apesar do livro ter sido lançado em 1994, até hoje não foi traduzido para o português, então, traduzo eu mesma o título: Café vai fazer você ficar preto

Pode parecer estranho, mas o título se refere a um dito popular dos EUA, especialmente nos séculos XIX e XX, que se dizia para as crianças não quererem beber café, para que ficassem com medo de escurecer sua pele. Em outras palavras, o título desse livro sozinho já diz muita coisa e a quê ele se propõe.

April Sinclair, criada em Chicago durante o movimento dos direitos civis dos negros americanos, traz a história de Stevie, uma jovem negra que começa o livro com 12 anos, e que vive durante os anos 60, bem no meio do movimento Black Power. A narrativa é toda centrada no ponto de vista de Stevie, que mesmo sendo uma leitora voraz e boa aluna, quer muito ser considerada cool

Apesar do pano de fundo político forte e do tema constante do racismo institucional dos EUA, a história de Stevie é de uma jovem se descobrindo, brigando com sua mãe, tentando fazer e manter amizades e conseguir um namorado. Talvez hoje seja meio clichê já, mas esse é o livro mais antigo que já li com esse tema onde praticamente todos os personagens são negros e que não é uma autobiografia.

Dentro do tema criança virando adolescente e se descobrindo, Coffee will make you black é um volume bem dentro do esperado, bem escrito, com questões típicas, mas muito abrangente, porque a autora não fica só no basicão. Ela inclui por exemplo, questões de descoberta da sexualidade que não eram muito comuns em livros publicados nos anos 90. 

Entretanto, o pano de fundo do movimento dos direitos civis e a questão do racismo trazem um peso para a trama que o leitor precisa estar disposto a enfrentar. Além disso, mesmo em inglês a leitura não é das mais simples, porque April caprichou nas gírias da época, o que, pessoalmente, eu gosto, porque data a história sendo contada, o que é mesmo o objetivo, mas, por outro lado pode deixar a leitura mais lenta.

No geral, é um excelente livro, e estou animada para pegar o volume seguinte, pois é uma duologia. Mal posso esperar para ver para onde vai a história de Stevie em Ain't gona be the same fool twice!

Nota 9,5.


domingo, 31 de outubro de 2021

Confissões de uma Irmã da Cinderela - Confessions of an Ugly Stepsister

 

SPOILER FREE

Para fechar o Desafio Literário Popoca de outubro, com o tema contos de fadas, resolvi finalmente pegar um outro livro do Gregory Maguire, famoso por Wicked, que ficou tão conhecido que transformaram num dos musicais de maior sucesso da Broadway. Tanto que quase virou filme, mas produziram aquele espanto que é Cats no lugar (pense numa aposta ruim!).

Wicked - versão original da Broadway

O lance do autor é reconstruir outras histórias clássicas, como ele fez tão brilhantemente com O Mágico de Oz em Wicked, mas ele tem uma preferência por contos de fadas. Caso você procure por sua bibliografia, vai perceber que ele já escreveu diversas adaptações dos mais variados contos supostamente infantis, mas, suas versões costumam ser bem mais, como dizer, adultas.

Lançado em português pela José Olympio, Confissões de uma Irmã da Cinderela traz uma versão um tanto quanto diferente da história tradicional, mas mantendo todos os principais traços do enredo original. Contada do ponto de vista da filha mais nova da madrasta, Gregory nos apresenta personagens bem mais humanos e, portanto, imperfeitos do que estamos acostumados. Iris é uma jovem que se considera totalmente sem graça, mas, fugindo com o resto da família da Inglaterra, se encontra numa cidade da Holanda onde oportunidades novas surgem. Sua mãe, Margareth, recém viúva, consegue um emprego no atelier de um famoso pintor da região, e ela e sua irmã Ruth se veem atraídas por uma das pessoas mais misteriosas da cidade, Clara, uma jovem de beleza tão incrível que seus pais a mantém presa em casa.

Com maestria, Gregory consegue criar uma história que leva essa situação até a do conto original, onde Clara se torna Cinderela, mas não exatamente a mesma que conhecemos, mas sim uma bem mais complexa e interessante, assim como suas meias-irmãs e madrasta. Sem fazer uso de realismo fantástico, o autor fia um enredo crível não só de acontecer, mas também de explicar porque o conto terminou contado da forma como é. E isso mantendo o leitor entretido e curioso ao mesmo tempo.

Considerando que Cinderela é um dos contos de fadas mais insossos que tem e com personagens tão preto e branco, o que o autor consegue fazer é quase um milagre, porque o resultado é uma história sensacional e cheia de personagens interessantes.

Assim como Wicked fez a passagem para outra mídia, Confissões de uma Irmã da Cinderela chegou a virar um filme da Disney, lançado direto para TV em 2002. Infelizmente o programa que ele fez parte é tão obscuro que hoje não está disponível em quase lugar nenhum, o que me impediu de assistir. O que é uma pena, adoraria ter visto Stockard Channing (uma das dias do filme Da Magia à Sedução) no papel de madrasta, tenho certeza que ela acertou em cheio na personagem.

Versão Disney do livro

Com toda a qualidade de Gregory Maguire, não entendo porque tão pouco de sua obra saiu em português, vale a pena ler o que tem disponível.

Nota 9.

domingo, 24 de outubro de 2021

Geekerela


SPOILER FREE

Continuando o Desafio Literário Popoca de outubro com o tema contos de fadas, resolvi ler algo mais leve, e acabei optando pela comédia romântica Geekerela, que saiu com o mesmo título em português pela editora Intrínseca.

Como o título já deixa claro, a autora americana Ashley Poston traz uma releitura moderna de Cinderela, com uma boa dose de nerdice, o que achei uma premissa interessante. Então somos apresentados a Elle, uma órfã que vive com a madrasta e duas irmãs, e que é fã de uma série de televisão chamada Starfield, que ela assistia quando criança com o seu pai, um nerd de carteirinha que é um dos criadores de uma Comicon na região onde ela mora.

A tal série agora vai virar filme, e para estrelar a nova versão da saga, escolhem um ator famoso de uma série adolescente, Darien, que Elle acredita que não tem conhecimento suficiente do fandom para interpretar o Príncipe Carmindor, sem saber que ele frequentava cons antes de ficar famoso.

A história de Elle e Darien é muito fofa, e a autora caprichou em detalhes como o food-truck abóbora mágica, onde Elle trabalha, toda a disputa de cosplay, o fandom... realmente o enredo é cheio de referências nerds, e os elementos de Cinderela estão todos lá.

Por outro lado, o enredo tem furos complicados. Todo o drama de Darien com o pai e com os fãs da série adolescente que ele estrelou e com Starfield não faz muito sentido. As decisões dos personagens que deveriam ter sido racionais são totalmente ilógicas, o que, confesso, me deu muita raiva ao ler.

Outra questão que me incomodou é que toda a relação de Elle com a madrasta e as irmãs é muito exagerada. Tudo bem que Cinderela é um conto de fadas exagerado, mas, numa versão moderna, que se passa no século XXI num lugar como os EUA, para mim, ficou um tanto quanto forçado. O enredo teria ganhado com um pouco mais de sutileza.

Enfim, o resultado é uma leitura mediana, que ajuda a passar o tempo, com uma ideia interessante e fofa, mas que poderia ter sido mais bem trabalhada.

Nota 7.

Snow, Glass, Apples


 

SPOILER FREE

Para o Desafio Literário Popoca de outubro, com o tema contos de fadas, resolvi pegar um autor que adoro, mas que faz um certo tempo que não leio, Neil Gaiman. Dessa vez, escolhi uma graphic novel lançada em 2019, Snow, Glass, Apples, que ainda não foi traduzida para o português, e que é baseada num conto do autor publicado em 1994.

Para a graphic novel, Gaiman se juntou à ilustradora Colleen Doran, com quem ele já havia trabalhado em Sandman e na adaptação de Deuses Americanos para quadrinhos, e que tem um histórico extenso de trabalhos com a Marvel e a DC. Com Snow, Glass, Apples eles ainda ganharam o prêmio Eisner de melhor adaptação, o Bram Stoker Superior Achievement in a Graphic Novel e o Ringo Award for Best Graphic Novel. E as razões deles terem ganhado os prêmios são bem visíveis.

