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sábado, 23 de junho de 2018

Dog Songs



SPOILER FREE

Mary Oliver é uma poetisa norte americana premiada diversas vezes, incluindo um prêmio Pulitzer. Eu já tinha ouvido falar muito dela, mas esse foi meu primeiro livro.

"Dog Songs" é uma coleção de seus poemas que tratam apenas sobre cachorros, o que é bastante óbvio pelo título. O interessante do seu trabalho é a impressão de simplicidade dos seus textos, que eu li com a sensação de estar bebendo água fresca, de tão leves.

Claro que essa ilusão nos mostra a sua qualidade como poetisa. E na verdade o tema dos cachorros é apenas uma desculpa para tratar de coisas mais profundas, como amor incondicional, família, liberdade e como lidar com a perda.

Infelizmente o livro é muito curto, e isso me deixou com uma vontade de quero mais um tanto exagerada, que acabou virando "mas é só isso? Eu esperava mais".

A qualidade do seu trabalho transparece nessa obra, mas, eu realmente esperava mais, e ainda espero encontrar coisas ainda melhores em outros trabalhos da autora.

Nota 9.

The Harafish



SPOILER FREE

Acho que posso dizer que sou uma fã incondicional do egípcio ganhador do Nobel de Literatura, Naguib Mahfouz. Eu tento ler pelo menos um livro dele por ano, numa tentativa de fazer a sua obra extensa, mas que não cresce mais porque infelizmente ele faleceu há alguns anos, durar o máximo possível. Porque se deixar, acho que devoro tudo dele de uma só vez.

Infelizmente ele não é tão traduzido para o português quanto merecia, mas com algum esforço dá para se achar até muita coisa (Trilogia do Cairo - vol 1, vol 2 e vol 3, sua obra prima; Miramar, excelente livro; O beco do pilão; Noites das mil e uma noites; O jogo do destino; Rhadopis; O ladrão e os cães).

Em especial, The Harafish não foi traduzido para o português ainda, o que é um pecado terrível. O livro traz um grande épico familiar que transpassa por inúmeras gerações de uma mesma família (deve ter mais de dez gerações aí, confesso que me perdi na conta). Mahfouz é tão genial, que ele faz dessa oportunidade uma grande colcha de retalhos de diversas situações familiares especialmente egípcias e árabes, não perdendo a chance de ainda por cima fazer uma crítica sobre a forma como os árabes percebem os descendentes de personalidades religiosas, eu iria longe o suficiente para dizer que podemos incluir aí Maomé. Lembrando que no islamismo casar e ter filhos é algo esperado de todos, santos e profetas não estão fora disso.

Na questão familiar, é interessante reparar na obra de Mahfouz as questões relacionadas ao casamento, poligamia, divórcio e a politicagem interna familiar, como o poder dos pais sobre os filhos, a questão da primeira esposa, filhos homens x filhas mulheres, etc. A diferença de tratamento para personagens homens e mulheres é especialmente importante também, trazendo um retrato bastante fiel da cultura árabe sobre o assunto.

Além disso, o título faz alusão a uma classe de trabalhadores que hoje poderíamos criar um paralelo aos favelados. Trabalhadores de baixa escolaridade e sem treinamento que vivem basicamente de bicos e trabalhos manuais, e que, claro, são paupérrimos e quase sempre passam fome. Nesse sentido, Mahfouz aproveita para também fazer uma crítica bastante pesada ao sistema de classes (ele era comunista de carteirinha), e demonstrar como esse sistema não só se perpetua de forma absolutamente injusta, mas pode ser modificado pela união e revolta da classe mais pobre, visto que são mais numerosos. Pode acrescentar aí críticas à falta de posicionamento do governo em bairros pobres (hum...), a questão das propinas (ahã...) e a falta de lideranças capazes de modificar a situação (né...). Características extremamente árabes à parte, podemos dizer que é um tema bastante universal.

O livro vai entrar na lista de melhores do autor. Maravilhoso é pouco para descrever.

Nota 10!

A Mystic Guide to Cleansing & Clearing



SPOILER FREE

Quando comprei esse livro eu já imaginava que ele não seria tão completo, mas confesso que esperava algo um pouco menos genérico.

Eu também esperava que ele fosse mais voltado para limpeza de espaços físicos, ao invés de se concentrar tanto em limpeza espiritual pessoal. Mas, nesse ponto foi uma surpresa até positiva, pois achei muito interessante o material voltado para esse fim.

