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sábado, 23 de junho de 2018

The Harafish



SPOILER FREE

Acho que posso dizer que sou uma fã incondicional do egípcio ganhador do Nobel de Literatura, Naguib Mahfouz. Eu tento ler pelo menos um livro dele por ano, numa tentativa de fazer a sua obra extensa, mas que não cresce mais porque infelizmente ele faleceu há alguns anos, durar o máximo possível. Porque se deixar, acho que devoro tudo dele de uma só vez.

Infelizmente ele não é tão traduzido para o português quanto merecia, mas com algum esforço dá para se achar até muita coisa (Trilogia do Cairo - vol 1, vol 2 e vol 3, sua obra prima; Miramar, excelente livro; O beco do pilão; Noites das mil e uma noites; O jogo do destino; Rhadopis; O ladrão e os cães).

Em especial, The Harafish não foi traduzido para o português ainda, o que é um pecado terrível. O livro traz um grande épico familiar que transpassa por inúmeras gerações de uma mesma família (deve ter mais de dez gerações aí, confesso que me perdi na conta). Mahfouz é tão genial, que ele faz dessa oportunidade uma grande colcha de retalhos de diversas situações familiares especialmente egípcias e árabes, não perdendo a chance de ainda por cima fazer uma crítica sobre a forma como os árabes percebem os descendentes de personalidades religiosas, eu iria longe o suficiente para dizer que podemos incluir aí Maomé. Lembrando que no islamismo casar e ter filhos é algo esperado de todos, santos e profetas não estão fora disso.

Na questão familiar, é interessante reparar na obra de Mahfouz as questões relacionadas ao casamento, poligamia, divórcio e a politicagem interna familiar, como o poder dos pais sobre os filhos, a questão da primeira esposa, filhos homens x filhas mulheres, etc. A diferença de tratamento para personagens homens e mulheres é especialmente importante também, trazendo um retrato bastante fiel da cultura árabe sobre o assunto.

Além disso, o título faz alusão a uma classe de trabalhadores que hoje poderíamos criar um paralelo aos favelados. Trabalhadores de baixa escolaridade e sem treinamento que vivem basicamente de bicos e trabalhos manuais, e que, claro, são paupérrimos e quase sempre passam fome. Nesse sentido, Mahfouz aproveita para também fazer uma crítica bastante pesada ao sistema de classes (ele era comunista de carteirinha), e demonstrar como esse sistema não só se perpetua de forma absolutamente injusta, mas pode ser modificado pela união e revolta da classe mais pobre, visto que são mais numerosos. Pode acrescentar aí críticas à falta de posicionamento do governo em bairros pobres (hum...), a questão das propinas (ahã...) e a falta de lideranças capazes de modificar a situação (né...). Características extremamente árabes à parte, podemos dizer que é um tema bastante universal.

O livro vai entrar na lista de melhores do autor. Maravilhoso é pouco para descrever.

Nota 10!

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