Não só temos uma excelente releitura da Branca de Neve, no estilo sombrio de Neil Gaiman, com um jeito até mais adulto do que eu esperava para uma versão de um conto de fadas, mas Colleen fez um trabalho gráfico absolutamente brilhante. As ilustrações são de uma beleza ímpar, com uma pesquisa sobre o ilustrador irlandês Harry Clarke, que tem um estilo tipo Art Nouveau, o que deu à graphic novel um ar meio antigo que combinou muito bem com a narrativa.

Em Snow, Glass, Apples, Gaiman traz uma inversão de papeis para Branca de Neve, o que em 1994 não era comum, com um quê de sobrenatural. E a forma como ele vilaniza a protagonista é original, mas de uma forma que depois que você enxerga com os olhos dele, não tem mais como desver. Nunca mais vou conseguir olhar para Branca de Neve do mesmo jeito. E apesar da violência e das questões sexuais do enredo, Colleen conseguiu criar uma estética que valoriza o conjunto do enredo, ao invés de fazer um show de horrores, e mesmo assim o resultado não é infantil, o que me parece que era uma preocupação bastante justificada. Definitivamente o livro não é para crianças.

O resultado final é uma leitura belíssima, dinâmica e que deixa com um gostinho de quero mais, justamente porque ela é curtinha. Nem sempre curto as adaptações dos textos de Gaiman, porque muitas me parecem caça-níquel, mas Snow, Glass, Apples é tão bem feito que definitivamente é uma obra à parte e que se sustenta sozinha.

Nota 10.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Espada de Vidro - Glass Sword (Red Queen #2)


 

SPOILER FREE

Depois de sofrer com o primeiro livro da série Rainha Vermelha, resolvi ler o volume seguinte num misto de força do ódio com esperança de que poderia melhorar. Além de que, ainda estamos em setembro, e o Desafio Literário Popoca 2021 ainda está rolando com o tema de líderes autoritários.

A boa notícia é que consegui terminar de ler Espada de Vidro, como ficou a tradução em português pela Editora Seguinte. A má notícia é que não melhora.

A cabeça da protagonista, Mare Barrow, que é onde a história realmente se passa, é uma bagunça. Ela continua tão perdida quanto no primeiro volume, não só no que está ocorrendo a sua volta, mas também sobre os seus próprios sentimentos. Personagens contraditórios podem ser interessantes, mas existe limite.

A ambientação da história fica mais interessante e complexa, mas ainda falta coesão e coerência. Fico sempre triste quando vejo uma boa ambientação sendo desperdiçada com um enredo fraco.

O enredo dessa continuação é basicamente Mare fugindo do agora rei Maven, junto com o herdeiro do trono em desgraça, Cal. Eles se aliam à organização Red Dawn, incluindo Kilorn, pra completar o quadrado amoroso da série, enquanto eles procuram por mais pessoas de sangue vermelho com poderes. 

Parece algo cheio de aventura e adrenalina, né? Na realidade nem é. A narrativa é lenta e repetitiva, seguindo os moldes do primeiro livro. Um número grande de personagens acaba sendo apresentado nessa busca, mas nenhum deles é realmente interessante ou marcante. Os poderes são... algo que lembra super heróis de quadrinhos no sentido ruim da coisa.

Achei a leitura tão arrastada que precisei ler dois outros livros no meio de Espada de Vidro para conseguir chegar até o final. Que sim, teve adrenalina e um gancho, como eu esperava, mas ainda assim era previsível. É preciso dizer que a previsibilidade do enredo não anima.

Mas a série Rainha Vermelha fez muito sucesso, o que não entendo como aconteceu, então, farei um esforço pra chegar no final. Vai que melhora? E, se não melhorar, poderei falar mal com propriedade.

Nota 5.

domingo, 5 de setembro de 2021

Anton (Chicago Blaze #1)


 

SPOILER FREE

Em tempos sombrios precisamos de coisas para nos distrair e quem me segue sabe que eu faço uso de literatura erótica pra isso. Então, foi procurando puro escapismo que peguei meu primeiro livro da autora americana Brenda Rothert, que tinha boas resenhas e um interesse romântico de Hockey, só porque meu marido joga.

O enredo me chamou atenção, porque traz algo incomum para histórias desse tipo envolvendo esportistas, nosso personagem principal, Anton, é celibatário ao invés do clichê pegador, e isso porque ele é apaixonado pela esposa de um colega de equipe, a bela e recatada do lar Mia. Fiquei curiosa para saber como a autora iria pegar essa premissa e transformar num romance que não tinha resenhas negativas por questões de traição. (sim, livros com traição costumam gerar resenhas negativas, quem diria?)

Apesar da premissa não seguir o clichê mais comum, para fazer essa história funcionar, Brenda acaba fazendo uso de todos os demais clichês que você puder imaginar. Com direito a personagens unidimensionais bem básicos. O malvado do enredo é feito para ser odiado sem a menor dúvida, e nada dele se redime, o que tem lá os seus problemas internos na história. A mocinha, coitada, é daquelas que por mais que a autora tente justificar sua apatia, é tratada como capacho e vira um joguete entre os machos alfa.

Menos mal que o machismo óbvio presente no enredo não é apontado como romântico, o que já é muito melhor que muita coisa por aí. Alguns temas mais sensíveis não são tratados de qualquer jeito, e nem possuem solução mágica, o que achei positivo.

Mas, é aquilo, isso é suficiente para o livro ser mediano, e não o torna particularmente bom.

Apesar disso, a leitura é tranquila e não me fez revirar os olhos, tendo até mesmo algumas passagens particularmente gostosas de ler. O interessante é que a maioria dessas passagens não tinha a ver com o romance em si, o que torna o livro um pouco mais complexo do que a média do estilo.

Somando tudo, é um livro okay. Para quem quer ler cenas picantes, não é o melhor que tem por aí, mas se você quer apenas escapismo, e um vilão pra xingar por diversas gerações, é uma boa indicação.

Nota 7.

Time of Uncertainty: Poems for Domestic Isolation


SPOILER FREE

Com um dos temas do Desafio Literário Popoca sendo poesia, consegui retomar em parte minhas leituras poéticas, e depois de mais de um ano de pandemia, confesso que comprei esse livro por causa do título.

Eu estava animada para ler mais poemas sobre a quarentena, depois de uma linda experiência com Regresso a casa, do português José Luís Peixoto. Infelizmente a poetisa norte americana Stephanie Van Hassel não tem a mesma grandeza.

Primeiro, o título do livro engana, apesar de Time of Uncertainty: Poems for Domestic Isolation trazer um ou dois poemas sobre quarentena, a maior parte dos textos é sobre família e maternidade, sem o contexto de pandemia. Segundo, os poemas são interessantes, mas não exatamente brilhantes.

Com exceção de uma ou outra poesia realmente incrível, o trabalho de Stephanie Van Hassel é mediano. Vale a leitura para quem curte ler poesias de forma geral, e para quem gosta dos temas tratados pela autora, mas não chama atenção por si só. 

Nota 7.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Rainha Vermelha - Red Queen (Red Queen #1)


SPOILER FREE

Para abrir o Desafio Literário Popoca 2021 de setembro, com o tema ditadores e governadores autoritários ou insanos, decidi apostar na famosa série Rainha Vermelha, da autora americana Victoria Aveyard. Porque nada com um young adult para relaxar...

Só que não.

A Rainha Vermelha não é relaxante, não porque o enredo se passa num mundo dividido em duas castas separadas por sangue, sangue vermelho e sangue prateado, onde os prateados dominam os vermelhos por serem mutantes benders magos terem poderes que podem aniquilar os vermelhos num piscar de olhos e por serem a elite econômica, não. A Rainha Vermelha também não é relaxante, não por causa da violência, da guerra ou das mortes, não. 

A Rainha Vermelha não é relaxante porque os personagens são irritantes ao extremo.

Explico. Imagina um enredo com uma personagem principal chamada Mare Barrow (prometo não sacanear o nome, apesar da vontade) que é uma ladra, excelente nisso, daquelas que saca tudo do que está acontecendo ao redor e saber ler as pessoas. Agora, ela praticamente ganha numa loteria, vira uma princesa, e do nada ela não saca mais nada.