Os maiores problemas do livro, na verdade, são o seu excesso de generalismo, uma mistura um tanto exagerada de linhas espirituais, e o fato imperdoável da leitura dar sono. Não, ele não dava sono só antes de dormir por falta de adrenalina causada pela leitura, deu sono em todas as horas do dia em que peguei o livro para ler.

Cheguei à conclusão de que é um livro muito mais voltado para consulta de receitas do que para ler de cabo a rabo como eu fiz. As receitas em si são até bastante interessantes, em especial as de limpeza espiritual pessoal (estou doida para testar os banhos sugeridos), e na sua maioria simples, o que facilita muito a vida.

Mas no geral deixou muito a desejar para mim. Recomendo para iniciantes apenas.

Nota 7.


sábado, 16 de junho de 2018

The Collaborative Habit: Life Lessons for Working Together

 
 
SPOILER FREE

Twyla Tharp é uma bailarina e coreógrafa de muito sucesso. Seu currículo inclui musicais da Broadway (exemplo: Hair), filmes de Hollywood (exemplos: Hair e Sol da Meia Noite) e trabalhos com grandes companhias de dança. Sem esquecer mais de um trabalho com a lenda Mikhail Baryshnikov.

Essa não é a primeira publicação da Twyla (sempre com a participação de algum escritor profissional) em temas adjacentes à dança que podem servir para qualquer pessoa (em outras palavras, autoajuda). Mas, essa é a primeira que eu leio.

Como alguém que já leu diversos textos que falam de administração, trabalho em equipe e organização, eu confesso que eu esperava algo mais do texto da Twyla. Talvez algo diferente que ela, por ter uma vivência muito específica no meio da dança, pudesse trazer e que tivesse pelo menos cara de novidade.

Nada disso. Não há nada de novo nesse livro.

O que valeu a pena então? As histórias. Com uma bagagem invejável na história da dança contemporânea norte-americana e uma variedade incrível de parcerias em tudo quanto é tipo de área artística, a melhor parte do livro são justamente essas histórias.

Caso você queira ler um livro sobre trabalho em equipe que não seja chato e repletos de exemplos corporativos, este é uma boa opção.

Caso você espere algo revolucionário, deixe para lá. Esse não é o livro para você.

Caso você goste de anedotas do mundo artístico, especialmente da dança, esse livro vai te agradar, apesar das inúmeras passagens marcadas, bem estilo autoajuda, que em tese servem para você se lembrar do resumo do que a autora quer passar.

Nota 7.

Celtic Tales: Fairy Tales and Stories of Enchantment from Ireland, Scotland, Brittany, and Wales

SPOILER FREE

Esse livro foi para o kindle por conta do meu hábito de leitura noturna, que pede livros com contos ou que possam ser interrompidos a qualquer momento (como diversos livros de não-ficção). Fazia tempo que eu estava pensando em ler mais sobre as lendas celtas, então, nada mais apropriado.

São 16 contos da região do Reino Unido, adaptados pela autora Kate Forrester, e divididos em quatro temas: Tricksters; The Sea; Quests e Romance. Alguns contos são bem curtinhos, outros um tanto mais longos. Mas o mais interessante é que nem todos possuem uma moral no final! É muito bom poder pegar um conto de fadas e não necessariamente ter um final feliz ou uma recompensa para o herói ou uma pena para o vilão! É algo muito realista, na verdade...

E tem todos aqueles seres mágicos típicos de histórias celtas, como fadas, poocas, wyverns, bruxas e sereias! Alguns já são muito conhecidos aqui no Brasil, outros são menos divulgados, e daí a oportunidade de ler um livro como esse pode ser muito enriquecedora!

As histórias em si são interessantes e bem escritas, a autora fez um esforço para que elas soassem contadas como antigamente, o que ficou legal. Mas, eu não sei explicar, só sei que não me apaixonei por ele. Talvez seja uma questão de gosto, talvez seja porque o livro é um tanto curto (poderia ter mesmo muito mais histórias do que ele tem), talvez seja porque muitas das histórias parecem que tem um final um tanto quanto abrupto, o que não é tão incomum assim no gênero.

Independentemente da razão, o resultado é que eu esperava mais.

Nota 8.

Muhammad's Wives

 
 
SPOILER FREE

Depois de ler alguns livros esse ano relacionados a história do mundo árabe e do islamismo, fiquei curiosa com relação às esposas de Maomé. Pelo o que pude perceber, as histórias delas são dignas de novela mexicana!

Se eu bem me lembro, esse livro ou estava numa lista bibliográfica de algum dos livros que eu li, ou ele apareceu como sugestão quando fui buscar alguma outra referência, e ele estava baratinho. Não preciso dizer mais nada, não é mesmo?