Dos que não curtiram a série, muitos reclamam do triângulo, digo, quadrado amoroso de Mare, Cal, Maven e Kilorn (porque sim, ela precisava não de dois, mas três interesses românticos), especialmente pelo fato de terem dois irmãos nesse polígono. Mas, sinceramente, isso não me incomodou, achei até interessante, e um tanto quanto corajoso da autora. O que incomoda é saber logo de cara quem é bonzinho e quem é malzinho na história e ter que esperar a protagonista perceber o que está explícito desde o início.

Pior ainda é ter que esperar isso acontecer dentro da cabeça da protagonista, que não sabe o que sente, não sabe o que quer e não sabe o que fazer ou esperar. Angústia adolescente é um tempero praticamente obrigatório em young adult, mas o leitor de qualquer idade precisa de mais do que isso num livro.

Talvez tudo ficasse mais interessante se os demais personagens fossem espertos, e Mare ficasse perdida justamente porque cada um tenta usá-la de uma forma diferente. Mas, para uma corte supostamente tão perigosa e cheia de intrigas, os prateados são extremamente simplórios e pouco percebem as artimanhas uns dos outros. Uma coisa é a menina que veio de fora não sacar o que está acontecendo, por mais sagaz que ela seja descrita no início da história, outra coisa é o Rei e outros chefes das famílias importantes não sacarem o que está acontecendo. Gente, eles nem desconfiam. Como assim?

Inclui aí um grupo revolucionário que por um lado é super ultra mega organizado, e por outro lado parece saber pouco do sistema ou contra quem eles estão lutando.

O resultado de tudo isso é um livro com boas ideias, mas mal montado, desconjuntado e com uma coerência interna que deixa a desejar. Para disfarçar, a autora faz uso de repetir as coisas, pra ver se convence o leitor do que deveria estar acontecendo martelando na nossa cabeça.

Definitivamente não é uma leitura relaxante.

Mas, pelo sucesso de público a gente fica curiosa, né? E não tem nada melhor do que reclamar com propriedade nesses casos.

Nota 5.

Severance

SPOILER FREE

Para fechar o Desafio Literário Popoca 2021 de agosto, com o tema pandemias e doenças, decidi me aventurar no romance da chinesa Ling Ma, publicado em 2018, mas ainda sem tradução para o português, apesar de estar disponível em outros idiomas, como espanhol e francês.

O romance, escrito originalmente em inglês, traz a história de Candace Chen, uma millennial, nascida na China, mas que cresceu nos EUA (como a autora). Alternando entre passado e presente, acompanhamos a fuga de Candace de Nova Iorque, após uma pandemia mundial que praticamente dizimou a humanidade.

Apesar de ter sido lançado em 2018, o livro tem coincidências absurdas com a atual pandemia de Covid-19, como o local onde ela se inicia e a falta de importância que as pessoas dão inicialmente para a doença. Só que a febre (em tradução livre minha) de Severance é bem mais fatal, não tem cura, e não deixa de ser uma forma da autora criticar traços da sociedade moderna. Falar mais sobre isso é spoiler.

Mesmo com a febre sendo uma doença bem diferentona, o enredo de Ling Ma é extremamente realista. Talvez se eu tivesse lido em 2018 ou 2019, eu não achasse isso, mas hoje, acho. E essa, para mim, é a característica mais marcante do livro, tanto para o bem, e que explica os inúmeros prêmios que a obra ganhou, quanto para o mal, e que torna a leitura bem deprimente nos tempos atuais.

No fundo, Severance tem algo de Ensaio sobre a cegueira, com uma pitada de Sweet Tooth, no sentido que a pandemia é uma forma de explorar questões da natureza humana. Só que sob o ponto de vista da geração nascida entre 1980 e 1995, com foco naqueles dessa época que migraram quando crianças e por isso muitas vezes se sentem sozinhos. E a autora não nega suas origens na estrutura do enredo ou na forma como Candace se comporta.

A escrita de Ling Ma prende e nos faz sentir coisas, como a boa literatura deve fazer, mas isso não torna a leitura fácil. Severance foi um livro que demorei para terminar porque eu precisava respirar no meio para me recuperar.

Mas, certamente que vale o esforço, e espero que ele seja traduzido logo. Existem coisas que precisamos discutir e pensar que a autora traz a tona, especialmente nos dias de hoje, e recomendo muitíssimo a leitura, mesmo que acompanhado de chocolate ou outro livro mais leve para ajudar a digestão.

Nota 9,5.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O Cara dos Meus Sonhos - Alex, Approximately

SPOILER FREE

Me animei de ler esse livro por indicação de uma amiga, que não só leu esse volume da autora americana Jenn Bennet, mas alguns outros, e ela sempre elogia. Como confio nessa amiga, e eu estava precisando de algo leve, mergulhei de cabeça em O cara dos meus sonhos, como ficou a tradução de Alex, approximately em português pela editora Plataforma 21.

Gosto especialmente de indicações acertadas, tanto quanto gosto daquela leitura que acontece no momento certo. Apesar de que O cara dos meus sonhos me parece ser uma delícia de ler a qualquer momento, porque, nossa, que história mais fofa!

O enredo é bastante simples, Bailey está apaixonada por um cara que conheceu na internet, mas, como tem a cabeça no lugar (em termos) sabe que é um risco simplesmente marcar de encontrar um desconhecido, por mais simpático que ele seja online. Como os dois moram em lados opostos dos EUA, isso nunca tinha sido uma preocupação, até que ela resolve ir morar com o pai, que, coincidências do enredo do plot do roteiro da vida mora na mesma cidade do seu crush, Alex

Esperta como ela só, Bailey se muda sem dizer nada para o amigo, e decide passar o verão tentando descobrir quem ele é. Só que nesse plano perfeito surge um problema, na forma de um surfista sexy, Porter Roth, e que trabalha com ela no mesmo lugar, um museu caça-turista. Enquanto ela enrola Alex online, tenta achar quem ele é na vida real, Bailey e Porter embarcam num verão inesquecível. Só que Porter também tem lá os seus segredos.

Não é o enredo mais maravilhoso ou surpreendente do mundo. Mas, também fica claro que o objetivo da autora não era esse, e sim tratar de como desenvolver amizades, lidar com o mundo e saber olhar para suas próprias feridas. E se isso acontece no meio de uma história romântica super fofa, ninguém vai reclamar. De quebra, você leva um show de relacionamentos saudáveis como o objetivo da história.

O resultado é um livro leve, despretensioso e gostoso de ler. Excelente para aqueles momentos que você precisa de algo para levantar o seu astral sem comprometer os seus neurônios.

Nota 8,5.

Você pode adquirir o seu Cara dos meus sonhos aqui.

P.S.: Se você quiser spoiler da história, é só escutar a música Escape (The Piña Colada Song), que faz parte da trilha sonora de Guardians of the Galaxy.

Tunnel of Bones - Cassidy Blake #2


 

SPOILER FREE

Depois de me apaixonar pelos personagens de A cidade dos fantasmas, dei sorte, e o livro seguinte da série da autora americana Victoria Schwab entrou em promoção e eu comprei e comecei a ler. O que posso fazer? A ansiedade falou mais alto.

Aviso importante, o primeiro livro da série só foi publicado no Brasil pela Galera Record em maio de 2021, então, o Túnel de Ossos (tradução livre minha) ainda não tem data prevista de lançamento em português.

Mas, temos uma boa notícia! Os direitos dos livros foram comprados pela emissora ABC para se tornar uma série, e a autora vai participar como produtora executiva! Tomara que as aventuras de Cass cheguem logo às telas!

Voltando ao livro, a continuação da saga de Cassidy Blake acompanha nossa heroína em Paris, a segunda parada dos seus pais na gravação de uma série de televisão sobre cidades mal assombradas. Em meio a vistas em locais turísticos, mas às vezes de turistas mais corajosos, Cass e seu melhor amigo fantasma Jacob acabam despertando um espírito um tanto quanto forte, e eles precisam desvendar um mistério antes que a assombração se torne forte demais.