O livro, infelizmente, não era tudo o que eu estava esperando.

Primeiramente ele é muito curto, tem apenas 40 páginas, o que quer dizer que as informações contidas neles são resumidas ao máximo. Uma das esposas chega a ter apenas dois parágrafos destinados a ela.

Segundo, o que de certa forma deriva do primeiro, o livro é tão superficial, que não contem nem um parágrafo para as esposas cujos status do relacionamento são contestados (em específico uma copta e uma judia), e que dependendo da fonte elas são consideradas concubinas e não esposas.

E pior, não tem as histórias dignas de novela... apenas as mais conhecidas e imprescindíveis para se conhecer o básico de cada esposa.

Mas, para quem não sabe nada e para uso de referência é interessante.

Outra limitação é que o livro foi escrito por uma muçulmana bastante devota, o que é interessante por um lado, mas por outro ela acaba por fazer uso do texto para fazer propaganda. Nada contra, mas podia ser mais discreta, né?


Nota 7.

domingo, 10 de junho de 2018

Getting Over Garrett Delaney


SPOILER FREE

Esse é um livro que foi muito elogiado no Goodreads por algumas pessoas que eu sigo e gosto das resenhas. Consegui numa promoção da Amazon e voilá!

O estilo é bem literatura infantojuvenil: menina é apaixonada pelo melhor amigo e fica eternamente babando do lado dele enquanto ele fica com diversas namoradas por aí, até que ela cansa e resolve que precisa superar o amor por ele.

O que eu gostei é que o livro trata da situação de uma forma que achei bem interessante, porque leva em consideração a complexidade de um sentimento como esse. Além disso, mostra a problemática comum que meninas (e mulheres) passam ao se moldar e se modificar para tentar agradar um cara, que no fundo não gosta delas como elas são de verdade. É realmente uma discussão necessária, ainda mais quando tratamos de adolescência, que é uma época de descoberta e definição de personalidade.

No fundo é um livro sobre auto descoberta e transformação, a personagem principal começa muito chata e fazedora do leitor revirar os olhos, e termina muito mais madura e segura de si. Tem coisa mais legal?

Me surpreendeu muito positivamente, além de me fazer rir alto diversas vezes.

Não é nenhum suprassumo, não é genial, e não é inesquecível. Mas é bem escrito. Vale o tempo de leitura.

Nota 9.

Letter to My Daughter



SPOILER FREE

Esse é o primeiro livro que li da autora americana Maya Angelou. Famosa por sua poesia, Maya também escreve coisas um tanto quanto diferentes, um misto de autobiografia com texto motivacional.

Até ler esse livro, eu conhecia algumas poesias da autora, o suficiente para ser sua fã e querer ler mais dela (o que explica a compra desse livro). Depois desse volume sou mais fã ainda.

Aqui os textos são quase que pequenos contos autobiográficos da autora, com o objetivo de ilustrar aprendizados que ela teve ao longo da sua vida e que ela espera que possam servir de lição para a geração seguinte de mulheres, especialmente mulheres negras americanas.

Confesso que fiquei embasbacada com as suas histórias, e também com a sua sensibilidade ao contá-las. Maya Angelou merece um pedestal ainda maior do que ela já tem, que mulher incrível!

A boa notícia é que se encontram alguns de seus livros traduzidos para o português, a má notícia é que eles são poucos e não incluem este aqui.

Nota 10!


Ten Women - Dez Mulheres


SPOILER FREE

Eu comprei esse livro num impulso porque ele estava numa mega promoção da Amazon de literatura mundial, e eu nunca tinha ouvido falar da escritora chilena. Achei que seria uma ótima oportunidade de conhecer, mesmo com o texto traduzido para o inglês.

Posso dizer com convicção que valeu muito a pena. Marcela Serrano é uma escritora de mão cheia, e com inúmeros prêmios nas costas! Todos eles provavelmente merecidos pelo o que que pude ver em Dez Mulheres.

O livro traz relatos feitos numa espécie de sessão especial de terapia em grupo, de dez mulheres que frequentam a mesma psiquiatra. Para tornar a coisa mais interessante, a psiquiatra, Natasha, faz atendimentos gratuitos também, então a história de cada mulher é muito diferente e vai desde uma senhora que aqui viveria numa favela no Brasil, até uma estrela de televisão, e com as idades mais diversas, desde uma moça recém saída da adolescência até uma senhora de oitenta anos.