Como todo livro de série de aventura, Tunnel of Bones segue uma certa fórmula, claro, temos o vilão da semana, um novo obstáculo para nossa protagonista superar, coisas novas para aprender etc. Mas, o interessante do trabalho da autora Victoria Schwab é como ela consegue seguir essa receita de forma interessante e sem cair nos clichês de sempre dos livros young adult. Eu gosto particularmente do fato que Cass e Jacob são apenas amigos, e amigos de verdade, com um relacionamento com problemas que amigos têm mesmo.

Outra coisa que sai do clichê crianças nunca são levadas a sério é que Cass, mesmo sendo adolescente, não deixa de ser levada a sério por isso. A questão é que o quê ela tem para contar é um pouco difícil de acreditar, e é por isso que ela escapa dos pais. Outros adultos que têm experiências paranormais não deixam de acreditar nela.

Além disso, gente, a história se passa em Paris, como não amar? A descrição das catacumbas está excelente, e eu visitei, posso atestar. Temos alguns clichês sobre Paris? Temos, mas são clichês por razões de serem bem verdadeiros, como a comida excelente, o metrô um tanto quanto complicado, o jeitão fechado dos franceses. Garanto que ficou melhor do que os clichês de Emily in Paris.

Outro ponto positivo é que finalmente temos uma aparição de um vilão maior e mais interessante para os próximos livros da série! E não direi mais nada sobre isso...

Enfim, um excelente livro de ação e aventura, com uma pitada de mistério, de personagens interessantes, que foge dos maiores clichês do gênero e, de quebra, de uma autora LGBTQ+. Recomendo!

Nota 9.

domingo, 1 de agosto de 2021

Spoiler Alert


SPOILER FREE

Confesso que comprei esse livro porque não resisti ao blurb que mistura um ator famoso por uma série que lembraria Game of Thrones na vida real, que por baixo dos panos escreve fanfiction, uma gordinha que finalmente resolve tirar sua paixão pela dita série do armário quando consegue um emprego mais amigável, a saída, feita através de cosplay gera um monte de maldade na internet e o galã resolve chamá-la para jantar, só que na verdade os dois já se conhecem há anos no universo de fandom sem saberem.

Como dizer não pra essa história? Eu precisava ler e ver o que a autora ia fazer.

Por um lado, todo o enredo e a relação entre os personagens principais, Marcus e April, é extremamente fofo, sem trocadilho. Tem um pouco de forçação de barra com relação ao peso de April e sua atitude com relação a isso, confesso, em alguns momentos eu não conseguia mais dizer se o texto era tão anti-gordofóbico que me pareceu gordofóbico por tabela. Mas, fora alguns momentos especialmente estranhos, no geral, o livro é bastante empoderador nesse sentido.

A história dos personagens também é interessante, cada um com seu passado de trauma etc., e como isso leva os dois a se ajudarem. Achei muito saudável nesse sentido, não é sempre que vemos esses temas sendo tratados de forma tão aberta, e o resultado é, novamente, fofo, mesmo que um tanto corrido. E é justamente por isso que o principal drama do livro parece extremamente gratuito. Com toda a carga emocional que os personagens investem um no outro, e a confiança que isso gera, o drama principal não faz o menor sentido.

Por outro lado, todas as cenas mais calientes são bem escritas e me agradaram muitíssimo. O romance é um pouco instalove em alguns momentos, mas nada realmente comprometedor. O resultado é adorável.

Como Spoiler Alert foi lançado ano passado, até onde consegui descobrir, não tem tradução para o português, e nem sei se vai ter. Mas esse ano devem lançar um novo volume dessa série, centrado no melhor amigo de Marcus, o que achei uma premissa interessante. Infelizmente, já teve gente lendo as cópias avançadas e fazendo resenhas pouco elogiosas, então, não sei se vou ler, desanimei.

Mas, por esse livro, nota 7.

Infernal God (Claimed By Lucifer Book 3)


SPOILER FREE

Depois de um excelente primeiro volume, seguido de um fiasco monumental, eu não tinha muitas expectativas no terceiro livro da série Claimed by Lucifer. Mas, como diz o ditado, a curiosidade matou o gato e eu fui lá comprei e li Infernal God. Certamente o livro faz jus ao título, mas não de uma forma positiva.

Ainda bem que foi o último livro da série da Elizabeth Briggs, porque certamente já sofri demais lendo, e depois dessa tortura não pretendo ler mais nada dessa autora. Toda a graça da história do primeiro livro já não existe mais nesse ponto, e eu que esperava mais lutas e politicagem pra me fazer esquecer a parte chata do enredo, tive que me contentar com uma narrativa absurdamente previsível, açucarada e, vamos ser sinceros, chata.

Demorei muito mais do que seria razoável para ler esse livro, justamente porque toda vez que eu pegava pra ler ficava irritada. No final, recorri a uma leitura mais diagonal só pra terminar, confesso. E eu nunca faço isso. Mas realmente, não havia insulina suficiente para lidar com a quantidade enlouquecida de clichês de Infernal God. A história simplesmente não acabava!

Enfim, fica a recomendação de passar longe.

Nota 2.

A Menina Mais Fria de Coldtown - The Coldest Girl in Coldtown


SPOILER FREE

Quando peguei esse livro da autora americana Holly Black eu só estava procurando por um bom livro de vampiros, mas logo percebi que ele seria perfeito para o Desafio Literário Popoca de agosto, com o tema pandemias e doenças. Hein? Vampiros para o tema pandemia e doenças?

Se você já viu o filme Army of the dead (disponível no Netflix, é divertido, recomendo pela Tig Notaro que está impagável), você vai entender. A receita é: pegue um ser sobrenatural, nesse caso vampiros, não os zumbis do filme, considere que a transformação de uma pessoa normal nesse ser é na verdade uma doença sem cura, o que leva as autoridades a criarem zonas de quarentena nas cidades mais atingidas pela pandemia, as tais Coldtowns do livro, e você tem o pano de fundo de A menina mais fria de Coldtown, no título traduzido no Brasil pela editora Novo Conceito.

Mas essa é só a ambientação, Holly Black traz a história de Tana, uma jovem que já viu de perto os horrores de pessoas contaminadas pelo Cold (não sei como ficou em português) que é a doença que leva alguém a se tornar um vampiro, e que por conta disso não entende a fascinação de muita gente pelos seres da noite. Entretanto, logo no primeiro capítulo, ela acorda numa festa que deu muito errado, e no meio de todo o horror causado pelos vampiros ela se vê numa jornada justamente para uma Coldtown, na presença de um ex-namorado, dois jovens aspirantes a vampiros e um vampiro em carne e osso.

Fazia muito tempo que eu não lia algo tão bom de vampiros, não só porque a autora faz referências maravilhosas aos grandes autores do gênero (Anne Rice deve ter ficado orgulhosa), mas porque ela consegue trazer uma história nova, bastante atual, mas sem abandonar o que é um vampiro clássico. Os vampiros de Holly Black são assustadores, violentos e charmosos, a combinação perfeita do gênero, e que é muito difícil de fazer de forma crível. E ela consegue isso na história de Tana, que é uma personagem muito interessante e complexa.

A autora conseguiu criar um enredo não só instigante e cheio de adrenalina, mas onde nenhum dos personagens é simples, ninguém é totalmente bom ou mau, estão todos numa escala de cinza. Fiquei impressionada, não esperava isso num livro young adult. Aliás, o nível de violência também não é muito comum, mas considerando que se trata de vampiros, é inevitável.

Acredito que o final não seja do agrado de todos, mas, pessoalmente, eu gostei. E fiquei tão impressionada com a autora, que já comecei a catar outros livros dela, não é a toa que ela anda fazendo sucesso. Virei fã também.

Nota 9,5.

sábado, 31 de julho de 2021

Melhores Poemas Cora Coralina


SPOILER FREE

Aproveitando o mês do tema do Desafio Literário Popoca de julho, poesia, resolvi finalmente ler meu primeiro livro da poetisa brasileira Cora Coralina. Sim, confesso que nunca tinha lido nada da goiana que ascendeu ao estrelato literário aos 76 anos, apesar de escrever desde jovem.

Só a história de Cora Coralina já é algo digno de livro e filme, mas, como boa poetisa, ela conseguiu imortalizar parte da sua jornada em seus poemas. E esses foram os meus preferidos dessa edição da editora Global Pocket organizado por sua conterrânea Darcy França Denófrio. A coleção inclui diversos poemas de seus consagrados livros Poemas dos becos de Goiás, Meu livro de cordel e Vintém de cobre.