Todas as histórias são extremamente femininas, e todas me tocaram profundamente, algumas conseguiram até mesmo encher os meus olhos de lágrimas, o que é um grande feito para um livro (ou filme). O interessante é que mesmo com apenas a psiquiatra em comum, os relatos das mulheres fazem uma colcha de retalhos extremamente equilibrada e coesa, além de mostrar um lindo retrato do Chile.

Marcela se mostrou uma mestra na criação de personagens e de vozes, pois todas são distintas e realistas, ao ponto de você ficar pensando que pelo menos alguma coisa dali é baseada em fatos reais.

Fiquei tão apaixonada que já estou à caça de outros livros da autora. Virei fã.

Nota 10.

No God But God: The Origins, Evolution and Future of Islam


SPOILER FREE

O autor Reza Aslan é mais conhecido no Brasil por conta do livro Zelota, que trata da história de Jesus. Mas nos EUA ele é mais conhecido por suas obras sobre história geral das religiões, e em especial o Islã, visto que ele é iraniano e muçulmano.

Resolvi ler esse livro como uma espécie de complemento ao livro da Karen Armstrong, e nesse sentido posso dizer que consegui o meu objetivo. O livro da Karen é mais completo historicamente falando, pois cobre com uma quantidade razoavelmente constante de detalhes os quase 13 séculos de história do islamismo, enquanto o livro do Reza Aslan é mais profundo em suas explicações teológicas, enquanto não trata de toda a história da religião.

Os estilos também são bem diferentes, a Karen é mais acadêmica, seu texto pode ser bem distante e frio, enquanto o Reza gosta de incluir os seus sentimentos e experiências para ilustrar o que ele quer dizer, o que torna a leitura um tanto quanto diferente.

Pesa bastante o fato do autor ser muçulmano e falar árabe, isso faz com que a sua tradução de trechos do Corão e de outros livros árabes tenha uma maior probabilidade de estar mais corretas do que se vê por aí (existem umas traduções do árabe que só Allah salva), além do torná-lo mais simpático ao assunto e com muito mais propriedade para falar sobre ele. As suas dicas de melhores traduções de textos clássicos são valiosas!
O que foi negativo para mim no livro é que um: o autor realmente não trata toda a história do Islã como eu esperava; dois: eu entendo que ele queira fazer diversos paralelos entre diferentes momentos históricos, mas a forma como ele escolheu fazer isso muitas vezes é um tanto quanto confusa, poderia ter ficado melhor; e três: na edição para kindle que eu comprei não aparecem links para as notas que existem no final do livro, quando cheguei no final e as descobri lá foi difícil de conectar os seus conteúdos com o que eu já havia lido.

Minhas questões à parte, o livro é muito bom e esclarecedor. É uma pena que ainda não tenha sido traduzido para o português, porque é uma excelente fonte de informação. Sinto que faltam muitos livros a serem traduzidos no Brasil sobre o Islã, não é a toa que as pessoas por aqui ficam perdidas no assunto.

Nota 8,5.

domingo, 3 de junho de 2018

The Astonishing Color of After



SPOILER FREE

Por onde começar? O livro traz a história de Leigh Chen Sanders, uma americana de mãe Taiwanesa e pai americano. E após o suicídio de sua mãe, Leigh está convencida de que sua mãe virou um pássaro, e na busca pela ave ela viaja a Taiwan, reatando laços com sua família materna e descobrindo a sua história.

É um livro absolutamente diferente do que eu imaginava (que imaginava algo bem bobinho e adolescente). Com um realismo fantástico extremamente poético e com toques de sinestesia, é um dos livros mais sinceros e bonitos que já li sobre depressão. A busca da filha pela mãe é mais pela compreensão do que aconteceu e a busca pela cura da dor através do processo de luto da perda. Uma perda envolvida no mistério da história da sua mãe antes de se mudar para os Estados Unidos e no relacionamento conturbado que ela tem com o pai, um sinólogo que também sofreu com a condição da esposa.

Para coroar a situação, Leigh precisa também entender o que ela sente pelo seu amigo de infância Axel, quem ela beijou pela primeira vez no dia que sua mãe se matou (isso está na contracapa do livro, não é spoiler!).

Como primeiro livro da autora Emily X.R. Pan, americana filha de pais Taiwaneses, "The Astonishing Color of After" é sem dúvida um dos livros mais bonitos que já li, com grandes possibilidades de ser o mais bonito desse ano. É bom demais encontrar livros assim, e é raro que eles sejam o primeiro do autor. Aguardo ansiosa por mais obras da Emily. Pena que deve demorar, visto que esse livro foi lançado em março desse ano! O que significa também que ainda não foi traduzido para o português, o que espero que seja corrigido o mais rápido possível.