Cora Coralina nasceu em 1889 em Goiás, em uma família que havia sido rica mas estava no processo de perder sua fortuna, sendo ela a filha caçula e com o pai morrendo quando ainda era muito criança, Cora (que é um pseudônimo para Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas) teve uma infância difícil e relativamente pobre. Apesar de se enveredar desde cedo pelas letras, os relatos dizem que ela cursou entre 2 e 4 anos da escola primária apenas. Se envolveu desde cedo com o meio literário goiano, mas só veio publicar um livro seu em 1965, quando já era viúva.

Cora é um retrato da vida feminina da sua época, quando criança era trancada em casa por ser menina e não deram lá muito estímulo para ela estudar. Mais tarde quando casou, parou tudo o que amava e se  dedicou 100% à família, chegando a virar doceira após a morte do marido para sustentar a família, e só saiu das sombras quando era uma venerável senhora. Mas saiu com vontade, revisitando a fundo a sua infância e aproveitando para mostrar todo o horror dela.

Além da infância, que é um tema importante na sua obra, Cora Coralina escreve muito sobre sua terra natal, o que é interessante para quem não está acostumado com obras tão ricas sobre o interior do Brasil pré Brasília. E o mais interessante é ver histórias tão antigas, de um tempo que parece tão longínquo sendo contada em forma de verso coloquial e bem moderno. Porque claro que a poetisa fez sucesso não só pelos temas e idade avançada, e sim pela qualidade, força, honestidade e inovação da sua escrita.

Dito tudo isso, gostei da coletânea, mas, não fiquei arrebatada. Gostei especialmente dos poemas estilo Aninha da autora (os autobiográficos da infância), mas nem todos os outros me marcaram. Por vezes, confesso que achei um tanto quanto repetitivo, e nem sempre o estilo modernoso da sua escrita me agrada. Mas, sei que isso é uma questão minha e não da autora.

Ainda assim recomendo muitíssimo ler sua obra. E se ficar na dúvida do que ler primeiro, pegue uma coletânea como eu fiz. Vale a pena.

Nota 8,5.

domingo, 18 de julho de 2021

Fangirl


 

SPOILER FREE

Depois de ler dois livros bem diferentes da autora americana Rainbow Rowell, eu finalmente tirei da estante um dos seus best sellers! Bom, de forma geral, tudo que ela escreve vira best seller, mas esse foi dos primeiros que ela publicou, e o único que gerou um spinoff e uma versão em mangá.

Fangirl, que tem o mesmo título em português, conta a história de Cath, uma jovem extremamente tímida, que sofre de ansiedade, e que está entrando na faculdade com sua irmã gêmea Wren. As duas são tão iguais quanto são diferentes, e Cath pela primeira vez vai dividir um quarto com alguém que não sua irmã. Um dos traços mais marcantes de Cath é que ela escreve fanfiction de Simon Snow, que é algo que parece uma paródia maravilhosa de Harry Potter (para quem vive em outro planeta, fanfiction são versões alternativas de determinadas histórias ou mundos de fantasia de obras de sucesso, experimente por sua conta e risco ler). 


Esse pedaço do enredo é extremamente importante, e fez tanto sucesso que o spinoff de Fangirl se chama Carry On, o nome da fanfic de Cath, e já tem um três volumes lançados (Carry On, Wayward Son / O filho rebelde e Any way the wind blows / Venha o que vier). Eles já estão na minha pilha eternamente crescente de livros para ler.

Eu sinceramente não sei se gostei mais da história principal, com Cath, sua inesquecível colega de quarto Reagan e o seu namorado Levi, e sua a irmã Wren, ou se gostei mais dos textos que entremeiam os capítulos principais com pedaços dos textos "originais" de Simon Snow e a fanfic Carry On. Os dois são extremamente divertidos, e absurdamente fofos.

 

O drama de Cath é bastante centrado na sua dificuldade com lidar com pessoas, mas, não se limita a isso, o que dá uma dinâmica interessante ao livro. Além disso, tem toda a questão de se tornar independente, descobrir o que quer fazer da vida na universidade, lidar com seu pai que tem problemas psiquiátricos, a irmã querendo testar limites e sua mãe que abandonou a família. Enfim, coisas da vida e que fazem parte do processo de crescer.

Mas Cath também precisa aprender que não precisa lidar com nada disso sozinha. E apesar da sua dificuldade inerente com relacionamentos, eles são o ponto alto do livro de Rainbow Rowell. Juro que procurei outras descrições, mas fofo continua sendo o melhor adjetivo.


Não é a toa que fez tanto sucesso e que anos depois do lançamento está virando mangá. Os personagens são muito originais e humanos, e trazem para o enredo a importância das histórias para as pessoas, seja em forma de livro, seja em forma de filme ou audiolivro. As histórias são uma das melhores ferramentas para desenvolver uma habilidade extremamente importante: a empatia.

Para variar, Rainbow Rowell acertou em cheio, de novo.

Nota 10.

domingo, 11 de julho de 2021

The Honey-Don't List


 

SPOILER FREE

A dupla de autoras Christina Lauren é uma máquina de produzir livros. Em pouco tempo as irmãs lançaram vários títulos de comédias românticas, é até difícil de acompanhar. Além disso, ou por causa disso, a qualidade do seu material varia.

Pessoalmente tive uma boa experiência com Josh and Hazel, mas com Twice in a blue moon já não foi tão interessante. Então, demorei um pouco a me animar a ler novamente algo delas. Com a pandemia, leituras mais leves têm sido meu prato literário principal, e por isso The Honey Don't List pulou a fila de livros pra ler.

Dessa vez, as autoras trazem a história de dois casais, um já formado e casado há anos e que estão numa crescente de sucesso profissional, Melissa e Rusty Tripp, e seus assistentes Carey e James. Mel e Rusty fazem sucesso com um show de design de interiores, onde ela faz as redecorações dos ambientes e ele é o carpinteiro / mestre de obras. Nas telas eles formam um casal perfeito, duas metades que se completam, e estão se preparando para lançar um livro sobre como manter a paixão no casamento.

Carey é uma jovem que, na verdade, começou a trabalhar para os Tripp antes mesmo deles fazerem sucesso, e, por conta disso, tem um relacionamento complicado com o casal. Oficialmente, ela é assistente da Melissa, mas, por baixo dos panos, ela faz muito mais do que é creditada. Enquanto James é um engenheiro tentando dar uma reviravolta em sua carreira após sua antiga firma ser envolvida num grande escândalo empresarial, só que apesar de ter sido contratado como engenheiro, acaba tendo que fazer trabalho de assistente de Rusty.

Claro que Mel e Rusty na verdade são muito diferentes daquilo que eles transparecem na TV, e por conta da última briga épica do casal, Carey e James acabam tendo que fazer trabalho de babá dos dois durante a turnê de lançamento do livro, o que abre a oportunidade de finalmente se conhecerem.

O livro, como dá para perceber, tem seus clichês, mas, ele também tem questões bastante originais no meio do mais do mesmo, o que é um tanto quanto inevitável quando falamos de comédias românticas. Mas, para mim, sua melhor qualidade é o humor. A forma como Christina Lauren descreve as situações é extremamente divertida, e minha leitura precisou ser interrompida diversas vezes para gargalhar em voz alta. Pelo menos não passei vergonha no metrô porque continuo em teletrabalho, graças aos deuses.

O mesmo enredo poderia ser apenas uma sucessão de clichês, ou poderia ser apenas drama seguido de drama, mas as autoras fazem da história uma grande sequência de piadas e situações divertidas. E elas conseguem fazer isso bem, acho que é o livro mais engraçado que li até o momento esse ano. E, considerando as situações abusivas bizarras, Christina Lauren acertou em cheio. E por isso The Honey Don't List é um livro tão original.

É um livro perfeito? Não. Mas vale cada minuto gasto na leitura.

Nota 9.

Regresso a casa


SPOILER FREE

O Desafio Literário Popoca de julho tem um tema um tanto polêmico, poesia! Eu digo polêmico porque poesia é um tema muitas vezes visto com algum preconceito, e eu vejo com frequência uma relação de amor ou ódio dos leitores com poesia.

Particularmente eu amo poesia, e acho que aqueles que não gostam simplesmente não foram bem apresentados a esse estilo. Só acredito que alguém realmente deteste poesia se a mesma pessoa também detestar música, porque as duas artes são irmãs gêmeas. Se você gosta de música, você gosta de poesia, simples assim, e como qualquer estilo literário, é uma questão de encontrar as poesias e autores do seu agrado. Que nem música.

Também já ouvi muita história de gente que tentou gostar de poesia, mas afirma que não conseguiu. E nessas histórias eu vejo um dos equívocos mais comuns com relação a esse estilo, que é achar que funciona igual a romance. Não é igual. Livro de poesia não é para ser lido que nem romance, de uma sentada só ou com aquela fome de saber o que vai acontecer no próximo capítulo. Livros de poesia não têm aquela vibe de início, meio e fim, ou pelo menos, a maioria não tem, os que são assim são a exceção, não a regra.

Antes da pandemia, eu estava lendo poesia com frequência, e da forma que particularmente acho a mais agradável para o estilo: todo dia eu lia uma poesia de um livro diferente. Uma poesia. Se ficasse muito animada, eu lia duas. Mas por que isso? Porque cada poesia é como se fosse uma obra literária completa, e ler várias em sequência muitas vezes tira o impacto que a poesia deveria ter, o leitor perde o tempo que seria necessário para absorver e admirar aquela poesia em específico. Por isso que eu digo que poesia não é romance e não deve ser tratado igual.

Com a pandemia, eu perdi o hábito de ler diariamente poesia, por conta, bom, de tudo. Então, o tema foi muito bem vindo, e para sair da minha seca poética escolhi um autor português que eu já conhecia o trabalho em poesia, José Luís Peixoto. Eu também já li um romance dele há muitos anos, e a experiência foi tão ruim que esqueci o nome dele e depois comprei um livro de poesia, que esse sim, amei de paixão. Desde então fico caçando seus livros de poesia.

Regresso a casa é o último lançamento do autor, escrito durante a quarentena em 2020 e publicado em 2021. E faz jus ao seu histórico de trabalhos poéticos maravilhosos anteriores. Tanto que já recebeu o prêmio Bertrand de livro do ano de poesia.

A coletânea inclui poesias escritas durante a quarentena, mas também tem poemas relacionados a viagens que o autor fez para locais ditos exóticos, como a China e Coreia do Norte (ele tem um livro sobre essa viagem, que estou doida para ler também). E independente do tema, José Luís Peixoto acerta na mão. O resultado é um livro de poesias bem equilibrado, e que cobre temas que são caros ao autor, como família e amor.

Particularmente, eu gostei especialmente dos poemas relacionados à quarentena, talvez porque ainda estou em uma. E achei interessante ter reconhecido um deles que o autor já havia publicado no Youtube, em abril de 2020. É diferente ler o poema e escutar o próprio autor declamando. Mas, é interessante porque abre novos significados, afinal, o interessante da poesia é justamente isso, cada leitura, cada um que declama, coloca novas conotações e pesos a cada parte do poema. É como escutar versões diferentes de uma mesma canção. Cada releitura tem um sabor único.

Uma merecida nota 10!

E ao invés de colocar uma poesia para dar um gostinho, deixarei o próprio autor apresentar seu trabalho:


segunda-feira, 5 de julho de 2021

Infinite Magic (Dragon's Gift: The Huntress #5)


SPOILER FREE

E finalmente cheguei no último livro da série The Huntress, a primeira série de Dragon's Gift, que pelo que descobri, tem pelo menos mais duas séries completas: The Seeker e The Protector, cada uma sobre uma das irmãs de Cass, nossa protagonista até o momento.

Se eu for resumir Infinite Magic em uma palavra, escolho apoteótico. É um final bem dramático, com batalhas de nível épico. E isso é uma das coisas que me deixou triste, porque coisas desse nível podem ser muito boas, e é triste ver isso ser desperdiçado.

Depois de 4 volumes que vão aumentando a curiosidade com relação ao enredo principal, o desfecho não só é cheio de buracos, como também não aproveita a potencialidade do que foi mostrado para o leitor até o momento. É um épico mé, com direito a decisões estúpidas e poucas explicações, provavelmente porque, primeiro, não tem como tampar todos os buracos, segundo, porque a autora fez mais duas séries e precisa sobrar mistério para elas.

O resultado é um enredo com boas ideias, mas feito de um jeito que passa a sensação de que Linsey Hall estava enrolando para esticar a história. E ainda por cima com os problemas que mencionei nas resenhas anteriores.

Apesar de já ter os primeiros volumes das séries seguintes, não me animo de ler, porque algo me diz que vou encontrar mais do mesmo, e depois de cinco livros assim, não tenho energia para encarar mais dez livros desses. Sim, a série toda tem 15 livros, 5 para cada irmã. Enrolação pouca é bobagem. Teria sido muito melhor fazer 5 livros sobre as três irmãs juntas, cada um com mais conteúdo.

Nota 4.

domingo, 4 de julho de 2021

Nona Casa - Ninth House (Alex Stern #1)


 

SPOILER FREE

Depois de me divertir com a série Grisha, que eu ainda não terminei os spin-offs por motivo de não ter todos os volumes, resolvi pegar um livro da autora Leigh Bardugo que eu achava que era um solo.

Por um lado, acho que escolhi super bem, pois, spoiler da resenha, é o melhor livro que já li até o momento da autora. Por outro lado, descobri que é o primeiro de uma série nova, e que, apesar de ter sido lançado em 2019, por motivos da série do Netflix, o volume seguinte não tem nem título nem data prevista de lançamento. Bardugo, você está devendo. Larga Grisha mulher, Alex Stern é muito melhor.

Mas voltando ao livro Nona Casa, como ficou a tradução da editora Planeta em português, Leigh Bardugo nos apresenta um enredo cheio de magia, sociedades secretas e a sua protagonista mais pé no chão até o momento. A história se passa na universidade de Yale (e a autora fez pesquisa de campo, olha que lindo) e traz Galaxy, isto é, Alex Stern, filha de uma mãe solo judia, que é capaz de ver fantasmas, e porque ninguém mais os vê ou acredita nela, acaba abandonando a escola e se envolvendo muito cedo com drogas.

Após ser a única sobrevivente num massacre num ponto de vendas, Alex é contatada pelo diretor da Nona Casa das sociedades secretas de Yale, que é responsável por controlar o que as demais sociedades estão fazendo para minimizar danos colaterais. Ela vira então Dante, nome do posto de aprendiz, e o universitário Darlington, ex-Dante, assume o posto de Virgílio (sim, referência direta aos círculos do inferno, lindo). 

Mas algo estranho está acontecendo com as casas das sociedades, Virgílio desaparece, e agora Alex, sem treinamento completo, precisa assumir tudo sozinha. E ainda precisa passar nas matérias da faculdade, para o qual ela também não tem preparo. Mas, se ela quiser sobreviver a esse período, ela vai precisar se virar e descobrir o quê ou quem está matando pelo campus.

O enredo se desenvolve a partir daí, num misto de magia, teorias da conspiração e trama estilo Agatha Christie, com doses pesadas de realidade com drogas, violência sexual, patriarcado, racismo e privilégio de classe. A história é contada do ponto de vista de Alex, que não é exatamente uma narradora confiável, mas que, conforme vai narrando também a sua própria história até ser levada para Yale, você se apaixona por ela.

Fazia tempo que eu não amava tanto uma protagonista como amei Alex Stern. E ela está longe de ser perfeita, mas isso é o que a torna tão interessante e comovente, e, o mais difícil, realista. Sua história e toda a confusão em torno das sociedades secretas é tão interessante e cheia de detalhes que eu até perdoo Leigh Bardugo por fazer uso do seu clichê de estimação. Sim, claro que Nona Casa tem aquele personagem que não é quem você imagina. 

Mas no meio de tanta reviravolta por conta dos mistérios em torno dos acontecimentos bizarros do primeiro ano de Alex em Yale, esse clichê fica até passável. E apesar do final aberto que a autora deixou para poder fazer uma continuação para a série (que eu já li em algum lugar que pode chegar a 5 volumes, deus dai-me paciência para esperar), o enredo principal desse livro termina, o que dá uma boa sensação de fechamento para o leitor.