Indico para todo o mundo, lindo demais.

Nota 10.

A Criança em Ruínas



SPOILER FREE

Essa foi uma ótima semana para terminar livros de poesia. Foram três seguidinhos! E a chave de ouro foi essa beleza do português José Luís Peixoto.

Eu já tinha lido um romance dele, Nenhum Olhar, que na verdade eu não gostei. Mas ele é tão bem conceituado na terrinha que resolvi dar uma outra chance. E quando descobri que ele escrevia poesia, resolvi tentar.

Ainda bem que resolvi tentar! A Criança em Ruínas é um livro lindo! Dividido meio que em temas, como família, amor próprio e amor romântico, o autor aproveita para brincar com as palavras e experimentar estruturas diferentes. Pena que é tão curto! Fica o maior gosto de quero mais no final.

Gostei tanto, mas tanto desse livro, que já estou com outro volume de poesias do autor e já me convenci de tentar novamente um romance.

Nota 10.

The Garden of Heaven: Poems of Hafiz



SPOILER FREE

Esse é um poeta e místico persa, do século XIV. É um dos poetas muçulmanos mais famosos depois de Rumi (pelo menos no Ocidente Rumi é mais comentado), e ele estava há anos na minha lista de leituras. Infelizmente não existem muitas opções de traduções dele disponíveis (ou fáceis de achar).

Essa tradução em específico foi feita pela inglesa Gertrude Bell, uma mulher corajosa que trabalhava na Arábia para a coroa inglesa no final do século XIX e início do século XX. Quase uma versão feminina do Lawrence da Arábia. E nesse volume também tem disponível uma introdução até bastante longa e completa sobre a história do poeta, além de diversas notas explicativas de alguns poemas (apesar das notas não estarem numeradas nos poemas em si, o que me fez descobrir que elas existiam apenas no final da leitura, uma pena).

A maior parte das poesias de Hafiz tratam do êxtase, tanto amoroso quanto do vinho, que são temas comuns em algumas linhas de místicos sufis, e pessoalmente eu gosto muito desse tipo de obra. Portanto, tinha tudo para ter amado de paixão a obra de Hafiz.

O problema, desconfio, está na tradução da Gertrude. Não especificamente por achar que ela traduziu mal o conteúdo, de jeito nenhum, a mulher era uma intelectual que falava fluentemente o árabe. Mas veja bem, ela era vitoriana, o que provavelmente a levava a ter um posicionamento um tanto quanto conservador, e a escolha dela na forma da tradução me leva a crer que isso passou para a tradução também. Afinal, eu tenho certeza que Hafiz não escrevia algo que lembra Shakespeare. É, a tradução da inglesa lembra Shakespeare.

O que eu mais queria era uma versão bilíngue do Hafiz, para poder dar uma checada na tradução, mas nunca achei uma. A falta de traduções de textos clássicos do oriente médio sempre me surpreende. Não é a toa que temos tanto preconceito. Não entendemos nada deles, afinal não temos contato nenhum com a sua cultura.

Independentemente do fator shakesperiano da tradução, a obra de Hafiz é muito bonita e eu gostei muito de diversos poemas apresentados nesse livro (que é só uma porção do que sobreviveu da obra do poeta). Já estou procurando outros volumes (e traduções!).

Nota 8,5.

Arte de Pássaros



SPOILER FREE


Como já comentei anteriormente no blog, eu tenho como hábito ler uma poesia todos os dias de manhã, e para manter as coisas interessantes, cada dia da semana eu leio um autor diferente.

Depois de ler um livro de poesias póstumas do mestre chileno Pablo Neruda, andei procurando outras publicações bilíngues dele, e essa foi uma das que consegui encontrar.

E que decepção.

"Arte de pássaros" é um livro absurdamente chato. Cada poesia (com apenas umas 2 exceções em sei lá quantas poesias) tem o nome ou de um pássaro real ou um pássaro inventado, de forma que o livro é dividido em duas partes: a de pássaros reais e a de imaginários. O problema é que todas as poesias parecem a mesma coisa, fala das asas, das cores, do voo, do que eles comem e às vezes algo sobre a paisagem do Chile. E é isso. Só isso.

Mas ainda bem que tudo acaba. Esse livro também. Saiu da estante direto para a pilha de doação.

Mas ainda tenho esperanças com Neruda, afinal ele não ficou famoso por causa dos poemas aviários.

Nota 2.