Sinceramente, é o melhor livro que já li até agora da autora, e dentro do estilo young adult, é dos melhores que já li também. E isso não é pouca coisa, e quem me conhece, sabe que não digo de forma leviana. Vale muito a pena a leitura.

Bardugo, larga tudo e vai escrever!

Nota 10.

The Plastic Magician (The Paper Magician #4)

 


SPOILER FREE

Depois de ter lido a trilogia de Magia de Papel e querer jogar o kindle contra a parede durante a leitura do último volume, só peguei The Plastic Magician porque se passa no mesmo mundo, mas traz outra personagem principal. E o melhor, não tem continuação. Em tempo, o livro foi lançado em 2018 e ainda não tem tradução para o português, imagino que a culpa seja do pouco sucesso de Magia Suprema.

Apesar de ter sido um tiro no escuro, considerando o histórico da autora Charlie N. Holmberg nessa série, acho que foi uma decisão muito acertada. De todos os livros ligados à série Magia de Papel, a história de Alvie Brechenmacher é de longe a melhor, e The Plastic Magician é o meu volume favorito.

Dessa vez, a autora traz a história de uma menina do interior dos Estados Unidos que consegue passar nas avaliações para se tornar uma estudante de Magia. Filha de um industrial, fã de matemática e extremamente nerd para a época, além de fã de calças, Alvie é uma personagem simplesmente adorável.

Além de uma personagem principal fofíssima, The Plastic Magician traz um enredo em torno da ciência e da experimentação, e como esse tipo de corrida pelas novidades no mundo ainda a ser explorado da magia do plástico pode levar as pessoas à ganância extrema. Então, The Plastic Magician ainda tem um jeito mais para o mistério e espionagem industrial do que para a aventura pura e simples. 

Para não dizer que ele não tem ligação absolutamente nenhuma com os livros anteriores, a autora fez um uso bastante interessante dos personagens que conhecemos nos volumes de Magia de Papel. Mas o enredo ocorre em torno de personagens novos e que dão todo um colorido muito diferente. Além disso, somos apresentados à forma como a Magia é aceita em outros lugares do mundo, fora da mãe Inglaterra, e como ela convive com a industrialização.

Se eu soubesse, tinha pulado o terceiro livro e ido direto para esse, ou então nem teria lido a série anterior, porque a leitura não é necessária para gostar de The Plastic Magician.

Gostei tanto que voltei a me animar a ler outras coisas da autora, que é bastante prolífica e já tem várias outras séries na lista de best-sellers. Para as editoras, fica a dica de traduzir, para os leitores, vale o esforço no inglês.

Nota 9.

Magia Suprema - The Master Magician (The Paper Magician #3)


 

SPOILER FREE

Depois de um primeiro livro surpreendentemente fofo e interessante, um segundo livro que deixa bastante a desejar, a autora Charlie N. Holmberg termina sua trilogia The Paper Magician com Magia Suprema, como ficou o nome traduzido pela editora Passaporte no Brasil.

Apesar dos direitos comprados pela Disney, uma busca rápida mostra que o terceiro volume da série fez muito pouco sucesso, nem nas livrarias é muito fácil de encontrar, o que não é um bom sinal. O final da saga de Ceony se passa no final da sua aprendizagem com Thane, e ela está pronta para fazer seu teste final para ganhar o título de Maga de Papel.

O que ela esconde do seu mentor, é que ela tem realizado experiências com o que ela aprendeu no final do segundo livro, o que deixa a situação mais complicada quando Thane decide que Ceony vai fazer seu teste com outro Mago de Papel, para que ninguém possa questionar as suas habilidades. Isso porque o relacionamento dos dois já está um tanto quanto público.

E é aí que tudo começa a desandar no enredo de Magia Suprema. Além do clichê chatérrimo do relacionamento entre professor e aluna, que particularmente eu já não curto, não sei o que deu na cabeça da autora, mas Ceony está absolutamente insuportável. A forma como ela trata o outro Mago que vai aplicar o teste é de um desrespeito profundo para uma história que se passa no final do século XIX início do século XX, e, sinceramente, é muito gratuito. O outro cara tem problemas, mas nada que acontece justifica o que Ceony faz. Beira o absurdo.

Para piorar a situação, o único sobrevivente da gangue da vilã do primeiro livro foge da prisão, e mesmo sabendo que o cara não está atrás dela, nem da sua família, Ceony resolve que ela precisa saber onde ele está e que ela é a única que vai conseguir prendê-lo. Oi? Chamando da terra para Charlie e seus editores, não tinha uma desculpa melhor não, além de pura teimosia, pra fazer esse enredo andar?

Fazia muito tempo que eu não sentia tanto ódio de uma personagem principal, e nem é um ódio interessante, é porque ela é simplesmente estúpida e não faz sentido interno. Ceony era para ser inteligente, a frente do seu tempo, e um tanto quanto durona. Ou pelo menos é isso que os primeiros livros vendem dela. Mas aqui ela é só ignorante, arrogante ao extremo e ao mesmo tempo de uma inocência que não combina com ela. Em outras palavras, falta coerência à personagem.

Não sou daquelas leitoras que precisam amar as personagens para gostar de um livro, mas um pouco de sentido é necessário para tornar a história crível e interessante. Passar o livro inteiro querendo revirar os olhos não é uma sensação legal. Dá só vontade de pular página pra acabar logo a tortura.

Enfim, uma grande pena, porque o mundo criado por Charlie N. Holmberg tem muito potencial. Estou começando a entender porque a Disney ainda não tem um projeto fechado, pois precisa de muito ajuste pra aproveitar essa história até o final. Algo como reescrever o terceiro livro inteiro, isso se quiser ir até o final, pode ajustar o segundo livro e terminar ali. Ou só aproveitar o mundo criado e fazer histórias do zero. De qualquer forma, acho que é mais trabalho que estavam imaginando quando saiu o primeiro volume.

Nota 4.

Eternal Magic (Dragon's Gift: The Huntress #4)


SPOILER FREE

Depois de três volumes eu não podia parar no meio a história de Cass, The Huntress, suas irmãs de consideração e finalmente descobrir quem é o grande monstro que persegue as três FireSouls. Se o primeiro livro foi uma boa introdução, o segundo começou a patinar e o terceiro continuou numa vibe mais do mesmo, pelo menos o quarto livro faz a história andar e traz elementos novos interessantes.

Cass finalmente começa a lembrar e entrar em contato com o passado que foi apagado da sua memória, e essa é a parte mais interessante desse volume. Por outro lado, os defeitos da série se mantém firmes e fortes, Linsey Hall faz recapitulações chatíssimas e de revirar os olhos, a tensão sexual e o instalove não são aproveitados para pelo menos termos cenas mais calientes, essas são deixadas de fora do livro, e, por fim, apesar do enredo interessante e cheio de adrenalina, as personagens começam a dar sinais de no fundo serem estúpidas, o que não condiz com o que foi apresentado até aqui.

No final das contas, temos uma história super interessante e instigante, com um mundo bem montado e estimulante, cheio de possibilidades que são bem aproveitadas no enredo. No entanto, a realização deixa a desejar. Sabe aquele gostinho de podia ser muito melhor?

O pior de tudo é que não consigo parar de ler a série. Sei de todos os defeitos, eles me irritam, mas a curiosidade é maior. Confesso que já estou até de olho nas séries das irmãs, pode isso? Acho que no fundo sou uma pessoa otimista.

Nota 7.


domingo, 27 de junho de 2021

Magia de Vidro - The Glass Magician (The Paper Magician #2)

 


SPOILER FREE

Como não consigo dar conta da realidade brasileira que mais parece ficção de mau gosto, peguei para ler a continuação de Magia de Papel, a série da escritora americana Charlie N.Holmberg, que teve os direitos comprado pela Disney. Ainda tenho esperanças de ver a história de Ceony no Disney+!

Em Magia de Vidro, a história retoma poucas semanas depois do primeiro volume, e Ceony está de volta às aulas com Emery Thane para se tornar uma maga de papel. A questão é que ela não sabe bem o que aconteceu no final do livro anterior, quando ela conseguiu pegar de volta o coração do seu professor, e pior ainda, ela e Thane ainda não conseguiram conversar sobre o que aconteceu durante a sua visita no coração e o que foi dito ali.

Além disso, Ceony pode ter derrotado Lira, a vilã do primeiro livro, mas ela fazia parte de um grupo, e agora, seus colegas estão atrás dela para tentar desfazer o que ela fez. Nisso, Ceony acaba se envolvendo em diversos acidentes, nada acidentais, e logo fica claro que algo fora do comum está acontecendo. Thane e outros magos, inclusive da polícia mágica se envolvem e o drama se desenrola.

Assim como Magia de Papel, Magia de Vidro é bastante agitado, com muita ação, e Ceony se vira bem sozinha. A ambientação é maravilhosa, e dessa vez a autora explora bem mais os demais tipo de magia, de vidro, de fogo, de metal... vai ficar maravilhoso nas telas. 

Entretanto, Charlie N. Holmberg não fez um bom trabalho com os clichês, que são muito muito muito comuns. Paixonite entre aprendiz e professor? Sim. Jovem tomando decisões precipitadas porque não confia nos mais velhos? Sim. Vilão bem malvadão e simplista no quesito razões para ser mau? Sim.

Enfim, é um festival de mais do mesmo, mas num mundo interessante. O que salva certamente é o mundo interessante. 

Espero que façam uma boa adaptação para TV ou cinema. Pode trocar até a história e os personagens, eu não ligo, eu quero ver é esse mundo lindão que Charlie criou.

Nota 7.

Stolen Magic (Dragon's Gift: The Huntress #3)


 

SPOILER FREE

Depois de ler os dois primeiros volumes da série The Huntress, eu tinha que continuar a história de Cass com Stolen Magic. O primeiro livro foi uma excelente apresentação do mundo de Dragon's Gift, já o segundo livro não foi tão interessante e tinha alguns defeitos chatos.

Eu confesso que esperava que o terceiro volume fosse melhorar, pois isso não é incomum em séries mais longas, onde parece que a autora já tinha um enredo principal em mente para fechar o arco de Cass Clereaux. Infelizmente minhas esperanças foram em vão. Não só o terceiro livro tem os mesmos defeitos dos volumes anteriores, como a repetição deles torna a leitura mais chata.

Linsey Hall manteve aqui a recapitulação nada discreta dos acontecimentos anteriores e de quem é quem, muito chato. O romance com Aidan Merrick é pura enrolação, já vi gente dizendo que não é insta-love, gente, é sim, só que enrolando pra ter o que contar por cinco livros. Chato.

O que salva é o enredo principal, o mistério que quem é o grande vilão e o que ele quer com as FireSouls e como as três irmãs vão conseguir continuar se escondendo com toda a confusão que elas estão se metendo e tão perto das grandes autoridades responsáveis por caçá-las. Em outras palavras, a grande quantidade de ação e de adrenalina é que salva o livro.

Aparecem também novos personagens que enriquecem bastante a leitura e todo o amor e camaradagem das irmãs e seus amigos é simplesmente fofo. O que também ajuda a balancear o resultado.

Nota 7.

sábado, 19 de junho de 2021

Mirror Mage (Dragon's Gift: The Huntress #2)


SPOILER FREE

Como falei na resenha do primeiro livro da série The Huntress, estou numa fase de leituras leves. De pesado já basta todo o resto, especialmente com mais de um ano de quarentena e contando. Então, apesar de não ter achado numa coisa super maravilhosa, a história estilo Lara Croft de Cass Clereaux foi divertida o suficiente para me animar em ler mais dos seus 5 volumes.

Nesse segundo livro, Mirror Mage, continuamos a saga de Cass, que agora precisa lidar de fato com seus poderes mágicos e realmente aprender a usá-los. Ainda mais porque agora ela tem mais de um poder, visto que como uma FireSoul ela é capaz de absorver poderes de quem ela mata, o que ocorreu sem ela realmente querer. Agora, além de ser uma Mirror Mage (uma Magica capaz de copiar poderes alheios), ela é capaz de soltar raios. Sim, como Zeus.

Ela continua às voltas com Aidan Merrick, que eu queria muito que fosse mais explorado nesse segundo volume, mas a autora ainda escreve para pré-adolescente com personagens adultos. Desperdício de shifter e tensão sexual na minha opinião... mas enfim. Agora, o Alpha Council, uma espécie de governo central dos shifters, que, surpresa, o Aidan não participa, tem uma missão para Cass que ela não consegue recusar, apesar do seu receio de ficar perto deles, porque, sim, eles caçam e prendem FireSouls.

Novamente o enredo é cheio de ação e adrenalina, com vários momentos tomb raider, e finalmente o grande enredo e o grande vilão da série se anuncia, com um Magica maléfico sem nome que caça e escraviza FireSouls. De quem Cass e suas irmãs fugiram apesar de não terem memórias disso.

Outro defeito do livro é a recapitulação nada discreta dos acontecimentos anteriores e de quem é quem. Já li muita série, mas essa certamente é uma das piores nesse sentido, a forma como Linsey Hall repete o básico do mundo da história faz o leitor se sentir burro. É de revirar os olhos.

Fora isso, a leitura é divertida e rápida, com um bom ritmo de aventura, o que compensa pelos defeitos. O enredo ainda é bastante misterioso e os personagens intrigantes, dá vontade de continuar lendo para saber onde isso tudo vai dar.

Nota 8.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Magia de Papel - The Paper Magician

SPOILER FREE

E finalmente tirei da estante o primeiro livro da série Magia de Papel, como o título foi publicado no Brasil pela editora Passaporte. A série, a primeira da autora americana Charlie N. Holmberg, foi um grande sucesso pelo mundo, e teve os direitos adquiridos pela Disney em 2016. Após anos de boatos de como seria ou não seria feita a produção dos filmes baseados nos livros, agora a história da vez é que a adaptação será em formato de série para o Disney+. Só o tempo dirá.

Até lá, temos uma trilogia de livros e um spinoff.

Magia de Papel é um romance de fantasia histórico, o enredo se passa na Inglaterra no final do século XIX, início do XX, e nesse mundo o ser humano é capaz de fazer magia com materiais criados por ele mesmo. A escola de magia Tagis Praff, onde estudou nossa protagonista Ceony Twill, forma aprendizes para os mais diversos tipos de magia, entre eles, papel, vidro, metal, fogo e o tipo mais novo, plástico. Ceony, apesar de ser a primeira da sua turma, é obrigada a fazer sua formação como maga de papel, acabando com seus sonhos de estudar metal, visto que os magos só podem fazer magia de um único tipo de material e os magos de papel estão quase que em extinção.

Bastante insatisfeita com a situação, Ceony é colocada sob a tutela do mago Emery Thane, que tem um passado pouco conhecido, mas, sendo um dos pouquíssimos magos de papel ainda vivos, está recebendo novamente aprendizes. E nas aulas com Thane, Ceony descobre as maravilhas do mundo da magia do papel, até que uma praticante de uma magia proibida, que manipula corpos humanos, ataca o seu professor e rouba, literalmente, o seu coração. Para salvar Thane, a heroína embarca numa corrida contra o tempo para recuperar o coração do seu mestre antes que o seu corpo não resista.

Lendo o livro é bastante claro porquê a Disney comprou os direitos para fazer uma adaptação. O visual desse enredo é simplesmente bárbaro e deve ficar fascinante nas telas. Quero muito ver isso em filme ou série de streaming, vai ficar muito lindo. Além de descrições interessantíssimas dos tipos de magia desse mundo alternativo, a história de Ceony é muito fofa, e toda a aventura é muito bem pensada e bem escrita. Magia de Papel é uma delícia de ler.

Tem lá os seus defeitos por conta de clichês (vários deles), é verdade, mas a originalidade do resto do enredo faz parecer que esses são problemas menores. O resultado é uma leitura instigante, rápida e divertida, com uma dose razoável de adrenalina.

Por ser um livro young adult mais para infantojuvenil, é o tipo de história que eu vejo facilmente sendo adaptada pela Disney. Espero realmente que o projeto saia do papel, trocadilho proposital.

Nota 8,5.